segunda-feira, 7 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6549: O Nosso Livro de Visitas (92): O Xitole que eu e os meus pais conhecemos até 1962 (Maria Augusta Antunes, filha de Henrique Martinho, antigo madeireiro)





Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Janeiro de 2006 > Casa, em ruínas,  de Jamil Nasser, comerciante de origem libanesa. Fotos do Dr. Rui  Fernandes, médico.

Fotos: Cortesia de  © Rui Fernandes / Carlos Silva


1. Mensagem com data de 5 do corrente, enviada por Maria Augusta Antunes:


Olá, muito boa noite.

Começo por pedir desculpe da minha ousadia em lhe escrever, Sr. Luís Graça.

Sou Maria Augusta Antunes Martinho, e fui para a Guiné ainda bebé com a minha mãe e irmão ao encontro do meu pai, Henrique Martinho, madeireiro e colono então no Cumeré.

Mais tarde montaram a serração no Xitole, para onde nos mudamos. Com o meu pai estava também o sr. Pires. Fizeram ambos as suas casas de raíz e também a casa aonde guardavam o arroz e o sal, que faziam parte do pagamento do trabalho diário dos negros, trabalhadores da serração.

Pois a razão deste mail é exactamente o desejo que tenho de corrigir uma informação do seu blogue.
Na verdade, a casa do sr. Jamil (se a memória não me trai,  de seu nome completo Jamil Nene Nasser), compadre dos meus pais, (pois foi o padrinho de baptizado de um dos meus irmãos, nascidos naquela casa),  não era nenhuma daquelas mencionadas no álbum de fotografias do Xitole (*), mas sim uma casa que ficava no cruzamento da estrada que,  vinda de Bambadinca, passava pelas nossas e à entrada do Xitole virava para a estrada do Saltinho. Vi a verdadeira casa do sr. Jamil no blogue do sr.  Carlos Silva. Como eu a conheço bem!

Quando em 1962 o meu pai veio da Guiné, pediu ao compadre Jamil que olhasse pela casa na esperança de um dia voltar e para evitar ela ser ocupada pelos negros. Assim também sucedeu com a do Sr. Pires.

Vivi e cresci a ouvir falar da Guiné. Transmito isso aos meus filhos e neto. Os meus queridos pais faleceram sem lá poder voltar. Mas isso são outras histórias.....

Como deve calcular posso falar do sr. Jamil, pois que era visita constante de nossa casa.
Se estiver interessado dar-lhe-ei os pormenores que souber

A minha casa é a que tem os 2 anexos juntos,  um era a cozinha e a casa aonde o meu pai punha a caça quando vinha do mato, e o outro era a casa de banho.

Espero não o ter aborrecido e tomado o seu tempo.

Aceite os melhores cumprimentos

Maria Augusta Antunes Martinho


2. Comentário de L.G.:

Maria Augusta, não maça nada. Bem pelo contrário, todos os membros deste blogue (e são muitos) que passaram pelo Xitole (ou que conheceram o Xitole e muitos dos seus habitantes, incluindo não já o seu pai mas o seu compadre, Jamil Nasser) ficam-lhe gratos por este reavivar de memórias.  Esteja à vontade para escrever o que bem entender sobre as suas recordações da Guiné, incluindo o Xitole e o Cumeré, sítios a que esteve ligada a sua família. As memórias da Guiné não são monopólio de ninguém, e o objectivo deste blogue é justamente partilhá-lhas, entre portugueses e guineenses de várias gerações. Ainda há dois meses publicámos também aqui, nesta série O Nosso Livro de Visitas, uma mensagem de Maria Helena Carvalho, filha de um português, estabelecido até 1962, no Enxalé (**).

Recomendo-lhe também uma visita o blogue Xitole, criado e mantido por camaradas nossos que em diferentes períodos estiveram aquarteladas nessa bonita localidade da margem direita do Rio Corubal.

Sobre o Xitole temos, no nosso blogue, mais de oitenta referências (ou marcadores). De qualquer modo, os anos que antecederam o início da guerra colonial (que começou, oficialmente, em 23 de Janeiro de 1963, em Tite, segundo a historiografia do PAIGC) estão mal documentados no nosso blogue. Gostaríamos muito que nos contasse a história de vida da sua família e as razões (imperiosas) que levam o seu pai a abandonar a serração e a casa no Xitole, em 1962. Diferente foi a estratégia do sr. Jamil, comerciante, que decidiu ficar, e que conviveu com alguns de nós, incluinmdo o Alf Mil Capelão Arsénio Puim (CCS/ BART 2917, 1970/72) e o Joaquim Mexia Alves (que foi Alf Mil Op Esp, tendo passado entre 1971 e 1972 pela CART 3494). 

