segunda-feira, 12 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6146: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (13): Fajonquito, o blogue, o meu silêncio... e as fotos do José Cortes

1. Mensagem, de 10 do corrente, enviada pelo Cherno Baldé (*), formado em gestão, quadro superior da administração pública da República da Guiné-Bissau, membro da nossa Tabanca Grande, que nos tem honrado com textos de grande pertinência e qualidade:

 Assunto: Fajonquito III (**)

Caro amigo Luis Graça,

Antes de mais quero pedir desculpas por ter desaparecido durante os últimos meses. Na verdade, depois da minha última carta respondendo algumas perguntas colocadas por si, pareceu-me ter criado algum mal estar no meio da malta, o que estava longe das minhas intenções. E também não recebi a reacção habitual e esperada da sua parte que sempre conseguiu fazer a melhor interpretação das minhas narrativas. Tendo em conta as varias reacções suscitadas, tenho, naturalmente, muita coisa a dizer, mas como tenho pouco tempo disponivel no meio do trabalho, prefiro deixar para mais tarde as possiveis réplicas.

O nosso amigo José [Cortes]  demorou a reagir mas gostei das imagens da nossa Fajonquito (**). É mais que óbvio que conheci e convivi com ele no quartel e ainda mais sendo responsável do parque automóvel, a minha zona predilecta de actuação. O José, certamente, se lembrara do Sérgio,  o responsavel pelo abastecimento do combustível, de resto, como ele diz, faziam parte da mesma companhia, para além dos meus controversos patrões, o Dias e o Magalhães, também me lembro do Mandinga. Gente porreira.

Nas imagens creio ter reconhecido a menina Cesina, filha da Cristina, actualmente a viver nos EUA. O Aladje é meu primo e actualmente trabalha na Embaixada de Angola em Bissau.

Abraços do menino Chico,

Cherno AB.

2. Comentário de L.G.:

Caríssimo Cherno, irmãozinho de Fajionquito:

Que sejas bem aparecido! A tua última mensagem era de 31 de Julho de 2009, e termianava assim:

"O balanco é mais negativo ou mais positivo? O PAIGC devia e podia fazer melhor?... Sem dúvida que sim. E os portugueses dentro de tudo isso?... A história se encarregará de responder, um dia. Eu não quero incriminar ninguém mas darei o meu testemunho, sem partidos. As palmas que ja bati no passado para os soldados portugueses nas suas paradas de ronco e para o PAIGC durante os seus infindáveis discursos e meetings já chegam, agora quero pensar com a minha cabeçaa. Tenho mais ou menos 50 anos e nessa idade devo ter medo de quem?...

"Juntamente envio mais uma parte das minhas habituais crénicas. Um forte abraço deste irmãozinho de Fajonquito" (...)

E a última crónica era sobre "ambientes e ambiguidades", que eu decidi desdobrar em quatro partes, autónomas, publicadas sucessivamente em 5, 8 , 10 e 12 de Agosto de 2009, respectivamente. O facto de não ter feito nenhum comentário final não quer dizer absolutamente nada... Aliás, o editor não deve fazerm por sistema, comentários aos textos que são publicados. Essa tarefa compete aos nossos leitores. Acontece, pro outro lado, que em Agosto todo o mundo está de férias. Eu, que sou professor, já estava de férias, nessa altura,  e portanto com menos disponibilidade, de tempo, para editar o blogue... Infelizmente, tu interpretaste isso como um sinal de menos apreço da minha parte... Nada disso, meu irmãozinho. E também não é verdade que os nossos camaradas que te leram, não gostaram dos teus últimos escritos... Revê, por favor, os comentários aos teus últimos postes.

Vamos a números: por exemplo, tiveste cinco comentários ao poste P4816, de 12 de Agosto e num deles, o do Hélder Sousa, podes ler o seguinte:

"Ah, ganda Chico! Chega a ser comovente ler-te e ficar a saber como nos viam e entendiam.

