sábado, 19 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4977: Convívios (165): Almoço/Convívio: BCAÇ 237/599, PEL MORT 912 e PEL AM DAIMLER 807 - Como/Cufar/Tite 1964/66 - (Santos Oliveira)

1. Mensagem do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf/RANGER, esteve no Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66:



CONVÍVIO

BCAÇ 237/599,
PEL MORT 912
e
PEL AM DAIMLER 807

Camaradas,

Como havia sido programado, realizou-se ontem, 5 de Setembro o GOLPE DE MÃO ao Restaurante FLOR DO PARAÍSO, em Arcozelo - V.N. de Gaia.

O empenho e valentia dos Veteranos, que pertenceram aos Batalhões 237/599, Pel.de Morteiros 912, CCav 677 e outros, é documentado por imagens da Divisão de Fotografia e Cinema, da Unidade.


No final da Operação, ficou apurado que os objectivos foram integralmente cumpridos, tendo as Tropas regressado, em Paz, aos acantonamentos habituais.



Assinado
Pel'O Comandante









Foto da esquerda: O Santos Oliveira , a solicitação do Cor Gama, a fazer as descrições da Guerra na Ilha do Como. A atenção é manifesta no Furr Mil Machado(PelRecInf) e Cor Gama, Foto da direita: 1º Cabo Catarino(CCS), SrgtºMilº Santos Oliveira(PM912) e Cor Gama(2ºCMDT)










Foto da esquerda: Furr.Milº Rodrigues(CCav677),Alf.Milº Rodrigues (PM912) e Alf.MilºAlmeida (PRecInfª), Foto da direita: Furr's Mil.Machado(PRecInf), Franklin(CCav677) e Furr Liberato(CCS)













Foto da esquerda: Foto da Família, Foto da direita: Filho de Camarada atento aos ditos entre o Cor Gama e o Srgt Santos Oliveira












Aspecto de duas das mesas da confraternização












Foto da esquerda: O Coronel Dias da Gama (2º Comandante do BC599) no uso da Palavra

Fotos: © Santos Oliveira (2009). Direitos reservados.
Santos Oliveira
2º Sarg Mil AP Inf/RANGER do Pel Mort 912,
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

17 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4972: Convívios (162): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Godomar, no dia 5 de Outubro

Guiné 63/74 - P4976: Memória dos lugares (43): Madina do Boé e Beli (António Pinto, ex-Alf Mil, BCAÇ 506, 1963/65)

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > BCAÇ 506 > Abril de 1964 > Da esquerda para a direita: O Alf Mil António Pinto, o Mário Soares, comerciante de Pirada, o Alf Médico (e hoje conhecido como o grande intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes e o Alf Mil Spencer. Luis Goes fez 76 anos em 10 de Janeiro de 2009. Gostaríamos de o homenagear na série Os Nossos Médicos (*)... Alguém mais o conheceu como Alf Mil Médico ? Depoimentos precisam-se!...

Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem dos nossos António Pinto, um dos camaradas da velha guarda (BCAÇ 506 , 1963/65) (**) (Vive actualmente em Vila do Conde, telef. 252 653 094) (Na foto, à esquerda, em Pombal, por ocasião do nosso II Encontro Nacional, 2007).


Caro Camarada Armandino Alves (***), já há bastante tempo que não escrevo nada para o nosso Blogue, apesar de quase todos os dias o vá visitar, primeiro para acompanhar as notícias e novidades que sempre vão aparecendo e segundo se vejo alguém do meu tempo (1963/65) a aparecer, facto que não se concretizou ainda.

A minha idade (já lá vão 70) e outros factores (duas operações à coluna) têm-me impedido de ser mais activo e não relatar tantos episódios por mim vividos nos tempos por que lá passei. Fiquei admirado e agradavelmente surpreendido por ver uma mensagem endereçada a mim directamente e em que falavas de Madina e Beli.

E porquê? Porque foi o nosso Pelotão (não passava disso mesmo, embora reforçado por soldados oriundos da Guiné) a construir (!) os Destacamentos nessas Povoações. Primeiro em Madina, local onde fomos atacados uma só vez, mas colunas nossas sofreram bastante nas várias deslocações que fazíamos.

Assisti e, ao fim de tantos anos, ainda relembro bem, as mortes de camaradas nossos vítimas de emboscadas e minas. Era nessa altura nosso médico o Luiz Goes (****) e nem ele, nem eu, nem ninguém poderia fazer o que quer que fosse a não ser confortar, nos últimos momentos, os nossos Camaradas, que, estupidamente deixaram lá as suas vidas.

Deixei Madina e fui para Beli num local perto da casa do Chefe de Posto (não sei se no teu tempo ainda lá estava) que tinha realmente quatro casas e onde morava, salvo erro, um enfermeiro. Tivemos que abrir as valas, duas cercas de arame farpado e dar condições de habitabilidade mínima para todos nós.

Foi aqui em Beli que fui ferido com estilhaços de uma granada de morteiro que caiu mesmo na vala onde eu me encontrava na altura. Ainda andam comigo muitos desses estilhaços (felizmente dos que não matavam) misturado com areias e pedras.

Felizmente dos nossos que ficaram feridos, uns mais do que outros, todos nos safámos.

Respondendo finalmente à tua pergunta, não é do meu tempo os versos escritos numa das casas, nem tão pouco o Luiz Goes esteve comigo em Beli (só em Madina) (*****).

