quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6917: (Ex)citações (96): Camarada...não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas (António Lobo Antunes, escritor, 68 anos)

1. Já foi pensamento do dia... há três anos atrás. Foi extraído da crónica do António Lobo Antunes na revista Visão (4 de Outubro de 2007)... Na altura, a frase mereceu apenas um comentário dos nossos leitores... O nosso camarada Henrique Matos escreveu: "A definição [de camarada] merece mesmo honras de primeira página"... 

O escritor faz hoje 68 anos e já deu por encerrada a polémica, com ex-combatentes da guerra colonial, em que o seu nome esteve envolvido. O teor carta que enviou ao presidente da Liga dos Combatentes está disponível no seu blogue oficioso (mantido por um fiel leitor, José Alexandre Ramos): Vd. poste de 27 de Agosto de 2010 >  Não se desce vivo de uma cruz.

Quanto à frase do escritor que voltamos a destacar hoje (e que contrasta com as infelizes declarações do ex-combatente em Angola, alferes miliciano médico, que causaram perplexidade e indignação em muitos de nós, leitores ou não da sua obra), é a seguinte:

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2161: Pensamento do dia (12): Camarada, uma palavra que só quem esteve na guerra entende por inteiro (António Lobo Antunes)

(...) "Não morreste na cama mas morreste entre lençóis de metal horrivelmente amachucados na auto-estrada de Cascais para Lisboa e a gente ali, diante do teu caixão, tão tristes. Eras meu camarada, que é uma palavra da qual só quem esteve na guerra compreende inteiramente o sentido: não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas" (...).

Foto: Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados

10 comentários:

Anónimo disse...

Sugiro que se evitem ou ignorem novas acções de promoção ou recuperação da imagem de um autor que aviltou e avilta, pelos seus excessos ou 'derrapagens', a integridade da memória, a consciência da acção e a dignidade da missão cumprida de muitos cidadãos que estiveram envolvidos em operações de combate em África.
Todos 'alastrams' mas poucos publicam e nenhum tem tanta ressonância tão descabida.

Qual é a pertinência de evocar o seu aniversário?
A utilidade?
Ilustra o quê?
Esclarece?
Repõe?

Não.
Aparentemente...


SNogueira

Anónimo disse...

POR RECEIO DE QUE POR ATRASO SE PERCA A PERTINÊNCIA DA PUBLICAÇÃO, APROVEITO E PUBLICO DEGUIDAMENTE UMA MENSAGEM CORRELACCIONADA E QUE PEDI PARA SER 'POSTADA'
(com ref ao P6912)

Anónimo disse...

LOB'ANTUNES E A DECLINAÇÃO DA MEMÓRIA OU... ?

A propósito de mistificação ou de imaginação delirante, se por acaso postas em relevo como ficção literária, minimizando a responsabilidade temática do autor, permito-me repor, como introduçãoe sublinhando pelo seu vigor e elegância, a escrita de um 'taxista de Lisboa'(1) que muito bem desdiz qualquer pretensa crónica fora de tema:
Leia-se, então, outra vez - "[Sr Lob'Antunes,] peço que me explique a mim, ex-combatente que repetidas vezes olhou a MALVADA nos olhos, que A viu por uma dúzia de vezes levar nas garras os seus camaradas de COMPANHIA, eu que por uma vez A iludi mas ficou a SUA marca, a mim que dormi em bolanhas noites a fio, que em emboscadas intermináveis mijava no camufulado (e que bem sabia o quente) sem me poder mexer, que sentia um medo danado a cada vez que ia para a mata, a mim que comi marmelada com capim, a mim que bebia o mijo dos animais nas raras poças de água na mata, e finalmente a todos os milhares que lá estivemos, gostaria por favor que me respondesse a esta simples pergunta: mas que porra é essa de ter talento para Matar? (...)"
* * *
Não me parece que deva ser suave a resistência à enormidade ou que possa ser complacente a denúncia da condição em que o escritor em causa informa; não me parece que o assunto deva ser tratado de forma 'pacífica' e não me parece simples ou imediato vir a desacreditar o que aparentemente se afirmou como testemunho e assim, vir a restaurar as opiniões, agora de acordo com uma ideia geral consentânea com o conhecimento genérico dos militares combatentes e com a ideia especifica dos combatentes colocados na zona e no âmbito da comissão descrita nos textos fabricados pelo exótico escritor.
Como tive ocasião de informar(2), lembro que A.Lob'Antunes(3) esteve integrado no BART 3835, sediado em Gago Coutinho, Zona Militar Leste e depois na regiãode Malange, em Angola, entre 1971 e 1973. Este Batalhão tinha Companhias destacadas em Ninda e Chiume, onde o Alf Mil Méd. A.Lob'Antunes terá estado colocado.
É saber comum que em Angola, naquela data, o doutor não fazia operações no mato. A zona de acção do Bart 3835 era medianamente afectada constituindo antes zona de apoio da inflitrante zambiana do MPLA, com destque para algumas 'bases' região do triângulo Ninda-Sete-Chiume, a justificar o destacamento permanente e acções de intervenção geralmente atribuídas a páraquedistas -uma Companhia permanente em Ninda até fins de 1970- e a GEs, Flechas e outras forças 'menos regulares'.
A intensidade dos recontros e a agressividade e resistência da guerrilha eram então, naquela região, baixas.
O médico da CArt331x não terá tido qualquer contacto directo com o combate, nem com atrocidades de qualquer espécie que não tivessem eventualmente sido praticadas 'dentro do arame farpado' pelo que, quer pelo estilo usado quer pela insinuação decorrente do alinhamento do que escreve, o seu texto indicia como verdadeiros os factos que relata e os sentimentos que explora, os quais seriam meramente especulativos ou imaginários se não contivessem uma carga emocional dirigida, especifica, por não se desligarem de uma vivência descrita ou de uma pretensa experiência pessoal que -tendo eu conhecido e actuado na zona naquela época- se me afiguram exóticas.
A distinção entre uma escrita ficcional e o caracter fictício de uma narrativa que se socorre de espaços e tempos concretos, conhecidos com actualidade -a guerra no Leste de Angola, no princípio dos anos 70- obriga a entender o escrito como delírio, divagação ou falsidade, salvo mais consistente e abalizado testemunho.
(cont)

