segunda-feira, 29 de março de 2010

Guiné 63/74 - P6064: Notas de leitura (83): Livro do Cor. Costa Campos – Guiné, Bigene 1974 (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 27 de Março de 2010:

Camaradas,

Julgando de interesse para publicação no blogue, envio, em anexo, a recensão do livro "GUINÉ" que é uma raridade e me foi dado a ler pelo filho do autor - Cap. Luís Carlos da Costa Campos.
Na lombada em pele aparece a gravação sobre o livro. É uma raridade, o livro foi dactilografado e fotocopiado, sendo distribuído apenas a familiares e uns poucos amigos. Um dos felizardos foi o Miguel Pessoa que também o possui.

Antes do Cor. Costa Campos falecer, ainda vi o único exemplar que ele possuía. Entretanto surgiu esta oportunidade de o filho me o emprestar, e me permitir fazer o que achasse melhor. Só que são 230 páginas.

Ainda se está a pensar na edição, mas só a digitação de tudo isto é uma loucura. Tem de ser aos poucos. Vamos ver o que se consegue fazer, pois em termos históricos e conhecimentos sobre a Guiné é uma maravilha.

Se houver interesse, estou autorizado pelo Sr. Capitão, atrás referido, a digitar e enviar, para divulgação na íntegra, ou em capítulos, o livro de seu pai.


Costa Campos (Ten. Coronel)
G u i n é
Guiné Bigene
1974

(Dactilografado por João Neutel)

Eis a primeira página do livro que tenho em mãos.

Após uma citação de Eça de Queirós, sucedem-se nas folhas seguintes a dedicação e legado da obra, de que saliento: “Aos meus Pais que tanto deram e continuam a dar ao povo africano”. Só será possível chegar ao entendimento deste legado, aos que por qualquer forma chegaram ou tiveram acesso à obra da família Costa Campos em África.

Esta obra, que julgo ser uma grande perda não estar editada, dando assim a oportunidade de um conhecimento realístico do que era à altura denominada Província da Guiné e de júri reconhecida internacionalmente como parte integrante de Portugal, mas com a condicionante da sua emancipação como país independente, resultante dos fenómenos geopolíticos da altura, que não nos cabe aqui comentar.

Carlos Alberto W. M. da Costa Campos à altura tenente-coronel, comandante do COP3 em Bigene, oferece-nos as razões deste trabalho. Assumindo que ao longo de duas comissões na Guiné, embora houvesse algo escrito sobre esta terra, tudo se encontrava muito disperso em grande diversificação de publicações, se deparou com a falta de elementos que dessem uma ideia realista e concisa da terra e gentes da Guiné.

Referenciando essa lacuna, resolveu colmatá-la através de rigorosa investigação juntando em um só livro, o maior número possível de dados de tudo o que respeitasse quanto à história, geografia, economia e etnia, da Guiné. Tentando dar uma informação o quanto mais completa e fiável possível a todos que nesta terra desembarcassem.

Assim:

Após uma súmula, bastante interessante do passado e actual história da Guiné no primeiro capítulo. Somos confrontados com a sua descrição geográfica física, climática, fauna e flora, no segundo capítulo.

No terceiro capítulo, o coronel Costa Campos, faz uma abordagem muito interessante à economia da Província. Sendo de extraordinário relevo a descrição, da Estrutura Social na economia rural descrevendo numa linguagem muito agradável as actividades desenvolvidas na agricultura, pecuária e envolvimento das diversas etnias autóctones, nestas áreas. ~

Somos brindados no capítulo quarto com uma rica e valiosa descrição, do quadro humano, sobre a grande variedade étnica com multiplicidade de seus usos e costumes.

Seguindo a cronologia, no quinto capítulo é-nos oferecida uma abordagem teológica magnífica, sobre todas as religiões existentes, bem como a sua introdução, penetração e evolução nas diferentes etnias.

A Organização Política e Aadministrativa da Província é-nos facultada no sexto capítulo. Onde nos é dada a visão do funcionamento dessa organização desde os órgãos de Governo Próprio, aos Regulados e Congressos do Povo.

No sétimo capítulo é abordado o tema da Subversão na Guiné, com o historial dos Partidos emancipalistas até ao aparecimento da supremacia do PAIGC através do seu carismático líder Amílcar Cabral. Terminando este capitulo com uma síntese dos principais acontecimentos da subversão até àquela data.

O conhecimento do presente, (na altura) bem como as politicas em curso do Governo da Província. Participação da população, Forças Armadas e o fomento Socioeconómico e Cultural, assim como o tema Africanização dá corpo ao capítulo oitavo.

Esta obra termina com uma interessante descrição sobre as térmitas Baga-Baga, transcrição de um artigo de António Correia, no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa.

Após a leitura deste valioso documento, fica-nos a certeza que deveria o mesmo, ser editado e divulgado, pois nos parece de grande valia para conhecimento e análise da História da Guiné-Bissau.

