sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7029: Tabanca Grande (245): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71)

1. Mensagem de António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63, Guiné, 1969/71, com data de 20 de Setembro de 2010:

Caro amigo e companheiro

Sou irmão do Alberto Branquinho e  como vocês prestei serviço militar na Guiné.

Iniciei a Comissão em 23/09/1969 e terminei-a em finais de Outubro de 1971 (não me lembro da data correcta).

Fui em rendição individual, tendo sido colocado no Pel Caç Nat 63, que era comandado pelo ex-alferes miliciano Jorge Cabral, colaborador do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Desde o primeiro dia que somos amigos. Amizade esta que mantemos até à data.

O Pelotão era composto, na sua maioria,  por elementos oriundos da própria Guiné, o alferes, furriéis, cabos e alguns soldados adstritos ao Pelotão eram brancos. Por este facto, os chefes militares e outros, por vezes "esqueciam-se" de nós, nomeadamente, no que dizia respeito ao fornecimento atempado de géneros "frescos", sendo os enlatados (fiambre, conservas várias, chouriço, etc.) a base da nossa alimentação.

Durante bastante tempo (muitos meses) estivemos privados de gerador de electricidade e de arca ou frigorífico a petróleo e consequentemente do prazer de uma bebida fresca. Era uma festa quando nos deslocávamos à sede do Batalhão (Bambadinca), bebiam-se umas "bazucas" e uns wiskys gelados, era até cair - tirava-se "a barriga de misérias".


António Branquinho no Enxalé


Quando o Pelotão era mudado para outro Destacamento, o que se verificava frequentemente, era uma carga de trabalhos, uma vez que os soldados do Pelotão tinham consigo as mulheres e filhos, pelo que tinha de se arranjar transporte para todo aquela gente. Além das respectivas famílias, eram as galinhas, os cabritos e toda a traquitana inerente às lides domésticas (tachos, pilões, panelas, cabaças, alguidares, etc.). Era uma confusão! Eu passava-me.

O Jorge Cabral incumbia-me sempre destas missões, dizia que eu tinha uma certa sensibilidade para estas "operações". Tomava esta decisão por ser o furriel mais antigo e,  talvez, por uma questão de confiança. Numa das várias mudanças de Destacamento que efectuámos, apareceu-me com uma garrafa de wisky na mão, para festejarmos o fim da instalação do Pelotão. Estava tão desgastado e stressado que lhe tirei a garrafa da mão, mesmo à temperatura ambiente ia bebendo tudo de um só trago. Como era de esperar apanhei tamanha bebedeira, que passei o dia todo a dormir.

Após várias deslocações, estive em vários Destacamentos, na zona de Bambadinca: Fá, Missirá, Bambadinca, Ponte do Rio Udunduma, Nhabijões, Xime, etc.

Durante a minha Comissão, estive adstrito a dois Batalhões, sediados em Bambadinca (Sector L1): BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72.

Terminei a Comissão em beleza, a não ser um senão, incompatibilizei-me com o substituto de Jorge Cabral, em Bafatá. Era uma pequena cidade, mas tinha muitas mordomias de que já há muito não estava habituado.

Escrevi este pequeno texto, como cartão de apresentação, havendo muito mais histórias para contar, desde que haja disponibilidade e pachorra para tal.

Um abraço
António Branquinho

Missirá, 1971 > António Branquinho (de pé) e Amaral

Missirá, 1971 > António Branquinho, Amaral e uma bajuda

Missirá, 1971 > Pires, Branquinho e Amaral


2. Comentário de CV:

Caro António Branquinho, é caso para dizer: que belos padrinhos! Ser irmão do Alberto Branquinho e amigo do Jorge Cabral dá-te muita responsabilidade.

Faz favor de entrar, a Tabanca é toda tua, como soi dizer-se, mas tens de a compartilhar com os outros 448 camaradas e amigos. Note-se que a tua entrada não faz aumentar o número de tertulianos, pois há muito estás na listagem da página.

A tua apresentação está muito completa, porque de uma só penada descreves o quão difícil era ser parte de um Pelotão de Caçadores Nativos. A diferença da língua, dos usos e costumes, eram, para quem chegava de novo, um choque. Bem sei que passado pouco tempo nos apercebíamos de quanta dedicação aqueles homens nos dedicavam. Penso que seria mais difícil acompanhá-los no mato, já que estavam adaptados a um terreno e a um clima, para nós, hostis.

Disto tudo nos vais falar com certeza, baseado na tua experiência de contacto com aqueles bravos homens.

Ficamos assim na expectativa das tuas narrativas e fotos. Já agora, se tiveres por aí uma foto actual, manda para que te possamos conhecer, se nos cruzarmos por aí algures. Obrigado.

Recebe um abraço que te envio em nome da tertúlia.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7023: Tabanca Grande (245): Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42 (Guiné, 1962/64)

6 comentários:

Anónimo disse...

Grande Branquinho!


É para mim uma enorme Alegria,a tua

entrada na Tabanca.Somos agora 2 do

Pel.Caç.Nat.63.Desde a tua chegada

em Setembro de 1969 até à minha

partida no fim de Julho de 1971,

partilhámos o bom e o mau,todos

os dias,num clima de Amizade,

tendo alcançado um entendimento

total(muitas vezes já nem

precisávamos de falar..)Considero

uma grande Sorte,ter-te tido como

braço Direito..Cumplíce,Amigo,

Irmão.

Para ti "aquele" Abraço.

Jorge Cabral

Luís Graça disse...

António:

Que bom voltar a "ver-te"... A última, depois de quase quarenta anos de ausência, foi ni Museu da Farmácia, em Novembro de 2008, por ocasião do lançamento do "Tigre Vadio", o 2º volume do "Diário da Guiné, 1968-1970", do Beja Santos. Devo ter uma foto tua desse dia, vou procurá-la.

Creio que continuas pela Covilhã. É um privilégio ter-te, por vizinho na Tabanca Grande... Espero abraçar-te num próximo encontro da malta. Um abraço. Luís

Anónimo disse...

Meu caro jorge cabral

Apreciei muito as tuas palvras amigas,de verdadeiro companheiro de muitos meses de guerra e de companeirismo.A nossa amizade perdura pelo respeito,compreensão e ajuda mútua que sempre houve entre nós,sem hipocresia e cinismo.
Assim será, até sempre!
Um grande abraço.
António Branquinho

Anónimo disse...

Olá Luís Graça

Agradeço sinceramente as tuas simpáticas palavras que escreveste no Blog.
No entanto, se me permites, tenho que fazer uma pequena correção.Não fui eu que estive no Museu da Farmácia,na aprentação do livro do Beja Santos - porventura teria sido o meu irmão Alberto Branquinho.Nós enconta-mo-nos,este ano, em Coruche.Há quem diga que eu e o meu irmão somos muito parecidos,pelo que será esta a razão da tua confusão.
Um grande abraço
António Branquinho

Anónimo disse...

Luis

Essa de teres visto o meu irmão no Museu da Farmácia, no lançamento do livro do Beja Santos, deve ser da PDI...
Para tirar teimas só fazendo prova bastante, ou seja fazeres aparecer essa tal fotografia.
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Luis

Ao abrir o meu primeiro comentário vi que o meu irmão tinha entrado já depois de eu ter lido o teu texto e 2 minutos antes da minha entrada.
Como eu não estive no Museu da Farmácia, foi, portanto, uma manifestação da PDI.
Paciência... É a vida...
Alberto Branquinho