Maria Augusta, dou-lhe ainda os parabéns por se preocupar em transmitir aos seus filhos e netos as suas recordações de infância da Guiné.
______________

Notas de L.G.:

(*) Fotos de 2001, tiradas pelo nosso camarada David Guimarães (ex- Fur Mil At Inf MA, CART 2614, Xitole, 1970/72)

(**) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

4 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

O mundo é muito pequeno realmente!

Obrigado Maria Augusta Antunes pelo seu mail.

Eu costumava tratar o Jamil por tio Jamil e raro seria o dia em que não ia a sua casa ao fim da tarde beber um uisque acompanhado de pequenos pedaços de tomate com sal grosso.
A casa que está nesta fotografia parece-me ser a do Jamil, com aquele alpendre de entrada onde tantas vezes me sentei com ele e onde ele serviu um almoço de chabéu no dia dos meus anos, 6 de Abril de 1972!
A Tabanca Grande tem fotografias julgo eu desse almoço bem como uma minha com o Jamil.
Do outro lado da estrada, salvo o erro, ficava a loja do Jamil.

Um grande abraço e mais uma vez obrigado, porque o Jamil é uma das melhores recordações da minha estadia na Guiné.

Carlos Silva disse...

Maria Augusta

Há tempos o seu irmão Rui, pôs-me em contacto consigo, a propósito do meu Site, das minhas fotos e do meu amigo Rui Fernandes, médico, que também escreve aqui no Blogue de vez em quando.
Ainda bem, que veio a terreiro repôr a verdade, quanto à presumílvel casa do Jamil Nasser [que era a vossa 2ª o me disse o seu irmão Rui e a minha Amiga], porquanto, eu já tinha contado essa versão ao meu amigo David Guimarães, o qual quase me "batia" porque eu não estava a falar verdade e ele de facto, durante o tempo de guerra esteve no Xitole Tal como o Mexia Alves e eu em Farim e como tal eu não poderia proferir tais afirmações e de facto para eles essa casa era do Jamil, o que não corresponde à verdade.
Fica assim desfeito o equivoco deles.
è pena não ter referências quanto à Ponte Carmona, pois não há/não tem aparecido ninguém que desfaça as minhas dúvidas que estão colocadas no meu Site.
Agora, o David Guimarães, o Mexia e muitos outros camaradas que passaram pelo Xitole, ficam conformados com a verdade, que enfim, para mim não é relevante, apenas veio acabar com a teimosia de quem não admitia outra versão, porque lá estiveram e eu apenas conheço o Xitole de viagens turísticas.
Com um abraço para todos
Carlos Silva

Joaquim Mexia Alves disse...

Porque a memória já não é a mesma, e para meu conhecimento. estas fotografias deste poste são as realmente da cas do Jamil, ou não?

É que se não são, devo dizer que a casa é muito parecida, pois eu passei ali algumas horas de conversa e de uísques!!!

Apenas para esclarecer que perante as legendas das fotografias que vi a primeira vez, (salvo o erro em Julho de 2006), que acedi ao blogue e informavam ser a casa do Jamil, eu aceitei a informação como boa, embora eu ache que isto não é de uma relevância importante para as minhas memórias.

Esta casa aqui fotografada é realmente muito parecida com a casa de que me lembro e que como digo acima ficava em frente, do outro lado da estrada da loja do Jamil, onde comprei o meu rádio "casseteiro",(mais tarde destruído no Mato Cão, salvo o erro por formigas), e mandámos fazer os nosso "fatos fulas".

Ainda me lembro, como já uma vez aqui escrevi, que o Jamil quando vinha a Lisboa ficava no Hotel Condestável? , mesmo encostado ao cinema Tivoli.

Um abraço para todos e obrigado pelas memórias.

maria augusta antunes disse...

OBRIGADA! O meu muito obrigada. Na verdade só agora consegui digerir tantas emoções! Obrigada ao v/ estraordinário Blogue. Através dele e do livro do sr. Estácio sobre a Dª Carlota de Nhacra, tomei conhecimento do paradeiro da Senhora Dª Margarida Toscano de Almeida e do seu esposo sr. Luís, padrinhos do meu irmão Luís Manuel.Já os contactei em telefónicamente, e nem consigo descrever tantas emoções. Conto estar pessoalmente com eles em breve. Ai tentarei encontar resposta a algumes perguntas que ficaram por fazer por pensar serem os meus pais eternos...
Mais uma vez muito obrigada