quinta-feira, 4 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5930: Notas de leitura (73): Gadamael, de Carmo Vicente (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52,Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2010:

Queridos amigos,
Confesso que fiquei muito impressionado com a leitura dos relatos do 1.º Sargento Carmo Vicente, um pára-quedista zangado com meio mundo, é uma escrita sem perdão e sem reconciliação.
São relatos do início dos anos 80, porventura o tempo já sarou algumas cicatrizes mais profundas.

Um abraço do
Mário


Com zanga, desalento e contas a ajustar

Beja Santos

“Gadamael” (Edições Ró, 1982) é uma colectânea de relatos de Carmo Vicente, 1º sargento pára-quedista que cumpriu três comissões de serviço na Guiné e Moçambique. Mobilizado pela primeira vez como soldado, acabou por chegar em 1973 à situação de 1º sargento, no comando de um pelotão, precisamente em Gadamael.

Estes relatos não pretendem disfarçar a muita zanga que Carmo Vicente guardou dos homens e da guerra. Não esconde nomes de militares que sinceramente passou a detestar; não esconde a admiração pelos guerrilheiros destemidos, mostra como um quase adolescente ganha gosto pelo sangue e sente-se tentado à bestialidade. São relatos chocantes, incómodos, implacáveis. Pergunta-se se este homem não quer perdoar e escreveu mesmo para desassossegar todos aqueles com quem combateu, transformando a sua visão da guerra numa acusação de toda a guerra, incompatibilizando-se com tudo e todos. Como se passa a analisar.

Tudo começa no baptismo de fogo, à partida previa-se um simples treino operacional, na região de Mansoa. Depois de muita canseira na progressão nocturna, montou-se uma emboscada perto de um trilho inimigo; ao amanhecer, quem emboscava foi surpreendido pelo ataque inimigo. O comandante da companhia incitava-os a agarrarem os turras à mão e alguém lhe gritou: “Apanha-o tu, meu herói de merda!”. Findo o tiroteio, havia dois feridos bastante graves, descobriu-se que o furriel Branco e os seus homens andavam perdidos pela mata, demorou a estabelecer o contacto e a junção das forças. Tratava-se de um baptismo de fogo em que os pára-quedistas descobriam que os guerrilheiros eram muito diferentes daquilo que lhes tinham dito os instrutores. O comandante do batalhão, tenente-coronel Costa Campos exigiu-lhes que voltassem ao terreno e recolhessem o material ali deixado. De novo na zona do tiroteio da véspera, encontraram rastos de sangue de um guerrilheiro que, acabaram por verificar, tinha uma rótula esfacelada. O guerrilheiro pediu clemência, o comandante da companhia prometeu-lhe evacuação desde que ele se mostrasse disposto a colaborar, o ferido recusa. O capitão decreta a sentença de morte, quinze dias depois um soldado pára-quedista exibia, triunfante, duas orelhas humanas dentro de um frasco de compota.

Segue-se a “batalha de Bissau” que ocorreu durante um campeonato de andebol de sete, entre a UDIB e a ASA Clube. Havia duas claques, a primeira, composta pelos civis e alguns marinheiros, era apoiada pelos fuzileiros e por todo o pessoal da Armada; e a segunda, inteiramente formada por militares da Força Aérea, com destaque para os pára-quedistas. Segundo Carmo Vicente páras e fuzileiros eram amigos, mas na ocasião quiseram provocar-se mutuamente. Porquê, fica-se sem se saber. No BCP 12 todo o pessoal foi dispensado para poder assistir ao encontro e apoiar a equipa. Durante o encontro, boinas verdes e boinas negras apoiaram ruidosamente as suas equipas. Súbito, começaram os incidentes e cerca de 400 militares envolveram-se num corpo a corpo incontrolável, derrubaram-se as portas do recinto, a luta generalizou-se pelas ruas da cidade, tudo à cinturada, murro e pontapé. Parecia que os fuzileiros batiam em retirada quando de um prédio em construção saíram seis fuzileiros armados de G3 e de granadas de mão, começando a disparar indiscriminadamente. Dois pára-quedistas ficaram ali mortos. Para Lisboa transmitiu-se às famílias que tinham morrido num acidente com armas de fogo.

