sábado, 21 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3922: Blogoterapia (92): A guerra nunca acaba para aqueles que se bateram em combate (Luís Borrega)

1. Mensagem de Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de 17 de Fevereiro de 2009:

Boa tarde

Parto mantenha com todos vós LG, VB e CV.

Ontem fui a Lisboa tratar de assuntos pessoais e como é costume fui com o meu camarada Ex-Fur Mil MA da CCav 2748/BCav 2922 (Companhia de Canquelifá), Luís Filipe da Encarnação, que me acompanhou sempre no Serviço Militar: Recruta e Especialidade, ambas em Santarém (e com Salgueiro Maia com a patente de Tenente e Comandante do meu Esquadrão), Curso de Minas e Armadilhas em Tancos, formação do BCav 2922 em Estremoz, depois em Companhias diferentes ele para Canquelifá e eu para Piche. Depos em 1972 indigitados para irmos para CIM de Bolama dar Minas e Armadilhas. Hoje reformados da mesma Instituição Bancária, aproveitamos para irmos almoçar com bastante frequência e todos os dias falamos ao telefone a comentar o que é publicado na Tabanca Grande.

Isto vem a propósito de toda as vezes que nos encontramos irmos ao Largo de S. Domingos falar com os guineenses. Eu aproveito e vou desenferrujar o meu fula, pergunto pelo pessoal de Cambor e de Piche. Ainda não tive a sorte de localizar nenhum. Já me disseram que ao fim de semana há muitos, destas tabancas, na Estação da CP na Damaia. Hei-de lá ir.

Tenho constatado que há muitos ex-Comandos Africanos, Milícias e todos eles guardam religiosamente os antigos papeis militares portugueses.

Alguns tem-me confidenciado que teria sido melhor Portugal ter continuado na Guiné. Tenho sido sempre bem recebido. Ontem tive um encontro gratificante com o irmão do meu amigo de Canquelifá (na altura furriel) Alferes Comando Aliu Sada Candé, condecorado com Cruz de Guerra, fuzilado após a independência em Bambadinca

Muitos conhecem as minhas referências de Cambor (Cherno Al Hadj Mamagari Djaló) e de Piche (Duarte Embaló, Comandante do Pel Mil e o meu guia predilecto Amejara).

Desculpem estes devaneios, mas nenhum dos combatentes, que teve a sorte de regressar do Ultramar, jamais foi e será o mesmo.

A Guerra nunca acaba para aqueles que se bateram em combate !!!


Alfa Bravo para vós.
Luis Borrega

OBS:-Negritos da responsabilidade do editor
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3880: Blogoterapia (91): Eu, Ranger, me confesso: todos iguais, todos diferentes (Paulo Salgado / Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)

O nosso camarada António Graça de Abreu, "disfarçado de mandarim", no Palácio Imperial, em Pequim. Ele viveu e trabalhou na China entre 1977 e 1983. É um notável poeta e tradutor de poesia, nomeadamente chinesa clássica. Neste preciso momento, ele está em Pisa, Itália, num encontro internacional de poesia, de onde nos manda um abraço para toda a Tabanca Grande.

O A. Graça de Abreu, "em traje comunista", em Shanghai.

Fotos: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados

Os Seres, Saberes e Lazeres (8) > Du Fu (712-770), um poeta chinês, e a nossa Guiné (*)

por António Graça de Abreu (**)


Há umas três semanas atrás, quando da apresentação do site da Guerra Colonial, da Associação 25 de Abril, na Academia Militar, disse ao nosso comandante e tertuliano-mor Luís Graça que me diluo pelos dias atarefado, assoberbado com as esplendorosas dificuldades de traduzir mais um dos maiores poetas da China, de nome Du Fu (leia-se Tu Fu).

Esta é a minha quinta tradução, depois dos Poemas de Li Bai (701-762), Poemas de Bai Juyi (774-846), Poemas de Wang Wei (701-761) e Poemas de Han Shan (sec. VIII), todos editados em Macau, excepto o último que aguarda publicação.

Mas o que é que isto ver com a nossa Guiné?

Du Fu, o poeta que agora traduzo, nasceu em 712. A primeira parte da sua vida estendeu-se por uma existência de simples e depurados prazeres, anos requintamente vulgares. Depois, a partir de 750 e até 765 - Portugal então não existia, andávamos às voltas com os visigodos nos espaços que hoje são Aveiro, Santarém, Beja, etc. - o império chinês viveu uma das mais cruentas guerras da sua História. Du Fu testemunhou tudo isso.

A China contava com 56 milhões de almas, e nesse período, as rebeliões, os grandes combates, (chegavam a morrer cem mil homens numa só batalha!), mais a fome e a miséria do povo provocaram 12 milhões de mortos.

Qualquer semelhança com a nossa guerra da Guiné é estulta e insensata, quer dizer, está demasiado longe das realidades que vivemos em África.

Mas, com muitos séculos de permeio, homens made in China ou made in Portugal, todos somos gentes do mundo.

Traduzi o mês passado mais um poema de Du Fu, falecido em 770, e lembrei-me dos nossos camaradas da Guiné, e do álcool que então bebíamos às pázadas, era o nosso modo bem português de, fodidos, refodidos, “dar de beber à dor”.

Fernando Pessoa (1883-1935) dizia: “Boa é a vida, mas melhor é o vinho.” Como a nossa vida não era boa, o álcool era excelente.

Leiam o poema de Du Fu escrito em 754, e digam-me se estas palavras já com treze séculos têm ou não a ver connosco, camaradas da Guiné. E, mais importante do que todas as guerras, têm ou não a ver com a amizade que nos une.

Este (meu) poema de Du Fu (712-770), vai com dedicatória para os camaradas da Tabanca de Matosinhos.

Um forte abraço, meus amigos!
_____________________________


Bêbado, uma canção

Muitos ascenderam ao topo da hierarquia,
tu, meu amigo, continuas a padecer ao frio.
Nas grandes mansões, empanturrados com iguarias,
tu, meu amigo, mal consegues uma malga de arroz.
A tua filosofia, um coração cristalino, pouca ambição,
o teu talento, superior ao dos letrados do passado.
Respeitado pela tua virtude, condenado, sem glória,
a deixar o teu nome para além dos séculos.
És um rústico que não é desta terra,
de cabelos finos, motivo de mofa e zombaria.
Queres arroz, vais ao celeiro imperial,
obténs ainda cinco colheres por dia,
mas se queres abrir o coração,
vem ter comigo, meu amigo.

Quando ganho umas tantas moedas,
cuido de ti, vamos gastá-las em vinho.
Que nos interessa a pompa, o luxo, as cortesias,
somos gente simples, descuidada e livre!...
Meu mestre, enchemos, bebemos as taças até ao fim,
em silêncio na noite da Primavera.
Lá fora, a chuva fina como flores
caindo dos telhados, apagando as lanternas.
Entoamos cânticos, animados, iluminados
por espíritos a montante, a jusante do rio.
Para quê pensar tanto no destino?
Sim, a fome, e por túmulo, uma vala qualquer.
Outrora, um grande poeta lavava canecas de vinho,
um ilustre letrado lançou-se de uma torre.
Quem somos nós, no fim de tudo?
Melhor retirarmo-nos cedo, voltar a lavrar a terra,
cuidar dos telhados de colmo, dos caminhos, do musgo.
Os ensinamentos de Confúcio, afinal para que servem?
Sábio, salteador de estradas, todos regressam ao pó.
Para quê tanta tristeza, tanto queixume?
Estamos vivos, vamos beber umas taças de vinho.



Du Fu (712-770)

(tradução: António Graça de Abreu)

__________


Notas de L.G.:

(*) Vd. últimpo poste da série > 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3579: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (7): A Toque de Caixa, com o Abílio Machado, ex-baladeiro de Bambadinca (Luís Graça)

(**) O António Graça de Abreu nasceu no Porto, em 1947, tendo-se licenciado em Filologia Germânica. É também Mestre em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

Entre 1977 e 1983 leccionou Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai. Investigador da presença portuguesa na China, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Oriente.

Tem uma dúzia de livros publicados na área da Sinologia, da poesia e dos estudos luso-chineses. Vive no Estoril. É actualmente professor, na Escola de Ensino Secundário José Saramago, em Mafra. Disse-me recentemente que ia (ou estava a) tratar da reforma.

Traduziu para português O Pavilhão do Ocidente (1985), teatro clássico chinês, e os Poemas de Li Bai (1990) - Prémio Nacional de Tradução do Pen Club Português e da Associação Pirtuguesa de Tradutores, 1991 - , além dos Poemas de Bai Juyi (1991) e Poemas de Wang Wei (1993). É autor de China de Jade (1997), China de Seda (2001), Terra de Musgo e Alegria (2005) e China de Lótus (2006).

Na área da história, é co-autor de Sinica Lusitana, vol. I e II, (2000 e 2003). Escreveu também a biografia de D. Frei Alexandre de Gouveia, Bispo de Pequim, (1751-1808), Lisboa, Universidade Católica, 2004.

Pertenceu, entre 1996 e 2002, à direcção da European Association of Chinese Studies (Heidelberg e Oxford). Também eccionou Sinologia na Universidade Nova de Lisboa (1986/88) e no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (1997/99).

Como alferes miliciano, teve uma visão privilegiada da escalada da guerra da Guiné, entre 1972 a 1974, a partir do CAOP 1 a que pertenceu (Teixeira Pinto ou Canchungo, Mansoa e Cufar). Dessa sua experiência, do seu diário e dos mais de 300 aerogramas que escreveu, resultou o seu 12º livro, Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, lançado em 2007. (Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007. ISBN: 9789898014344. Preço: € 22.

Na resposta a um pergunta sobre os seus heróis, do famoso questionário de Proust, conduzido pelo PEN Clube Português de que é sócio, o António respondeu:
- Os soldados que morreram a meu lado na guerra da Guiné.
(***).

Li Bai, poeta chinês do Séc. VIII (701-762), é um dos seus poetas preferidos, a par de Camões e de Wang Wei.

É casado com uma médica chinesa, de quem tem um filho, hoje estudante universitário. A mulher da sua vida não é, pois, a mesma a quem escreveu centenas de aerogramas quando estava na Guiné.

Tive o grato prazer de conhecer pessoalmente em 28 de Abril de 2007, em Pombal, no 2º encontro da nossa tertúlia. Depois disso, temos já nos encontrámos várias vezes. O António autografou-me e ofereceu-me boa parte dos seus livros, distinção que me honra, como camarada e amigo. Disse-me, na altura em que o conheci, que não desejava voltar à escrita sobre a guerra da Guiné, o que não é inteiramente verdade, já que o António tem sido um atento leitor do nosso blogue e um activo colaborador.