Anónimo disse...

______________________
(1) Amilcar Mendes, in P5283
(2) meus comentários aos P5283 e P5292
(3) António Lobo Antunes, Alferes Miliciano Médico, esteve destacado em Ninda no Leste de Angola, de Dezembro 1970 a Janeiro 1972 incorporado na Cart.3313 sob o comando do Capitão Melo Antunes e integrado operacionalmente no Bart.3835 com CCS. do Batalhão sediada em Gago Coutinho.
(in http://cart3514.blogspot.com/2008/08/de-luanda-gago-coutinho-2.html)


SNogueira

Joaquim Mexia Alves disse...

Repudio total e absolutamente esta homenagem a Lobo Antunes.

Mais uma vez repito o que já disse anteriormente: Se ALA não fosse escritor e "intelectual" de nomeada não seria alvo de tal homenagem.

Basta ver como foi tratado o caso do Almeida Bruno, dum jornalista que proferiu aleivosias sobre os combatentes, e que eu acho muito bem tenham sido denunciados, criticados e repudiados.

Apenas o jornalista, se bem me lembro, ensaiou uma espécie de pedido de desculpas!
Dos outros nada!
E é apenas isso que se pede e não desculpas sem sentido tentando alterar o que disseram, como se nós fossemos estúpidos.

Escrevo a quente e é a quente que o digo, mas muito conscientemente: Tão cedo não intervirei aqui neste espaço, a menos que a tal me sinta obrigado.

Sinto-me incomodado por ver num espaço que eu julgava de combatentes, uma homenagem a um sujeito que os insulta e insulta a sua memória!

ALA só pode dar o assunto por encerrado quando pedir desculpas e disser "preto no branco", que mentiu descaradamente!

Um abraço camarigo para todos

Joaquim Mexia Alves disse...

Ainda em tempo.

Com o meu comentário não quero de modo nenhum "condicionar" o que é publicado neste espaço, mas sim mostrar a minha indignação contra o que disse ALA e a "homenagem" que aqui lhe é prestada.

Um abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Mário Fitas,
Transcrevo banda esquerda do Blog:

"Camarada, faz isso por ti, pelos teus filhos e netos, por todos nós!"

"Ajuda os teus ex-camaradas a reconstruir o puzzle da memória da Guiné 1963/74"

Transcrevo "Deixar o seu comentário"

"Amigo ou camarada da Guiné: A tua opinião é muito importante para nós. Escreve aqui, com inteira liberdade e responsabilidade."

Chega-me!

Com inteira liberdade e responsabilidade à irresponsabilidade de quem mente.

Não venham as desculpas da FICÇÃO!

Já escrevi realidade e ficção. Conheço.

Escrevam-se aqui e cruzem-se as nossas passagens por aquelas terras.

Quem quizer consporcar a nossa Memória ou dos que no Bom Sucesso têm o nome inscrito, não têm valor nem são honestos consigo mesmo.

Já escrevi e referi em comentários, a vontade existente em determinados meios da sociedade actual:
" É urgente acabar com essa velharia, que anda a perturbar com as suas memórias esta santa vivência"

Enganam-se!

Enquando Deus me der tino e voz, no dia do COMBATENTE, cantarei o Hino deste Velho Portugal e darei o grito de Ranger.

"Oh Fitas, deixa-te de fitas e assina o comentário"

Para todos os que pisaram terra vermelha, bolanhas, matas e pântanos, o abraço do tamanho de todos os rios dessa bela Guiné.

