domingo, 4 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6672: Para o livro de ouro do Capitão Garcez, um inédito de Mário Cláudio


Guiné > Zona Leste >  Sector L1   > Bambadinca > CCS/ BART 2917 (1970/72) > Jovem mãe fula, com o seu filho. Não há qualquer relação, espácio-temporal,  entre a foto, do Benjamim Durães, e o texto (que é de ficção literária) a seguir reproduzido, da autoria de um dos grandes escritores portugueses da actualidade, Mário Cláudio, Prémio Pessoa 2004, e um dos recentes membros do nosso blogue. 
Foto:  ©  Benjamim Durães (2010). Direitos reservados


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Em bicha-de-pirilau... A solidão dos combatentes, na hora mortal da madrugada... Um imagem, recuperada de um "slide" do meu amigo e camarada Arlindo Roda, editada (e reeditada) por mim (com a devida vénia...).
 

 
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > ... E a solidariedade dos combatentes... Dois soldados do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil Abel Rodrigues, aparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã: Um Alfa Bravo, Camarada!), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ser ferido duas vezes o decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, Fevereiro de 1970). Estes dois camaradas guineneenses podem ser alguns dos seguintes que compunham a 1ª secção: Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula); Sold 82108569 Sambel Baldé (F); Sold 82108969 Mauro Baldé (Ap LGFog 8,9) (F); Sold 82110369 Jamalu Baldé (Mun LGFog 8,9) (F); Sold 82109169 Malan Baldé (F); Sold 82109569 Iéro Jau (Ap Dilagrama) (F); Sold 82110969 Samba Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F); Sold 82109969 Malan Nanqui (Mandinga). "Slide" do Fur Mil Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção.  Imagem editada por L.G.

Fotos: © Arlindo T. Roda  (2010). Direitos reservados



Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez

 por  Mário Cláudio [, foto à direita] (*)

Convoco o banalíssimo rosto do Capitão Garcez, emergido da noite em que se me deparou. Um esfregão parece ter passado por ele, reduzindo-o à suprema inexpressão, despido do fulgor da violência que lhe imputam. Ali está, solitariamente sentado a uma mesa do Clube Militar, atento ao zumbido das ventoinhas do tecto, e ao súbito remexer dos ramos das bananeiras que anuncia um desses tornados da estação das chuvas. À sua frente a minha presunção de virtual escritor implanta uma grande bandeja, repleta de cabeças de guerrilheiros, cortadas numa tarde de assalto a um aldeamento por entre a aguardente emborcada, e o suor empapante dos camuflados. E um outro texto descerra-se diante de mim, já não o que o tenebroso oficial pressupõe, mas o que se estampa na cara dos degolados, contemplando num último lampejo do medo, ou do ódio, o embondeiro distante, a cuja sombra as mulheres se abrigam na amamentação dos filhos.

O bancário aposentado tira os óculos que ficam pendentes de um cordão, e confronta-me como se não quisesse ver-me com demasiada nitidez. “Não creio que tenha muito para lhe contar”, declara ele, e justifica-se, “já lá vão bastantes anos, e aquilo que nesse tempo nos parecia interessantíssimo acabou por não valer um caracol.” Encontramo-nos na salinha sobreaquecida, e a luz do candeeiro de pé reflecte-se no vidro da janela, compensando pelo halo de intimidade que desenha o desolado cinzento do Inverno lá de fora. “Afinal vivíamos praticamente em família”, discorre ele, e eu lanço uma mirada às prateleiras à minha direita, atafulhadas de edições do Círculo de Leitores, inseridas por detrás de uma tralha de lembranças de viagem, dominadas pelas três estatuetas africanas que ocupam o plano mais de cima. O meu informador abre uma gaveta na parte de baixo da estante, retira uma caixa de cartão arrombada, destapa-a com delicadeza, e vasculha na desordem de fotografias de várias dimensões. Descobre a que procura, e entrega-ma com um “aqui tem” apressado. Lá se distingue ele, facilmente identificável pelas orelhas de abano, de calções de caqui, entre dois camaradas, também de barba por fazer, e formando um grupo ligeiramente apartado do indígena bronco, de ombros descaídos, que espeta o olhar na câmara com a vigilância de um cão fiel. “O que está à minha esquerda”, explica num sussurro, “é o Garcez.” Solta uma risadinha como se lhe tivesse sobrevindo a recordação de um episódio pícaro, e remata, “O Garcez era um ponto, não havia outro igual.”


O percurso do Capitão Garcez a custo se acha nesses dilapidados calhamaços, inventariadores dos sucessos dos que serviram nas forças armadas, e que terminaram os seus dias a pedir esmola, a desempenhar o cargo de porteiro de algum condomínio fechado, ou a projectar o futuro na base da jantarada que anualmente reúne o pessoal decrépito da sua unidade. E os jornais do seu tempo, tanta vez apodrecendo no bolor de um sótão de província, permanecem inatingíveis pela falta de paciência de quem pretende estudar os passos dos bravos em desgraça. Terão porventura circulado aerogramas, a descrever-lhe as impetuosas proezas, subscritas pela admiração inescondível, e não raro pela calada repugnância, mas bem sabemos que destino levariam esses documentos, ora despachados para o contentor com o lixo reunido antes de se mudar para a casa nova, ora incinerados por um antigo soldado que nas vésperas do casamento resolveu com a noiva desfazer-se da correspondência de namoro. O Capitão Garcez vai assim perdendo o tal rosto, aquele mesmo que se esparrinhou com o sangue da jugular no instante da catanada, imobilizando-se a seguir na massa fosca das noitadas de whisky do remoto destacamento no mato.