(***) Vd. Pen Clube Português > 30 PERGUNTAS A PARTIR DO QUESTIONÁRIO DE PROUST:


1. O que é para si a felicidade absoluta?
R- Paz, serenidade, amor


2. Qual considera ser o seu maior feito?
R- A minha tradução dos Poemas de Li Bai (701-762), Prémio Nacional de Tradução1990.


3. Qual a sua maior extravagância?
R- Amar.


4. Que palavra ou frase mais utiliza?
R- Não sei.

5. Qual o traço principal do seu carácter?
R- Generosidade, ingenuidade.


6. O seu pior defeito?
R- Teimosia.


7. Qual a sua maior mágoa?
R- Amores desavindos


8. Qual o seu maior sonho?
R- Amores não desavindos.


9. Qual o dia mais feliz da sua vida?
R- Aldeia Branca, início de Junho de 1985.


10. Qual a sua máxima preferida?
R- Se conheces, actua como homem que conhece, se não conheces, reconhece que não conheces. Isso é conhecer. (Confúcio disse!)


11. Onde (e como) gostaria de viver?
R- Canedo, Vila da Feira, numa casa sobranceira a um regato, na floresta com a mulher da minha vida.


12. Qual a sua cor preferida?
R- Verde.


13. Qual a sua flor preferida?
R- Lírios, rosas.


14. O animal que mais simpatia lhe merece?
R- O panda.


15. Que compositores prefere?
R- Beethoven, Mozart, Débussy.


16. Pintores de eleição?
R- Greco, Leonardo, Miguel Ângelo, Goya, Ingres.


17. Quais são os seus escritores favoritos?
R- Eça, Camilo, Cao Xueqin,


18. Quais os poetas da sua eleição?
R- Camões, Li Bai, Du Fu, Wang Wei.


19. O que mais aprecia nos seus amigos?
Honestidade, alegria de viver.


20.Quais são os seus heróis?
R- Os soldados que morreram a meu lado na guerra da Guiné.



21. Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
R- Becky, de Tom Sawyer, (Mark Twain), Bao Yu do Sonho do Pavilhão Vermelho de Cao Xueqin (sec. XVIII).


22. Qual a sua personagem histórica favorita?
R- D.João II.


23. E qual é a sua personagem favorita na vida real?
R- Wang Hai Yuan.


24. Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
R- A honestidade, a coragem, a lealdade.


25. Que qualidades mais aprecia numa mulher?
R- As mesmas, mais a beleza.


26.Que dom da natureza gostaria de possuir?
R- Uma enorme aptidão para ler e falar bem chinês.


27. Qual é para si a maior virtude?
R- A honestidade.


28. Como gostaria de morrer?
R- Em paz, de repente, concluídos todos os grandes trabalhos.


29. Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
R- Um grande mandarim chinês do século XVIII.


30. Qual é o seu lema de vida?
R- Amar, trabalhar, descansar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3920: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (2): Opção inicial, uma tabanca algures no sul, segundo Luís Cabral (Nelson Herbert)

1. Mensagem do jornalista guineense Nelson Herbert (n. 1962, Bissau), da secção portuguesa da Voz da América, e membro da nossa Tabanca Grande desde Março de 2008 (*)

Assunto - Madina do Boé (**)

Caro Luís e Virgínio

Não creio na minha óptica ser muito difícil precisar as coordenadas do local, onde a 24 de Setembro de 1973 se proclamou a independência da Guiné Bissau, em Madina de Boé. Digo isto pelo simples facto do local ter sido - num dos últimos dois anos, se não me falha a memória - palco central das comemorações de mais um aniversário da data e de alguns dos protagonistas do acto fazerem ainda parte do mundo dos vivos.

Recordo entretanto que, numa das conversas mantidas com um dos comandantes guineenses da guerrilha do PAIGC, por sinal na altura exilado em Cabo Verde, na sequência do Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 (***), foi-me dito que inicialmente Madina de Boé esteve longe dos planos do PAIGC, como local adequado para a proclamação da independência do território. E mais que a primeira opção teria sido inclusive uma tabanca ou área na altura controlada pela guerrilha, no sul do territorio.

E recentemente em conversa com o antigo presidente guineense, Luís Cabral, foi-me de facto onfirmada essa versão. Só que, traído pela memória, Luís Cabral não me soube precisar com exactidão, a referência da tabanca em questão.

No que tange a Madina de Boé, insiste na ideia de que, como opção acabou por ter o seu efeito-surpresa, por não ter sido a escolha inicial.

Terá sido ? Será essa uma das plausíveis justificações para que o local não tivesse sido alvo de bombardeamentos da aviação portuguesa ?

Mais uma acha na fogueira!

Mantenhas

Nelson Herbert
Journalist-Editor / Editor e Jornalista
Voice of America / Voz da América
Washington, DC, USA

________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2652: Guineenses da diáspora (3): Nelson Herbert, o nosso Correspondente nos EUA (Virgínio Briote)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

(**) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)

(***) Organizado por João Bernardo Vieira, Nino, contra o Presidente Luís Cabral (n. 1931), que foi derrubado, e seguiu para o exílio em Portugal.

Guiné 63/74 - P3919: Dicas para o viajante e o turista (8): Uma ida às terras de Mampatá (António Carvalho e Manuel Reis)

1. Comentário, com data de 9 de Fevereiro de 2009, de António Carvalho (*) no poste P3853 (**):

Caro Manuel Reis
Estive em Mampatá, Cart 6250, entre 1972 e 1974.
Inaugurámos Colibuia por volta de Maio de 1973 e lembro-me de estar lá e ouvir os ataques a Guilege. Colibuia Cumbidjã e Nhacobá são topónimos da Guiné que nunca esquecerei. Espero rever esses e outros lugares daquela região do Tombali, muito brevemente pois partirei para lá no dia 20 de Fevereiro.

Muito gostaria que viesses almoçar com rapaziada da Guiné (ex-combatentes) no próximo dia 11 ou 18 ao restaurante Milho Rei a Matosinhos.
António Carvalho


2. Mensagem de Manuel Augusto Reis com data de 9 de Fevereiro, dirigida a Luís Graça:

Olha Luís já precisava de uma mensagem destas depois de tanta pancada! Agora vou falar com o Carvalho.

Amigo Carvalho:
Gostava de compartilhar convosco um dos vossos almoços. Mas de momento não me é possível, há compromissos asumidos que terei de respeitar.

Gostava de ir convosco no dia 20 até às tuas terras de Mampatá. Parávamos lá sempre que íamos à água a Aldeia Formosa (outros tempos).

Gostava também de saber como organizam as vossas idas à Guiné. Já lá estive, mas não vi o que desejava ver. Tive pena de não poder ir a Colibuia e a Cumbijã, mas serviço é serviço.

Vais encontrar gente boa, que te vão receber bem. Eles, os africanos, nutrem por nós portugueses um carinho muito especial. É nisto que sinto orgulho em ser português, que nos distingue dos outros povos colonizadores. Não é pela guerra, ou pela nossa valentia, é pela nossa postura. Como soubemos estar e como, ainda hoje, estamos.

Deves ter um programa bem delineado. Uma sugestão apenas: Se puderes fazer a picada de Mampatá até Cacine, leva uma máquina de filmar e/ou de fotografar. Tens imagens fabulosas, principalmente na zona Porto Banana. A picada há 5 anos era boa.

Uma boa estadia. Depois diz alguma coisa.

Um abraço
Manuel Reis
Ex-Alf Mil
CCAV 8350
Guileje
__________

Notas de CV:

(*) António Carvalho ex-Fur Mil Enf da CART 6250, Mampatá, 1972/74, membro da Tabanca de Matosinhos que todas as quartas-feiras se reune no Restaurante Milho Rei, em Matosinhos.

(**) Vd. poste de 8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3853: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (3): Lágrimas no desarmamento dos milícias de Cumbijã, em Agosto de 1974

Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

Guiné 63/74 - P3918: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (10): Bula-Janeiro de 1971

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 16 de Fevereiro de 2009:

Amigo Vinhal

Segue mais uma estória de “Viagem à volta das minhas memórias” que relembra situações de um mês atribulado.

Um abraço extensivo ao Luís e ao Virgínio e a toda a Tertúlia
Luís Faria


Bula – Janeiro de 1971

O Natal de 1970 passei-o ao relento com o meu 2.º GComb, saboreando a ração de combate, sob um manto de estrelas vigilantes como nós, numa emboscada preventiva a um inimigo que nesse noite e dia não compareceu.

O Dezembro findou e sem que tenha qualquer lembrança da Passagem do Ano, entrei no Janeiro de 1971 com mudanças na Força, tendo o 4.º GComb sido deslocado para Teixeira Pinto logo nos primeiros dias, com missão de protecção (creio) à construção da estrada Teixeira Pinto - Cacheu. E com ele lá foram o Fontinha, o Chaves e outros amigos e companheiros.

Por Bula fiquei com a restante 2791, na rotina das emboscadas de segurança e patrulhamentos de intercepção, nas laterais da estrada Bula - S. Vicente e outras.

Tudo corria normalmente até que no dia 19 de Janeiro a coluna auto que transportava o GComb da CCaç 2790 (GComb do Alf António Matos) é emboscado, creio que ao K12 da estrada de S. Vicente, causando a morte a um Furriel e dois Soldados da Companhia açoriana e o segundo morto extemporâneo e sem nexo da 2791, o Soldado Condutor Auto que conduzia a viatura, António Ferreira. Era a segunda morte, estúpida, da Companhia no curto espaço de um mês!

Não sei se por causa deste acontecimento, o meu 2.º GComb é enviado na noite seguinte para Ponta Matar com objectivo de interceptar o grupo In que não teria passado para Choquemone.

O pessoal sai, outra vez os olheiros e a bicha de pirilau percorre a distância durante a noite sem luar até ao K10 (julgo) onde inflectimos para oeste, em direcção a Ponta Matar.

Não tínhamos ainda chegado à orla da mata e começa o embrulho. Na altura ia a meio do Grupo o que não era normal e o espassamento do pessoal era curto por causa da visibilidade na noite. Ouvia as chicotadas e alguns clarões dos disparos. Os tiros eram baixos, estávamos em campo praticamente aberto e eles estavam na orla da mata. O pessoal ripostou como pode, orientando-se pelos clarões dos disparos.

Acabado o confronto e com um ferido ligeiro que não obrigou a evacuação, há que reunir e pedir ao Comando ordem para abortar a operação, pois considerávamos que a continuar íamos de certeza ter problemas prolongados e muito graves. Por fim o Comando aceitou, abortou-se a operação e regressámos ao quartel.

Nessa tarde e como de tantas outras vezes, fui dar uma volta pela Vila e beber umas cervejas no Silva onde às tantas, no meio de uma conversata um civil referindo-se à nossa operação diz mais ou menos isto:

- Então logo Furié vai p’ra lá outra vez?! - Não liguei, estava em conversa da treta.

