terça-feira, 4 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6315: Recortes de imprensa (24): Salgueiro Maia, comandante da CCAV 3420, em fim de comissão, 5 de Maio de 1973: "Em 60 homens ninguém sabia o mais elementar em primeiros socorros: fazer um garrote" (Beja Santos)



A opinião, do nosso camarada Beja Santos, em O Ribatejo, 2 de Maio de  2010 (Reproduzido com a devida vénia...). Vd. postes anteriores sobre o Salgueiro Maia e a sua CCAV 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Brá).

Vd. também poste do nosso camarada José Afonso, que foi  Fur Mil da CCAV 3420,  e que apresenta um boa cronologia dos acontecimentos de Guidaje> 26 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)

10 comentários:

Luís Graça disse...

É chocante: eu também não aprendi, ninguém me ensinou nem ensinei aos nossos praças guineenses... Altamente lamentável!

No mato, se os cabos enfermeiros "lerpassem", o resto dos feridos graves bem podiam morrer, esvaídos em sangue...

Unknown disse...

O problema é que quem destinava o pessoal do serviço de saúde para as
Companhias julgava que os enfermeiros
eram imunes ás balas. Mesmo que o enfermeiro estivesse completamente operacional com tantos feridos e com o resto do pessoal desvairado se calhar o ferido ainda morria da cura. Não é só aplicar o garrote, e neste caso tinha que ser improvisado com duas ligaduras. Uma como garrote e outra para segurar firme o torniquete. Depois era preciso escrever-lhe na testa a hora a que foi colocado, pois que passado 20 minutos tinha que ser aliviado e depois tornado a apertar.
Isto até á evacuação. Entretanto e era preciso que houvesse por-lhe um frasco de soro para o ir aguentando. O enfermeiro sozinho nunca tinha possibilidade de o fazer a não ser que abandonasse os
outros feridos.
E isto deu-se já no findar da guerra, o que quer dizer que os altos comandos não aprenderam nada
com situações anteriores, onde foram feridos ou morreram enfermeiros

Armandino Alves

Anónimo disse...

Não se entende.
Não me lembro se em Tavira tive instrução de primeiros socorros. O que me lembro é que na tropa tive instrução sobre isto, em especial sobre como fazer garrotes. Terá sido no BII 18 quando dei instrução?
É provável que a instrução sobre primeiros socorros integrasse o programa de formação dos militares dos vários escalões, ainda que talvez isto fosse considerado de segundo plano e, portanto, nem sempre essa instrução fosse ministrada.
Seria interessante que mais camaradas nos informassem se tiveram instrução de primeiros socorros.
Carlos Cordeiro

manuel amaro disse...

Leio e compreendo, a custo.
Mas, que diabo, o furriel enfermeiro e o cabo "maqueiro", claro que sabiam fazer esse trabalho, mesmo debaixo de fogo, ou após o fogo com tantos feridos à volta.
Eu sei que tive muita sorte, mas a minha CCAÇ 2615 nunca teve problemas com a assistência prestada pelos cabos enfermeiros, um dos quais foi ferido e evacuado para Lisboa e não voltou à Guiné. Recuperou e cá está, cheio de saúde, embora com cicatrizes.

O comandante do batalhão mandou avançar uma companhia e os militares recusaram-se a ir???
Estamos sempre a conhecer novas situações, que desconhecíamos e gostaríamos de pensar que nunca existiram.

Manuel Amaro

Anónimo disse...

Caros camaradas.

Este episódio narrado pelo Salgueiro Maia, não acontece em Guidaje (ao que o título do post leva a supor) mas uns dias antes (5 de Maio / 73) e na zona de acção de um destacamento que o autor designa por C.

Esta situação, também me deixa confuso porque se fala em 60 homens.

Na emboscada violenta que sofremos a 8 / 9 de Maio, (com 2 GrComb) fomos socorridos de forma exemplar, para não dizer heróica, por um dos nossos enfermeiros debaixo de fogo IN., e digo um porque outro dos que seguiam foi ferido sendo posteriormente evacuado.

Na minha Comp. não nos podemos queixar do trabalho abnegado dos nossos camaradas enfermeiros, e é bom lembrar que eles também se encontram debaixo de fogo e a tratar dos seus camaradas, portanto mais desprotegidos.

Um abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

São os problemas da Guerra!

E assim, claramente perdida!

Qual a Companhia e o comando que se recusaram a socorrer os camaradas?

O problema dos enfermeiros? As viaturas carregadas de material abandonadas?

Tudo isto muito complicado!

É fácil narrar o extretor de um homem agonizante, difícil será explicar as causas.
A falta de preparação dos enfermeiros? E o resto o outro verso da medalha?

Caro Mário Beja Santos, na C.CAÇ. 763,
os enfermeiros estavam todos preparados. Fizeram e salvaram os que tinham de o fazer.
Dói-me a inverdade de serem acusados de deixarem essa herança a Spínola.