Carmo Vicente denuncia constantemente uma cadeia de comando autoritária, chefes incompetentes, cruéis, construtores de operações insensatas. Fala da crueldade e exemplifica com o soldado Queirós, um jovem que embruteceu em pleno teatro de combate. Tinham regressado exaustos da região da Coboiana, uma operação mal sucedida graças à resistência dos homens de Nino. Mal chegados, recebem ordens para voltar a sair. Foi uma duríssima progressão pela mata até chegar a uma tabanca, o dia começava a clarear. O capitão ordenou o assalto fulminante. A ordem era prender toda a gente e disparar sobre quem tentasse fugir. Acabou tudo num pandemónio: a população fugia aterrorizada, os soldados descontrolaram-se, transformaram-se máquinas de matar, parece que só tinham retido no ouvido a ordem de matar quem tentasse fugir. É nisto que o soldado Queirós, apontador de morteiro 60 e utilizador de uma pistola Walther começou a disparar sobre os fugitivos. Um ferido, deitado no chão, parecia pedir clemência, Queirós, abateu-o a frio. Interpelado por Carmo Vicente, Queirós respondeu que nada fizera de mal, era só uma experiência para ver se as balas da pistola furavam um gajo de lado a lado…

E assim chegamos a Gadamael Porto. Vejamos como ele descreve os acontecimentos:

“Quando em Abril de 1973 cheguei a Gadamael, integrado na companhia de caçadores pára-quedistas nº 122 toda a população tinha fugido para o mato, no quartel haviam ficado apenas os militares que constituíam a força ali destacada. Ali passámos os quarenta mais longos dias das nossas vidas. A minha companhia tinha regressado de uma missão de combate que durara três meses. Em Caboxanque e Cadique tínhamos sofrido alguns mortos e feridos enquanto fazíamos a protecção dos trabalhadores que construíam a nova estrada asfaltada entre Cadique e Jemberém. Uma distância de pouco mais de trezes quilómetros que nos ficou à razão por um morto por quilómetro. Encontrávamo-nos terrivelmente cansados, depois daqueles três meses de mato e esperávamos descansar. Porém, não era o que pensava o nosso comandante de batalhão. Ele tinha passado os últimos três meses em Bissau e Cufar, fazendo a guerra com umas cervejas frescas na frente, bebendo à medida que ia estudando os mapas… não vale a pena perder tempo a demonstrar a estupidez militarista deste homem. Não era o único, havia-os ainda piores do que ele. Existiram na guerra colonial centenas de comandantes iguais que se guindaram à custa do sangue, do suor e das lágrimas dos homens que comandavam… O comandante do BCP 12 tinha oferecido os pára-quedistas a Spínola, talvez na mira de apanhar mais algumas armas, mesmo que para isso tivesse que sacrificar a vida dos homens que comandava”. Depois do trajecto entre Bissau e Cacine, feito de noite, com todas as luzes apagadas, ainda longe do objectivo, ouvia-se nitidamente o bombardeamento a que Gadamael estava a ser sujeito, graças às armas pesadas do PAIGC. É assim que Carmo Vicente apresenta a situação: todo o quartel e aldeamento estavam praticamente destruídos, apenas um ou dois edifícios ainda se mantinha teimosamente de pé. Os bombardeamentos continuavam, toda a gente nas valas. Encolhidos dentro das valas, os militares procuravam não deixar nenhuma parcela do corpo à vista. Os vários feridos graves eram evacuados para Cacine em botes de borracha ou sintex. Competia também aos páras fazer alguns patrulhamentos à volta do quartel, e foi num desses patrulhamentos que a menos de 200 metros do arame farpado a unidade do Carmo Vicente sofreu uma grande emboscada, cerca de 45 minutos de um dilúvio de metralha. O rescaldo foi 18 feridos graves. Noutras circunstâncias, houve que apoiar forças do Exército que estavam a ser emboscadas. Ele conta que houve um caso em que saíram das valas para ajudar um pelotão que tinha sido atacado e encontraram três soldados e um alferes com os rostos parcialmente desfeitos por rajadas disparadas à queima-roupa. Carregaram os mortos às costas e é nisto que começou o novo bombardeamento e o soldado pára, de nome Costa, que carregava o cadáver do alferes, atirou-se para o chão, tendo ficado embrulhado num morto que o cobriu de sangue. Quando viu aquelas pastas de sangue coagulado, perdeu as estribeiras, parecia enlouquecido e teve de ser evacuado. Descreve que o estado de espírito das tropas era de tal maneira baixo que quando apareceram os botes com os fuzileiros para evacuar os mortos foram literalmente assaltados por uma avalanche de fugitivos que queriam sair daquele inferno. Surgiram indícios de motim. Por exemplo, o alferes Danif recusou-se a ir para o mato declarando sem rodeios que não estava disposto a deixar-se matar inutilmente. Fala também no alferes Coutinho Pereira que também partiu para Bissau, desertando-o do comando do seu pelotão.