Regressado ao quartel, sigo os rituais normais, umas leituras, uns toques de viola, umas conversas com os amigalhaços, até que chega a hora do briefing onde me é e ao Castro comunicada a ordem de preparar o Grupo para à noite arrancarmos de novo para a zona de Ponta Matar! Do subconsciente passou ao consciente a boca da tarde: - Logo vai p ’ra lá outra vez! Fiquei estupefacto e encara… como era possível?! E contei o que se tinha passado. Reclamei, protestei, argumentei… mas sem resultados. Eram ordens do Comando… e passada uma dúzia de horas de termos regressado, lá sai de novo o 2.º Grupo em direcção a Braque, Belibar e Ponta Matar (por inclusão considerava-as matas de Ponta Matar) com o objectivo de patrulhamento, detecção de acampamentos, intercepção do IN que andava na zona, com intuito eventual de passagem para Sul ou preparação de ataque a Bula.

Era uma operação arriscada, pois concerteza iriam estar à nossa espera. Os cuidados foram redobrados e os soldados nada sabiam da conversa, pois não era preciso mais aviso do que o que acontecera umas horas antes. A entrada na mata fez-se por sitio diferente e a corta-mato

Estas matas eram, ao que lembro, muito mais densas do que as do Choquemone, com zonas arbustivas em que os ramos se entrelaçavam de tal maneira que era praticamente impossível penetrar, entremeadas por embondeiros de grande porte e árvores normais para além do capim que muitas vezes era mais alto do que nós. Nelas estive em zonas onde o sol quase não entrava, e a lembrança do cheiro a que eu chamava cheiro a formigas mortas, ainda hoje me estimula a pituitária.

Entrados na mata, o corta-mato cauteloso continua sempre que possível e quando o amanhecer chega, já estamos bem embrenhados na vegetação sem haver sinal de termos sido detectados nem de presença IN.

A evaporação da humidade do solo é bem visível, formando uma espécie de neblina. Os sentidos estão alerta e atentos ao ambiente envolvente. Sempre que se pressente algo, pára-se, observa-se, escuta-se, por vezes aproveita-se para comer algo da ração, já que nas operações não fazíamos estacionamento. O Choquemone tinha-nos ensinado!

Numa dessas paragens, a manhã já ia alta, grande parte do patrulhamento está feito e estou sentado entre as raízes(?) de um embondeiro (cabaceira). Ouço um tiro próximo à minha esquerda, logo de seguida um outro. O pessoal ficou em silencio absoluto. Chamo o Augusto (o meu sobrinho por ser mais baixo, olhos azuis, cabelo loiro e bigode estilo o meu) e digo-lhe:

- Consegue trepar a essa árvore? - Tendo assentido, disse-lhe para o fazer, ver o que se passava e caso começassem os tiros para descer de imediato. Ouço outro tiro, desta vez mais longe e pela minha frente, no sentido da nossa progressão. O Augusto não vê ninguém e desce. Estou convencido que detectaram tardiamente o trilho da nossa entrada e patrulham. Instantes depois arrancámos seguindo na direcção do último tiro e nada encontrámos, nada aconteceu.

Inflectimos em direcção à estrada para regresso e começa o fogachal de que a única coisa que recordo é de ter sido com grande intensidade e pela primeira vez ter distinguido as morteiradas a caírem próximas.

Não tivemos feridos e do IN não vi vestígios. Mais tarde, talvez por informações, soube que tinham sofrido nas duas operações mortos e bastantes feridos?!

Regressado ao quartel, reentro na rotina e assim ando até 28 de Janeiro, dia em que o Urbano me concede a tal balda por doença (!?!) que me permite um dia de descanso.

Nesse mesmo dia o quartel é flagelado com 6 foguetes 122 que não atingem o objectivo e caem na zona da pista, por detrás do quartel. Às peripécias deste dia farei referência mais tarde.

Um abraço a todos
Luís Faria

Bula - Luís Faria em Ponta Matar

Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3867: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (9): Periquito quase depenado

Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (4): Não cobiçar a mulher do próximo

1. Mensagem de António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 15 de Fevereiro de 2009:

Caro Carlos

Envio esta história, de um africano que foi surpreendido pelo seu melhor amigo.

Sabia bem, quando chegava o silêncio, com a noite já adiantada e sem vontade de dormir, ir até à entrada principal saborear um cigarro, ver o pouco ou mesmo escasso movimento na estrada e conversar um pouco com o camarada que lá estava fazendo a guarda ao hospital.

Entre as 6 horas da tarde e as 6 da manhã, a guarda era feita por militares vindos dos Adidos.

Numa dessas noites, pelas 0h30, estando tudo em silêncio e nem sequer havendo movimento de viaturas na estrada, avistámos, vindo do lado de baixo pela berma direita da estrada, um vulto cambaleando. Comentámos:

-Grande bebedeira que aquele traz.

Quando já estava quase perto de nós, tenta atravessar a estrada em nossa direcção mas… a meio pára, lentamente começa a enfraquecer das pernas, aproximo-me dele, meto meu braço por baixo do dele e a mão nas costas para o amparar, surpresa, minha mão se ensopa num liquido quente e viscoso ficando toda vermelha. Pergunto:

- Que foi isto?
- Foi o meu melhor amigo.

Colocado numa maca e levado para dentro, se veio a ver que o amigo o tinha condecorado com uma catanada que lhe atravessou as costas do ombro direito à cintura esquerda, (/) vamos lá, meio X.

Quem tinha amigos assim, na sua ausência, não devia ir à tabanca deles meter a foice em seara alheia.

Talvez a companheira deste amigo fosse a mais perita em exercícios sexuais e ele foi apanhado a fazer flexões.

Depois de tratado, foi transferido para o Hospital Civil.

Quando teve alta, não sei se voltou à tabanca para acabar o trabalho ou se foi para o amigo lhe completar a letra.

Um abraço
António Paiva
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Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3775: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (3): Ir a Mansoa, não é perigoso?

Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, 2.º Srgt Grad Enfermeira Pára-quedista (Guiné, 1972/74)

Giselda Antunes, 2.º Srgt Grad Enfermeira Pára-quedista (Guiné, 1972-74)

  1. Temos o prazer de receber entre nós, como tertuliana, a senhora Enfermeira Giselda Antunes Pessoa, ex-Enf Pára-quedista (1970/74), que prestou serviço em Moçambique no ano de 1971 e na Guiné entre Janeiro de 1972 e Abril de 1974. 

 Homenageando a senhora D. Giselda queremos honrar também todas as suas companheiras, que nos três teatros de operações, mas principalmente na Guiné, desempenharam a mais nobre missão que se pode ter num conflito armado. 

Os Serviços de Saúde eram demais importantes, quer na prevenção e tratamento de todo o tipo de doenças, como no socorro e acompanhamento durante as evacuações solicitadas por ferimentos em combate ou doenças. À nossa nova tertuliana pedimos também a sua colaboração, pois terá algumas histórias, não das trágicas, essas porventura quer esquecer ou já esqueceu, mas das que ainda retém na memória e que podem ser revividas e contadas.

 Durante as suas andanças pelo mato teve concerteza momentos pitorescos e experiências que jamais viveria se não fosse naquelas circunstâncias. Como já aqui foi contado no blogue, tanto a Giselda como o marido, Cor Pilav Ref Miguel Pessoa, foram alvo de mísseis Strela no CTIG mas felizmente estão cá para nos contar essas peripécias e outras, na primeira pessoa do singular ou do plural. 

 Aproveitamos o ensejo para reafirmar o seguinte: ficámos satisfeitos ao constatar que o almoço de homenagem da ADFA - em princípio dirigido só aos Pilotos e Mecânicos da FAP - vai ser alargado às nossas queridas Enfermeiras. Elas merecem o nosso eterno agradecimento e os deficientes (ou quem por elas foi assistido e se encontra hoje livre de qualquer mazela) são os primeiros a sentir e manifestar esse reconhecimento.

Giselda Antunes, algures na Guiné.


A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais. Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.

Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Antunes Pessoa entre os despojos do Império Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados. 

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Nota do editor CV: 

 Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71) 

 Sobre as enfermeiras pára-quedistas ver poste de: 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)





Guiné > Região de Tombali > Cafal Balanta > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74)> O Manuel Maia no seu hotel de muitas estrelas...

Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados

Texto enviado por Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74)


2ª PARTE DA HISTÓRIA DA 2ªCCAÇ BCAÇ 4610/72, EM SEXTILHAS (*)
por Manuel Maia (**)


34
O grupo, sem alferes, foi comandado
por Maia, o mais antigo graduado,
na zona onde actuavam fuzileiros.
Com Zé Maria,Moura e os rapazes
mostrámos ser também assaz capazes,
ao nível dos melhores entre os primeiros...


35
Um dia, Paiva, furriel Cafal,
tentado p´lo viçoso laranjal
avança resoluto p´ros citrinos...
Com dois soldados, sacos carregados,
a tiro logo ali são atacados,
salvando-lhes os fuzas seus destinos...

36
Corria a madrugada e um fogachal,
estremecendo arame de Cafal,
semeia o medo e o caos de repente.
Passado instante a malta então reage,
põe cobro ao grande arrojo, vil ultraje,
e expulsa do sector a turra gente...


37
P´ra registar estudos fluviais,
Marinha requereu que junto ao cais
Terríveis protegessem seu pessoal.
De noite,ao serviço da secção,
Barbosa levou tiro de raspão,
por ter cigarro aceso em breu total...


38
Cafine era o local, que foi criado,
por este grupo, mais sacrificado,
para alojar orquestra(i) p´ra chegar.
Começa ali a saga tabancal
com chapa/zinco, adobe tinto a cal,
reordenando as gentes do lugar...


(i) pessoal que não ia ao mato


39
Já fartos de gazela estilhaçada,
trouxemos p´ro quartel uma manada,
de vacas inimigas para abate.
Tão logo, via rádio uma mensagem,
obriga a soltar gado na pastagem
p´ra lá da tal bolanha, onde há combate...


40
Psícola foi termo conhecido
p´ra referir acções em que o sentido
visava dar aos afros importância...
Não raro, exageros se cometem
que as posições da tropa comprometem
esvaziando à ideia, a relevância...


41
Reconheceu Bissau o empenhamento
na luta feita guerra e sofrimento,
daí o prémio DUGAL, merecido.
Com grupo no CHUGUÉ, outro em FATIM,
´speramos comissão chegar ao fim,
felizes por saber dever cumprido...


42
Depois de nove meses/sacrifício,
vivendo ou vegetando(?) em tal suplício,
na terra onde a fartura era de balas.
As casas chapa/zinco construídas
p´ras gentes das aldeias destruídas,
seriam a razão p´ra fazer malas...