Continuo a observar a foto dos idos da campanha, não tanto porque dela espere obter mais do que aquilo que deduzi já, o apagado facies do Capitão Garcez, alferes na altura, debaixo do cabelo liso e ruço claro, e na palidez que o distingue dos companheiros. Vou meditando no que o meu informador depreende do jogo fisionómico que lhe proponho, tão relevante para ele como o dele para mim, e de idêntica forma à mercê de suspeitas e traições. Apercebe-se da curiosidade com que lhe persigo o desvio da vista, e da minúcia com que lhe inventario os bibelots expostos na biblioteca, babushkas alinhadas em progressão aritmética, e miniaturas de teares e caldeiras, óbvios mementos das peregrinações a Leste, promovidas pelo partido da esquerda bem-comportada de que foi militante. E não deixará de reparar ainda no modo como lhe espio o gesto de selecção dos clichés da caixinha, futurando que será meu objectivo, e a mais do que a simples escrita de uma história, comprometê-lo por desmandos que, não transcendendo todavia a sua inicial responsabilidade, lhe pesam hoje como infames nas madrugadas de insónia. Ao devolver-lhe o retrato amachucado do quarteto com uma palhota atrás, terá porventura entendido o meu sorriso, não como aceno cortês de gratidão, mas como cínica ameaça, resultante do facto de conhecer eu muita, muita coisa que ele preferiria manter em silêncio. Desce a escuridão para além da vidraça, e o clarão da lâmpada denuncia com acrescida clareza quanto guardamos, ele e eu, nas algibeiras mais secretas das intenções que nos movem.

A peça televisiva, sobrevivente num preto e branco que as décadas foram zurzindo, oferece a deslocação lenta, um pouco rígida, do Capitão Garcez, subindo os degraus da tribuna no Terreiro do Paço, erguida para as comemorações do 10 de Junho. Transporta o rosto anódino de sempre, indeciso entre a melancolia e a austeridade, o que redunda na absoluta ausência de emoções. Avança para o Presidente do Conselho que lhe impõe a Torre e Espada, e que o abraça com a finura sinuosa de quem restringiu a paixão a um cálice, um cálice apenas, de porto tawny. Soletra-se entretanto o que se adivinha, a dor das duas viúvas que irão arrecadar a condecoração a título póstumo, o espanto do menino órfão no seu fatinho de piqué, tudo o que a comissão dos festejos imperativamente recomendou. O choro ostensivo que se proibiu, e que se crispa em engolidos soluços, esvai-se na brisa que sopra do Tejo, e que faz esvoaçar o véu de luto do duo das inconsoláveis esposas, e o vestido estampado das senhoras que assistem à cerimónia, e que ficarão lindamente no banquete que fecha o ritual. O nosso Capitão Garcez, e leia-se isto com um misto de pudor e asco, regressa à fileira donde saiu, cravando no vazio do céu azul a vista com que abarcou páginas e páginas de uma crónica heróica, as cabeças em espeques que lhe engalanavam o jeep, os ventres das grávidas rasgados à baioneta, e donde desliza no capim o feto banhado em sangue borbulhante, e o crânio do petiz que, ao esborrachar-se num poste, produziu o ruído das carochas esmagadas pela bota.

No rosto do Capitão Garcez aprendo a alvura que se situa para além da morte, a dos dentes das nativas que vertem a cólera das lágrimas no corpo estraçalhado das crias, a do leite que dolorosamente se retém nas suas mamas, a da esclerótica dos cadáveres que não baixam por completo as pálpebras, a da cal com que se pinta a parede para que não dure na morança o espírito do executado, a do pânico do régulo que cospe em Portugal a cegueira a que o reduziram com o sol a pino, a do esperma do terrorista enforcado que não se veda no meio minuto do estertor, a do manto da Senhora de Fátima a que se abrigam as virgens cristianizadas, a do lenço embainhado do menino de sua mãe que não encarna a coragem de cortar a garganta da impúbere, a dos cornos do boi que alui para alimentar com a sua carne os homens do pelotão, a da manhã de canícula que enrola os defuntos num sudário tão delicado como o linho, a do sabugo das unhas arrancadas ao capturado que se recusa a falar, a do cogumelo de espuma nos beiços do rapaz manietado que se puxa do poço, a do bando de garças que levanta voo a cada rebentamento da granada inserida nas calças de um pobre diabo, a da máscara do feiticeiro que conclui a pantomima, a dos lírios calcados pela sola do Capitão Garcez.
Se o oficial agraciado, tendo volvido ao seu lugar, me avistasse então, conforme me posiciono agora, acomodado defronte do televisor, talvez traduzisse em mim o nojo que lhe suscitaria o seguinte, “E que tem o marmanjo com os actos que pratiquei, ou não pratiquei, estávamos em guerra, na guerra mata-se, e quem poderá acusar-me de celebrar a morte, a fim de a assumir em pleno, com insígnias que eu escolhia, um colar de orelhas enfiadas num arame, postas à volta do pescoço, como se desembarcasse para umas férias no Havai, um bracelete de dedos calejados, colhidos ainda em vida dos anjinhos que despachara, e que me dera na moina enviar à última puta que fodera em Lisboa? Nenhuma destas alegrias curava a tristeza que me assediava, e que provinha de compreender que não existe no Mundo festarola que não seja a que inventamos, e em que ninguém acredita, e deitava-me a dormir, e antes de tombar no sono contava os dentes que se tinham soltado, apegados a lascas de gengiva, do maxilar que eu estourara com a coronha da G-3, ou procurava reproduzir em surdina, muito em surdina, os berros da gaja agarrada ao miúdo, o que tem você mesmo com isso, seu cobardola de merda?”

Na alma do Capitão Garcez colho o vermelho que explode no paroxismo da agonia, o do fio que escorre do buraco da bala na nuca, o do globo ocular que o sabre extirpa como uma ostra, o da papa em que se converte o detido que se ata a uma mina, o dos restos na bocarra do morteiro a que o chefe de posto é amarrado, o da diarreia do velhote que arrastam pelo chão, o da massa dos pulmões à mostra pelo lanho que rasga o peito do comandante deles, o do inchaço das partes que se penduram numa cana, o do vómito do recém-nascido que se arremessa contra o tronco da acácia, o do vinho acre que se bebe na volta à camarata, o da bandeira que se iça para presidir à farra, o da glória dos heróis que sepultam a honra debaixo do lodo, debaixo da lama, e debaixo da trampa.