Caríssimo Armandino, não te esqueças que mandam as norma do Blogue tratarmo-nos por tu!.

Não me alongo mais, obrigado por me contactares e um grande quebra-ossos do António Pinto

_______

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série: 8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)


(**) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

O BCAÇ 506 (14 de Julho de 1963 / 29 de Abril de 1965) esteve sediado em Bafatá. O Comandante foi o Ten Cor Inf Luís do Nascimento Matos. Unidade mobilizadora: RI 2.

Alguns dados sobre o nosso camarada António Pinto:

(i) Embarquei para a Guiné em Novembro de 1963, em rendição individual ("Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal");

(ii) Passou por Nova Lamego, tendo ao fim de algum tempo sido destacado para Pirada ("onde reconstrui o aquartelamento");

(iii) Estive algum tempo em Geba ("zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas");

(iv) Veio de férias em Outubro de 1964;

(v) No regresso, foi destacado para Madina do Boé, "tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento";

(vi) Depois foi para Beli , o primeiro pelotão também a lá chegar e a montar o destacamento;

(vii) Em Maio de 65, Beli é atacado tendo o António Pinto sido um dos sete feridos companheiros), no caso dele devido a rebentamento de uma granada de morteiro;

(viii) Esteve um mês internado no HM 241, em Bissau;

(ix) Seguiu depois para Bolama, para dar instrução e terminar a comissão.


(***) Vd. postes de:

16 de Junho de 2009> Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

6 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4468: Memória dos lugares (28): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)

(****) Vd. ppste de 4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1492: O Álbum das Glórias (7): Eu, o Mário Soares, o grande cantautor de Coimbra, Luiz Goes, e o Spencer (António Pinto)


(*****) Vd. postes sobre Madina do Boé e Beli, da autoria do António Pinto:
17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4975: (Ex)citações (46): Se eu fosse mulher sentir-me-ia duplamente envergonhada... (Vitor Junqueira)

1. Texto do Vitor Junqueira, ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), médico, residente em Pombal, membro da nossa Tabanca Grande, organizador do nosso II Encontro Nacional (Pombal, 2007). Enviado a 14 de Setembro de 2009, depois de solicitado a comentar um comentário de uma leitora anónima ao poste P1475 (*)


Caro Luís Graça,

Cheguei da terra de Alberto João que não visitava fazia um tempinho e a quem tiro o meu chapéu. Encontrei o teu e-mail que desde já agradeço. Como não havia qualquer referência ao texto que motivou tão grande vergonha (embaraço?) por parte da nossa cara visitante, deduzo que se trata daquele em que falo da Guiné e dos amores que eu lá tive. Até parece o título de uma canção de Coimbra!

Segue um breve comentário ao reparo da estimada leitora, com o pedido antecipado de desculpas, caso continue a sentir-se ofendida depois das explicações que lhe ofereço.



(Ex)citações (46) > A Guine e os amores que lá tive (**)
por Vitor Junqueira


Elaborando um pouco sobre um comentário seu (*) a um texto da minha autoria versando o tema do sexo em tempo de guerra, que a deixou envergonhada, permita-me, minha senhora, que lhe diga que não posso estar mais a seu lado, nem por baixo nem por cima. Também sou, por princípio, contra a guerra, a violência sobre os outros povos … e o meu. Calculo que, tal como eu, a senhora abomina a hipocrisia, o cinismo, a estupidez, a indignação das virgens púdicas, as ratas de sacristia ou falsas beatas.

Peço-lhe minha senhora, que atente na quantidade de pontos de convergência que o nosso pensamento já leva em comum. Até lhe digo mais, se eu fosse mulher, sentir-me-ia duplamente envergonhada!

Primeiro, porque ninguém gosta de ver outro do seu género (taxonómico) enveredar por uma carreira profissional tão desprotegida e socialmente desvalorizada, reconheçamo-lo. E note que estou a referir-me às profissionais dos países civilizados, como o nosso. Bem sei que, no Reino Unido e na Itália, a corporação se organizou em partidos políticos que tiveram votações consideráveis. Conheceu a Cicciolina? Até chegou a de(puta)da! Nalguns países europeus, têm direito a cartão profissional, seguros, protecção sindical e formação teórico-prática.

Em segundo lugar, garanto-lhe que a sigo noutro aspecto, o da nomenclatura. As antigas designações de puta, prostituta, meretriz, mulher de vida fácil, apresentam uma carga pejorativa considerável, soam mal ao ouvido e podem até induzir em erro toda a mulher que pretenda abraçar a profissão. Como é que se pode considerar fácil a vida de uma profissional, se ela não tiver minimamente definidos o seu horário laboral, número máximo de atendimentos/hora, remuneração, higiene e segurança no trabalho, etc.?

Prefiro a denominação de profissionais do sexo. Ao contrário do que pensa, respeito-as e admiro-as! Pela coragem, devido às doenças que por aí andam. Pelo espírito de sacrifício, porque não dever ser pêra doce desenvolver uma actividade convencional durante o dia, e à noite, dedicarem-se a outra ainda mais convencional. Eu que lhe digo, é porque sei. Vivi uns tempos na periferia de uma grande urbe nacional e, por diversas vezes, até fui testemunha presencial da ginástica que algumas tinham que fazer para andarem bem arranjadinhas e pagar a prestação do carrito.