43
P´ra trás ficava tudo que era horrendo,
buraco, casa/campa, algo tremendo,
da sub-humana vida experimentada.
CAFAL, a sensação mais dolorosa
jogados para zona mais perigosa,
na frente da bolanha atribulada...


44
Saídos do inferno de CAFAL,
rumamos,p´ra CAFINE,em zona igual,
dois grupos p´ra COBUMBA, uma outra frente.
Chegados a FATIM vimos o céu,
que o CHUGUÉ, certamente também deu,
e o DUGAL emprestou, seguramente...


45
Na hora de partir, já eminente,
desgraça surgiria,em acidente,
p´ra todos nós da forma mais brutal...
buscando últimas prendas na cidade,
partiram, moderada velocidade,
uns quantos furriéis,para seu mal...


46
Foi junto a NHACRA, rádio emissora,
soltou-se o banco em tão maldita hora,
no asfalto AFONSO e LIMA caem sós.
Enquanto o transmontano se finou,
co´a morte açoreano ´inda lutou,
p´ra se apagar dois dias logo após...


47
Roubados de entre nós pela má sina,
de forma tão marcante,e repentina,
lembrá-los deixa os olhos rasos de água.
Um ar sereno e calmo AFONSO tinha,
enorme coração LIMA detinha,
tristeza, choros, raiva, a nossa mágoa...


48
Nem tudo correu bem, infelizmente,
morrendo quatro tão precocemente,
bem novos para estarem de partida.
A crise de asma um deles sucumbia,
enquanto alcoolizado outro fugia,
desastre aos outros dois roubou a vida...


49
Varreram-se, já, nomes da memória
p´ra deles ter registo nesta história
que foi a nossa, grada mas sofrida...
assim, requeiro a todos o favor
de fornecerem dados com rigor
lembrando uma ocorrência, bem vivida...


50
Foi PRATA a comandar grupo primeiro,
LINDORO no segundo a timoneiro,
ALMEIDA do seguinte a tomar norte.
No quarto é de OLIVEIRA a condução,
justiça leva ALMEIDA e chega então,
um pira p´ra africana,antes do FORTE...


51
BARRADAS, GINJA, são profissionais,
milicianos todos os demais
sargentos desta nossa companhia...
CASEIRO, VIOLANTE, AFONSO, ANTUNES,
dos p´rigos lá do mato estão imunes,
à banda dão fulgor, categoria...


52
CORTEZ ruma a Bissau, cunha é TRANSPORTE,
NAVEGA tem na escuta a mesma sorte,
na urbe encontra ALMEIDA o paradeiro.
Um curso de tabanca p´ro FRAGOSA,
a paz da secretária MARTINS goza,
dos negros,professor,foi o CORDEIRO.


53
RIBEIRO,pira calmo e recatado,
TEIXEIRA, um brincalhão endiabrado,
de paciência feito o ZÉ MARIA.
São LIMA e MOURA dois homens de mato,
tal como o BRITO, embora mais novato,
no MAIA, a irreverência contagia...


[Oitava decassilábica]

Olhando a vida à volta do passado,
imposição/catarse necessária,
revejo,a breve instante emocionado,
AFONSO (ii), mente sã e libertária
da guerra interventor mas desfasado...
ao lado em postura solidária,
ANTUNES enfermeiro brincalhão,
e LIMA (iii), um enorme coração.


(ii) Afonso, furriel miliciano de transmissões morto em acidente na semana da partida.

(iii) Lima, furriel miliciano de Op Esp, morto em acidente na semana da partida.

Antunes, furriel miliciano enfermeiro, morto em acidente pouco depois da chegada


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Notas de L.G.

(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

(**) 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 763 (2 de Março de 1965/1o de Novembro de 1966) > Os Lassas, como eram, conhecidos, usaram cães de guerra (creio que foi a primeira e única experiência no CTIG) e eram comandados por um famoso cabo de guera, o leão de Cufar, Cap Costa Campos. Foram a última unidade de quadrícula (leia-se: tropa-macaca) a meter os pés no Cantanhez. Depois deles é preciso esperar pela tentativa, em Novembro/Dezembro de 1972, de reocupar esta mítica mata, a jóia da coroa do PAIGC.

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira pára-quedista no meio dos Lassas... O ex-Alf Pil Al III, Jorge Félix, membro da nossa Tabnaca Grande, identificou esta enfermeira, como sendo a Ivone.

Fotos: © Mário Fitas(2008). Direitos reservados
.



O Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66, é autor de duas obras, de conteúdo autobiográfico, Putos, Gandulos e Guerra e Pami, Na Dondo a Guerrilheira (*), fortemente marcadas pelas sua dura e rica experiência, tanto militar como humana, na Região de Tombali. Tem sido um entusiástico e empenhadíssimo membro da nossa Tabanca, com um coração do tamanho do seu Alentejo, além de um homem dos sete ofícios e talentos (**).

Aqui vai a mensagem mais recente que me mandou:

Luís, tendo em atenção o que se tem escrito no Blogue sobre a FAP e resultante do extraordinário relacionamento da CCAÇ 763 com o pessoal da Força Aérea e da Marinha, bem como dos nossos Anjos, as Enfermeiras Pára-quedistas que muito passaram por Cufar, anexo um naco de Putos, Gandulos e Guerra onde se pode verificar o reconhecimento dos Lassas, e um pouco de brincadeira, tão necessária por vezes naquele isolamento.

Dou conhecimento também ao Victor Barata, não só por ele ter identificado o Pilav Ribeiro, do T6 aterrando com o motor gripado em Cufar, bem como o seu Parelha, mas também como agradecimento aos Melec que acompanhavam os Pilotos nas evacuações de mortos e feridos. Para as nossas enfermeiras, a brincadeira em terra dos Lassas.

Já há aí fotos de pessoal da FAP e de enfermeiras pára-quedistas que passaram por Cufar. Noutros e-mail, mandarei algumas que não sei se serão repetição. Para todos, sem distinção nem majoração que passaram por aquela Terra, o abraço de sempre do tamanho do Cumbijã. Mário Fitas .


Pois, é, Mário, vou aproveitar a tua embalagem para dar início a uma série que fica aberta à publicação de testemunhos e depoimentos sobre as enfermeiras pára-quedistas que serviram no CTIG. Um abraço do tamanho do Geba. L.G.

Capa do livro de Mário Vicente,
Putos, Gandulos e Guerra .
Ed. de autor (Cucujães, 2000).

Em louvor da Força Aérea e da Marinha,
por Mário Fitas


(...) Mais Audaz localiza tudo e faz duas picagens. Vagabundo rádio sintonizado com o ar, ouve nitidamente o tenente piloto dizer:
- Só vejo malta a rebolar... estou a atingir em cheio... vou picar novamente e gastar os últimos roquetes.

E assim faz, aparecendo por sobre o tarrafo do lado do cais, o piloto faz nova picagem e sobe sobre a mata de Caboxanque.

Ficamos suspensos por momentos, pois o piloto informa:
- Fui atingido, vou tentar aterrar em Cufar! (***)

Corações pequeninos ouvimos que o Mais Audaz tinha conseguido. O avião a tocar o solo da pista de Cufar e o motor a gripar. O aparelho tinha sofrido dezassete impactes, um dos quais perfurara o depósito do óleo esvaziando-o por completo.

O contacto com o IN continua forte. Alertadas, entretanto chegam a Vedeta e duas LDM e com o seu auxílio o IN foi reduzido ao silêncio.

Soube-se depois, e ficará gravada na história dos Lassas, que tínhamos tido à nossa espera, no caminho que dava acesso ao cais de Caboxanque, nada menos nada mais que uma Companhia do Exército Popular, comandada pelo Comandante Nino.

Obrigado Alfa, FAP e Marinha, pois estaríamos feitos em merda se não fosseis vós.

Nunca será pouco enaltecer os amigos fuzos e marinheiros e aquilo que por nós fizeram com as suas lanchas e vedetas.

Aos pilotos e enfermeiras páras, bastará o conhecimento de Cufar para saberem como estamos gratos por tudo.

É claro que nem tudo foram rosas!

Havendo uma grande operação dos fuzos na zona de Cabedu, foi montado o posto de comando e evacuação em Cufar, derivado à sua bela pista.

Hospital de campanha montado, por escala os Vagabundos de Piquete; com o seu comandante furriel Mamadu, vestido à maneira do mato - calção e camisa de caqui, bota de lona e boina preta, sem divisas e, em vez de carregar com a G3, pistola à cinta caindo do cinturão à pistoleiro - faziam segurança às aeronaves estacionadas na pista.

Segurança montada, rendição feita e toda a malta almoçada, calor de rachar, toca de espreguiçar na maca do improvisado hospital de campanha. Juntam-se alguns soldados em volta de Mamadu e começam as anedotas e histórias da vida de cada um.

Tudo muito bem, só que o almoço no comando foi mais rápido do que se esperava.

Mamadu, delirando contar e ouvir uma anedotazinha, contava aquela do dramático caso do patrício que se queria suicidar e, subindo ao quinto andar do prédio, de lá gritava que estava farto da vida e que se iria mandar dali a baixo; o povoléu juntou-se todo à espera do desfecho do drama, quando a mulher do suicida em desespero gritou:
- Oh homem, não faças isso porque eu só te pus os cornos, não te pus asas!

Estava Mamadu e aquela malta toda na bagunçada, quando de repente aparece a enfermeira alferes pára.

Ao ver a malta por ali sentada, correu com a soldadesca toda. Mamadu, agora sentado na maca, também ele teve ordem de despejo para se pôr a andar. Verificando o protagonismo que a Sra. Alferes estava a tomar, o furriel resolveu também manter o seu. Deu-se então um diálogo interessante.

Mamadu desceu da maca e informou:
- Saiba Vossa Senhoria, meu alferes, que eu não vou abandonar esta posição, se há alguém que tenha de pedir autorização para permanecer neste local não sou eu, pois quem é aqui o responsável neste momento, é este maltrapilho do mato e que se apresenta a Vossa Senhoria, Furriel Miliciano Mamadu, comandante do Piquete com a responsabilidade total pela segurança desta tenda, bem como de todas as aeronaves que se encontram na pista. Não tenho as divisas nos ombros, porque no mato é adorno que não usamos. A boina preta está superiormente autorizada.

Grande discurso!...

A Sra. Alferes enfermeira sorriu e repostou:
- São todos iguais, têm todos a escola do vosso capitão!... Mas bem podia estar com roupa em condições!
- Saiba, a Sra., Meu alferes, que a minha lavadeira Miriam se encontra em Catió com montes de roupa à espera de portador, pelo que não posso ter a honra de lhe satisfazer o desejo. Mas, como sabe melhor do que eu, para morrer tanto faz estar de smoking como de camisa rota, o importante é estar lavada!
- Machistas de merda!