Foi em Gadamael, diz Carmo Vicente, que tomou consciência que jamais se poderia vencer a guerrilha do PAIGC: “não me desviarei da verdade se afirmar que em Gadamael o PAIGC travou a batalha decisiva na sua luta pela independência, que quer tivesse havido, ou não, o 25 de Abril, teria conduzido o povo da Guiné a uma rápida vitória. Em Gadamael tombaram para sempre quase 50 irmãos nossos que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase 50 homens que, se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses!”

São relatos sofridos, onde não se esconde o ressentimento, são libelos acusatórios, filípicas e catilinárias dirigidas a comandantes e outros, são memórias em carne viva pelo sofrimento dos camaradas e até da população inocente. Há, no entanto, que questionar se o autor mediu as consequências de tanta acusação e tanto despeito, depois do que se escreveu e já não se pode voltar atrás.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P5924: Notas de leitura (72): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (Beja Santos)

14 comentários:

Manuel Reis disse...

Caro Mário:

Li o extracto do livro de Carmo Vicente, sobre Gadamael, que publicaste no Blog e sinto necessidade de tecer algumas considerações.

Estive presente, nos momentos mais difíceis de Gadamael, já tinha deixado para trás Guileje.

Apesar de alguns lapsos, no que ao Gadamael diz respeito, há factos que foram verídicos e que posso confirmar.

A batalha de Gadamael começou no dia 31 de Maio e a 1ª Companhia do Batalhão de Páraquedistas chegou no dia 1 ou 2 de Junho, pelo que falar em Abril é um enorme equívoco.

Na sua chegada tiveram a presenteá-los uma ida ao mato para recolher os mortos e os feridos,a 200 metros do arame farpado, donde regressaram completamente destroçados devido ao estado dos corpos, encontrando-se o do Alfers Branco esquartejado.

Assiti ao desvario do soldado que teve de ser evacuado e está correctamente descrito a cena da corrida para os botes.

Também era do meu conhecimento a existência da emboscada donde resultaram 18 feridos, mas a maioria apresentava pequenos ferimentos.

Sobre os restantes relatos não pussuo informações credíveis para me pronunciar.

Que sobre Gadamael ainda há muito para contar, não tenho dúvida!

Um abraço amigo
Manuel Reis

António Graça de Abreu disse...

Faltava o Gadamael do Carmo Vicente...
Já foi objecto de discussão e divulgação (pelo Virgilio Briote, se bem me lembro)
no nosso blogue.
É uma obra-prima do insulto às tropas pára-quedistas,(e não só), a que o próprio Carmo Vicente pertenceu.
Contaram-me que o Carmo Vicente, politizado rapidamente no pós 25 de Abril,já se arrependeu do Gadamael que escreveu, já não se revê nesses textos.
Ou é tudo ficção?
Seria bom ouvir ou ler o Carmo Vicente,agora, Março 2010.
Abraço.
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Algumas das descricoes e referências feitas por Carmo Vicente,quanto ás suas experiências da guerra,será,talvez demasiado "frontais".Mas é esse o seu carácter.É um homem frontal.Conheci Carmo Vicente na prisão de Custoias Nov/75.A sua cela era paredes-meias com a minha.Em regime de isolamento só pela voz nos conhecíamos.Algumas conversas tivemos mais tarde.Como outros Camaradas Paraquedistas Carmo Vicente será um bom exemplo de como jogadas políticas de bastidores,de golpes e contra-golpes,utilizaram,e deixaram cair,heróicos militares,alguns deles com folhas de servico impressionantes,nao só na Guiné,como em Angola e Mocambique.As tropas Paraquedistas,pela sua bravura e voluntarismo,foram utilizadas por forcas com interesses opostos no 11 de Marco e 25 Novembro,acabando por pagar precos que a maioria dos responsáveis político-militares tao convenientemente souberam evitar.Nao será de estranhar que ALGUNS reajam com frontalidades menos....diplomáticas. Um abraco.