Hoje em dia, estas profissionais estão muitíssimo melhor preparadas para enfrentarem a carreira. Muitas frequentam ou frequentaram a universidade, são clientes dos melhores ginásios e clínicas de fitness, têm a alimentação controlada por nutricionistas, vestem bem e publicitam os seus serviços (acompanhantes) em revistas caras. Pode dizer-se que usufruem de uma vida de estalão. Claro que não podemos fazer generalizações, nem todas lá chegam, tantas são as vezes em que o sucesso depende de parâmetros sobre os quais o ser humano não tem controlo. Mulheres mal feitas, feiosas, sem educação, copuladas e mal pagas, são bem capazes de, a dado momento, acharem que escolheram o lado errado da vida. Essas sentem-se envergonhadas. Compreensivelmente.

No caso da mulher africana, a minha experiência não é grande porque praticamente só tive o relacionamento que descrevi. Mas aí parece-me que a situação não é tão preocupante como pode parecer à primeira vista. Desde logo, porque é mais fácil a mulher africana ir (ou vir) com um homem porque gosta dele, e não por dinheiro. Parece-me que deixei bem claro que a minha – como lhe hei-de chamar, namorada? - nunca aceitou qualquer forma de pagamento. E depois, pelo que me apercebi, elas não brincam em serviço. Ou estão afim ou não há mesmo nada a fazer, e a insistência pode ser muito perigosa para a saúde andrógina.

Também não constatei que houvesse exploração de mão de obra barata já que o serviço mais comum, partir punhe, andava pelos dois pesos e meio, e tratando-se de clientes na casa dos vinte anos, não se pode dizer que fosse trabalho penoso, insalubre ou demorado.

Pedagogos com nome na praça têm-no aconselhado como boa prática introdutória ou iniciática ou vice-versa, olhe já estou confuso, nas nossas escolas, sem qualquer lugar a qualquer cobrança, evidentemente.

A esta hora já a senhora estará a perguntar-se; mas onde é que este rapaz terá ido buscar tanta ciência? Garanto-lhe que não foi ao currículo da mãe, irmãs, tias ou avós como estará tentada a avançar. Essas eram umas pategas, só sabiam rezar e até um simples pensamentozito mais lúbrico era motivo para confissão, a um senhor padre muuuiito velhinho e quase invisual. Onde eu tenho aprendido umas coisas é na literatura moderna, particularmente naquela de inspiração feminina. E só leio autoras de referência. Mas não dispenso as revistas de e para mulheres. Acho-as um bocadinho picantes, atrevidas mesmo. Se aquilo que lá vem corresponde à realidade, é um delicioso mundo novo que se abre para nós, homens. Alguns sortudos já encontraram tudo aberto, é a felicidade sem limites e sem responsabilidades. Agora eu, pobre de mim, vivo aqui para as berças onde ainda está tudo tão fechado!

Não me alongo mais. Reitero-lhe a expressão do meu maior respeito ao mesmo tempo que faço votos para que alcance o maior sucesso e prazer tanto a nível pessoal como profissional, seja qual for a actividade a que se dedica.

Ao seu inteiro dispor,
Vitor Junqueira

_________________

Notas de L.G.:

(*) 31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

Comentário de uma leitora, anónima, com data de 13 de Setembro de 2009:

"Pesquisando imagens sobre África , deparei-me com o vosso blog. Por princípio sou contra a guerra, o abuso e violência sobre outros povos, mas respeito todas as pessoas que tenham vivido na pele a experiência.

"No entanto fiquei impressionada e envergonhada com a falta de respeito despudorada deste artigo. Tratando a mulher como objecto sexual, como puta, no caso a mulher africana, revelando uma total desconsideração pelo ser humano, pela mulher, demonstrando claramente os abusos do colonialismo que nada fez que explorar e violentar outros povos. Lamentável".


(**) Vd. último poste desta série, (Ex)citações: 15 de Setembro de 2009 >Guiné 63/74 - P4953: (Ex)citações (45): Resposta ao Mário Fitas: Luís, deixa sair de vez em quando as G3...(Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4974: Agenda Cultural (27): "A Marinha em África - Angola, Guiné e Moçambique - Campanhas Fluviais 1961/74", John P. Cann (José Macedo)


O nosso Camarada José Macedo, ex-Tenente Fuzileiro Especial, vive nos Estados Unidos desde 1977 e enviou-nos o seguinte convite em 17 de Setembro de 2009:


Camaradas,


Infelizmente, por estar nos E.U., não poderei atender ao lançamento do livro, contudo vou tentar obter uma cópia que deve ter muito interesse, para os membros da tabanca, onde infelizmente temos poucos marinheiros.


Talvez o Pedro Lauret possa ir ao lançamento.

Um abraço amigo,
José J. Macedo
2º Ten FZE DFE 21

CONVITE



A Academia de Marinha e a Editora Prefácio têm a honra de convidar V. Exa. a assistir ao lançamento da obra "A Marinha em África - Angola, Guiné e Moçambique - Campanhas Fluviais 1961-1974", da autoria do Professor John P. Cann.

