terça-feira, 20 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6193: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (9): Os padres missionários italianos de Bafatá

Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > 27 de Março de 2010 > O ex-Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim e o ex-Alf Mil Trms Antero Magalhães Pacheco da Silva.



Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > 27 de Março de 2010 > O Antero Magalhães Pacheco da Silva, que vive no Porto e veio acompanhado da esposa.




Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > IV Encontro-convívio > 27 de Março de 2010 > O Furt Mil Mec Auto Joaquim Lourenço Gião Vinagre. Em segundo plano, o camarada, ajudado pela respectiva família, que organizou o convívio. Ao todo, marcaram presença 96 ex-Militares, com 27 totalistas.


Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > Dois camaradas de unidades adidas ao batalhão: o ex-1º Cabo Cripto Gabriel Gonçalves (CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) e ex-Alf Mil Art Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71).



Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > O ex-Alf Mil Médico António Rodrigues Marques Vilar, que veio do Olossato - se não erro - para o BART 2917, em Março de 1971. A seu lado, a esposa. Moram em Aveiro. O Dr. Vilar é um psiquiatra reformado. Deve estar neste momento na Guiné, aonde voltou, pela primeira vez, em 2001, com o David Guimarães e outros camaradas. No almoço, sentei-me à sua frente. A meu lado esquerdo, ficou o o ex-Alf Mil José Alexandre Pereira Braga Gonçalves (recomplemento da CCS, em Janeiro de 1971). Infelizmente não tenho nenhuma foto dele.

Fotos: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


1. Mensagem, com data de 16 do corrente, do nosso muito estimado amigo e camarada Arsénio Puim, açoriano de Santa Maria, ex-capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e com que estive, recentemente, convívio realizado em Coruche (27 de Março de 2010):

Luis:

O nosso encontro em Coruche, que me deixou muito boas recordações, quase não nos proporcionou ocasião para conversarmos. Mas outras ocasiões virão.

Mando um pequeno trabalho sobre a Igreja na Guiné, e que voltarei mais tarde a abordar no que toca aos capelães militares, o qual, como todos os outros, fica ao teu critério.

Cumprimentos à Alice. Um abraço amigo
Arsénio Puim



2. RECORDANDO... IX - OS PADRES MISSIONÁRIOS ITALIANOS DE BAFATÁ (*)
por Arsénio Puim

A Igreja na Guiné, em princípios da década de 70, tinha como autoridade eclesiástica máxima o Perfeito Apostólico (não era Bispo, nem a Guiné era então Diocese, ao contrário do que acontece hoje), com sede em Bissau e dependente directamente do Papa, em Roma.

Também em Bissau, e arredores, viviam os Padres Franciscanos, exercendo ao mesmo tempo o professorado no Liceu. Mais para o interior do território, haviam-se fixado os Padres Missionários Italianos, que tinham a sede em Bafatá e, se não erro, uma pequena extensão em Catió.

Para além destes, havia os capelães militares, dependentes do Vicariato Castrense, em Lisboa, em comissão de serviço temporária, por força da guerra existente, dispersos e isolados pelos quartéis do mato, onde às vezes existiam também minúsculos núcleos de cristãos nativos.

Normalmente, os capelães só encontravam outros colegas padres, para conviver um pouco e conversar sobre os problemas inerentes à sua actividade e difícil experiência eclesiástico militar, quando se deslocavam a Bissau, onde se situava a chefia da Capelania, que, diga-se, estava sempre aberta a todos os capelães do território. Razão, talvez, por que era apelidada de «Vaticano».

A ocasião magna, durante a minha comissão, de encontro dos 18 padres que prestavam assistência religiosa às forças militares estacionadas na Guiné foi a Reunião dos Capelães do CTIG, realizada em Março de 1971 durante três dias, a qual foi repartida por Bissau e Bolama e presidida pelo capelão chefe, Pe. Gamboa.

Para mim, que vivia na zona central da Guiné, proporcionava-se, ainda, a oportunidade, uma vez ou outra, de me deslocar à pequena cidade de Bafatá, trinta quilómetros a leste de Bambadinca, onde se encontravam, além do capelão da unidade local, os Padres Missionários Italianos.

Foi na Casa destes que me «refugiei» algumas vezes, para desanuviar o espírito do clima de guerra, para falar com outros colegas, para retemperar um bocadinho as forças e levar em diante, com a autenticidade que sempre prezei, a missão de padre da Igreja no Exército.

A primeira vez foi em meados de Junho de 1970 quando decorreu ali um encontro dos capelães militares do Sector Leste - Bafatá, Bambadinca, Galomaro, Nova Lamego e Piche – promovido e orientado pelo Capelão Chefe da Guiné.

Foram dois dias preenchidos com diversas reuniões de trabalho, onde os capelães presentes puderam, num ambiente de agradável convívio, analisar e reflectir sobre a sua missão e actividades, naturalmente vistas sob ângulos de opinião diferentes.