Chega-me a mensagem de um que andou com o Capitão Garcez nas lutas africanas, e transcrevo dele este bocado, “Há muitíssima confusão, o que favoreceu o mito. Vamos pensar. Mas eu não pretendo branquear-lhe a memória, muita atenção, o tipo era um homicida que descobriu, na guerra colonial, a sua coutada, e que se realizou na tortura, no massacre e na matança. A prova está em que nenhum de nós confraternizava com ele, e havia um como que acordo tácito, entre a malta, nesse sentido. Estou a avistá-lo, ainda, sempre isolado, absorvido nas bolinhas de fumo, que atirava para o ar, com aquele rosto de querubim, mas que, se analisado à lupa, apresentava-se destituído de qualquer sentimento. Por que haveria eu de o desculpar? Mas o que ninguém negará é que as cabeçorras dos pretos, espetadas nos paus, a bordejar a picada, funcionavam como um truque da psico, para demonstrar aos rebeldes, convencidos, pelas igrejas evangélicas, de que Deus os conservava invulneráveis às balas, que não beneficiavam do dom da imortalidade e que não eram menos mortais do que nós. Se isto não escusa as atrocidades, é natural que lhes dê, no entanto, uma certa razão, e uma razão patriótica, que constituia aquilo que, na circunstância, se desejava do sujeito. Quem se adiantaria, se não o Garcez, para executar o trabalho sujo, desempenhado sem luvas, e a que não se furtava, por o considerar imprescindível, talvez, e não tanto porque lhe apetecesse?”

Este rosto que se fixa no meu, devolvido pelo espelho quadrangular que veio da casa dos avós, foi sendo devastado ao longo das quase cinco décadas. Junto a mim pousa a grande jarra de gerberas, arauta da Primavera que desponta, a projectar aquele macerado amarelo, tão característico dos que retornam dos trópicos. A verdade é que, há muito, muito tempo, me não assalta o organismo de pretérito miliciano essa coloração dos surtos palúdicos, precipitando-me em convulsos pesadelos, atrelados a outros experimentados já. Serenamente afastaram-se de mim aqueles transes inexplicáveis, vividos por um soldado sonâmbulo que devagar conduz o Unimog através da povoação em labaredas, cruzada pelo balido das cabras espavoridas, e pelo guincho das fêmeas e crianças que ardem numa habitação esbarrondada. Apagado pela ventania que espanta o incêndio, o rosto do Capitão cristaliza em mim numa neutralidade de cera, de órbitas vazadas, tão frágil e tão efémero como a paisagem que o circunda. E só a minha cara permanece, e nela a intrigada movimentação dos lábios magnetizados pela figura no espelho suspenso perante mim, balbuciando no extremo desespero, “Como te chamas? Como te chamas? Maltez? Calapez? Montez? Garcez! É isso, é isso, Garcez!”

O homem continua acolá, de pés virados para o lume da lareira. Amenizou-se-lhe o clima, respirado pelos netos traquinas que gosta de instalar sobre os joelhos, e pelo gato angorá que langorosamente curva o dorso sob as carícias do dono. E o noticiário da TV relata uma toada de guerras exóticas, empreendidas por mercenários que ganham o bastante para edificar a vivenda dos seus sonhos, descrita à namorada em cartas onde se alude ao cio arrasante, devorador das entranhas. O vetusto Capitão Garcez, admiravelmente robusto para os seus quase setenta, levanta-se da poltrona, e as imensas asas negras, rompendo-lhe das espáduas, batem numa vibração, desplumam-se na treva, e desfazem-se em pó.

Texto: © Mário Cláudio (2010). Direitos reservados

[Foto de Mário Claúdio. Autor: Gaspar de Jesus. Digitalização: Carlos Nery. Fonte:  livro de contos, autografado, oferta do autor, "Itinerários", 1993... Com a devida vénia ao autor e editor...]
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Notas de L.G.:

(*) Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, natural do Porto, que esteve na Guiné, como Alferes Miliciano, colocado na Secção de Justiça do Quartel General (1968/70), juntamente o hoje conhecido constitucionalista Gomes Canotilho. Foi nessa altura que conheceu o Carlos Nery (**) e o João Bagre, com quem fez a peça de teatro A Cantora Careca, de Ionesco.

(**) Foi o Carlos Nery que nos enviou, em 18 de Junho, este texto (que se presume seja inédito), remetido pelo escritor Mário Cláudio, na sequência da sua entrada para a nossa Tabanca Grande (onde está registado como Mário Cláudio / Rui Barbot:

Amigos, enviei-vos ontem o primeiro texto que o Barbot me remeteu para ser colocado no blogue. Quando vos remeti o meu "Noite Longa" tive o cuidado de o converter da reprodução do papel impresso para a forma digitalizada. Não sei como isso se chama... Mas fiquei surpreendido com a facilidade como meu filho fez essa conversão. O que vocês receberam parecia ter sido "batido" aqui no teclado mas fora um programa informático quem tinha efectuado o equivalente a esse trabalho a partir de um texto impresso em papel. Confesso que nem sabia que isso já era possível... Trabalhei na Organização e Métodos do Banco de Portugal e lembro-me de, aqui há já alguns anos, ter feito uma consulta ao mercado para saber se havia algum dispositivo que fizesse tal coisa. Não havia. O meu espanto foi ver que, agora, num computador pessoal, isso se faz em minutos...

Mas tanta conversa para quê? Para dizer que, se vocês quiserem, eu me posso encarregar dessa tarefa relativamente ao "Livro de Ouro"...

Uma coisa: o Barbot, não obstante a minha insistência, não me remeteu foto sua actual (***). O homem tem mil afazeres, obrigações e prazos a cumprir, não o quero chatear muito... Temos que entendê-lo... Penso que, se isso for muito importante, é sempre possível encontrar uma foto actual.

Enviei uma foto dele na "Cantora Careca" (juntei-a eu ao material enviado). É uma foto que tenciono usar quando estiver pronto o Poste sobre essa realização teatral. Pode ser ou não usada agora. Mas como falei da sua performance teatral, na altura, pareceu-me não ser descabido essa divulgação, agora, até pelo seu ineditismo...