O evento realiza-se no próximo dia 22 de Setembro de 2009 (terça-feira), pelas1730 horas, na Academia de Marinha, na Rua do Arsenal, em Lisboa.
A sessão será presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

Com os meus cumprimentos,
O SECRETÁRIO-GERAL
José H. F. Cyrne de Castro, CMG

ACADEMIA DE MARINHA
Edifício da Marinha
Rua do Arsenal
1100-038 Lisboa
Tels.: 213 255 493/ 213 255 496
Fax: 213 427 783


___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

17 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4967: Agenda Cultural (26): Museu Militar do Porto (Jorge Teixeira/Portojo)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4973: Tabanca Grande (175): Carlos Sousa, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 1801, Ingoré/Bissum-Naga/S. Domingos/Cacheu/Antotinha, 1967/69



1. Carlos Fernando da Conceição Sousa, ex-Alf Mil de Operações Especiais/RANGER (quando veio da Guiné foi promovido a tenente), da CCAÇ 1801 - Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69.

Camaradas,

Apresento-me como novo Camarada nesta “nossa” Tabanca Grande, chamo-me Carlos Fernando da Conceição Sousa, fui Alferes Miliciano de Operações Especiais/RANGER (quando vim da Guiné fui promovido a tenente), na CCAÇ 1801, e estive em: Ingoré, Barro (em operação), Ponta do Inglês (em operação), Bissum-Naga, S. Domingos, Elia (em operação), Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré).



Envio a minha foto actual e outra onde estou com o General Spínola. Foi no dia 31 de Dezembro de 1968, quando eu e os meus soldados estávamos a jogar futebol, um helicóptero pousou ali no meio do campo.



Os jogos, para que as equipas se distinguissem, faziam-se com uns de camisola contra outros em tronco nu.
Como se pode ver na foto eu jogava na equipa dos tronco nu.

O Gen. Spínola caminhava para próximo de onde estavam os nativos, onde foi dar-lhes umas palavras.
Hoje queria que publicassem esta minha primeira mensagem:

16 de Setembro de 2009, acabei de ver na RTP1 um programa onde se mostrou a dramática situação de jovens que nasceram em Portugal e que não são considerados portugueses. Fiquei abismado com o que vi!

Mais abismado fico quando sabemos que aconteceu um 25 de Abril que nós saudamos (eu já tinha 30 anos quando aconteceu), que é o dia da Liberdade!

Combati na Guiné por uma Pátria que então estava definida como multirracial, e as terras de além-mar eram conhecidas e tratadas como províncias ultramarinas. No norte da Guiné, entre S. Domingos e Ingoré, a população desde felupes, a balantas, passando por fulas e mandingas, era maioritária nossa amiga. No destacamento de Antotinha, a 6 km do porto de S. Vicente, no rio Geba, havia cerca de cem balantas armados em auto-defesa que defendiam mais de 3000 pessoas, pois que, como os próprios nativos diziam, tinham que se defender dos bandidos.

Na altura todos lhes dissemos que eles eram portugueses ultramarinos. Alguns deles ficaram extremamente felizes quando obtiveram bilhete de identidade de cidadão português. Não há revolução que possa colocar por terra todas as expectativas que tínhamos alimentado nas populações.

Não venho aqui levantar a validade histórica dos movimentos de libertação, que terão libertado populações do jugo português para os entregar a oligarquias corruptas e prepotentes. É claro que temos a vantagem de conhecer a evolução (ou involução?) que se deu. Hoje sinto que a minha missão era nobre – proteger um povo de falsos libertadores.

Mas o que quero hoje reflectir é sobre os jovens apátridas nascidos em Portugal.

Os pais deles foram de algum modo induzidos na ideia de que eram portugueses. Muitos deles tiveram que procurar refúgio fora da terra onde nasceram e vieram para Portugal, como terra mítica idealizada como justa e civilizada. Nós deveríamos tê-los mantido como portugueses, tal como sempre lhe dissemos que eram. Mas não; deixámo-los esquecidos, assobiando para o ar, sem que houvesse um governante que lhes fizesse justiça e aos filhos daqueles que enganámos.

Reforço a ideia de que a vinda para Portugal era, para muitos, a única saída. Lembremo-nos dos fuzilamentos que os libertadores fizeram com aqueles que tinham colaborado com os portugueses – e os que connosco colaboraram eram muitos milhares.

Façamos barulho para que imediatamente se legalizem os filhos de africanos portugueses até ao 25 de Abril. Acabemos com mais esta vergonha nacional.

Um abraço para todos os Camaradas da Tabanca Grande,

Carlos Sousa
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1801

Foto: © Carlos Sousa (2009). Direitos reservados.
Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

2. Comentários de MR

Amigo e Camarada Carlos Sousa, bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Muito obrigado por aceitares o convite para integrares esta grande Tertúlia Bloguista, cuja "formatura" é composta por cerca de 350 ex-Combatentes da Guiné, que pouco a pouco, mas decidida e inabalavelmente, aqui vão prestando os seus fabulosos depoimentos, contribuindo para a tão necessária e desejada catarse da guerra que a nossa geração viveu Além-mar, no Ultramar africano.

São histórias/memórias de morte, sangue, dor e sofrimento, umas… e outras… de pequenas e grandes coisas do dia-a-dia, que íamos cortando no velho calendário, contadas, quase todas elas, no presente do indicativo.

Fazêmo-lo consciente e patrioticamente, não por impulsos masoquistas, ou maquiavelistas, mas como testemunhos escritos e fotográficos, para as gerações presentes e vindoiras.

