quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5565: O meu Natal no mato (30): Também lá estive... (Carlos Pinheiro, 1º Cabo Op Msgs, STM/QG Bissau, 1968/70)

1. Mensagem de Carlos Pinheiro, com data de hoje:
Luis Graça:

Também lá estive é o titulo, por acaso. Mas o que eu queria dizer é que já tenho feito alguns comentários aqui para a Tabanca e ultimamente têm sido publicados.

Porém, salvo erro no dia de Natal, também resolvi contar as peripécias de uma noite de Natal, a de 69, mas creio não ter sido publicada.

Se calhar não cumpri as regras da casa. E era isso que eu precisava saber. Raro é o dia em que não espreito o site e de vez em quando lá aparece um ou outro do meu tempo.

Quando for possivel agradeço mesmo que me forneçam as instruções, isto é as regras, para me passar a sentir também um tabanqueiro, porque ami cá sibe.

Um abraço

Carlos Pinheiro

Ex-1º Cabo Op Mensagens, mobilizado para o BCAÇ 1911 que nunca conheci (Veio no mesmo UIGE em que eu fui) e que passei os 25 meses (Out 68 a Nov 70) no Dest ST/QG/Bissau.

2. Também lá estive...
por Carlos Pinheiro

Companheiros, camaradas e amigos!

Como ex-combatente na Guiné, Outubro/68 a Novembro/70, e como leitor assíduo do, permitam-me, nosso blogue, nesta época natalicia há recordações que nos vêm mais à memória e o melhor, antes que seja tarde,  é passá-las para o papel.

Era véspera de Natal de 1969 e se bem que a guerra por vezes abrandasse, nunca parava. E havia sítios e posições que nunca podiam ser descuradas. Por exemplo, na minha guerra, no STM do QG de Bissau, que comunicava com o mato, com todos os COPs, todos os Agrupamentos, todos os Batalhões, todas as Companhias e até muitas outras subunidades, através das quatro redes de rádio (grafia) existentes, que comunicava com a metrópole, em grafia e em fonia e às vezes até por tele-impressor, com o BT na Graça que depois encaminhava as mensagens para os destinos, que comunicava com a Marinha e com a Força Aérea através de tele-impressor quando funcionava, a nossa guerra nunca podia parar. E as antenas colocadas ali bem perto, na Antula, eram o suporte e a garantia de que as mensagens chegavam aos seus destinos.

Nessa noite de Natal, depois de um jantar mais que atribulado que chegou a meter uma marcha até à messe de oficiais e ao "palácio das confusões" (messe de sargentos) onde os senhores estavam numa grande janta e o pessoal de serviço sem direito a nada, (a CCS/QG, vá-se lá saber porquê, tinha-se esquecido de nós),  depois deste pequeno incidente se ter resolvido,e sem que a nossa guerra tivesse alguma vez parado, nessa noite que devia ser de paz, recebemos uma mensagem zulu (relâmpago) duma unidade de que já não me recordo, e que tinha estado a ser flagelada, a pedir simente, vejam bem, um FRAPIL, porque no ataque tinham ficado sem gerador e dentro em pouco ficariam sem comunicações.

Já era tarde, talvez mais de meia-noite, quando isto aconteceu. Foi só chamar-se o motorista, ainda me lembro, o Mamadu Djaló que mais tarde foi motorista de táxi na cidade, que estava encostado no Unimog e pormo-nos a caminho do Batalhão do Serviço de Material, ali à Bolola, e entregar a mensagem ao oficial de dia para providenciar no sentido do solicitado chegar ao seu destino logo de manhã cedo. E assim foi. Lá foi um Allouette, bem cedinho, cumprir esta missão importante de que nós tivemos logo o reporte quando o FRAPIL foi instalado e começou a cumprir a sua missão.

Nessa noite os rádios nunca pararam, mas este caso foi de facto o mais relevante que aqui recordo com nostalgia.

Carlos Pinheiro
1º cabo Op Msgs
26/12/2009

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Carlos: A gente (os editores do blogue) estão como tu e os demais camaradas do STM do QG de Bissau: não temos mãos a medir e não conseguimos publicar tudo o que chega à nossa caixa de correio... just in time.  Naturalmente que tu não és discriminado pelo simples facto de ainda não seres, formalmente, membro da nossa Tabanca Grande. Teremos, entretanto,  muito gosto em acolher-te na nosso grupo: afinal, tu também estiveste lá, és por direito próprio um camarada da Guiné... Manda-nos as duas fotos da praxe e promete respeitar as nossas dez regras de convívio  (disponíveis na coluna do lado esquerdo do nosso blogue)... E não te esqueças: uma vez camarada da Guiné, camarada da Guiné para sempre... Entre nós, pode haver amuos mas não há divórcios... Separações pode havê-las, sim, mas temporárias... E as nossas memórias são escritas  com humor, humanidade,  às vezes ainda com sangue, suor e lágrimas... Não são delitáveis (do inglês: to delete)... Até à próxima, camarada... Já agora, diz-nos donde és e/ou onde vives. Bom Ano. Luís Graça
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Nota de L.G.:

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