Foi a resposta que o furriel recebeu. Tinha razão a alferes enfermeira!


Extractos de: Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente. Ed. autor, Cucujães, 2000. pp. 99-101

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

(**) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas

(***) 16 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2443: Pami Na Dono, a Guerrilheira, de Mário Vicente (8) - Parte VII: O prisioneiro Malan é usado como guia (Mário Fitas)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3913: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (3): Quanta chuva, Mário ?

1. Mensagem de Joana Santos, com data de 16 de Fevereiro de 2009:

Caro Luís Graça,

Remeto mais um texto que a minha mãe escreveu para o Blogue.
Ela lamenta que seja um pouco chocante. Mas foi assim que se passou.

Cumprimentos,
Joana


2. Em Bissau, controlado desespero (III)

Inquieta quietude

[Título e fixação do texto: Editores C.V. / L.G.]

Começaram as visitas. Primeiro, as minhas; depois, as dele, que tinha licença para ver-me em casa. Vivemos tardes de amor. E eu, sozinha, passava as manhãs na rua, comprando cajus e cocos no mercado, algumas folhas de cola, uma curiosidade.

Diziam que aquilo dava força e experimentei. Dava mesmo. Da experiência científica soltou-se um energético e solitário charleston (não há mais divertida – e difícil – dança de precário equilíbrio de pés, do corpo todo, aparentemente desconjuntado!). Nesse estado me encontrou, uma vez, a bajuda. Deitei-lhe a língua de fora. E ela abanou-me, empurrou-me para a casa de banho. E, no espelho, vi uma palhaça, de língua encarnada, que ria, ria… Bastava de loucuras. Lavei, escovei, o vermelhão fora-se. Mas, no meu sistema, dissipara-se a moleza tropical.

Claríssimas manhãs de Bissau.

Insomne, já nem dois comprimidos me ajudavam, atravessava as noites e, cedo, postava-me à janela que se abria sobre o pátio, aguardando a chegada da Joana. Dava-lhe escassas ordens e partia, buscando o sombreado das árvores, atenta à inigualável beleza dos nativos, fulas, futa-fulas, mandingas, os mais belos. Às sabadoras brancas, ao colorido dos panos femininos, ao comportamento dos periquitos e maçaricos, às crianças com os pequenos rostos manchados de tinha, às vozes agudas, às risadas, ao meu leproso. Não comprava nada, nada me induzia aos gastos em sedas libanesas.

Pessoas havia que já me conheciam:
-Corpo s’tá bom?
-S’tá bom.

Conhecera uma senhora cuja avó ainda fora animista. Decidi perguntar à minha bajuda Joana, manjaca era ela. Fui ao pátio, coloquei os dedos na terra, acariciei um cacto, abri os braços, fiz de pássaro… depois, o sinal da cruz:
– Eu, cristã… e tu? – um dedo no seu peito. E ela, muito séria, persignou-se:
- Avemaria... - disse.

Que sabia ela do significado daquela oração? Afinal, de animismo nada aprenderia, e só, muitos anos volvidos, assistiria a uma prática de culto animista, numa longínqua montanha da cadeia do Pamir…

De resto, outras coisas me ocupavam. Como matar a fome? Que cozinhar? Como chegar ao hotel, para jantar, fugindo aos assobios e a um provável beliscão da tropa branca?

Em breve, muito em breve, o Mário chegaria a casa. Faria transportar duas camas do Q.G. e armá-las-ia no meu quarto, com grande estrondo.

Andava inquieto, expectante.

A poucos dias do seu aniversário (31 de Maio), consegui, por intermédio de um vizinho, bacalhau. E foi, enquanto preparava o enorme pirex de arroz, receita longa e complicada, que, súbita, irrompeu a estação das chuvas. O Mário não estava.

Chovia em catadupas. Corri para a rua, molhei-me toda, voltei ao forno, a roupa a secar-se-me no corpo.

Trinta e um de Maio de 1970. Quanta chuva, Mário? Vinte e cinco.

Um dia, dois dias, quantos, antes que ele partisse? Não recordo. Na sua ausência, um outro amor crescera – Bissau, a suja, colorida, mal crescida cidade africana, o cinzento opaco do Geba, junto ao cais, o céu atravessado de helicópteros, suspensas notícias, indo e vindo, silêncio povoado pelo longínquo matraquear do medo.

Nela aprendi que o belo não é o perfeito, que o belo pode ser, também, o feio em ignota desmesura, estado de alma, inquieta quietude, inesperada transigência.

Mas foi, talvez, no segundo dia após o seu aniversário, que o meu marido começou, à noite, a tirar, de cima do armário, malas e sacos (“Eh, menino, esse saco é meu!”, perdi-o). Atirava, lá para dentro, roupas, os livros, os discos, todos os seus pertences. Olhava, espantada, o renascer da obsessão. Que dormisse eu, disse. Ele iria muito cedo. Virou-se para a parede, adormeceu. Mas eu, não.

E muito, muito cedo, já vestida, ao canto da janela, aguardava o dia. Ele enfiava o camuflado, bem passado. Corri à casa de banho, arrebatei a gilette, o creme de barbear, a pasta, o pente, a água-de-colónia que lhe dera. Saco adentro! Um beijo de raspão na face do "adorado amor”. Corri atrás dele, batera com a porta, não a abriria eu.

Despi-me de novo, sem fome. Dois comprimidos de Vesparax chegariam? Chegaram. E fez-se noite.

Não dera por nada, por ninguém. Arrastei-me, ensonada, até à cozinha. O interminável bacalhau, lá estava ele, no frigorífico. E, com o pano dos tachos sobre a mesa, a colher de sopa na mão, comi-o gelado, de dentro do pirex. Lá iria, de novo, o meu manjar para o frio.

Peguei num livro, atirei-o contra a parede.

Há coisas que nos ficam na memória. Essa de me levantar e afagar a capa do livro é uma delas. E, depois, outra: as luzes apagaram-se, calou-se a ventoinha. Tacteando, lá descobri o copo e os comprimidos. Dois? Três? – Já não sei.

Foi só com o barulho da porta da entrada, que alguém parecia querer deitar abaixo, que acordei.
- Joana - gritava - A porta. O meu… o meu….

Não era capaz de me lembrar de como se dizia “roupão”. Mas a bajuda, certeira, percebeu e atirou-mo, saiu correndo, abriu a porta.

Ali estava, já tarde, na soleira, o Alexandre, boininha debaixo do braço, prazenteiro.
- Então o que era aquilo? - perguntava, e eu:
- Que dia é hoje? Quando é que o Mário foi?- E ele:
- Ontem, não te lembras? Feriste-te nos pés?

Não, não me tinha ferido. Olhei de relance para os pés e para o chão da sala. Sangue. Deve ter percebido alguma coisa que eu não entendia. Queria que chamasse a Inês? O David?
- O David - concordei.

Disse-me que era tempo de voltar para Lisboa, que ia tratar, quanto antes, da passagem. Estava eu de acordo? Estava.

Em que logro me deixara escorregar de alma e corpo inteiros? Onde era essa cidade de Bolama, que me fora vagamente prometida? O talvez? Que fazia eu ali? Impunha-se-me a lealdade: se o meu marido voltara para donde viera, seria porque não podia fazê-lo de outro modo.

Entretanto, a minha gente já se mexia em reboliço. A bajuda e a engomadeira tiravam lençóis, lavavam o chão, mas, na casa de banho, ainda havia mais pegadas. Talvez tivesse sido esse o primeiro dos meus abortos espontâneos.

Uma perda é o impossível, sem remédio.

Breves, os cinquenta e três dias estavam a chegar ao fim.

Cristina Allen

Fevereiro de 2009
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

9 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...
e
8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3912: Iniciativas da ADFA em Lisboa (2): Em busca das Enfermeiras Pára-quedistas (Luís Nabais / Victor Barata)

1. Para conhecimento da Tertúlia, uma vez que a iniciativa da ADFA em homenagear os nossos camaradas da Força Aérea se tornou irreversível e adquiriu uma dimensão superior à que os organizadores esperavam.

Mensagens trocadas nos dias 13 e 15 de Fevereiro de 2009:

2. De Luís Nabais para o nosso Blogue:

Carlos:
Quero agradecer o empenho que puseste na minha mensagem (*).
O impacto foi muito maior do que eu/nós esperávamos, mas uma coisa ressalta e que eu/nós não podemos deixar de sentir e concordar.

Todos, mas todos, têm falado nas ex-enf paraquedistas, na altura um número reduzidíssimo pelo que tenho lido, mas que ninguém deixa de referenciar.

Assim, faz um aditamento para serem/ou nos contactarem, já que só temos o contacto de uma, senhora já com alguma idade, mas que nos escreveu uma carta extremamente enternecedora, e a quem iremos contactar para se juntar a nós brevemente num almoço pessoal.

Agradeço uma vez mais o teu empenho e o do Luis (que espero ver breve por lá)
Abraço
Luis Nabais


3. Mensagem de Luís Nabais com data de 15 de Fevereiro de 2009, dirigida ao nosso camarada Victor Barata, Especialista da Força Aérea, que mantém vivo e actuante a página Especialista da Base Aérea 12, Guiné 65/74.

Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné

Caro Barata:
Como verás abaixo, vou pedir ao Carlos Vinhal e Luís Graça a publicação no nosso blog do que escreveste, e que, podes crer, me/nos tocou (falo por todos aqueles que devem a vida às vossas acções).

Quero que saibas que a ideia não é só minha. O Presidente da Delegação de Lisboa, Francisco Janeiro, foi quem primeiro falou no assunto, e nós Direcção, agarramos a ideia com unhas e dentes, para concretizar.

O Carlos Vinhal vai com certeza compor e publicar, do facto espero que não te ofendas pelo pedido de publicação na íntegra.

Tens o meu mail, sabes a morada da ADFA, tens o blog... estarás sempre em casa, se e quando apareceres.

Falaremos mais
Abraço e Bem-Hajas pela força que nos deste.
Luis Nabais

4. Na mesma mensagem vinha para o nosso Blogue:

Caro Carlos:
Começo a ficar "vaidoso" com a aceitação da ideia.
Vamos ter gente.

Levanta-se-nos o problema de não ter contacto com as enfermeiras paraquedistas (afinal elas voavam com estes homens que queremos homenagear), mas aí, o nosso blog pode por certo, ajudar.

Peço-te que publiques e aguardar mais contactos.

Como podes ver, o Barata já disse presente, de uma forma que me tocou profundamente, e vai tocar por certo todos aqueles que lerem isto.

Abraço Carlos, e vamos em frente nesta ideia de agradecer àqueles que nos evacuaram, tantas vezes debaixo de fogo.
Luis Nabais


5. Fica agora a mensagem a que se refere o camarada Luís Nabais

Assunto: Homenagem aos Pilotos e Mecânicos da FAP que estiveram na Guiné.