Ficamos à espera que nos contes histórias sobre a comissão e actividade operacional da tua CCAÇ 1801 e de ti na Guiné. Tudo será bem-vindo (textos, documentos e fotos), para ampliar este nosso espólio virtual.

No lado esquerdo da página inicial do blogue, tens tudo o que é importante saber sobre o blogue: O que nós (não) somos e as normas de conduta a seguir pelos tertulianos. São simples e normais regras de boa cidadania, que se resumem ao respeito mútuo inter-bloguista e a aceitação das diferenças de conceitos e opiniões.

Quanto à tua CCAÇ 1801, apenas existe no blogue um pequena referência, com data de 14 de Outubro de 2008, no poste: Guiné 63/74 - P3312: Unidades que passaram por Sedengal (José Martins), da autoria do nosso camarada José Martins, que foi Fur Mil Trms da CCAÇ 5, que muito colabora com o pessoal no blogue através de valiosos trabalhos de pesquisa sobre as diversas unidades que passaram pela Guiné, que só a sua carolice lhe permite concretizar, e que é a seguinte:

«CCaç 1801 [mobilizada no BC 10 – Chaves - embarque em 26 de Outubro de 1967 e regresso em 20 de Agosto de 1969], regressa a Ingoré para reforçar o BCaç 1894, para actuação nas operações realizadas, e depois integrado no dispositiva de manobra do BCaç 1913 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 27 de Setembro de 1967 e regresso em 16 de Maio de 1969], quando em 23 de Abril de 1968 assume a responsabilidade do subsector de Ingoré, destacando um pelotão para Sedengal.»

Todos ficamos à espera da tua melhor colaboração e, entretanto, recebe de toda a tertúlia “atabancada” um abraço de boas-vindas.

Nota: O nosso Camarada Carlos Sousa, é licenciado em Engenharia Mecânica. É professor no I.S.E.P. (instituto Superior de Engenharia do Porto). Reformou-se muito recentemente, como Chefe do Departamento de Formação do C.A.T.I.M. (Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica) da cidade do Porto.

Magalhães Ribeiro
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4972: Convívios (164): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Gondomar, no dia 5 de Outubro (António Carvalho / Carlos Silva)


1.º Convívio de ex-Combatentes na Guiné [1961-1974] do Concelho de Gondomar

Vai ter lugar, no próximo dia 05 de Outubro, o 1.º Encontro de ex-combatentes de Gondomar que participaram no período de 1961/1974, na guerra colonial da Guiné.


Programa:

10H00: Deposição de coroa de flores no Monumento aos Combatentes do Ultramar em Fânzeres.

11H30: Início da concentração no Campo de Futebol do Medense Futebol Clube, em Medas-Gondomar, dos gondomarenses ex-combatentes, familiares e amigos.
12h00: Almoço no local [porco no espeto] oferecido pelo nosso camarada António Carvalho, seguido de confraternização.

Preço mínimo: 5 euros

A confraternização é extensiva aos ex-combatentes residentes em Gondomar, seus familiares e amigos.

Convém confirmar a participação até ao dia 2 de Outubro, a fim de arranjar tacho suficiente, na medida em que, o convívio não se realiza em nenhum Restaurante.

Contactos:


António Carvalho – Ex-Fur Mil CArt 6250 – Mampatá, 72/74
Telm: 919 401 036
E-mail: ascarvalho1972@iol.pt
Medas


Carlos Silva – Ex-Fur Mil CCaç 2548/BCaç 2879 – Farim, 69/71
Telm: 966 651820
E-mail: carsilva.advogado@sapo.pt
Massamá - Queluz

Medas, 5 de Setembro de 2009
A Comissão Organizadora
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4956: Convívios (161): 14.º Almoço de confraternização de ex-militares da Guiné, dia 26 de Setembro em Ponte de Sor (J.M. Félix Dias)

Guiné 63/74 - P4971: (Ex)citações (45): O que fazer com este Blogue? (Luís Graça)

1. Comentário de Luís Graça, ex-Fur Mil da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, fundador, administrador e editor do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", no dia 17 de Setembro de 2009, ao poste Guiné 63/74 - P4969: Banalidades do Mondego (Vasco da Gama) (V): Os Novos Pelotões de Fuzilamento, os do Abandono, Esquecimento e Desprezo


O que fazer com este blogue?

É a pergunta, indirecta, subtil, que está subjacente ao comentário do António Matos a propósito dos pelotões do esquecimento, do desprezo e do abandono que todos os dias fuzilam os homens da nossa geração que fizeram a guerra colonial, que foram usados e deitados fora...

Recorda o António que "é lema deste blog não se fazer política o que é difícil, pois viver é em si mesmo um acto político!" para logo a seguir observar e sugerir o seguinte: "mas ao cairmos na tentação de o fazer, estejamos atentos pois os tais pelotões de fuzilamento actuam como verdadeiros snipers"...

De facto, não é preciso recordar as regras do jogo, ou seja, a nossa orientação editorial:

"Somos independentes do Estado, dos partidos políticos e das associações da sociedade civil que de uma maneira ou de outra possam representar e defender os direitos e os interesses dos ex-combatentes portugueses (ou guineenses).

(...) "Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro. Mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja.

(...) "Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaradagem são valores que procuramos cultivar todos os dias".


