quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6737: Blogpoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2010:

Caro Carlos,
Aqui seguem algumas sextilhas que sintetizam as saudades que tantos de nós, senão todos evidenciam...
Se entenderes que são publicáveis, força...

Abraço
manuelmaia




QUISERA EU... (1)

Quisera eu ter na vida amplos suportes
p`ra ver terra à partida "ganha em sortes"
Bissum, no norte, tida de "buraco"...
Mais "vozes do que nozes", felizmente,
o grau de risco dado àquela frente,
perigosa sim por "venerarmos Baco"...

Quisera eu lá voltar antes do fim

da areia da ampulheta que de mim
se escoa em movimento acelerado.
Sentar no baga-baga, protector,
sentir da terra o cheiro e o calor,
fruir tempo de paz agora achado...

Quisera um periquito a vir à mão,
depenicar na fruta, comer grão,
e passeá-lo ao ombro, sem atilho.
Quisera ao Cumbidjã lançar granada,
pescar o que der jeito à caldeirada,
sem medo de hipotético sarilho...

Falar-vos do Morés, do Cantanhez,
correr de lés a lés, tudo outra vez,
Por verdes matos, terra ocre/amarela...
Cruzar o Cumbidjã, o Armada em botes,
palpar bajuda sã, fruir seus dotes,
de um corpo escultural de moça bela...

Quisera eu ter de volta os tempos idos,
calcorrear espaços percorridos,
bolanha, lama, lodo pestilento...
Quisera os vinte anos da loucura
perdidos nesses matos da lonjura,
que evoco de memória, em pensamento...

Quisera ser de novo o furriel,
anti, mas cumpridor do seu papel,
e firme na vontade e no querer...
No palco desta vida atribulada,
tão prenhe de ilusões, cheia de nada,
os anos pesam muito, podem crer...

Descer o Cumbidjã rumo a Cufar,
bem cedo p`la manhã e experimentar,
satisfação, prazer, risco, aventura.
Sentir a brisa fresca ante o "voar",
do barco em lençol d´agua, a chapinar,
num ziguezaguear toda a largura...

Comer um peixe frito com casqueiro,
jogar um king a seco ou a dinheiro,
marcar um golo em jogo de emoção...
Ganhar "subbuteo" em rifa terminal,
testemunhar "fanado", algo "irreal",
e choro/ronco, mesmo ali à mão...
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6660: Parabéns a você (127): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6571: Blogpoesia (73): Viva Portugal! (Felismina Costa)

15 comentários:

Anónimo disse...

Quando os Poetas nos falam ao coracao e alma só nos resta, humildemente,dizer....Obrigado! Um grande abraco.

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu camarigo Manuel Maia

A veia do vate sempre presente, num sentimento tão profundo do coração, só pode mesmo tocar a gente.

Por isso como o "Lusitueco", (Lusitano+Sueco), José Belo, apenas e tão só, OBRIGADO!

Um grande e camarigo abraço

JOSÈ NUNES disse...

Manel,que bela descrição da mocidade perdida,fizeste-me recordas as pescarias no Armada pois a sopa de cebola e o atum com bianda já não se tragavam,nas tuas sextilhas desci e subi o Armada.
OBRIGADO CAMARADA.
José Nunes
BENG 447
BRÀ 68/70

Cesar Dias disse...

Manuel Maia

Não sou muito versado prás letras, mas bem hajas por isto.
Um grande abraço sentido

César Dias

Anónimo disse...

Obrigada por mais um momento de poesia.
Filomena

Anónimo disse...

Caro Manuel Maia

Depois dos que me antecederam, que poderei dizer?

É o Bardo do Cantanhez? Não é um Poeta Português.

Ler e fechar os olhos, para deixar o nosso pensamento voar para tão longe...

Obrigado
Abraço amigo
Jorge Picado

Anónimo disse...

Grande "Manel", Vate do nosso Blogue, Poeta das Sextilhas, esta sim é a linguagem que eu gosto e admiro em ti.

Esta, sim!

Abraço grande de camarigo

Vasco A.R. da Gama

Torcato Mendonca disse...

Manuel - um abração e obrigado.

Ainda,depois de esperar um pouco, volto a ler.

Gosto mais, muito mais de te ler em poesia do que em prosa chateado...ah e borrifa-te na ampulheta.

Um tipo dá o primeiro vagido e a dita volta-se e, dizem, começa a correr sem se deixar ver.
Abraço Amigo do Torcato

Anónimo disse...

Poeta Amigo
Li, reli, deliciei-me e "colei-a" no meu blog.
Obrigado Manuel da Maia.
Um abraço de Alcobaça,
JERO

Anónimo disse...

Palavras para quê ?
É o Manuel Maia ao seu mais alto nível.
Gostei imenso...
Grande abraço.
Luís Borrega

Anónimo disse...

Palavras para quê ?
É o Manuel Maia ao seu mais alto nível.
Gostei imenso...
Grande abraço.
Luís Borrega

Anónimo disse...

Pratica malandro!
É que estás quase bem!
Mas advirto: não identifico com clareza essa diferença para o bem.
Um abraço
JD

Luís Graça disse...

Manel, também gosto de te ler nesse registo mais lírico, mais intimista... Sê bem vindo ao clube dos poetas líricos!

De regresso a Cafal, talvez o Luís de Camões escrevesse antes este soneto:


Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões

Silva da Cart 1689 disse...

Sou um bruto periquito nesta Grande Tabanca, mas já deu para perceber que anda por aqui MATERIAL DE PRIMEIRÍSSIMA.
Gostei muito do poema. É uma satisfação saber de camaradas com este nível.
Parabéns.
Abraço do
Silva

Anónimo disse...

Amigo Manuel Maia, muito boa tarde!
Que prazer ler o seu trabalho!
Que lindo constactar, como a juventude, mesmo em palco de guerra, é uma saudade.
É como é belo o seu sentir.
Como me sinto feliz por verificar que os Jovens do meu tempo são Homens NOBRES, DE ELEVADO CARISMA e ao mmesmo tempo de grande sensibilidade.
Bem-haja pelo prazer que me dá ler o que aqui escreve.
Como é bom sentir saudade do que conhecemos.

Um abraço e um pedido,
Envie mais.
Felismina Costa