A encerrar o encontro teve lugar uma concelebração eucarística de ronco, um tanto ao estilo da Igreja no tempo do Estado Novo, que o Capelão Chefe Gamboa sabia muito bem valorizar, em que estiveram presentes autoridades militares e civis, assim como um bom grupo de chefes religiosos muçulmanos. À cerimónia, a que se pretendeu retirar qualquer conotação política e militar, deu-se o nome de Celebração Eucarística pela Unidade.

Lembro que ainda antes de regressarem às suas Unidades, os capelães foram brindados, pelo Comando Militar de Bafatá, com um longo roteiro pela zona norte, acompanhados dum pequeno pelotão de segurança, visitando os aquartelementos de Cantuboel, Cambaju e Fajonquito, que nos disseram ficar a cerca de 500 metros do Senegal.

Voltei a estar na hospitaleira Casa dos Padres Missionários Italianos, pelo menos, mais duas vezes, por menos tempo. Eram sempre excelentes ocasiões de repouso e de convívio, assim como de troca de opiniões sobre temas então muito actuais e vividos intensamente por muitas pessoas dentro da Igreja, como fascismo e colonialismo, Exército e Igreja, guerra e Guiné, além de outros temas de cariz religioso e eclesiástico.

Pude, assim, conhecer e aquilatar do trabalho que os Padres Missionários Italianos desenvolviam na Guiné, levados pelo seu espírito missionário arejado e contando com algum apoio financeiro do Governo Português. Um trabalho profundo, enraizado e isento, que assentou, essencialmente, na formação de cidadãos da própria Guiné, de forma que o desenvolvimento desta terra se pudesse fazer a partir de dentro, pelos próprios guineenses. Para isso, haviam fundado e dirigiam um Seminário em Bafatá, já então no terceiro ano de existência, e sei que projectavam construir um outro em Bissau, visando a formação de sacerdotes e catequistas nativos, sem os desenraizar do meio nem desafricanizar.

Uma acção que foi reconhecida por quantos tiveram oportunidade e interesse de observar o desempenho da Igreja na Guiné e dela esperavam que assumisse uma acção capaz de semear nesta terra o Evangelho, no seu espírito de justiça, liberdade e progresso.

Amílcar Cabral, numa entrevista dada depois da célebre recepção dos três líderes dos Movimentos africanos pelo Papa Paulo VI em princípios de 1971, e em que faz um forte ataque à Igreja na Guiné por considerar esta estar comprometida com a guerra colonial, não deixou de expressar o seu apreço pelos Padres italianos de Bafatá, assim como pelo Pe. António Grillo, que havia sido expulso na sequência do caso de Samba Silate. (**) Uma imprudência de Amílcar Cabral, a meu ver, por poder dar origem a certos juízos políticos, na verdade infundados.

Não sei o rumo que a grande obra dos Padres Missionários Italianos tomou após a independência do território, mas acredito que a sua eliminação ou cerceamento, a ter acontecido, terá constituído um revés para a acção missionária da Igreja neste país e para o próprio desenvolvimento da Guiné.

Arsénio Puim
____________


Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5626: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (8): Recordações da Belmira, da Manjaca, da Maria, da Safi, do Jamil...
(**) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63


(...) Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate.

Este episódio motivou a intervenção militar do Comando de Bafatá com uma força equipada com as já na altura obsoletas auto-metralhadoras e lança-chamas. Essa força foi reforçada em Bambadinca com grande parte dos efectivos aí destacados e seguiu para Samba Silate.

Contar com pormenor o que se passou no decorrer da operação é impossível, já que fui colocado num posto de onde só podia abarcar uma pequena parte da povoação, que ocupava uma área enorme, mas o constante matraquear das auto-metralhadoras e G3 deixavam antever um morticínio. (...).



Vd. também poste de 14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)


(...) Em frente, junto à vedação do quartel, estava o gerador que por economia só funcionava poucas horas depois do anoitecer, após o que tudo passava a funcionar a petróleo. Até a iluminação exterior do quartel era feita com alguns Petromax e vulgares lanternas. Felizmente, a geleira onde se refrescava a Sagres 7dl, só funcionava a petróleo e enquanto este não faltasse, havia cerveja fresca, isto quando havia cerveja...

Continuando na estrada, a seguir ao quartel e com vedações quase encostadas ficava a última construção, a igreja onde oficiou, até à sua detenção, o padre Grillo [, o missionário italiano, acusado pela PIDE de estar ligado ao PAIGC].

Depois a estrada continuava até à bifurcação para a direita e para a esquerda e era nesta zona que existia um cemitério. A estrada que seguia para a direita dava acesso à pista se aterragem.

Bambadinca era assim...Só isto... (...)

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