sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5265: Controvérsias (52): Reflexões d’um ex-Combatente periquito (Manuel Marinho, 1ª CCAÇ / BCAÇ 4512)


1. Mensagem de Manuel Marinho*, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74, com data de 13 de Novembro de 2009:

Reflexões d’um ex-Combatente periquito

A propósito de temas lidos ultimamente no meu bloguineu.

Camaradas, que com os seus escritos, me deixam emocionado, comovido, nostálgico, que me fazem sorrir, dar boas gargalhadas, mas também ficar revoltado.

Hoje estou estupefacto com a notícia - poste P5261 do Eduardo Magalhães - sobre as comemorações da Liga dos Combatentes, Armistício, e fim da Guerra Colonial, que irão decorrer dia 14, em Lisboa.

É uma VERGONHA o que se passa com as ossadas dos nossos camaradas que se pretendem homenagear, ficou um em Bissau pelo facto da família não ter posses financeiras para o trazer, então e o Estado não faz a sua obrigação???

A minha expectativa reside agora no decurso da cerimónia.

Apenas quero dizer que o camarada em questão, Manuel Maria Rodrigues Geraldes, fazia parte da 2ª Companhia do meu Batalhão 4512 e foi um dos que deu a vida para segurar Guidaje, fazendo parte da 2ª coluna.

Em minha homenagem à tua memória:

Camarada Geraldes, PRESENTE!!!!

Fico incrédulo com a notícia que, a concretizar-se, eleva para níveis de escândalo o tratamento dado aos ex-combatentes. Já sabia como este País trata os seus ex-combatentes mas isto raia o absurdo, porque, se a cerimónia tem grande significado, as ossadas deste camarada teriam que estar presentes, por obrigação dos organismos competentes.

Temos obrigação de denunciar, por todos os meios ao nosso alcance, estas situações. Não deixemos morrer novamente os nossos camaradas.

Já o disse mas vou repetir, quando fui mobilizado para a Guiné, era um jovem minimamente informado, não suficientemente politizado, mas acatei o desafio e lá fui, aceitando todas as consequências da minha decisão, pois já era refractário (um mês de atraso) e já na recruta tinha o destino traçado, ia para a guerra colonial, ou fugia (hoje seria considerado um desertor com ideais libertárias).
Hoje passados todos estes anos sinto orgulho em ter estado presente, compartilhando com todos vós as estórias que espero venham a contribuir para fazer a História.

Este orgulho deve-se, em primeiro lugar, aos combatentes que lutaram, sofreram, deram o s melhores anos das suas vidas, no cumprimento de um dever que lhes foi imposto, na defesa do que achavam que era o certo, e a isso eram obrigados, depois ao Povo da Guiné, sacrificado e sofrido que eu adoptei sem reservas, ao longo de todos estes anos.

Depois porque percebi o significado de conceitos como abnegação, heroísmo, sofrimento, dor, amizade, altruísmo, fraternidade, perda e covardia.

Não quero estar sempre a repisar o tema, já seguramente estafado, de sermos os eternos sacrificados, porque a guerra na Guiné era a mais difícil, etc. etc. … Todos o sabemos e não foi por acaso que foi lá que germinou a semente do 25 de Abril, mas nem por isso deixo de prestar aqui a minha solidariedade para com os camaradas que estiveram noutras frentes de combate.

Neste blogue costumo dizer que “estou com a minha gente”.

Já que nos derrotam sistematicamente, alguns pseudo-intelectuais afirmando de fonte segura que a Guiné era um caso perdido, sem reflectirem que viemos embora tranquilamente (mas também desejosos de acabar rapidamente a comissão), depois de um cessar-fogo onde não foram acautelados os legítimos interesses dos africanos que lutaram ao nosso lado sendo posteriormente muitos deles assassinados.

Esquecem que a esmagadora maioria dos nossos soldados chegavam às frentes onde eram colocados, e acreditavam sinceramente que lutavam por uma causa justa, e muitas das vezes não tinham comando à altura, e depois da sua missão cumprida nada pediram em troca, nem responsabilizaram ninguém.