Com as melhores saudações tabanqueiras,
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

26 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6052: Notas de leitura (82): Império, Nação, Revolução de Riccardo Marchi (Beja Santos)

8 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Mário Fitas

Sempre te tens referido de forma bastante elogiosa ao 'teu' Coronel Costa Campos e, conhecendo os teus cuidados e valores, não custa nada admitir que a tua leitura, cuidada mas certamente apressada, dessa preciosidade que te foi parar às mãos (por gentileza do Sr. Cap. Costa Campos) nos dá a idéia de que teremos muoto a ganhar se se tivar acesso à Obra integral.
Pois então, mete mãos à obra!
Um abraço
Hélder S.

Unknown disse...

Mário Fitas

Meu caro amigo, não percas a embalagem e, como diz o Hélder Valério, mete mãos à obra. Se assim não for ainda vou ter que te arranjar uma operaçãozinha na mata de Afiá ou em Cabolol Balanta.

Ficamos à espera!!

Um abraço

B Neves

Anónimo disse...

Caro Mário Fitas.

Sou mais um a dizer-te que deves dar a conhecer essa obra ao blogue, além de prestar homenagem ao teu amigo Cor. Campos, e como dizes não á certeza de um dia ser publicado em livro.

Já agora, aqui á dias a propósito de comentários sobre um trabalho do Daniel Matos sobre Guidaje, perguntavas se o Cor. Costa Campos tinha sido Comd. Do COP 3.

O seu nome figura de facto nos militares que o comandaram, mas em 73 nos acontecimentos de Guidaje era o Correia de Campos.

Um abraço

Manuel Marinho

admor disse...

Caro Mário Fitas,è engraçado que a mesma reflexão, que fez o Manuel Marinho estava também eu a fazê-la mas em relação a 68, pois em Setembro era o Major Correia de Campos o comandante do COP 3 e foi
durante o primeiro semestre de 69.
A partir mais ou menos dessa alturadeixoua mimha Companhia Cart.2412 de pertencer ao COP.3 ficando ligada operacionalmente a um Batalhão que estava em Ingoré.
Passados alguns meses fomos novamente incorporados no COP.3, mas comandado por Alpoím Calvão, que entretanto tinha vindo para Ganturé comandar um destacamento de fuzileiros.Ganturé era um pequeno porto do Cacheu, que ficava a cerca de 3 a 4 Km de BIgene. Bastante tempo depois fiquei admirado quando vi que o major Correia de Campos tinha sido um dos heróis que tinha defendido Guidage no horrível Maio de 1973.
Embora parecendo ser duas pessoas diferentes o livro continua a ter todo o interesse em ser divulgado.
Já me alonguei demais, despeço-me com um grande abraço para todos,
Adriano Moreira - Cart.2412 SEMPRE DIFERENTES" Bigene,Binta,Guidage e
Barro.1968/70

Joaquim Mexia Alves disse...

Pois meu caro Mário Fitas o que tem que se fazer é exctamente o que dizes:
«Após a leitura deste valioso documento, fica-nos a certeza que deveria o mesmo, ser editado e divulgado»

Abraço camarigo para ti e para todos

Anónimo disse...

Caros amigos,

Não pensem que o livro trás grandes histórias de guerra.

O valor do livro está na História da Guiné, da sua gente e do seu "chão".

Tentarei fazer algo, mas digitar 230 páginas, tenham pena de mim.

Devagar pode ser que lá se chegue. Vamos ver.

Quanto ao Cor. Carlos Alberto W. M. da Costa Campos,(à altura major)mais conhecido pelo "Costa Campos dos cães" pois andava sempre com dois pastores alemães e foi fundador do Centro de Instrução de Cães em Boane Moçambique. Encontrava-se na Amura, quando foi nomeado comandante do COP3 por morte do major Mariz. E esteve lá! E foi lá! Quem tenha estado em Guidage no tempo da "Ametista Real" até 1974. Que conte e diga o que sabe sobre o Cor. Costa Campos. Eu só poderei contar coisas de Cufar vividas com ele então capitão comandante da C.CAÇ. 763.
De Guidage, o que sei foi-me contado por ele. Só que infelizmente ele já morreu. Embora tenha plena confiança no que ele me contou. Não irei entrar numa dessas, porque infelizmente há coisas muito complicadas.
Quem lá esteve que conte. De Cufar conto eu.

Um abraço do tamanho do Cumbijã,

Mário Fitas

Anónimo disse...

Para os camaradas,

Manuel Marinho e Adriano Moreira:

Por favor leiam os P5300, P5310, P5427 e P5479 e respectivos comentários.

O grande Manuel Pechorro o Carlos Pereira e o Cor.Miguel Pessoa, sabem
muito sobre Guidage.

Um abraço,

Mário Fitas

Jose Marcelino Martins disse...

Caros camaradas e amigos da Guiné

Vamos assentar ideias.
O livro é propriedade intectual da familia do nosso camarada de armas Costa Campos, mas, é de certeza, propriedade cultural dos nossos países: Portugal e Guiné-Bissau.

Não haverá a possibilidade de, antecepadamente cada um adquirir o "seu exemplar" pagando e assim proporcionar a sua publicação?

Supomho que isso será possivel e, desta forma dar forma a uma obra que, como parece, não é só de valor histórico e cultural, mas que nos diz muito.

Vamos pensar, em conjunto, neste assunto. É para isso, tambem, que existe a Tabanca Grande.

José Martins