Mário Fitas

JC Abreu dos Santos disse...

[em 01Set2010 17:10, no forum do BCac4611/72 Angola Nov72-Nov74]

– «... que o camarada António "interpetra coisa-e-tal", mas continua a não convocar uma conferência de imprensa para, especificamente, apresentar públicas desculpas a Portugal, pela parte mais gravosa do que proferiu, em 07Dez2008, numa cidade mexicana e a um jornalista de um jornal mexicano.
Instado por um general, que apenas representa uma das associações de combatentes (a veneranda Liga), limitou-se a bolsar uma das suas "interpretações" do voo do pássaro que "lhe" apeteceu pousar na varanda das suas efabulações, totalmente alheio aos factos que ao caso interessam: "os factos não me interessam".
Assim sendo, "Pois..." – como dizia a minha prima que gostava muito de dizer coisas –, também o multi-laureado escrevinhador não deveria ter tomado à letra a expressão figurativa "ir ao focinho", a qual, em português corrente – e não só caserneiro –, me apeteceu e apetece interpretar como um vulgar "chegar a roupa ao pelo", ou "dar-lhe um encosto", ou ainda o mais vulgar "agarrem-me se não eu bato-lhe!".
Constituiu afinal, um tal "aviso à navegação", o suficiente para ofertar publicidade gratuita ao bem-falante malandro; mas, também, oportunidade para que se desatem
línguas quanto à lavagem cerebral que o povo português tem sido sujeito desde o caetanismo, a ponto de a juventude ser ignara da nossa comum História recente.
Para o camarada António, fica o conselho: malandro, não estrilha; muda de esquina.»

Adenda:
O "assunto" não está de modo algum "encerrado", quando assim lhe deu na gana o ofensor; nem tão pouco por um general, que representa apenas uma (1) associação de combatentes, ter feito passar a ideia de que se teria sentido "satisfeito" com o pseudo-desagravo do ofensor.
O "asssunto" será (?) encerrado – tal como inúmeros outros relativos a matérias as mais diversas –, quando assim o entender cada um – seja veterano ou não, velho ou novo (principalmente os descendentes de "quem andou na guerra") – dos que se sinta ofendido pelo escritor, neste caso das ideias sobre "matanças indiscriminadas perpetradas por portugueses".
Acaba, quando acabar.

Anónimo disse...

A MINHA MODESTA OPINIÃO SOBRE ESTE "SENHOR" ala NÃO DEVIA-MOS DAR TANTA ATENÇÃO A QUEM NOS FALTA AO RESPEITO A NÓS EX-COMBATENTES E NOS DEITA TANTO ABAIXO COM A OPINIÃO QUE OS SEUS LIVROS SÃO PURA FICÇÃO O QUE É UMA PURA MENTIRA POIS ELE FALA EM FACTOS REAIS E O QUE NÓS EX-COMBATENTES DEVEMOS FAZER É TUDO O QUE ESTÁ AO NOSSO ALCANÇO PARA QUE NINGUÉM COMPRE OS SEUS LIVROS, QUANTO AO RESTO É DAR-LHE DESPREZO.

AMILCAR VENTURA EX-FURRIEL MILº. MECÂNICO AUTO DA 1ª CCAV DO BCAV 8323 PIRADA-BAJOCUNDA-COPÁ 73/74

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

A frase, é uma boa frase, é talvez uma das mais felizes e bem conseguidas para retratar a camaradagem que se funda, se cria, se constroi e se alimenta nas situações semelhantes às que vivemos... mas, como dizia 'o outro', não havia 'nexexidade'...

Tal como foi recolocada 'parece' que se destina a fazer um contraponto entre uma "frase boa" do ALA e uma "frase má" do ALA. Ou então a 'fechar' o assunto...

Acontece é que a má é mesmo muito má e muito grave por tudo o que aqui (e noutros locais) já foi referenciado. E tem ficado por ser emendada. E tem faltado ao ALA a categoria que quer ter para, esclarecendo ser a sua frase um conjunto de 'figuras de estilo', acrescentar explicitamente que não correspondem à verdade, nem na quantidade de 'baixas', nem 'no jeito para matar', nem no 'sistema de pontos', etc..

Deste modo, o ALA pode ser um bom escritor, pode ser o autor da 'mais bela frase sobre camaradagem', mas é também, até ver, o autor da mais venenosa e enlameada frase sobre a vivência de milhares de jovens que, no cumprimento do "serviço militar obrigatório" de então e na sequência da "comissão de serviço por imposição" que foram cometidos a fazer.

Deste modo, também, sendo certo que o nosso blogue possa não ser o sítio certo para 'arrumar' o assunto, não será igualmente certo que se 'passe uma esponja' sobre ele.

Abraço
Hélder S.