"Será que éramos mesmo assim? Pois também acredito que sim, mas acho que algumas dessas características se perderam ou perderam algum fulgor.

"Mas, olha, não foi só na tua e 'nossa Guiné' que os incompetentes, pelo menos para as funções desejadas, tomaram conta dos destinos. Por cá também aconteceu disso, razão fundamental para que as pessoas se afastassem progressivamente das obrigações que têm de vigiar os governantes eleitos e trabalhar empenhadamente para o desenvolvimento da sociedade. No fundo, voltarem a ser aquilo que os caracterizava, como tu tão bem relatas.

"No entanto fico feliz por ti, pelo teu povo, por nós, pela tua persistência em te empenhares na 'luta pela afirmação do homem africano, do terceiro mundo, de um mundo mais justo, de progresso, paz e fraternidade', que voltaste 'alegremente aos estudos' e que ainda estás 'na esperança de ver se aparece a luz ao fundo do túnel'.

"Continua, dá-nos esse belo exemplo de que é assim que se pode avançar, que não se pode desistir, não se pode perder a confiança num futuro melhor. E continua a brindar-nos com as tuas memórias.

"Sobre o 'cansaço'. há um poema, salvo erro de Berthold Brecht, que começa assim: 'Ouvimos dizer que estás cansado...0, conheces? é bom para 'recarregar baterias', como por exemplo também uma canção de Paul Simon & Art Garfunkel intitulada, 'The Boxer'. De vez em quando devemos ir aos 'clássicos'. Um abraço. Hélder S."


Chico, isto é uma grande homenagem à tua estatura moral e intelectual.  És um grande ser humano, um patriota guinense e um amigo verdadeiro de Portugal e dos portugueses. Por outro lado, podes estar ciente de que já tens, no nosso blogue, uma lista grande, não só de amigos como de admiradores.


Respeito, naturalmente, o(s) teu(s) silêncio(s). Mas a verdade é que estávamos com saudades tuas. Aparece sempre que puderes e quiseres. Um grande AB, Alfa Bravo (abraço, em linguagem de caserna).

__________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4816: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (12): E se o Algássimo tivesse razão ?


(...) Na sua opinião, a Guiné-Bissau tinha poucas probabilidades de sucesso porque em vez do bom pastor o gado tinha sido entreque aos lobos, vestidos com pele de ovelhas. Em vez de pessoas instruídas e com experiência na administração do Estado eram pessoas iletradas, quase analfabetas, que dirigiam e controlavam a vida económica e política do pais.
- Assim não vamos a sítio nenhum - arrematava.

Verdade ou mentira a opinião é dele e no que me concerne, sem capacidade de visionar o futuro, e tendo acreditado e abraçado firmemente a visão e os ideais de Amilcar Cabral sobre a necessidade da luta pela afirmação do homem africano, do terceiro mundo, de um mundo mais justo, de progresso, paz e fraternidade, voltei alegremente dos estudos e estou ainda aqui na esperança de ver se aparece a luz ao fundo do túnel.

Mas a questão é, de algum tempo para cá, recorrente e.... inevitável:
- E se o Algássimo tinha razão?... (...)


 Vd. postes anteriores:


10 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4806: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (11): Filho da p... de barrote queimado...... Ou as sobras do rancho

8 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4802: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (10): Futebol: ser do Benfica ou do Sporting, eis a questão

5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4782: Memórias do Chico,menino e moço (Cherno Baldé) (9): Futebol, rivalidades, bajudas... e nacionalismos(s)

 27 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4746: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (8): Misérias e grandezas de Fajonquito, 1970/75

21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4714: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (7): As profecias do velho Marabu de Sumbundo

13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4679: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (6): Uma gesta familiar, de Canhámina a Sinchã Samagaia, aliás, Luanda

6 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4646: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (5): A família extensa, reunida em Fajonquito, em 1968

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4611: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (4): O ataque dos meus primos a Cambajú e o meu pai que foi um herói

25 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio

24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhã

Vd. também:

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4650: (Ex)citações (32): A Tabanca Grande ou... Global: de Contuboel, Fajonquito e Bissau com amizade (Cherno Baldé)

20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)


2 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4767: Blogoterapia (118): Os Fulas, o PAIGC e... os tugas (Cherno Baldé / Luís Graça)

4 comentários:

admor disse...

