domingo, 8 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6837: Blogpoesia (79): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (6) (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  6 de Agosto de 2010:

Caro Carlos,
Com um abraço amigo, envio mais umas oito sextilhas que reflectem o meu estado de espírito depois de um sonho bom.
Se entenderes por bem, edita na segunda-feira ou até domingo (sei que estás a juntar o dinheiro das horas extras deste trabalho (onde ganhas que te fartas...) para comprares um avião que nos leve a todos de volta à Guiné.
Em duas viagens, iremos todos.
Manuel Maia


QUISERA EU... (6)

Um dia, tive um sonho emocionante,
cerrando breve os olhos, curto instante,
qual flash fotográfico a reter...
Vi silos, vi tractores, placas solares,
artesianos furos, luz nos lares,
e muitas outras coisas a saber...


Vi pratos, vi talheres, toalhas, pão,
panelas cozinhando num fogão,
vi camas, vi colchões, casas de banho...
Vi redes, aparelhos, anzóis, corda,
vi barcos com motores fora de borda,
vi peixe já na fase do amanho...

Vi arcas frigoríficas, conserva,
vi peixe ser guardado p`ra reserva,
vi caça, dìgual modo ser tratada...
Vi hortas tão bonitas de viçosas,
vi gentes radiantes e formosas,
vi fácies de alegria bem estampada...

Vi feiras, armazéns, lojas do povo,
de artigos recheadas, como um ovo,
vi gentes a comprar e a vender...
Vi roupas e calçado em profusão,
nos corpos e nos pés do nosso irmão,
Guinéu, já tão cansado de sofrer...

Vi risos de criança rumo à escola,
os livros e a bola na sacola,
às costas pela alça pendurada...
Cantina para todos é paragem,
crescidos e também a miudagem,
que ali faz refeição equilibrada...

Vi gente trabalhando em suas terras,
liberta dos terrores, medos das guerras,
na usina ensaiando ocupação...
Vi braços já treinados em mesteres,
ignotos para homens e mulheres,
até servirem como ganha pão...

Vi olhos curiosos, perscrutantes,
de saber ansiosos, indagantes,
à cata do que é novo, que absorvem...
Vi gente mãos vazias, resignada,
com pressa de ver dias de abalada
no seu livro da vida, caos, desordem...

Quem espera desespera, diz ditado,
e o tempo dessa espera está esgotado,
sei bem, na afirmação nada é já novo...
Insensatez, supera o razoável,
estupidez opera o impensável,
nas lutas p`lo poder, quem perde é o povo...
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6819: Blogpoesia (78): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (5) (Manuel Maia)

4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro amigo e camarada Maia

Sobre a qualidade dos teus poemas já muito se tem escrito e certamente se escreverá.

O que eu quero salientar neste que aqui podemos ler é, para além do lamento final quanto ao desencanto do caminho que as coisas tomaram, um verdadeiro programa de acção, um guia para a realização de tarefas que a concretizarem-se seriam de facto a grande conquista da liberdade.

A liberdade é boa, mas necessita de ser acompanhada do pão, da paz, da terra, da democracia, da independência e algumas destas coisas podem ser alcançáveis.

Um abraço,

Hélder S.

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu camarigo Manuel Maia

Do talento já nem falo...

Do conteúdo digo que é bom sonhar, mas às vezes o sonho tem um travo amargo, porque está tão afastado da realidade!!!

Como eu te compreendo!

Um abraço forte e camarigo

Colaço disse...

F. Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Anónimo disse...

Amigo Manuel Maia

Vejo que dá continuação aos seus desejos, para aquela terra de gentes sem nada!

Não há ninguém que acorde, lá para aqueles lados?
Não haverá ninguém interessado em melhorar?
O que é que falta?
Vontade?
Interesse?
Formação?
Quadros?
Eu sei que falta tudo!
Mas ninguém quer começar?
É hora de acordar!
de reunir vontades, de ir à luta pelo desenvolvimento, pelo conhecimento, pela valorização!
é tempo de dizer --somos capazes!
nós, somos capazes.
Será que os seus desejos chegaram lá, Manuel Maia?
Eles tem que querer.
Quando digo eles refiro-me a quem destabiliza, dentro da sua própria terra, que em vez de promover o desenvolvimento, provoca o caos. Transformar, é quer ser diferente, e todos nós sabemos isso.
Somos O QUE QUEREMOS!
Se em vez de guerra quisermos paz, o efeito é o que se sabe!
Espero que eles consigam, e que haja quem ajude.

UM ABRAÇO PELO SEU ESFORÇO

Felismina Costa