Abraços CNery

(***) Mail de 17 de Junho do Mário Cláudio / Rui Barbot

Meu Caro Carlos Nery, aqui segue o que lhe prometi. O que não constar dos anexos seguirá depois, ou irá ter-lhe às mãos por via postal. Grande abraço amigo do Rui Barbot.

Vd. poste de 23 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6630: Tabanca Grande (227): Rui Barbot / Mário Cláudio, ex-Alf Mil, Secção de Justiça do QG, Bissau (1968/70).

28 comentários:

Carlos Nery disse...

Meu e-mail para Mário Cláudio, enviado ontem, 03JUL10:

Caro amigo,
Acabo de ler o seu "Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez" publicado no P6672. Penso que teria sido possível juntar umas fotos mais apropriadas mas não sei. Por vezes tentar ilustrar o óbvio torna-se redundante.
Quanto ao texto acho-o cheio de interesse literário e não só. Politicamente é um memória importante e sabemos como a obra de arte perdura e impressiona. Claro que não sei medir o real impacte de um texto ficcionado publicado num blogue da Net. A sua literatura, Barbot, exige um certo esforço por parte do leitor e não sei se muitos dos frequentadores do blogue estão dispostos a fazê-lo. Mas é importante que exista obra literária que exija algo do leitor senão, qualquer dia, estamos a ler histórias de quadradinhos e fotonovelas... Como dizia o meu amigo Capitão Belchior, em Buba, quando isso acontecer estaremos irremediavelmente "apanhados pelo clima"...

Veja também o P6670 onde há fotos minhas e do Barge. Este último prometeu também fazer um texto para o Poste da Cantora Careca. Fotos já há... Não se esqueça que me prometeu também escrever qualquer coisa...

Um grande abraço CNery

Luís Graça disse...

Meu caro Carlos Nery:

Concordo com a tua crítica, implícita, ao pobre do editor que tem, às vezes, de suar as estopinhas para encontrar a ilustração certa para o texto certo, muitas em cima do joelho e a correr, entre o jantar e a febre de sábado à noite... Mesmo assim, prometo arranjar mais uma 'chapa' para compor o poste...

Parafraseando-te, também eu "penso que teria sido possível juntar umas fotos mais apropriadas mas não sei. Por vezes tentar ilustrar o óbvio torna-se redundante."

O texto do Mário é demasiado rico e complexo para ser banalizado por uma qualquer foto dos álbuns fotográficos que nos restam da guerra colonial... Ninguém tirou fotos aos criminosos de guerra em acção, alguns dos quais conviveram connosco, enquanto outros fazem parte do nosso limbo de memórias....

De personagens como o Garcês (que é uma criação literária, tão intemporal como a guerra, a pulsão da violência humana)ouvi narrativas, mais ou menos verídicas, mais ou menos fantasiosas, em Tavira, quando eu estava a tirar a minha especialidade de armas pesadas... Mas essas histórias, macabras, remetiam-nos para o Norte de Angola, a ferro e fogo, no início do "terrorismo", com cabeças de pretos, cortadas e espetadas no capô dos jipes, ou balizando as picadas...

Factualmente falando, na Guiné, no meu tempo (1969/71), só conheci um cortador de cabeças: o Furriel Comando Uloma, de etnia felupe, que pertencia à 1ª Companhia de Comandos Africanos... Vi-o, horrorizado, a posar para a fotografia com uma cabeça cortada... (Dessas fotos, poucas terão chegado a Metrópole, tendo havido "caça" às provas do crime, por parte do Comando do BART 2917, em Bambadinca...).

Mas, na secção de justiça do Quartel General, em Bissau, "longe do Vietname", e onde estavam juristas como o Rui Barbot Costa e o Gomes Canotilho, deviam chegar outras histórias macabras, de camaradas nossos que a guerra e as suas circunstâncias poderão ter transformado em presumíveis criminosos...

Dei conta da existência de gente dessa, com processos pendentes na justiça militar, quando estive uns dias em Bissau, em Fevereiro de 1970:

(...) "...aqui[, em Bissau,] desaguam todos os rios humanos da Guiné: a carne que já foi do canhão e agora é do bisturi (ou dos vermes, em caixões de chumbo, discretamente empilhados, à espera que o Niassa ou o Uíge ou o Alfredo da Silva os levem nos seus porões nauseabundos); os desenfiados, como eu, todos os que procuram safar-se do inferno verde, quanto mais não seja por uns dias ou até umas breves horas, que o tempo aqui conta-se, de cronómetro na mão, até à fracção de segundo; os prisioneiros de guerra, esfarrapados, andrajosos, a caminho da Ilha das Galinhas; as populações do interior desalojadas pela guerra; os jovens recrutados para a nova força africana; enfim, os criminosos de guerra como o capitão P. que está aqui detido no Depósito Geral de Adidos à espera de julgamento em tribunal militar – suponho eu -, juntamente com um furriel miliciano da sua companhia. Ambos estão implicados em vários casos, muito falados, de violação e assassínio a sangue frio de bajudas, além da tortura e liquidação de suspeitos"... [Fonte: 14 de Novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)...].

(Continua)

Luís Graça disse...

(Continuação do comentário anterior)

(...) Concordo contigo, meu caro Carlos, que o texto do Mário Cláudio não é de fácil leitura, e muito menos digestiva, mas nunca serei eu a passar um atestado de iliteracia literária aos leitores do nosso blogue...

Quanto ao resto, estamos de acordo: a obra de arte têm, em relação à escrita do historiador, a grande vantagem de pôr o observador/leitor no lugar central do actor... A História não é Arte, é Ciência... A Literatura é Arte... O grande talento de grandes escritores como o Mário Cláudio não releva do talento do historiador... E mesmo aqui temos que pôr os pontos nos ii...

Cito um notável texto do António Filipe Pimentel, que acabo de ler, depois de ver a imperdível exposição que está no Museu Nacional de Arte Antiga, até princípios de Setembro próximo: "a Invenção da Glória: D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana"...

