sábado, 1 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6290: As Nossas Mães (6): Às mães que viram os seus filhos irem para a guerra e que não mais voltaram (José Carlos Neves)

DIA DA MÃE




1. Mensagem de José Carlos Neves* (ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974), com data de 1 de Maio de 2010:

Para as mães que infelizmente não voltaram a ver os seus filhos depois destes partirem para a Guiné, dedico-lhes um poema de Fernando Pessoa. Muito antes da nossa Guerra já outras aconteceram.

Uma saudade muito grande para todos os camaradas que por lá encontraram o seu fim!
José Carlos Neves


O menino da sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe


Fernando Pessoa
__________

(*) Vc. último poste da série de 29 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5374: As nossas mulheres (13): Homenagem à D. Teresa, nossa leitora e funcionária na Biblioteca da Liga dos Combatentes (José Martins)

5 comentários:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

É muito lindo este poema, para Neves, ao lê-lo passa na nossa mente um filme que mostra tudo isto, fiquei emocionado.
Um abraço, as Mães não deviam morrer.

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Onde digo para Neves, quero dizer parabens Neves, aqui fica a rectificação.

José Marcelino Martins disse...

Neste país de soldados, quer qeiramos ou não, houve mulheres que fizeram várias guerras.

Em 1916, com 8 anos de idade, a minha mãe viu partir o pai para a I Grande Guerra, de onde voltou incapacitado para o serviço militar, de que resultou a reforma antecipada. Nessa leva tambem ia um tio.

Dois anos depois, o avô tambem foi mobilizado para ir para Moçambique, apesar de já ter 50 anos, Valeu passar à reserva.

Quando tinha 57 anos, cerca de 50 anos mais tarde, vê partir um filho, eu, para a Guiné.

Efectivamente neste país tambem houve sempre MULHERES-SOLDADO.

Anónimo disse...

Obrigado José Neves!

A grandiosidade de um país veio aqui com uma simplicidade atrós!

Fernando Pessoa! O poeta!

A Grande Mulher! A Mãe!

Quem me recuperou corpo sem balas, mente destroçada?

Precisamente! Há vinte anos aqui, naquele quarto em frente:

_Filho dá-me a mão! Apertou. Reclinou a cabeça sobre o meu ombro e partiu...

Sempre grata a recordação da Mãe!

Obrigado!

O velho abraço, mas hoje do tamanho das Grandes Mães deste pequenino Portugal.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Obrigado, Neves, por teres lembrado este poema.

Mãe… A palavra mais bela da língua portuguesa, é singela, doce, meiga, acariciadora, envolvente, como só o amor de mãe sabe ser, sem querer nada de troca…já fez dois anos que perdi a minha querida Mãe.
Quantos rosários sem fim a minha Mãe rezou, com que devoção e preces Invocou à Virgem Nossa Senhora, ao colocar velas a iluminar o Seu altar, para que intercedesse junto de Deus, para que o seu filho regressasse são e salvo do Ultramar? Sacrifícios sem fim…

Um Bem-Haja a todas as MÃES.

Um abraço

José Corceiro