Caro amigo Cherno Baldé,

Quanto ao teu desabafo sobre os impreparados que tomaram conta dos destinos da "NOSSA GUINÉ" por serem demasiado rústicos e pouco ou nada letrados, respondo-te eu com os preparadíssimos doutores e engenheiros que tomaram conta do "NOSSO PORTUGAL", antes tivessem sido merceeiros (homens ligados ao comércio) a tomar conta dos destinos das nossas Finanças,
que de certeza estávamos melhor.
Portanto caro Cherno os povos estão cada vez mais desinteressados pela política e os políticos cada vez mais ligados ao
poder. Podia-se fazer uma canção um bocado monótona "Lá como cá, cá
como lá"
Mantenhas e muita saúde e um grande abraço do amigo,
Adriano Moreira - Ex-Fur.mil.Enf. Cart.2412"SEMPRE DIFERENTES" Bigene,Binta,Guidage e Barro.1968/70.

JD disse...

Caro Chico,
De repente reapareces, e ainda bem.
Primeiro, por se tratar de uma fonte da Guiné, alguém que conviveu connosco nos seus verdinhos anos, ingénuo, mas atento a sentimentos e comportamentos diferenciados, e teve oportunidade para apreciar as diferenças possíveis entre esperança e realidade, e tem a capacidade para transmitir esses ensinamentos e experiências.
Segundo, porque temos laços de cumplicidade, desde quando eras menino e nós tropas, e consegues transportar-nos para essa época com relatos de grande sensibilidade.
Meu caro, quanto ao comentário anterior, que refere alguma (ou grande) decepção relativamente ao poder político, isso só acontece, quando os intérpretes da política não têm no horizonte o interesse público, a ideia da equidade e do equilibrio, nem a humildade para pedirem conselhos ou arregimentar os interessados na procura das soluções, muitas vezes nem imaginação revelam para os cargos que desempenham.
No caso da Guiné, acho, como tu, que é escasso o escol de pessoas com alguma aptidão para dirigir. Isso, porém, até poderia constituir uma vantagem, se essa élite tivesse propósitos para o desenvolvimento da comunidade. Ora, este caso recente, em que o vice-chefe do estado maior das forças armadas, pensando que chegara a sua hora, detém o primeiro ministro e exige um estúpido valor de resgate (vão para casa, se não mato-o), dá, tanto para o interior, como para o exterior, uma imagem de rídiculo,de frustração, e limitativa de ajudas da comunidade internacional.
É assim, enquanto as sociedades não disposerem de macanismos de controle democrático, eficazes, os povos ficarão mais ou menos reféns daqueles que elegem. E esses mecanismos, começam pela educação, pela aceitação da obrigação universal de respeito, prosseguem no edíficio de leis de cada sociedade, e acabam na forma de aplicação da justiça.
Um abraço
J.Dinis

Anónimo disse...

Caro Cherno Baldé,

É sempre com agrado que os teus escritos são lidos. Nem sempre são comentados, mas o silêncio também diz muita coisa, temos é de o saber interpretar depois de conhecida a posição de quem o professa.

Um grande abraço,
BSardinha

Jose Cortes disse...

Amigo Cherno Baldé, permite-me que te trate por amigo, porque para mim és um grande amigo.
Também por falta de tempo,não tenho visitado o blogue as vezes que devia, e hoje, ao abrir o blogue dei com fotografias de 1964, e com fotografias tuas, que fizeste recentemente e confesso que fiquei chocado com as fotos que envias-te. Já sabia que tinham sido destruídos alguns dos edifícios, mas não pensei que fosse assim. um abraço
José Cortes