Companheiro Luis Nabais.
Sou Victor Barata editor do Blog "especialistasdaba12.blogspot.com", espaço este que foi criado por pilotos e especialistas da Força Aérea que operaram na Guiné.

Ao ver o Blog do Luís Graça, onde também pertenço como Tertuliano, li o teu email no intuito da ADFA homenagear-nos!

Pois Companheiro, a emoção apoderou-se de mim ao sentir o vosso reconhecimento pela nossa árdua missão.

Não resisti e de imediato reproduzi e comentei no nosso blog o seguinte:

Nós, ADFA, estamos e pensar fazer um almoço/homenagem aos antigos pilotos e mecânicos de aeronaves, que estiveram na Guiné.

Podes publicar, para saber se há interessados? Pensamos que seja em Abril.

É nossa intenção fazê-lo em Lisboa na sede da ADFA.
O Chefe da Força Aérea vai estar lá também, e tenho já confirmados alguns nomes, alguns ex-comandantes da TAP!
A data ainda não está definida, embora apontemos para um sábado Abril.

Quero também informar que já temos mais um psiquiatra a trabalhar connosco (dois, agora), que poderão fazer consultas "particulares" (o preço será informado aquando da marcação, caso não tenham ADME), e também Clínica Geral.

Claro que, recordo novamente, não tendo ADM, a consulta será por inteiro, mas são 30€ (com estacionamento e almoço, agora a 4,50 €).Estou/estamos a envidar esforços para ter muito brevemente estomatologia.
Tentaremos, logo que possível, acordos com ADSE ou outras entidades - não ainda -, infelizmente, mas garanto brevidade!

Abraço
Luís Nabais

VB:Companheiros da ADFA, representada pelo Luís Nabais, com alguma surpresa e emoção até, que lemos e publicamos esta vossa iniciativa.

Surpresa porque sempre, e ainda hoje, o pessoal da FAP é alvo de diversas opiniões extremamente injustas por parte de muitos que cujo o objectivo da sua participação no TO eram, à época, era defender o seu gabinete e os respectivos escudos, os pesos se calhar nem precisavam deles para a vida que faziam... Em contrapartida, reconheço a angustia e o desespero que existiu muitas vezes que era solicitada a nossa presença e esta não era correspondida, obrigando-vos a criarem uma opinião revoltante em relação a nós.

Só não fizemos o que não pudemos. Muitas evacuações foram feitas em condições que vós próprios (ADFA) sabem melhor que ninguém, pondo em risco a nossa própria vida, para salvar a dos outros que infelizmente muitas vezes não valeu de nada e outras que deixou as marcas que muitos de vós ostentam hoje!
Os pilotos, em que condições forneciam o apoio a aéreo?

Recordam-se, certamente, numa semana do ano de 1973, quantos perderam a vida!?

A geografia da Guiné,cujo ponto mais alto +/- 400m é Madina de Boé, o que equivale a dizer que quando uma aeronave descolava de Bissalanca era visível em todo o território, não tinhas árvores ou trincheiras para nos refugiarmos, enfim, os companheiros em terra precisavam de nós.

Pois bem, Luís, se permites, e como os últimos são sempre os primeiros, esqueceram-se de integrar nessa homenagem aquelas cujo o seu empenho na Guerra da Guiné foi louvável, aquelas que salvaram muitas vidas, aquela meia dúzia de pessoas que não tinha mãos a medir, ao ponto de uma delas ter perdido a vida, talhada pelo hélice de um DO 27, quando se preparava para salvar a vida dos outros, AS NOSSAS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS!

Não podem ser esquecidas, Luís!
O Nosso Bem Haja.


Peço-te desculpa, mas estas verdadeiras COMPANHEIRAS DE GUERRA, não podem ser esquecidas neste evento.

Luís, dispõe do nosso/teu blog para o que achares oportuno, tudo faremos para que o vosso desejo seja um êxito.

Aguardo um teu comentário a isto e o que queiras publicar no Blog.

Saudações Aeronáuticas
Victor Barata

Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.


6. Comentário de CV:

Caros camaradas Tertulianos, quem tiver conhecimento do paradeiro de alguma das senhoras Enfermeiras Paraquedistas, verdadeiros Anjos da Guarda, que literalmente desciam dos céus para nos auxiliar nos momentos mais trágicos das nossas jovens vidas, façam favor de contactar o Luís Nabais ou o Victor Barata.

A iniciativa da ADFA é louvável e os deficientes, mais que ninguém, reconhecem o quanto valiosa foi a acção dos nossos camaradas das Força Aérea onde se incluem, por voarem, os Pilotos, Mecânicos e Enfermeiras Pára-quedistas. Não podemos contudo esquecer, os Especialistas que em terra tudo faziam para manter operacionais as aeronaves.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3887: Iniciativas da ADFA em Lisboa (Luís Nabais)

Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)

Guiné > Zona Leste > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento (1966). Uma das raras imagens do aquartelamento e tabanca de Madina do Boé, que conhecemos. Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presume-se que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-capitão miliciano da CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, membro da nossa Tabanaca Grande, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66 (autor do livro Uma campanha na Guiné, 1965/67) (*).


Guiné-Bissau> Picada de Cheche-Gabu > 1998 > Quase trinta anos depois da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969, ainda eram brutalmenmte vísiveis os sinais das emboscadas e das minas que fizeram do triângulo do Boé (Cheche, Beli e Madina) um verdadeiro cemitério para os homens e as suas máquinas de guerra... Fotos tiradas pelo Xico Allen na viagem, de 1998, que fez à Guiné, tendo percorrido entre outras a estrada de Quebo (Aldeia Formosa) - Madina do Boé - Cheche- Gabu (Nova Lamego)...

Fotos: © Xico Allen (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Miguel Pessoa (na foto à esquerda, ao lado da esposa , Giselda Antunes), com conhecimento ao António Matos, ambos ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74:

Assunto - Madina do Boé [ 24 de Setembro de 1973]

[Bold a cor, da responsabilidade do editor L.G.]

Caro Luís:

Tendo em atenção os comentários já surgidos ao poste sobre a declaração da independência da Guiné-Bissau (*), apenas posso deixar-te aqui algumas ideias, pois a memória por vezes prega-nos partidas e a documentação existente é pouca ou nenhuma (o que é o meu caso pessoal).

Os registos na caderneta de voo, pelo menos naquela época, limitavam-se a referir o modelo e matrícula do avião, o tipo de missões efectuadas (ATIP, BOP, RFOT, etc.), o local de descolagem e aterragem e o tempo de voo efectuado nas diversas condições de tempo (contacto com o terreno, por instrumentos, etc).

No caso do Fiat, que por norma descolava e aterrava na BA12, apareceria na caderneta BA12-BA12-Local (nem aparece a localização dos objectivos). Essa parte era objecto de um relatório de missão, em que se relatava o local, a acção desenvolvida, os resultados obtidos, os comentários achados adequados.

Ora, esses relatórios eram entregues nas Operações do GO1201, analisados nas Informações do Grupo Operacional e disseminados pelos pilotos naquilo que fosse importante reter. Após o 25 de Abril, quando se começou a antever a retirada das nossas forças da Guiné, grande parte desse material foi destruída - daí a dificuldade que hoje temos em reconstruir um determinado acontecimento daquela época.

É por isso que, quando se fala de Madina do Boé, temos dificuldade em rever o nosso papel nessa data (digo temos porque estive a falar com o António Matos sobre este assunto).

De uma coisa tenho a certeza: Naquela data não se bombardeou a zona do antigo aquartelamento, o que me parece lógico, dadas as implicações que um eventual massacre entre a assistência poderia ter a nível internacional. Naquele período fizeram-se reconhecimentos fotográficos na área, não se tendo detectado quaisquer movimentos (de guerrilheiros ou de população).

Tenho missões registadas na minha caderneta, em todos os dias à volta dessa data, mas não posso lembrar-me onde foram efectuadas - isso não ficou explicitado. E o mesmo se passa com o António (que, a propósito, me autorizou a falar em nome dele).

Recordo-me que próximo dessa data se preparou uma missão com forças terrestres (paraquedistas? operações especiais?) que foram colocadas na zona de Madina, não tendo referenciado ninguém no local (lembro-me que alguém teve a iniciativa de levar uma faiança das Caldas, que deixou no terreno com uma dedicatória para um importante guerrilheiro do PAIGC).

Na visita que fiz ao Guileje, em 1995, em conversa com uma figura importante do PAIGC, foi-me confirmado que o local da cerimónia não tinha sido propriamente em Madina do Boé (por ser facilmente referenciado) mas mais a sul - fiquei com a ideia que esse "mais a sul" seria até para lá da fronteira.

Sem pretender botar sapiência cá para fora, limitei-me a tentar dar alguns esclarecimentos sobre este período importante da História da Guiné - da nossa História e da do lado oposto. Se vires algum préstimo nestas linhas, publica-as.

Um abraço. Miguel Pessoa

PS 1 - Um particular para ti:

Depois de ter lido referências às cerca de 400 missões que tinha feito na Guiné como comprovativo do esforço que a Força Aérea fez na Guiné, antes e depois do Strela, fiquei com receio de ter exagerado no número, embora o tivesse na cabeça como referência. Como sabes, por vezes uma declaração errada pode afectar a credibilidade de tudo o que dissemos antes (por mais verdadeiro que fosse).

Já descansei a alma, pois entretive-me a contar as missões efectuadas na minha caderneta de voo - 408 (o que está de acordo com a minha afirmação inicial), 409 se contarmos com o voo em que fui abatido (por pudor, não registei na caderneta os 20 ou 25 minutos que estive no ar no dia 25MAR73, pois parece-me que, para contar como missão, é de bom tom devolver o avião no fim do voo...).

O número peca por pequeno, embora eu tenha 4 meses de atenuantes. De qualquer modo, o António Matos terá feito bastantes mais.

PS 2 - Por favor expurga deste texto tudo o que possas considerar melindroso ou possa pôr alguém em causa.

2. Comentário de L.G.:

Como tu próprio me disseste ao telefone, tu eras um simples tenente piloto aviador (tal como o António Matos). É bom lembrá-lo. Não tinhas que pensar globalmente, apenas localmente. Muitas das decisões, muitos dos actos e omissões, nossos e dos nosso IN de então, ainda estão (ou ficaram) no segredo dos deuses... Isso não nos impede de partilhar aquilo que sabíamos ontem e que sabemos hoje, tentando uns com os outros juntar as mil e uma peças do puzzle...