Os problemas já eram outros! Tenhamos a coragem de os assumir.

Já sabemos muito sobre a guerra na Guiné! Não sejamos, nem exploremos a ingénuidade!

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caros camaradas,

Em Tavira eu recebi alguma instrução sobre primeiros socorros.Esses conhecimentos, bastante rudimentares, foram depois passados quando dei especialidade.

Já na Guiné, e para usar as palavras do nosso Furriel Enfermeiro, o Rui Esteves, o comandante do CAOP1 (Teixeira Pinto), Sr. Cor. Amaral, ofereceu-lhe a possibilide de algum treino.

Isso significa que, pelo menos, um comandante estava atento a pormenores dessa natureza.

Mais importante que tudo isso, o Furriel Estves, usando a liderança que a sua especialidade permitia, ensinou alguns soldados e cabos na prestação dos cuidados mínimos de saúde.

Alguns deles foram excelentes ajudantes na prestação de serviços de saúde às populaçoes e a nós militares da CCaç 3327.

Infelizmente as elites foram e continuam a ser, constantemente, verdascadas por muitas das falhas que nos afligiam. E há razões para isso. Todos nós sabemos quais eram.

Mas há uma outra verdade que importa realçar e reconhecer.

Muitas situações que então enfrentámos, podiam ter sido resolvidas por nós próprios.

Veja-se o exemplo de liderança do Rui Esteves.

Um abraço muito amigo para todos.
José Câmara

Luís Graça disse...

Manuel Marinho: Tens razão... Vou corrigir o título, retirando a referência a Guidaje. Não tenho aqui à mão o livro do Salgueiro Maia para confirmar...

Falta-nos, de resto, uma cronologia da batalha de Guidaje, que começa a 8 de Maio com a grande ofensiva do PAIGC... As colunas para Guidaje (a partir de Binta), tentando romper o cerco são as seguintes:

1ª coluna: 8/9 de Maio
2ª coluna: 10
3ª coluna: 12
4ª coluna: 15 (e regresso a 19)
5ª coluna: 22
6ª coluna: 29

Fonte: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os Anos da Guerra Colonial: Vol. 14: 1973: Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009. p. 45.

Luís Graça disse...

A CCAV 3420, comandada pelo Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia, foi mobilizada pelo RC 4, embracou em 4/7/1971, regressou em 3/10/1973, e esteve em Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Brá... mas também em Guidaje (entre 29 de Maio de 1973 e os primeiros dias de Junho, até 19 ou coisa assim).

A essa companhia também pertenceu o noss camarada João Afonso, que vive no Fundão e que tem uma boa cronologia da batalha de Guidaje.

Leiam o texto dele, já antigo:

26 de Outubro de 2006
Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006/10/guin-6374-p1213-ccav-3420-do-capito.html

Salgueiro Maia e a sua coluna de socorro só chegam a Guidaje a 29 de Maio.

Os acontecimentos occoridos em 5 de Maio referem-se ainda ao fim da comissão da CCAV 3420. Se alguiém, souber, que nos diga onde se passa a cena descrita por Salgueiro Maia. Não é decididamente Guidaje. Vou corrigir.

Escreve o Beja Santos: "O pior vem depois. No dia 22 de Maio de 1973, Salgueiro Maia e a sua companhia estão prontos para seguir para o Cumeré, parece que a comissão terminou. Mas não, têm que partir de urgência para o Norte. O PAIGC desencadeara uma ofensiva em Guidage, a guarnição estava cercada e, aparentemente, isolada. As flagelações do mês de Maio, na zona de Guidage, eram incontáveis." (...)

Fonte: 6 de Fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5774: Notas de leitura (63): Salgueiro Maia (2): Guidaje numa descrição digna do Apocalypse Now (Beja Santos)

Anónimo disse...

Caro Luís Graça.

As colunas para Guidaje estão todas referenciadas e graças a trabalhos de camaradas do blogue que participaram nelas, hoje temos uma ideia muito aproximada de efectivos envolvidos e respectivas composições das unidades nela envolvidas.

Colunas:

1ª----Dia 8 / 9 de Maio- Não chega a Guidaje

2ª----Dia 10 de Maio-É a primeira coluna a chegar / Regressa a 13 a Farim.

3ª----Dia 12 de Maio-Chega a Guidaje

4ª----Dia 15 de Maio- Chega a Guidaje / Tentam o regresso a 19 mas não conseguem e regressam a Guidaje.

5ª----Dia 23 de Maio-Esta coluna não chega a Guidaje, regressa a Binta, mas segue a CCP. 121 até Guidaje

6ª----Dia 29 de Maio-Esta coluna chega a Guidaje e vai permitir que as Unidades das colunas de 12 e 15 regressem a Farim a 30.

Obs. Sobre as composições das colunas ver comentários sobre os posts de Daniel Matos ( Marados de Gadamael).

Um abraço
Manuel Marinho