Diz o actual director do MNAA:

"Poderá talvez dizer-se,com razoável propriedade, que a História é como uma tapeçaria: a tal ponto o desenho final resulta do lento entretecer dos fios que a conformam, sempre dependendo da mão que conduz a urdidura, sempre denunciando olhar do historiador. No fim, uma imensa composição, onde evoluem personagens e acontecimentos, em operação que sempre implica a perspectiva e os valores de luz e sombra" (...)

(Extracto de António Filipe Pimentel - D. Afonso V e a Invenção da Glória: as Tapeçarias de Pastrana no Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: MNAA, Junho de 2010, p. 2).

Joaquim Mexia Alves disse...

Caros camarigos

Já o disse uma vez e volto a repeti-lo correndo o risco de me cair tudo em cima.

Este tipo de prosa é para mim um insulto à presença digna dos militares portugueses em África.

Mesmo que o shouvesse assim "uma andorinha não faz a primavera".

O e-mail do Carlos Nery para o Mário Cláudio não tinha problema para mim nenhum, pois era conversa entre os dois, mas incomoda-me, (para não dizer ofende-me), quando é colocado aqui como comentário.

Não tenho nenhum curso superior, serei até talvez um "grunho", mas sei ler um pouco, tal como todos os que aqui vêm.

Posso é não gostar do que leio, e posso ou não dentro das minhas possibilidades intelectuais, (que serão poucas certamente), considerá-lo como o faço no primeiro parágrafo deste comentário.

Pois não terei sido muito delicado no que escrevo, pelo que peço desde já desculpa, mas não retiro uma palavra ao que escrevi, a não ser dizer, escrevendo, que o faço com o coração nas mãos.

Um abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Abri agora.
Já tinha lido.Gostei.É ficção,literatura ou escrito de Mário Cláudio, escritor que conheço de leituras claro -Ursa Maior,Orion...cito de cor e devido ao teor lembrei-me de títulos com estrelas.
Podem as "gentes do blogue" não gostarem tanto.Podem.Pode ser diferente,diferente como a Cavalaria:nem melhor,nem pior...diferente.
As fotos são de hoje e do mato. o texto foi escrito por pessoa que não era do mato. Talvez se adequasse melhor foto de Bissau e da Praça do Império ou similar.
Sobre o teor do texto nada digo.Até porque sou leitor de quem o escreveu.
Digo só que comparei Garcez a Maltez(velho conhecido de estudantes de minha idade).
Estes textos devem continuar a aparecerem no Blogue. É continuação... não virgindade.Mesmo de ficção.
Caro L.Graça o Uloma era Felupe. A cultura Felupe.Não desculpo excessos. Menos desculpo a guerra vinda de Lisboa, de Bissau ou praticada no mato.
Na guerra o inimigo é abatido ou eliminado...eufemismos...Guerras...

Abraços do,
Torcato

Anónimo disse...

Luis Graça, sobre os casos tipo "Capitão Garcez", ococrridos em 1961 em Angola, eram motivo de relatos de boca em boca e fotografados mesmo por jornalistas, cabeças e membros em pedaços.

Falava-se na "reação natural" ao terrorismo da UPA.

A juntar aos assassinos e valas comuns, fotografados e relatados, até pelas emissoras internacionais, creiam que ainda havia "gabarolices" de valentões civis e militares, que depois vinha-se a saber que nem eram valentes nem souberam o que era disparar uma arma a não ser na carreira de tiro.

Mas, qual seria o comportamento de quem acompanhava com militares com o sentido de violência como o "capitão Garcez". Aí eu, furriel, conheci soldados que se queixaram (num caso) que um furriel os queria obrigar a disparar sobre pessoas indefesas, ameaçando os próprios soldados.

Sei que esse furriel acabou na psiquiatria com muitos problemas.

Tambem conheci pessoalmente um soldado querer assassinar a sangue frio, um homem indefeso, mas tanto o furriel como um cabo e alguns soldados, conseguiram desarmar o
soldado e com uma troca de murros e conversa "dominar"o soldado, e, este foi transferido.

Luis Graça, penso que, caso um capitão, comandante de companhia, tenha tido um comportamennto como o "capitão Garcez", como se poderá calcular o impacto na maioria dos tropas que o acompanham?

É que pode muito bem ter acontecido algo semelhante. Foram 13 anos de guerra. E a nossa preparação não era a melhor.

Antº Rosinha

Luís Graça disse...

Torcato:

Citei o exemplo do Uloma por que ilustra a excepção, no meu tempo. Nunca vi militares portugueses, metropolitanos ou do recrutamento local, praticarem, "à minha frente", actos que me envergonhassem como militar, como português e como homem...

Evocar a condição étnica do Uloma (felupe, filho de régulo felupe) não torna mais desculpável e muito menos aceitável, à luz dos nossos valores, o comportamento dele, já que era um graduado do exército português: na altura, em 1970, furriel...

A melhor maneira de nós prevenirmos reacções demasiados emocionais quando, no nosso blogue ou nas nossas conversas, nos confrontamos com casos como estes (o Furriel Comando Uloma, o Capitão P., na Guiné; o Capitão Garcez, na ficção literária...)é justamente publicitá-los, descrevê-los, analisá-los, contextualizá-los...

Em meu entender, não está em causa a honra de ninguém, muito menos de todos nós, enquanto combatentes... No nosso direito, não há o conceito de responsabilidade colectiva... Depois, e convém mais uma vez lembrá-lo, o nosso blogue não é nenhum tribunal, e muito menos o Tribunal de Haia...

Por fim, convirá sempre lembrar o bem mais precioso que temos, depois da vida, é a liberdade de expressão, incluindo o direito que todos temos, como escritores, melhores ou piores, com mais ou menos talento, de fazer aquilo que o grande Eça de Queirós fazia, que era "sobre a nudez forte da verdade [pôr]o manto diáfano da fantasia"... Mais uma vez, não confundamos os planos.

Esta é uma velha questão que, de tempos a tempos, vem à baila, que já foi fracturante no passado, mas que abordamos no nosso blogue com algum conforto, serenidade, objectividade, distanciação, espírito crítico e maturidade...

Fico grato por TODOS os contributos. Luís

Joaquim Mexia Alves disse...

Caros camarigos

Que fique bem claro que não pretendo, nem nunca pretenderia "calar" a liberdade de cada um de se exprimir, mas também ninguém pode calar a minha.

