segunda-feira, 26 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6787: Estórias cabralianas (62): À Tesão, Pelotão!... Este é o Alfero Souza, meu amigo (Jorge Cabral)


1. Estórias cabralianas (*),
por Jorge Cabral

À TESÃO,  PELOTÃO! 

Com o Pelotão [, o Pel Caç Nat 63,] em Bambadinca, preparando-me para arrancar para o Xime, eis que deparo, com um Gandhi,  de camuflado, que avança para mim com os braços abertos. É o Souza, com "z", meu amigo e camarada de Vendas Novas.

Indiano de Damão, logo em 1961, partira para a Inglaterra, onde se doutorara em Física. Não conhecia Portugal, mas em Fevereiro de 1968 teve que vir ao funeral da Tia. Foi quanto bastou, foi incorporado. Já tinha 34 anos, era casado, Professor Universitário, pai de 3 filhos, quase não falava português. Pois bem, atirador de artilharia, meu companheiro de Pelotão [, em Vendas Novas]. Magríssimo, usava uns oculinhos redondos e nunca se queixava.

Fazia parte da nossa instrução, dar voz de comando, apresentando o Pelotão.  Começava, " Atenção Pelotão…", mas quando calhou ao Souza, ele clamou:
- À Tesão,  Pelotão! -  (Não me lembro se nós respondemos afirmativamente…).

De passagem por Bambadinca em trânsito, para o Leste do Leste, o Souza estava ainda mais magro, conservava os pequeninos óculos e aquele ar de suprema resignação. De partida, sem tempo para conversas, quis que conhecesse os meus Soldados. Reuni o Pelotão e disse:
– À Tesão,  Pelotão! Este é o Alfero Souza, meu Amigo!

Muitos anos passaram. Mas ainda hoje, quase como uma divisa, em momentos de chatice, desânimo ou tristeza… eu penso "À Tesão Pelotão!" …e as coisas melhoram…

Jorge Cabral

 ___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)

5 comentários:

Anónimo disse...

Camarigo Jorge
Nunca mais soubeste nada do "Alfero Souza" após o regresso até hoje?
Abraço
Luís Borrega

Anónimo disse...

Camarigo Jorge
Nunca mais soubeste nada do "Alfero Souza" após o regresso até hoje?
Abraço
Luís Borrega

Joaquim Mexia Alves disse...

Oh camarigo Jorge então e a seguir a tão extraordinária voz de comando, seguia-se o quê?

Apresentar armas!!!

Um grande abraço.

Anónimo disse...

Boa noite Mestre Jorge Cabral
Mais ums vez provaste que com poucas palavras se pode dizer muito. Se pode brincar e deixar uma mensagem séria.
O Alferes Souza (com z) foi bem
fu(n)dido no seu tempo. O seu perfil pouco militarista deve-lhe ter trazido amplas e variadas arrelias.De altas e baixas patentes...
De qualquer maneira se a ordem de comando do Alferes Souza ainda te faz mudar para melhor em momentos de maior tensão...é bom sinal!
Muita rapaziada do nosso tempo terá que dizer "Há tesão ..que te fostes...tão cedo !!!
Um grande abraço de Alcobaça,
JERO

Anónimo disse...

...e as coisas melhorariam, muito, mas muito mais, se ao À juntasses um H.
Um abraço amigo do
Vasco A.R.da Gama