Muitos dirão que é um verdadeiro suplício de Sísifo, que nunca lá chegaremos, ao cume da montanha (neste caso, da verdade). Respondo: não estamos a competir com ninguém, a não ser contra o tempo (inexorável)... Estamos a lutar contra nós próprios e a ignorância dos outros, nossos contemporâneos, que nunca souberam onde ficaram o Cheche ou Madina do Boé. Já que lá estivemos, na Guiné, entre 1963 e 1974, queremos conhecer e compreender o que lá andámos a fazer, o como e o porquê... É natural, é legítimo, é o único direito que não nos podem roubar ou negar...

Há falhas na nossa memória individual, há grandes lacunas no conhecimento de muitos acontecimentos de que fomos actores ou testemunhas... Eu não estava lá em 24 de Setembro de 1973, mas já tinha pago o bilhete, sob a forma de trabalhos (es)forçados entre Maio de 1969 e Março de 1971, para ver o resto do filme...

Adorei, Miguel, essa do boneco das Caldas. Havia tugas com sentido de humor. Aliás, havia gajos com sentido de humor, de um lado e de outro. Temos, no nosso blogue, alguns grandes humoristas da guerra. Já aqui publicámos textos de antologia, como os do Jorge Cabral ("Cabral só há um, o de Missirá, e mais nemhum", diria o Corco Só, mítico guerrilheiro, morto em combate, comandante da base - barraca... - de Madina / Belel, um dos raros comandantes fulas do PAIGC, que deixava papéis nas árvores do Cuor, em 1969, com ameaças de morte ao nosso camarada Beja Santos)...

Obrigado, Miguel, obrigado, António, pelos vossos dois cêntimos para este novo dossiê... Há mais malta disposta a dar mais uns tantos cêntimos para este peditório... É pouco ? Não, é muito, é de gente generosa e solidária.... Que não nos falte, Miguel, o tempo e a pachorra. Ah!, já me ia esquecendo de te dizer: aprecio a tua honestidade intelectual... De facto, contabilizaste apenas (!) 408 missões (completas e bem sucedidas).
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3909: (Ex)citações (16): Por que é que a FAP não bombardeou Madina do Boé em 24/9/1973 ? (Luís Graça / A. Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P3910: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (22): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte I)

Fundação Mário Soares > Dossiês Temáticos da do Arquivo e Biblioteca > Guiledje: Na Rota da Independência da Guiné-Bissau: Simpósio INternacioanld e Guiledje, 1-7 de Março de 2008 > "Ocupação do Quartel de Guiledje pelo PAIGC, 22 de Maio de 1973: bandeira do PAIGC hasteada no quartel de Guiledje.[05360.000.267] · Documentos Amílcar Cabral (13/23)" [Rectificação da legenda: a entrada do PAIGC em Guileje deu-se três dias depois, em 25 de Março de 1973].

Foto: Cortesia de ©
Fundação Mário Soares (2009).

1. Mensagem do Coutinho e Lima, Cor Art Ref (aqui na foto, à esquerda, major de artilharia, comandante do COP5, na inauguração do bar de sargentos, aquartelamento de Guileje, 15 de Março de 1973)

Comentário sobre a apreciação de A RETIRADA DE GUILEJE , feita por António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*)

[Revisão, fixação de texto, itálicos e negritos: editor L.G.]

1ª. Parte

Quando o livro A RETIRADA DE GUILEJE (**) passou a ser do domínio público, admiti que o mesmo, tal como o Gen Espírito Santo escreveu no Prefácio, "…levantará comentários, merecerá repúdios e receberá aplausos”.

Esperava que, nomeadamente quem discordasse da decisão que tomei, o fizesse de forma racional, objectiva e séria. Não foi o que aconteceu com a apreciação do Sr Ten Gen (na situação de Reserva) da Força Aérea, António Martins de Matos, ao apresentar uma crítica facciosa, porque não isenta, superficial, porque não analisa as causas e não é verdadeira, porque contem afirmações e conclusões falsas.

Posto isto, vamos aos factos.

Diz o Sr Ten Gen que:

“…não pretendo demonstrar que a minha verdade é melhor que a verdade dos outros”.

Relativamente à Retirada de Guileje não há diversas verdades, mas sim A VERDADE DOS FACTOS, que é o subtítulo do livro; cada comentador tem a sua versão, sendo que a do Sr Ten Gen é a “versão aérea”.

Fiquei a saber que, após "a chegada dos mísseis Strela, as missões passaram a ser mais efectivas (novo armamento até aí não utilizado)”.

Era interessante saber qual o armamento até aí não utilizado e porquê; no que respeita a evacuações, a partir de Guileje, a eficácia passou a ser nula, já que a Força Aérea deixou de as fazer.

“Do que vivi in loco…”

A vivência do Sr Ten Gen foi única e simplesmente uma vivência do ar, na verdadeira acepção da palavra; embora com uma visão abrangente da Zona de Acção, que até lhe permitia localizar as bases de fogos inimigas, demonstrou um grande desconhecimento da situação em terra.

Uma das conclusões, após a leitura do livro, é:

“Desde 6 de Maio que os Gr Comb de Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel (excepção feita à tentativa de coluna a 18 de Maio…”.

Esta conclusão é uma mentira.

Basta ler o Anexo V (pág 408); neste, são referidas colunas de reabastecimento nos dias 7, 11, 14 e 16 MAI, isto é, 4 colunas.

Diariamente, era realizado o abastecimento de água, a cargo de 2 Gr Comb; porque se tratava de uma actividade de rotina, não é referida no livro.

No dia 18 MAI, à tarde, foi feito o reabastecimento de água, este com alguns percalços (ver pág. 200, resposta à 7ª Pergunta e pág 266, comentário 1.).

A última saída de Gr Comb realizou-se na manhã do dia 19 MAI, para um patrulhamento e evacuação de feridos, na direcção de Mejo, até ao Rio Afiá. A propósito desta evacuação, leia-se, na pág. 47, a mensagem (6):

“NÃO SATISFAÇÃO … EVACUAÇÕES (Y)…”, bem como as pág. 42 e 43 – 11. Visita a Guileje do Sr General Comandante-Chefe, em 11 MAI 73.

Refere-se que, por falta de evacuação (garantida pelo Sr Comandante-Chefe e não cumprida), um Cabo Metropolitano acabou por morrer, 4 horas depois de ter sido gravemente ferido.

O que o Sr Ten Gen naturalmente quereria dizer era que, a partir de 19 MAI (e não 6 MAI), não mais saíram Gr Comb de Guileje. E este procedimento tem uma explicação; face à certeza de não haver evacuações, a partir de Guileje, qual era o Comandante responsável que, atribuía missões de alto risco aos seus subordinados, sem estar garantido o seu socorro, se necessário; havendo feridos graves, acabariam por morrer, como já acontecera em 18 MAI; foi esta a razão por que o Comandante das forças, em Guileje, responsavelmente, não mandou sair tropas do quartel, depois de 19 MAI73.

"… o Guileje não podia estar cercado…"

No livro, só há uma referência a cerco; é a mensagem (37), na pág. 60, enviada de Guileje, no dia 21 MAI, às 14h15: “ESTAMOS CERCADOS POR TODOS OS LADOS”.

Esta mensagem, que está também na contra-capa do livro, foi da autoria do Sr Capitão Quintas, Comandante da guarnição, na minha ausência; foi a apreciação que fez da situação, naquele preciso momento.

È evidente que o quartel não estava cercado, porque se o estivesse, eu e 2 Gr Comb vindos de Gadamael não teríamos entrado, ao fim da tarde do dia 21 MAI. Mas não tenha a mais pequena dúvida o Sr Ten Gen que o cerco estava a apertar; na tarde desse dia 21 MAI, um grupo inimigo actuou do lado de Mejo, pela primeira vez; eram forças do 3º CE (Corpo de Exército), que tinham chegado para reforçar o dispositivo do PAIGC (ver pág 55 e 56, mensagem (27), enviada pela Repartição de Informações). Naturalmente não vinham para nenhuma colónia de férias...

Porque o cerco não estava completo, foi possível efectuar, com pleno êxito, a retirada na manhã do dia 22 MAI, tirando partido do efeito de surpresa, de tal modo que o Inimigo continuou a flagelar Guileje até ao dia 25 MAI, quando entrou no aquartelamento deserto.

E seria interessante saber quais foram as ordens que o Comando-Chefe deu à Força Aérea para vigilância e actuação na área; procurei colher elementos, no Arquivo Histórico Militar do Estado Maior da Força Aérea, relativamente ao emprego desta na zona de Guileje, no período de 22/25 MAI, mas nada consegui. Com o quartel vazio, era mais que certo que o PAIGC, a curto prazo, lá entrasse; com um reconhecimento adequado, durante aquele período, poderia o Inimigo ser surpreendido, nomeadamente quando chegasse a Guileje, constituindo um objectivo altamente remunerador e uma oportunidade única que foi perdida pela Força Aérea.

O Sr Ten Gen afirma ainda:

“Prova disso é o facto de terem fugido cerca de 600 pessoas…”.

Sendo uma pessoa responsável, o Sr Ten Gen sabe muito bem que não houve uma fuga (saída precipitada e desordenada), mas sim uma retirada, devidamente comandada, de acordo com as circunstâncias concretas no local. Fuga, ou melhor, debandada, verificou-se, mais tarde, em Gadamael (a seu tempo lá irei) (***).

“Há a confirmação de que as bocas de fogo se situavam para além da fronteira…”.

É fácil fazer afirmações; o Sr Ten Gen, para dar credibilidade ao que afirma, terá que apresentar provas concludentes do que afirma, acerca da localização das bases de fogo inimigas. A sua reacção à intervenção do Nuno Rubim (os alcances podiam ser superiores), quando este indicou os alcances máximos das armas utilizados pelo PAIGC contra Guileje, é tão gratuita quanto a afirmação supra.

Nós, em Guileje, tínhamos a certeza que as bases de fogos estavam bem dentro do nosso território; com os meios expeditos de que dispúnhamos, pudemos verificar que, uma base de fogos do Morteiro 120 se situava a cerca de 4 kms; sendo o alcance máximo desta arma 5700 metros, era impossível estar para lá da fronteira e atingir o quartel, porque verificámos variadíssimos rebentamentos de granadas de 120 dentro do arame farpado.

“…os obuses de 14 cm… só esporadicamente foram usados…”

Mais uma conclusão errada, frontalmente desmentida no livro.

Com efeito, pode verificar-se, nomeadamente nas declarações que prestaram no processo, os Oficiais presentes em Guileje, (Respostas à 5ª. Pergunta, pág 190 a 200), em que todos foram unânimes em afirmar que as reacções pelo fogo às flagelações inimigas eram feitas também pelos Obuses de 14 cm.

Na pág 247, o Sr Alf Mil Pinto dos Santos, Comandante do 15º Pelotão de Art, em Guileje, declarou (Resposta à 6ª Pergunta) que:

“…executei cerca de 70 tiros…”, em reacção à emboscada de 18MAI; o mesmo Oficial afirma que, no início do período, havia cerca de 400 munições completas.