Saliento também, como aliás já tinha dito, que tive um irmão em Angola, no Norte, de 62 a 65, por isso também sei o que por lá se passou e por isso me incomodo de querer fazer passar como prática geral aquilo que é excepção.

São sempre as Forças Armadas Portuguesas as mal vistas, basta ler a maior parte destes "romances".

Esta é a minha liberdade também, dizer que não aceito esta literatura que induz em erro os meus filhos e os meus netos, e muito menos num espaço em que se pretendem contar as histórias mais ou menos reais da guerra que vivemos.
Cada um tem a liberdade de se exprimir e foi o que eu fiz.

Um abraço camarigo para todos.

Luís Graça disse...
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Luís Graça disse...
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Luís Graça disse...
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Anónimo disse...

Amigos e camaradas:

Tentámos (não sei se em vão...) "abrir um confessionário" no nosso blogue... Chamava-se (chama-se) "O Segredo de...".

Fomos talvez demasiado ingénuos,ao pensar que o "confessionário" iria ter muitos "clientes"... Não tem, justamente porque um segredo não se partilha...

Afinal, ainda há muito "pensamento de grupo", há culturas profissionais baseadas na lealdade e no sentido de missão (que inibem, por exemplo, a participação da generalidade dos militares de carreira em iniciativas como o nosso blogue), ainda há (?) o RDM na cabeça de alguns camaradas, e até o invisível sistema de casta, baseado nas divisas e galões... Tudo isto apesar de termos criado uma cultura bloguística e convivial favorável à livre expressão de ideias, sentimentos, relatos, opiniões, comentários, incluindo o tratamento romano, próprio de ex-combatentes, agora velhos amigos...

Reconheço que o receio de ser mal interpretado e criticado em público funciona como factor de inibição...

Quero eu dizer: há (e continuará a haver) inibições e constrangimentos, o nosso blogue (leia-se: a nossa Tabanca Grande) nunca se poderá substituir ao confessor, ao psiquiatra, ao confidente amigo, à folha de papel (ou ao écrã do computador), ao bloco de notas pessoal e intransmissível, ao livro de memórias (que alguns ainda sonham publicar antes da Grande Viagem)...

A menos que publicássemos escritos anónimos, o que é contra as nossas regras...

Por pudor, por auto-censura, por pressão de grupo, por medo de ser socialmente reprovado, política ou eticamente incorrecto à luz do nosso tempo (e dos juízos de valor dos nossos contemporâneos), é difícil ir muito mais além... Alguns de nós, poderiam ir mais além, nos seus depoimentos... Percebo, entendo, aceito, que não o façam... A confissão só funciona num sistema de impunidade total, de inexistência de culpa, sanção, pecado, traição, juízo de valor, avaliação, condenação...

Afinal, é como a pergunta (ingénua ou talvez cínica) do padre no início da cerimónia do sagrado matrimónio:

"Se algum dos presentes tem alguma coisa contra esta união, que fale agora ou que se cale para sempre."

A única saída para este impasse é a literatura, a ficção... Podemos sempre afiançar que "qualquer semelhança entre esta história e a realidade é pura coincidência"...

Pessoalmente, continuo a pensar (e a defender) que nada mais prático do que uma boa teoria, e nada mais real do que uma boa história...

Um Alfa Bravo

Luís Graça

Anónimo disse...

Meu caro Joaquim:

Nem a rir nem a brincar... A gente já se conhecer há um ror de tempo... É esta frontalidade de opiniões a que já nos habituámos no blogue... Uma qualidade que tu tens e que eu, de resto, admiro nas pessoas: saber bater-se com galhardia pelas suas opiniões e convicções, sem necessidade de mandar calar (e vencer) os outros...

Podemos estar em desacordo sobre muita coisa (nunca medi, nunca contabilizei, nunca utilizei isso como arma de arremesso), entendemo-nos sobre o essencial, como homens e como portugueses. E o essencial, Joaquim, poeta e fadista, confrade das letras, doutorado em Sabedoria, Amizade e Vida, velho camarada do do Geba Estreito, do Mato Cão, de Missirá e demais terras do Cuor, o essencial é o que não é circunstancial... O essencial é o que importa... Luis

Anónimo disse...

Camaradas:

Qualquer membro do blogue pode contar as estórias ficcionadas que entender, cabe aos editores achar útil ou não a sua publicação, mesmo neste caso tratando-se de um escritor com méritos firmados nas letras lusas.

O texto não me acrescenta mais saber, e neste blogue à estórias publicadas com altíssimo nível literário escritas por camaradas que não seguiram a carreira das letras.

O comentário do Carlos Nery, parece fazer crer que a esmagadora maioria dos que não perceberem o texto, ou não lhe derem aval, serão de raciocínio lento, (já agora não gosto de novelas), o que também não me torna inteligente por isso.

O que me intriga é só aparecerem histórias onde os maus somos sempre nós.

Um abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Luís Graça:
TODOS
-sabem que gosto da cultura e do Povo Felupe;
-que não desculpo (desculpei) excessos de militares;
-que logicamente, por excepção,podem ter sido cometidos excessos por militares portugueses;
-que sou contra a guerra(s)venha(m) de onde vier e aconteça onde acontecer;
-que os inimigos são eliminados e nunca assassinados;
-sabem todos que na Guiné e não só,antes,durante e depois da dita "guerra de libertação",o(s)movimento(s)"libertador(es)"assassinaram;
-que não falo de figuras de ficção literária, menos do Eça...(alguém disse:em Portugal os três escritores mais importantes são:o Eça,o Eça e...o Eça). Há,felizmente, muitos mais...
-que sobre a verdade só se coloca ou reforça essa mesma verdade;
-que defendo a liberdade,fraternidade e pluralidade opinativa. Respeito absoluto pela opinião dos outros;
-que servi de veiculo de transmissão...hoje e aqui;
A TODOS o meu Abraço Fraterno,
Torcato

Anónimo disse...