Amigos e camaradas:
Não fazemos política, no sentido restrito do termo, mas podemos e devemos fazer lobbying, podemos actuar como um lóbi... São duas coisas distintas, a política directa e o lobbying: infelizmente as associações de veteranos ainda não perceberam as potencialidades do lobbying, uma actividade de grande sucesso e de impacto na política e nos negócios em países como os Estados Unidos e que chega à Europa: a Alemanha, por exemplo, tem 5000 lobistas reconhecidos pelo Parlamento Europeu, a Espanha umas centenas, Portugal tem apenas um...

Casos como o do Corvacho, do Pisco e do Baptista, aqui denunciados no blogue, são indignos, envergonham este país e a nossa democracia... O Estado Português não pode brincar mais com a saúde e a dignidade dos antigos combatentes... E nós temos que começar a fazer algo mais do que escrever as nossas histórias e as nossas memórias, temos que nos organizar como grupo de pressão, junto do Estado e da sociedade civil... E, claro, precisamos de pensar globalmente e agir localmente...

O blogue serve para tudo menos para fazer política partidária, por razões óbvias... Agora o blogue é já (e pode ser também mais no futuro) uma ferramenta numa estratégia de lobbying (de influência, moral e legal, na tomada de decisão do poder político, nomeadamente legislativo e executivo)...

Luís Graça
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4513: Comentários que merecem ser postes (7): Encontros imprevistos... na latrina (António G. Matos)

Guiné 63/74 - P4970: Tabanca Grande (174): Osvaldo Colaço Pimenta, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1973/74)

1. Mensagem de Osvaldo Colaço Pimenta, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1973/74, com data de 17 de Setembro de 2009:

Boa tarde camaradas:
Tive conhecimento do site através dum camarada comum.

Sou: Osvaldo Colaço Pimenta
Ex-Furriel Miliciano de Infantaria
Fiz comissão na Guiné entre 1973 e 1974 em Empada e Catió na CCAÇ 3566, "Metralhas".

Tenho algum espólio fotográfico que tive oportunidade de trazer da Guiné.
Algumas histórias, como todos os camaradas, também fazem parte do meu espólio pessoal.

Quero partilhar convosco tudo aquilo que todos merecemos!

Actualmente sou Quadro Técnico na Saint-Gobain Mondego, empresa líder na produção de embalagens de vidro, situada na margem direita do Mondego, junto à foz, na Figueira da Foz.

Um abraço
Viva a Guiné


2. Comentário de CV

Caro Pimenta (para não confundir com o José Colaço), bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Muito obrigado por quereres vir fazer parte desta Tabanca, Caserna Virtual de ex-combatentes da Guiné, que querem fazer alguma catarse, escrevendo as suas memórias, deixando ao mesmo tempo algo para os nossos vindouros, daquilo que foi a guerra naquele pequeno território, hoje Guiné-Bissau.

Tudo o que tiveres sobre a estadia e actividade da CCAÇ 3566 e de ti na Guiné, será bem-vindo ao nosso espólio. As fotos também, a começar por uma tua fardado, na época, em formato tipo passe, de preferência, para fazer parte dos nossos arquivos e encabeçar os teus textos futuramente.
Fotos que queiras enviar, devem vir sempre acompanhadas de legendas para melhor compreensão das situações representadas.

No lado esquerdo da nossa página tens tudo o que podes e deves saber de nós. O que (não) somos e as normas de conduta a seguir pelos tertulianos. Afinal regras normais de boa cidadania que se resumem ao respeito mútuo e à aceitação das diferenças de opinião.

Para tua informação, caso não saibas, temos três tertulianos da tua Companhia, a saber: Antero Santos que vive em Avintes, Joaquim Pinheiro da Silva que vive no Brasil e Xico Allen que vive em Vila Nova de Gaia.

Esperando de ti a melhor colaboração, ficamos à espera que comeces a dar-nos trabalho. Entretanto recebe de toda a tertúlia um abraço de boas-vindas.

C. Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4957: Tabanca Grande (173): Manuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Farim e Binta (1972/74)

Guiné 63/74 - P4969: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (VI): Os Novos Pelotões de Fuzilamento, os do Abandono, Esquecimento e Desprezo


1. Mensagem do nosso camarada Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, enviada em 14 de Setembro de 2009:


BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - VI

Os Pelotões de Fuzilamento

O Coronel sr. Eurico de Deus Corvacho

O soldado sr. Carlos Gonçalves de Freitas


Quando o nosso Pira de Mansoa, veio, de certeza com a melhor das intenções, eu conheço-o bem pois já convivi com ele em circunstâncias várias para lhe reconhecer a nobreza do seu carácter, a sua disponibilidade para com o próximo, a sua dedicação ao nosso Blogue após as suas oito horas de trabalho de assalariado e a sua preocupação com terceiros, dizia eu, quando o Pira para justificar certas atitudes tentou pôr água na fervura com a troca de prendinhas e com os Pelotões Virtuais de Fuzilamento, pensei logo em contactá-lo para lhe manifestar a minha não concordância com tantos paninhos quentes.


Não foi necessário, pois, acabado de chegar de Coimbra dirigi-me de imediato ao nosso Blogue (Oh Vasco que vício… já fizeste aquilo, já trataste daqueloutro… vai perguntar a minha mulher quando dentro de uma hora chegar a casa... ) e tive o grato prazer de ler o texto do nosso Camarigo Mexia Alves, bem como os comentários que se lhe seguiram e onde , também eu, deixei uma papaia, que constituem no seu conjunto o somatório de reacções irmãs dos verdadeiros Combatentes da Guiné, mostrando a todos qual o significado de um espaço de fraternidade, de amor e também de saber perdoar, muitas vezes não perdoando.