Anónimo disse...

Não li o livro, apenas o que o Mário publicou no Blog.

Mas no que li existe algo que não "encaixa".

Em Maio de 1973 a CCP 122 está em Caboxanque.

Por volta de 20 Maio? é deslocada para Cadique, para permitir que os abstecimentos chegassem a Jemberem,
já que a coisa estva feia o IN não permitia a chegada dos mesmos.

Quanto ao Comandante ter passado os últimos 3 Meses em Bissau e Cufar, direi que ele esteve desde 8 ou 9 de Dezembro 72 em Cufar até ir para Gadamael, ou seja até aos primeiros dias de Junho/73.

Se o Comandante ofereceu os Pára-quedistas ao Spinola, para apanhar mais umas armas, não sei.

Agora o que posso afirmar é que o mesmo quando se despediu de nós para ir para Gadamael, entre outras coisas disse: OS MEUS HOMENS NÃO MERECIAM ISTO.

Eu estava lá.

Um Abraço
Eduardo Campos

Anónimo disse...

Estoria um pouco romantizada. O soldado do morteiro que matou o guerrilheiro com uma walter, que, se bem me lembro, so eram distribuidas a oficiais.

Enfim.

Anónimo disse...

Sr.Anónimo. Na Guiné de 1968/70 em muitas das Companhias de Atiradores a pistola walter era distribuída,entre outros,ao apontador do morteiro M/60,ao soldado armado com bazooka,e,por vezes,a alguns enfermeiros.(Variacoes existiam)

Anónimo disse...

Pedido de desculpas por me ter esquecido do......ENFIM.

Manuel Peredo disse...

Acabo de ler a mensagem de Mario Beja Santos,onde evoca as declarações do Carmo Vicente tiradas do seu livro "Gadamael".
Já uma vez aqui disse que a versão
do Vicente era exagerada e depois
de conhecer mais algumas declarações tiradas do seu livro senti uma grande revolta dentro de mim e não posso ficar calado porque
há muita coisa que não corresponde à verdade.Aqueles que já não podem ouvir mais histórias de Gadamael,
que tenham mais um bocadinho de paciência.Começo por dizer que conheci bem o Vicente pois éramos do mesmo pelotão.Na minha memória ficou gravado que era um tipo brincalhão,sem papas na língua,sem feitos heróicos nem actos de cobardia,isto enquanto andámos juntos.Sei que numa anterior comissão foi ferido em combate,tendo ficado com alguns estilhaços na cabeça.
Quanto às suas declarações,aqui vai a minha versão.As datas que ele refere são completamente falsas.Como diz o Manuel Reis,chegámos a Gadamael no dia 1 ou 2 de Junho.Nos meses de Abril e Maio estivemos em Cadique e não três meses como ele diz.Na campanha do Cantanhês,a minha companhia apenas teve dois mortos e não como ele diz.Em Gadamael não passávamos o tempo nas valas,como deixar entender.O que teria acontecido se isso fosse verdade?Sabemos o que aconteceu no Guileje.
Logo que chegámos a Gadamael,dois pelotões seguiram logo para o mato;onde pernoitaram.O acontecimento com o soldado Costa,não me diz nada.Na minha secção havia um cabo chamado Costa que andava com a metralhadora MG,mas esse não era homem de ficar maluco por dá cá aquela palha.Os
três soldados e o alferes foram recuperados por um pelotão de páras,tendo ido o meu pelotão a ajudá-los,depois de termos regressado do mato onde passámos a noite.Os corpos foram carregados numa Berliet,por mim e mais um soldado ou dois e a evacuação fez-se longe de Gadamael,por questões de segurança.Quando estávamos a carregar os corpos,fomos atacados
com armas pesadas e só não houve mais baixas por uma questão de sorte.Eu mesmo já relatei estes acontecimentos aqui no blogue.
Quanto aos 18 feridos graves de que o Vicente fala,foram apenas 17 sendo eu um deles e todos ou quase todos sem gravidade.Quando fomos evacuados,que eu me lembre,ninguém
tentou fugir e não vejo como isso seria possível.Havia apenas um bote e um sintex para 17 feridos e dois ou três tripulantes.Aquilo quase se afundava com o peso e não havia lugar para mais ninguém.
Não haverá alguém no blogue que consiga entrar em contacto com o Carmo Vicente para este se poder justificar?Eu próprio gostaria de falar com ele,mas não sei como.Estou convencido que hoje não pensará da mesma maneira,mas as suas declarações ofenderam toda a família pára.Tenho muito orgulho em ter servido esta tropa e nunca vi cometer actos selvagens como ele descreve,embora em tempo de guerra haja sempre actos repudiantes,mas isso aconteceu em todos os ramos das forças armadas.