Contrariamente ao PAIGC, que mostrava não ter qualquer restrição no consumo de munições, especialmente de Armas Pesadas, o COP 5 tinha gravíssimos problemas nesse domínio; desde o início do ataque, porque não sabíamos quanto tempo ia durar, houve a preocupação de adoptar um consumo parcimonioso, especialmente com as munições das Armas Pesadas, Artilharia incluída, pois tínhamos a certeza, especialmente depois da emboscada do dia 18, impedido que foi o acesso por estrada a Gadamael, que se houvesse uma situação de emergência, não seríamos reabastecidos.

Recordo que em Guidage, houve que proceder a um reabastecimento de munições de emergência, no próprio dia do início do ataque – 8 MAI (ver pág 88, mensagem de 081525MAI73). Em Guileje, tal não seria possível, dado que a Força Aérea tinha cancelado, para esta localidade, todo e qualquer vôo; não questiono esta decisão, mas limito-me a constatar factos.

Concluindo, os 2 Obuses de 14 cm (no início apenas um, porque o outro chegou avariado), reagiram pelo fogo às flagelações inimigas, quando foi considerado oportuno, mas sempre tendo em atenção a reduzida quantidade de granadas existente.

“Guileje, uma manobra de diversão, para desviar a FAP de Guidage…”

A acção do Inimigo em Guidage teve início em 8 MAI 73; o Comando-Chefe hipotecou a quase totalidade das suas reservas, no reforço a esta guarnição.

Não estão incluídos, no meu livro, elementos de informação acerca da intenção do PAIGC, relativamente a Guidage, porque isso não foi objecto da minha investigação.
No que a Guileje diz respeito, remeto o Sr Ten Gen para o Anexo VI (pág 410); à data do relatório de interrogatório nº 108 (27 DEZ 72, antes da criação do COP 5), ficou a saber-se:

“…o IN pretende fazer um ataque com bastante força a Guileje, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de Guileje. Para isso, ficaram em Kandiafara alguns elementos que vieram recentemente de um estágio de Artilharia na Rússia, para fazerem reconhecimentos na área de Guileje e preparar essa acção”.

Na pág 359, o ex-Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva, refere:

“Foi em Agosto ou Setembro de 1972…que Cabral me confiou a tarefa de preparar as condições de um ataque em força sobre Guileje…”.

No artigo, transcrito do Jornal Público, é descrita a minuciosa preparação e os reconhecimentos efectuados, tendo em vista a concretização do “ataque em força a Guileje”.

Dos dois documentos resulta, para mim, com toda a evidência, que o PAIGC planeou, com vários meses de antecedência, a acção sobre Guileje e que esta acção constituía um objectivo prioritário; se assim não fosse, como se explica que Cabral tenha afirmado (pág 358): “Se o quartel de Guileje cair, cai tudo à volta”.

O Comando-Chefe que, certamente, tinha mais elementos de informação sobre as intenções do PAIGC, parece que não os teve em consideração; só assim se compreende que não tenha tomado nenhuma medida preventiva, para fazer face à acção em força sobre Guileje, pré-anunciada com muita antecedência.

Guileje não foi uma manobra de diversão; pelo contrário, o ataque a Guidage foi, para o PAIGC um objectivo secundário, com a intenção de “obrigar” o Comando-Chefe a dividir as suas forças, de reforço aos dois ataques: Guileje, objectivo prioritário e Guidage, acção secundária.

Certamente que nem o PAIGC imaginava que a actuação do Comando-Chefe lhe fosse tão favorável, ao reforçar Guidage como o fez, deixando a guarnição de Guileje entregue à sua sorte, sem qualquer espécie de reforço. E nem se argumente que, tendo Guidage sido atacado em primeiro lugar, havia que avançar com socorro imediato; certamente que aquela guarnição, em posição muito crítica, teria que receber reforço de emergência.

Não é porém aceitável a actuação do Comando-Chefe, quando não antecipou o que iria acontecer em Guileje que, de acordo com as informações disponíveis, tinha obrigação de prever o que se tinha como certo e, quando se impunha o seu reforço, este não foi accionado.

“A questão que se põe é a de saber porque razão as missões no Guileje não terão tido sucesso?”

Esta pergunta terá que ser formulada, pelo Sr Ten Gen, à Força Aérea.

"…igualmente por falha do Guileje, que já não era capaz de indicar de onde tinham partido os ataques, limitando-se a afirmar “bombardeiem todas as
matas à volta do quartel”.

“Vamos comprar uma B52 e já voltamos…


Na pág. 57, a mensagem (30), enviada da CCAV 8350 (Guileje), em 210710 MAI73, refere:

“REF 1582/BM NOTAL
INFORMO DEVEM ESTAR ORLA MATA. ESTOU SER ATACADO. PRECISO
REFORÇO URGENTE HELI-CANHÃO, PESSOAL, FIAT”

A mensagem 1582/BM (nº 27, pp 55/56), tinha sido recebida da Rep. de Informações (201900 MAI73), referindo a presença do “3º C.E. NAS MATAS DE MEJO”.

Foi, certamente, na sequência dessa mensagem 30, que o então Ten Pilav Matos sobrevoou Guileje, em apoio de fogo. Perante o teor da dita mensagem, pode depreender-se a situação vivida em terra; o pedido de bombardeamento à volta do quartel era inadequado, por razões de segurança; a sugestão do Piloto para utilizarem a Artilhraia foi, igualmente, pouco inteligente, porque esse emprego, que teria de ser na modalidade de tiro directo, acarretava também problemas de segurança.

A resposta com “raiva” de “Vamos comprar uma B52 e já voltamos”, de “mau gosto”, como escreve o Sr Ten Gen (eu diria de péssimo gosto), só demonstra a incompreensão de quem está a ver Guileje de cima e não fazia ideia, nem tentou fazer um pequeno esforço, para imaginar o que se passava em terra. A raiva descarregada sobre o Fur Alfaiate, que não tinha culpa nenhuma do que estava a acontecer, melhor seria despejada sobre as forças do Inimigo.

Em Guileje, o pessoal não dormia, desde a noite de 18/19, até àquela data já contabilizava 30 flagelações e não tinha em quem descarregar a sua raiva.

“…a comparação dos números de mortos e feridos em Guidage e Guileje é, por si
só, clarificadora do que efectivamente ocorreu nesse período e de quem mais ne-
cessitava de apoio”.


Não admirava que em Guidage tivesse já havido mais mortos e feridos, porque esta guarnição tinha sido fortemente reforçada com Fuzileiros, Paraquedistas e Comandos e outras forças; além disso, Guileje dispunha de abrigos de cimento armado, construídos pela Engenharia Militar, nos quais se recolheram, desde o início das flagelações, todos os militares, milícia e população. Foi esta a principal razão, por que não houve grande número de baixas (infelizmente, tivemos um morto).

Já que Guileje não tinha tido direito a nenhum reforço, restava-nos a Força Aérea que, pela voz de um dos seus Pilotos, achava que a sua missão era mais necessária em Guidage. Ainda bem que esse Piloto não tinha poder de decisão, pois se o tivesse, certamente teríamos tido menos Apoio Aéreo do que aquele que recebemos.

(CONTINUA)

2. Comentário de L.G.:

No próprio dia de recepção do texto, 2 de Fevereiro, dei conhecimento do seu teor ao António, em primeira mão... Disse-lhe:

Procuro ser leal para com todos os membros da nossa Tabanca Grande. Logo verás o que tens a dizer, se achares que vale a pena responder... Se quiseres responder, podemos juntar as duas peças...

Ele respondeu-me logo a seguir, no dia 3, nestes termos:

Caro amigo: Obrigado pela informação. Não é minha intenção responder aos comentários do Cor Coutinho e Lima. A razão é simples, o responder a comentários, dos comentários, dos comentários, .... só serve para alimentar guerras e guerrinhas para as quais não estou interessado.

Digo o que tenho a dizer, quem achar que está correcto muito bem, quem não achar e expressar a sua visão contrária, igualmente muito bem, todos têm direito à sua (deles) opinião.

Se no caso do Nuno Rubim acabei por responder ao comentário, foi apenas pelo facto de, escudando-se no seu papel de “historiador e dono da verdade” os seus escritos terem “quase” aflorado a ofensa verbal. Não é o caso do Cor Coutinho e Lima, cujo texto, ainda que divergente do meu, em termos de educação é absolutamente correcto, com um único senão de ser escrito com o coração.

Conforme te disse, para mim este assunto está encerrado. (...)


Mais tarde, a 11 de Fevereiro, mandei-lhe o seguinte mail:

(...) As polémicas/controvérsias provocam sempre alguma tensão... Ao fim destes três anos e meio, com mais de 300 membros e cerca de 3870 postes, a malta do blogue (que é a malta dos três ramos das FA que passaram pela Guiné, 1963/74), já aprenderam a viver e a conviver com as suas diferenças e as suas comunalidades... Tens aqui uma bela montra, plural, respeitável, séria, solidária, para mostrares e reforçares o papel da FAP na Guiné... Todos reconhecemos que esse historial (glorioso e generoso) não é ainda suficientemente bem conhecido... Espero a vir-te a conhecer pessoalmente, tal como aconteceu há dias com o Miguel Pessoa e a Giselda. (...)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

11 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)

29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)

20 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3764: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (16): As CCAV 8350 e 8351: Tão perto e tão longe (Vasco da Gama)

19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)

17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3754: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (14): Pode não ser-se herói e dar provas de coragem (José Manuel Dinis)

17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)

15 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3744: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (12): Spínola podia ter feito muito mais... (Rui Alexandrino Ferreira)

14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)

11 de Janeiro de 2009 > Guíné 63/74 - P3725: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (10): PAIGC dispara um milhar de granadas entre 18 e 22 de Maio de 1973

8 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3712: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (9): Para breve a 2ª edição do livro (Luís Graça)

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)

2 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote)

31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3686: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (6): Comentário do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3628: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (5): O sentido de uma sondagem (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3627: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (4): Apresentação do livro, 5ª F, 18, na Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3626: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (3): Tardia a nossa percepção do nosso próprio Vietname (Eduardo Dâmaso)

14 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3618: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (2): A festa ... e a solidão de há 35 anos (Luís Graça)

27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)



(**) Alexandre Coutinho e Lima, Cor Art: A retirada de Guileje: a verdade dos factos. LInda-a Velha: DG Edições. 2008. c. 22/24€ (incluindo portes de correio). Para adiquirir o o livro, escrever ou telefonar para o autor:
Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq1500 – 599 LISBOA
Telefone: 217608243Telemóvel: 917931226
Email: icoutinholima@gmail.com

(***) Vd. também os postes de :



24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)