Então qual a razão de trazer até vós, camaradas e amigos, os Pelotões de Fuzilamento?

É que eles existem e continuam a matar!

São pelotões que matam em silêncio sem utilizarem o barulho da metralha. Não usam G3, nem Kalashnikov nem morteiros nem obuses. Usam armas mais sofisticadas que causam uma morte mais lenta, mais prolongada, de muito maior sofrimento.

Usam o desprezo!

Usam o abandono!

Usam o esquecimento!

Ignoram os combatentes da Guiné!

Nem sequer nas suas campanh
as eleitorais se dignam por um segundo que seja, falar dos nossos mortos em combate, dos males que a guerra promoveu, desfazendo famílias, provocando em muitos de nós distúrbios de tal ordem graves que transformaram, alguns de nós, Homens sãos, íntegros e vigorosos em pedintes de mão estendida, esmolando pelas ruas das cidades.

Todos nós conhecemos inúmeros companheiros nossos que passam ou passaram por situações destas.

O poste respeitante ao coronel Corvacho, que todos nós conhecemos no mínimo como combatente da Guiné, encheu-me de tristeza e pode bem ser um exemplo do que acabo de dizer.

Ler, nas palavras do seu filho sr. Eurico Corvacho que o seu pai esteve numa casa de saúde ao abandono, falar em lar de idosos, em assistentes sociais, em ver se consegue o seu internamento no Hospital militar, é mostrar à evidência a existência dos silenciosos pelotões de fuzilamento.

Quantos Corvachos existirão por esse país fora? Quem não conhece camaradas que sofrem e vivem no mais completo isolamento desprezados pelos nossos “grandes homens” da política?
Eu conheço gente da minha Companhia com grandes dificuldades, que a solidariedade dos mais próximos tenta de alguma forma minorar.

Conheci de muito perto um conterrâneo meu de seu nome Carlos Gonçalves Freitas, que foi soldado condutor na minha Companhia de Cavalaria 8351 “Os Tigres”.

No dia 12 de Maio de 1973 conduzia uma das viaturas no regresso da coluna Aldeia Formosa - Cumbijã que sofreu uma violenta emboscada, da qual resultou um morto, o meu camarada António Bento Bôa e dois feridos graves; todos eles seguiam no seu Unimog.

O Freitas nunca mais foi o mesmo!

Os tiques nervosos que lhe valeram a alcunha de PISCA, aumentavam diariamente.

Os olhos não paravam de abrir e fechar, a cabeça abanava continuamente, o nariz fazia ruídos esquisitos e o consumo da cerveja aumentava exponencialmente.

Natal de 1972 em Aldeia Formosa. O FREITAS ou PISCA, é o soldado que está por trás de um capitão a puxar para o gordo (tem bigode, SEM BARBA).

Conversava com ele quase diariamente sobre assuntos da Figueira dos quais ele rapidamente fugia. Vinha em consulta externa para Bissau de onde regressava rapidamente; não aguentava estar onde não conhecia ninguém. A asa protectora dos seus camaradas, mesmo nas profundezas do mato, merecia-lhe mais que a paz da capital.

Acompanhei-o o melhor que consegui.

Quando chegámos a Portugal, trouxe-o de táxi de Lisboa até casa. Procurava-me duas, três vezes por semana. Estava com dificuldades em dar-se com a mulher e com as filhas. Tinha dias em que me aparecia com sinais evidentes de embriaguez e o seu olhar era cada vez mais duro.

Deixou de aparecer! Eu fui para o Porto e depois para Coimbra, onde por mero acaso o encontrei no hospital. Desleixado no vestir e tresandando a álcool. Tivemos uma grande conversa e lembro-me de lhe ter dado o montante que me pediu, a título de qualquer desculpa.

Dei-lhe o meu telefone e a morada em Coimbra de que ele jamais se serviu. Sabia notícias dele pelo Fernando Lopes, outro Tigre da Figueira de quem fui padrinho de casamento. A situação familiar degradava-se, a separação aconteceu até que há uns tempos atrás o Lopes ligou-me: Capitão , morreu o Pisca! Assim, de rajada.

Atirara-se para debaixo do comboio junto à estação das Alhadas.

Fui ao seu funeral onde estavam meia dúzia de pessoas.

Quebrando o silêncio de circunstância, dirigi-me às filhas e naquele momento só eu sei quanta verdade existiu quando lhes expressei o respeito e a dor pelo meu camarada que havia, finalmente, encontrado solução para o seu sofrimento.

O silencioso pelotão de fuzilamento dera mais uma vez sinal.!

Nos encontros da minha Companhia já contamos vinte mortos, fora os camaradas que nunca apareceram ou que não estão por nós referenciados que tornarão a lista, porventura, mais extensa. Um destes dias, mais ano menos ano, já não há nenhum Tigre do Cumbijã para morder as canelas dos rapazes…

Chega de lamentações e de olhar para trás.

Só peço aos meus Camaradas, a todos os Camaradas da Guiné que NÃO DEIXEMOS QUE ESTES PELOTÕES DE FUZILAMENTO NOS CONTINUEM A MATAR.