Anónimo disse...

Está hoje aqui mais que provado que a Guerra, o maior flagelo da humanidade, deixa sempre as suas marcas nos combatentes e também nos seus familiares e amigos. Mas também ficou provado que muita coisa tem que ser contada para que os seus intervenientes possam um dia vir a morrer descansados.
Por isso, ainda bem que alguns intervenientes começam a desabafar e a mostrar ao mundo aquilo que sempre esconderam no que respeita a situações difíceis que tiveram que enfrentar. Muita coisa tem sido branqueada sem se saber as razões para tais artifícios. O que se passou, passou-se, não se pode esquecer e a história não anda para trás. Mas as sensibilidades de cada um é que podem ser diferentes em termos individuais. No conjunto as reacções são sempre diferentes mas quase sempre uniformes em favor de uma liderança forte.
Fala-se aqui dos combates havidos em Bissau por causa dum jogo de andebol entre a ASA e a UDIB. Mas ninguém se lembra, por exemplo em 1968, em Bissau, quando saíam os Páras não podiam sair os Fusos, os Comandos nem os Chicotes? E quando saíam os Fusos os outros todos ficavam nos quartéis? E foi assim durante muito tempo em que a paz em Bissau só existia mesmo quando as tropas especiais estavam deslocadas em operações no mato. Mas mesmo assim, com essa paz aparente, nada evitava que de vez em quando lá rebentasse uma ou outra granada no Pilão ou que fosse escaqueirado um bar qualquer sempre por motivos fúteis. Não nos podemos esquecer que estávamos em guerra e alguns dos principais actores fizeram várias comissões onde passaram tudo e mais alguma coisa, com muitos recalcamentos à mistura. Mesmo aqueles que nunca entraram em combate directo, como foi o meu caso, mesmo assim não deixamos de ter os nossos traumas mais ou menos escondidos. Tínhamos amigos em muitos sítios e quando havia ataques, mesmo à distância também sofríamos. Éramos todos muito valentes, mas todos também tínhamos a nossa maneira própria de reagir às adversidades próximas ou longínquas, estas quando conhecidas.
Com este andar ainda há-de vir alguém contar a verdade sobre o desastre do Corubal após o abandono de Madina do Boé onde morreram e desapareceram largas dezenas de soldados da CCAÇ 1790 quando a jangada se virou. E virou-se porquê? Evacuados chegados a Bissau contaram-nos pormenores importantes que nunca aqui vi referidos. Temos que dar tempo ao tempo. Faz bem desabafar. Até pode fazer bem aos políticos para se aperceberem que aquilo não foi uma cowboiada qualquer. Era mesmo guerra.

Joaquim Mexia Alves disse...

Era conveniente que o último anónimo se identificasse, por todas as razões, mas sobretudo porque faz referência ao desastre no Corubal e põe em causa os textos já aqui colocados pelos seus verdadeiros intervenientes.

Por esta e mais razões ou se identifica, ou aquilo que diz não tem qualquer valor, e é apenas uma atoarda de certo modo ofensiva para aqueles que sendo intervenientes aqui deram a cara e contaram o que se passou.

Manuel Joaquim disse...