Ora,

Eu nunca fui à Lua, embora, por vezes, "ande na lua",

portanto,

Embora, por vezes "ande na lua" ou tenha estado (talvez) perto da Lua, acho que não devo escrever sobre a Lua sem informar os potenciais receptores que estou a escrever com base naquilo que ouvi dizer que foi.
Eu que sou inteligente, acho que nem todos me entenderão...
Alberto Branquinho

Unknown disse...

Caros Amigos, apesar de doente não deixo de acompamhar aguns blogs.
Nesta lista de comentários, fico com a impressão que alguns leitores "compreenderam" perfeitamente o texto P6672 de Mário Cláudio, mas teimam em não compreenderem os texto e/ou comentários de Luís Graça.
Tive um tio sargento durante anos em Angola e recordo-me das histórias que ele contava, quando cá vinha (durante toda a minha adolescência).
Meu pai que nunca convivi com ele em Moçambique (com um grande armazem em Alto Maé)) e recordo-me do que se dizia sobre ele, as pessoas que vinham de lá.
Finalmente minha mãe que trabalhava numa familia em Inglaterra e que me enviava revistas com reportagens da guerra colonial portuguesa com fotos pouco abonatórias.
Reconhecer factos não tira a honra ao ex-combatente, mas sim, eleva mais o seu conhecimento sobre um período histórico de Portugal.
Claro que como já escrevi uma vez, isto é incompativel com quem doentiamente ainda se sente um operacionalmente activo. E acrescento agora; e a nostalgia do velho sistema.
Um abraço para todos e para cada um dos amigos.
Carlos Filipe
ex-CCS BCaç 3872 - Galomaro
ct0408@sapo.pt

Joaquim Mexia Alves disse...

«Claro que como já escrevi uma vez, isto é incompativel com quem doentiamente ainda se sente um operacionalmente activo. E acrescento agora; e a nostalgia do velho sistema.»

Carlos Filipe

O teu comentário é insultuoso!

Não lhe respondo para não descer ao teu nível!

Um abraço para todos.

Anónimo disse...

Por aquilo que vou acompanhando no blogue, vejo-o como espaço de liberdade. Não encontro (antes pelo contrário) camaradas que se sintam "operacionalmente no activo" e muito menos com "nostalgia do velho sistema".
Vejo, sim, (e é isto que faz a riqueza do blogue) opiniões radicalmente diferentes sobre o mesmo assunto. Não se pretenda é que todos aprendam pela mesma cartilha e sigam uma qualquer "ortodoxia" venha ela da frente, da rectaguarda, da esquerda ou da direita, com cores vermelha, azul, amarela ou outra qualquer.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Unknown disse...

Sem pretender entrar em polémica, o Joquim Alves acaba de descontextoalizar uma parte do que foi expressado (o que causa imprecisões) quando imediatamente antes está escrito "Reconhecer factos não tira a honra ao ex-combatente, mas sim, eleva mais o seu conhecimento sobre um período histórico de Portugal."
Não ofendi ninguém, uma coisa são as consequências da guerra no individuo; outra coisa são as manias de vária ordem que nem sequer por vezes corresponde a convicções de qualquer ordem.
De qualquer forma obrigado por me ter lido e p.f não vamos continuar a polémica porque este Blogue não merece.

Carlos Vinhal disse...

Permito-me transcrever este parágrafo do camarada Mexia Alves:

"São sempre as Forças Armadas Portuguesas as mal vistas, basta ler a maior parte destes "romances"".

Teremos nós portugueses ainda algo a resolver ao fim destes anos todos? Alguém tem problemas de consciência? Quem faz ficção e faz de nós os maus, deve conhecer atrocidades do(s) outro(s) lado(s).
Porque não explora também este filão, ou vamos deixar para "eles" a iniciativa?

Se alguém, fazendo-se valer do seu estatuto de militar, comete atrocidades e selvajarias, não qualifica um Exército. Não seria de contextualizar as condições em que ocorreram?

Quanto a mim, este tipo de ficção postada no nosso blogue pode dar origem a mal entendidos e ser interpretada como estória de alguém que viu ou cometeu tais acções.

Lembremo-nos do fim destas páginas.

Ficção sim, mas...

Não precisaria de dizer, mas esta é a minha posição de comum tertuliano com direito a expressar a sua opinião.

Um abraço
Carlos Vinhal

OBS:-Estou a ler um "grande livro" de um "grande escritor": "Golpes de Mão's - Memórias de Guerra" de José Eduardo Reis de Oliveira (JERO). Recomendo.

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Carlos Filipe

Desculpa, mas reincides.

"Reconhecer factos não tira a honra ao ex-combatente, mas sim, eleva mais o seu conhecimento sobre um período histórico de Portugal."

Aquilo é ficção e não há ali factos nenhuns.


Depois escreves:
«Não ofendi ninguém, uma coisa são as consequências da guerra no individuo; outra coisa são as manias de vária ordem que nem sequer por vezes corresponde a convicções de qualquer ordem.»

Manias???

Agora os que não concordam, têm manias?

Olha, meu caro, desejo as melhoras do teu estado de saúde e fico-me por aqui, a menos que alguma tua resposta me "obrigue" a vir a terreiro.

O Manuel Marinho escreve no seu comentário «O que me intriga é só aparecerem histórias onde os maus somos sempre nós.», o que vem ao encontro daquilo que eu digo também e que depois é retomado pelo Carlos Vinhal com quem estou de acordo.

Volto a repetir que não tenho nada contra a ficção, ou contra a liberdade de cada um escrever o que muito bem lhe apetecer, (desde que não ofenda os outros), agora não me parece que o texto esteja perfeitamente identificado como ficção, e tal como o Carlos Vinhal diz e eu já tinha escrito, este blogue é já uma espécie de referência da história da guerra na Guiné pelo que deve haver um grande cuidado em distinguir o que é ficção do que é ou foi a realidade, mais ou menos burilada por aqueles, (que afinal somos nós que lá estivemos), que lá estiveram.
Os vindouros, os nossos filhos e netos que acedem a este blogue precisam de saber que os seus pais e avós não foram uns assassinos empedernidos, mas uns combatentes dignos, embora entre eles tenham havido excepções, que não são nem nunca serão o todo dos militares portugueses, e apenas reperesentam uma infima parte deles.