Um abraço para todos os meus Camaradas da Tabanca Grande.
Vasco A. R. da Gama
Foto: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4968: In Memoriam (32): Cap Mil Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, CART 1613, morto pelo Sold Cavaco, na véspera do Natal de 1966

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Iemberem > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > Em primeiro palno, ao meio, o Dr. Francisco Silva, madeirense, ortopedista no Hospital Fernando da Fonseca, Amadora-Sintra, médico do nosso camarada Hugo Guerra. À sua esquerda, a Maria Alice e à direita Salifo Camará, 87 anos, régulo de Cadique Nalu e Lautchandé, antigo Combatente da Liberdade da Pátria. Foto tirada por ocasião da visita ao centro de saúde materno-infantil de Iemberem.

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados


O Francisco Silva, que viajou de jipe, com mais camaradas, na viagem à Guiné, de ida e volta, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008), foi Alferes Miliciano, tendo pertencido à CART 3492, que esteve no Xitole (com o Joaquim Mexia Alves).

O Francisco Silva revelou-me na altura ter saído da CART 3492 para substituir um alferes morto na parada, pelos seus homens, africanos, do seu Pel Caç Nat 51. Segundo o Francisco Silva, o alferes terá sido morto por que era um tipo bom de mais, com problemas para impor a sua autoridade ao pelotão (que era etnicamente heterogéneo, e tinha um historial de problemas de disciplina).

Desconheço a data e o local onde ocorreu esta tragédia. Não sei inclusive o nome do infeliz alferes. Também não sei quantos casos destes, de oficiais portugueses, milicianos ou do quadro (mas também de sargentos, furriéis e cabos), poderão ter ocorrido durante a guerra colonial na Guiné (1963/74). Mas presumo que tenham sido poucos.

Outro caso de homicídio ocorreu com a CART 1613 (1966/68), a companhia que esteve em Guileje (de Junho de 1967 a Maio de 1968). Nos registos oficiais diz-se que Cap Mil Art com o nº mecanográfico 1036/C, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2, Vila Nova de Gaia, de seu nome FAUSTO MANTEIGAS DA FONSECA FERRAZ, foi vítima mortal de acidente com arma de fogo (sic), ocorrido no aquartelamento de S. João, vindo a morrer a 24 de Dezembro de 1966 no Hospital Militar 241, em Bissau.

O malogrado Cap Ferraz foi inumado no Cemitério da Conchada, em Coimbra. Era casado com Maria Fernanda Ferreira da Costa, filho de Manuel Fonseca Ferraz e Ana Rosa Manteigas, sendo natural da freguesia de Pousafoles do Bispo, concelho de Sabugal.

O Cap José Neto (1929-2007) contou-me, antes de morrer (e eu creio que isso está publicado algures no blogue), que o autor dos disparos foi o Soldado Condutor Auto Rodas José Manuel Vieira Cavaco. Era madeirense (creio eu), tendo recebido na véspera de Natal provisões remetidas pela família, entre elas uma garrafa de aguardente de cana ou de poncha (se não me engano). A companhia tinha chegado à Guiné há cerca de um mês, e estava em S. João, frente a Bolama, em treino operacional.

As saudades da terra, as recordações do Natal e a poncha fizeram uma mistura explosiva. Sob o efeito do álcool, e sem motivo aparente, o Cavaco abateu a tiro o comandante da companhia, Alferes de Artilharia, graduado em Capitão, Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, na noite de 24 para 25 de Dezembro de 1966. Creio que feriu mais militares. O Zé Neto teve que o esconder para ele não ser linchado. Eis um excerto do seu relato sobre o julgamento do Cavaco, um ano depois em Bissau. (O Cap Corvacho ficará depois a substituir o Cap Ferraz).


O Cavaco (*)


(...) No final do ano [1967], eu, o Furriel Martins e o 1º Cabo Santos fomos chamados a Bissau para depor no julgamento do Soldado Cavaco .

O Tribunal Militar funcionou nas salas do tribunal civil e, em duas sessões, ficou tudo resolvido.

O Cavaco deu-se como culpado e o seu defensor, um tenente miliciano de Administração Militar que era advogado, apenas se deu ao trabalho de procurar provar atenuantes para reduzir a pena.

Tanto eu como o Furriel e o Cabo respondemos apenas às perguntas que nos foram formuladas. O Tenente, a certa altura, perguntou-me qual era a minha opinião sobre o comportamento do réu, anterior aos factos.

Gerou-se uma pequena quezília processual entre o promotor e o advogado que acabou com o Juiz Auditor (civil) a intrometer-se e declarar que aquele Tribunal tinha a obrigação de conhecer o carácter do réu e, naquele momento, ninguém mais conhecedor do que o depoente (eu) podia responder a perguntas que levassem a fazer um juízo acertado.

Fiquei sob o fogo cerrado, ora de um, ora de outro, com respostas curtas, quase sim e não. O coronel Presidente acabou por me interpelar dizendo-me que, por palavras minhas, classificasse a qualidade de soldado do réu. Respondi com convicção:
-Um excelente e infeliz soldado.

A pena foi de vinte e três anos de prisão maior, a cumprir em estabelecimento penal adequado na Metrópole.

Nunca mais o vi, mas tive notícias de que o rapaz não cumpriu nem metade da pena. (...)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXI: Memórias de Guileje (Zé Neto, 1967/68) (7): Francesinho e Cavaco, o belo e o monstro


Vd. também poste de 31 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)