Concordo com o Mexia Alves.Neste blog. o anonimato não vale, é uma ofensa.
Opinando sobre o livro GADAMAEL,a opinião sobre o que aconteceu deve firmar-se no conhecimento directo e não em versões de versões. Temos a versão do C.Vicente.Venham outras,para além das que há neste blog.Depois,cada um tirará conclusões (se conseguir).
O texto do livro parece não branquear nada nem ninguém. Atrever-me-ia a dizer que,se há tentativa de branqueamento,é de tipo ideológico e nas suas atitudes como combatente. Ele que me perdoe,se não for verdade.É que, no pós 25Abril74,era comum isso acontecer;e não me estou a referir aos que o faziam por oportunismo.Democratas,socialistas,comunistas,sociais "qualquer coisa",revolucionários "disto e daquilo",nasciam como cogumelos num dia de outono.E todos muito convictos,(que grande «happening» sociológico!)
Uma coisa é verdade,C.Vicente não se esconde,chama as pessoas pelos nomes,identifica-as. O livro foi publicado em 1982.Foi publicitado(por isso o comprei,na altura).Eu sentir-me-ia ofendido como militar(ofendido é favor!)se me caracterizassem como alguns (militares) o foram.Houve consequências para o autor?
Outra coisa:
Apesar do nome GADAMAEL, só as últimas 27 pág. do livro,de um total de 110/edição de 1982,versam sobre os acontecimentos de Gadamael em 1973.Há mais 17 pág. sobre a Guiné(ano 1966) e 50 pág. sobre Moçambique (1969,1970,1971).

Manuel Joaquim disse...

Concordo com o Mexia Alves.Neste blog. o anonimato não vale, é uma ofensa.
Opinando sobre o livro GADAMAEL,a opinião sobre o que aconteceu deve firmar-se no conhecimento directo e não em versões de versões. Temos a versão do C.Vicente.Venham outras,para além das que há neste blog.Depois,cada um tirará conclusões (se conseguir).
O texto do livro parece não branquear nada nem ninguém. Atrever-me-ia a dizer que,se há tentativa de branqueamento,é de tipo ideológico e nas suas atitudes como combatente. Ele que me perdoe,se não for verdade.É que, no pós 25Abril74,era comum isso acontecer;e não me estou a referir aos que o faziam por oportunismo.Democratas,socialistas,comunistas,sociais "qualquer coisa",revolucionários "disto e daquilo",nasciam como cogumelos num dia de outono.E todos muito convictos,(que grande «happening» sociológico!)
Uma coisa é verdade,C.Vicente não se esconde,chama as pessoas pelos nomes,identifica-as. O livro foi publicado em 1982.Foi publicitado(por isso o comprei,na altura).Eu sentir-me-ia ofendido como militar(ofendido é favor!)se me caracterizassem como alguns (militares) o foram.Houve consequências para o autor?
Outra coisa:
Apesar do nome GADAMAEL, só as últimas 27 pág. do livro,de um total de 110/edição de 1982,versam sobre os acontecimentos de Gadamael em 1973.Há mais 17 pág. sobre a Guiné(ano 1966) e 50 pág. sobre Moçambique (1969,1970,1971).

Anónimo disse...

Tanto palavreado com base num - UM! - parecer, literário, recensado, estrito, tão discutível como qualquer outro; tão válido como qualquer seu contrário.
Ocorrem duas questões corolário
1 o autor -Carmo Vicente- esqueceu-se que os resultados na guerra são por veses obtidos
a custa de baixas, por muito que isso custe e por muito doloroso que seja a isso assistir?
(e os resultados nem sempre são apenas os imediatos, aqueles que se podem registar em relatório...)
2 o autor esqueceu-se que ao comandante do BCP12 competia precisamente fazer "a guerra com umas cervejas frescas na frente, bebendo à medida que ia estudando os mapas… " ('cartas', neste caso) e à medida que ia desenvolvendo outras actividades de que o autor não se terá, então, dado conta mas que, enquistadas, o terão ulteriormente levado a inferir como nesta recensão se pretende mostra ou pretende pôr em evidência.

SNogueira

Anónimo disse...

____CORRECÇÃO___

no coment anterior

ONDE SE LÊ
desenvolvendo outras actividades de que o autor não se terá, então, dado conta mas que, enquistadas, o terão ulteriormente levado a inferir como nesta recensão se pretende mostra ou pretende pôr em evidência.

DEVE LER-SE
desenvolvendo outras actividades de que o autor não se terá, então, dado conta mas que, tendo enquistada a primeira impressão, o terá ulteriormente levado a inferir como nesta recensão se pretende mostrar ou se pretende pôr em evidência.

SNogueira

SNogueira