Um abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Com'é qu'a fotografia do grupo a atravessar a picada não foi premiada?
1 ninguem a viu!
2 quem a viu nunca viu o qu'ela mostra

Porém, é claro qu'a solidão do combatente, naquelas condições -arma às costas à john wayne e tudo ao monte e fé em deus-
resultava em maus tratos e desgraças muitas.
Imagine-se na pele dum turra, agachado ali ao fundo, à espera dos últimos para abrir fogo -por exemplo- se só visse um de cada vez, a atravessar a picada e de arma nas mãos a olhar para lá...
pois é!
Por isso é qu'eu lhes dava no toutiço - nunca admiti esta balda na minha tropa.

Registe-se, qu'as memórias não são só de choraminguice e amolgadelas.

SNogueira

Anónimo disse...

(É claro que o 'parecer' tecncista anterior não retira à imagem a a densidade e a dramaticidade que lhe mereceriam prémio.

Vê-se pr'aí tanta cagada premiada, meus senhores...)


SNogueira

Anónimo disse...

Meu caro Salvador:

Obrigado em nome do editor e do fotógrafo (o meu amigo Arlindo Tê Roda) pela tua distinção, atribuída à foto dos caramelos a atravessar a picada, de arma ao ombro, numa aparente descontracção que pode ser lida, por grandes operacionais como tu, como reveladora de total bandalheira… A foto poderia ter algum utilidade na instrução militar dos nossos soldados do passado, mas também do presente e até do futuro (já que haveremos de voltar a África, noutras guerras, desta vez na selva urbana, quiçá de Bissau).

Sem querer salvar a honra do convento (uma vez que se trata de um grupo de combate da CCAÇ 12, a que eu pertenci), quero apenas esclarecer-te a ti e aos demais leitores que essa imagem foi trabalhada em computador… Tecnicamente era muito má, com predominância de roxos e figuras humanas imprecisas… Pareceu-me que tanto podia ter sido tirada ao lusco fusco como de manhã… Não tenho as legendas das imagens (obtidas a partir da conversão de “slides” pelo Tê Roda, que era Furriel Mil Atirador de Infantaria, e era dos poucos, para além do Humberto Reis, que levava a máquina fotográfica para o mato)…

Reenquadrei parte do grupo que atravessa a picada, cortei e reduzi a imagem a preto e branco… Como tinha razoável resolução (cerca de 2,3 MB) foi possível “salvá-la”… Mas não tem, quanto a mim, nada de especial… Mesmo assim, obrigado, por a teres valorizado…

A legenda, da minha lavra, é enganadora… Como tenho muito más recordações da “hora mortal da madrugada” (altura a que geralmente chegávamos às “barracas” do IN, no Poindonm/Ponta do Inglês ou Baio/ Buruntoni ou Madina/Belel, só para citar alguns locais onde demos e levámos porrada, e que também deves ter conhecido…), lembrei-me de falar da “solidão” do combatente, mesmo quando se vai em “bicha de pirilau”…

Claro que a leitura imediata que qualquer operacional faz, é: “Estes gajos estão mesmo a pedi-las”… E estes gajos são “tropa macaca” (o epíteto é meu), fulas, com muitas virtudes e muitos defeitos enquanto combatentes (e um dos maiores era uma aparente indisciplina, nomeadamente de fogo, a par de uma grande coragem física e lealdade aos tugas)… Mas estes gajos que tu aqui vês, com o diligrama às costas, pronto a disparar, as G3 ao ombro, à “cowboy”, como tu dizes, conheciam como ninguém o chão que pisavam (Badora, Xime, Corubal...). Na foto, estão possivelmente de regresso de operação (o que significa, que não pode ter sido de madrugada)…
No final da minha comissão, ou melhor, da minha rendição (em Março de 1971), contei-os um por um e cerca de um terço tinha apanhado chumbo… Eles lá ficaram, os feridos foram substituídos, e lá sobreviveram até ao fim da guerra… E nenhum se deixou apanhar à mão… Até 1975…

Bom, está na altura de dizeres qual era a tua tropa… que os restantes leitores não adivinham.

Um Alfa Bravo. Luís Graça

Anónimo disse...

A tua Tropa Luís era igual à minha!

Boa Tropa,melhor não conheci..

Abraço para ti e para eles.

Jorge Cabral

ana disse...

Antonia Marmota Marmota Sinto-me sensibilizada.S... Ver maisão demasiados anos de silêncio.Momentos brutais que deixaram e (dexam!!) marcas profundas.Ainda se ouvem os gritos roucos.Suores frios.Olhares distantes.
Alguns concentram-se diáriamente, neste país que adoptaram.
É possível ve-los, ouvi-los, tocar-lhes porque, sao reais.
Albergam-se num cantinho do Rossio.Procuram um espaço, uma pátria que não existe. Não encontram.Desamparados, sós.Estes são também antigos combatentes que optaram por marchar ao nosso lado.
Do outro lado ha mais,tantos.Um conflito que parece não ter fim.Um País extremamente sacrificado.
Agradeço-lhe...

(ana)

Anónimo disse...

Meus Caros vivemos num tempo que vale tudo:A respeito do "cap Garçês, todos sabemos, saberemos?que alguns desmandos houve.Mas querer julgar a esta distância e sentados no sofá, aqueles que em determinado ambiente se excederam fruto tb de outros excessos, é fácil.Nós não precisamos de adversários para nos destruirmos a nós próprios.Ainda bem que os outros são todos mto. bons.Até os cubanos que maltrataram os meus colegas da força aérea, numa evacuação de alIII em cabinda.Evacuei pretos brancos e outros afins, amigos ou inimigos.Mas fomos todos uns sanguinários,Já duvido da realidade do blogue.As minhas desculpas aos que se sentirem ofendidos.Abençoados os que partiram mais cedo, pelo menos foi-lhes poupado este ambiente.E não me venham dizer do pódio da intelectualidade que não compreendi a leitura do "livro de oiro(ouro)do Barbot.C.Gaspar Ex-força Aérea