Omitem que, na euforia (legítima) do 25 de Abril, desembarcavámos dos aviões no aeroporto da Portela, íamos pelas saídas de serviço, indo directamente fazer o espólio, o mais discretamente possível, e toca a andar para casa que se faz tarde. E estes eram os primeiros sinais do desprezo a que estaríamos sujeitos ao longo dos anos. Nessa altura falar dos combatentes era politicamente associável ao salazarismo, hoje esperam que morramos todos para encerrar esse capítulo da nossa história.

Ignoram o sentir dum combatente, as suas sequelas morais, e as mazelas físicas, a todos esses que opinam sobre os combatentes, sempre na sua forma mais destrutiva, o meu completo desprezo, assim como à classe política que, sem excepção, nos tem tratado tão mal, muitos deles ainda andavam de cueiros e já nós passávamos tormentos.

Isto a propósito da intensa e justa revolta sobre o SEP, a que muitos camaradas se têm referido, o que esperamos?

E já agora, e porque estou apenas a reflectir, porque não fazermos ”uma semana de campo” em Lisboa? Já imaginaram o impacto? Ainda somos muitos, e por muito que respeite algumas fórmulas já utilizadas, não acredito em peregrinações, e para alguns peditórios já dei.

São apenas reflexões.

Um forte abraço para todos os tertulianos,
Manuel Marinho
1º Cabo, 1ª CCAÇ/BCAÇ 4512

PS - Muito deste texto já se encontrava escrito, mas esta notícia das ossadas teve que apressar estas reflexões.
__________
Nota de MR:

Vd. poste anterior desta série, em:

5 comentários:

MANUELMAIA disse...

CARO MANUEL MARINHO,

A ESTUPEFACÇÃO E REVOLTA QUE SENTES,FOI A MESMA QUE ME INVADIU, MAL LI (SÓ AGORA) O POST DO MAGALHÃES RIBEIRO.

NESSA CONFORMIDADE FIZ O MEU COMENTÁRIO QUE PROVAVELMENTE TERÁ SIDO EXAGERADO EM ESPAÇO,JÁ QUE NA ADJECTIVAÇÃO FICOU MUITO AQUÉM DAQUILO QUE MERECIAM ESSES PERSONAGENS ASQUEROSOS QUE DE FORMA DESAVERGONHADA,COMO O MALHADOR-MOR(CONFORME DIZ O MÁRIO)
INSISTENTEMENTE NOS INSULTAM COM A SUA PRESENÇA SEMPRE DESAGRADÁVEL,NO TELEVISOR DE CASA.

É TEMPO DE DIZER BASTA A ESTA GENTE.

UM ABRAÇO
MANUEL MAIA

Carvalho disse...

O Geraldes perdeu a vida naquele ano de todas as desgraças... de 1973.Alguma coisa TEM que ser feita, para além das palavras. Proponho que seja alguém,do Batalhão de Farim, a dar o primeiro passo.
1º Contactar, em Algoso-Vimioso, a família do Geraldes e averiguar do seu interesse na transladação do seu familiar.
2º Caso manifestem essa vontade, há que, através da Liga dos Combatentes, proceder ao processo de transladação.Esta operação tem custos e não querendo o governo da nação assumi-los, seremos nós todos a tratar da angariação do dinheiro.Talvez abrindo uma conta bancária.

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caros camaradas

Estou com o Carvalho, se o Governo não assumir as suas responsabilidades então nós os ex-combatentes de forma solidária vamos angariar os fundos necessários para transladar o nosso camarada.

Contem comigo.


Um abraço

Mário Pinto

Anónimo disse...

Caro Camarada Manuel Marinho. Na tua sentida e justa revolta perante mais uma vergonha,escreves:-ESQUECEM QUE A ESMAGADORA MAIORIA DOS NOSSOS SOLDADOS,CHEGAVAM ÁS FRENTES ONDE ERAM COLOCADOS,E ACREDITAVAM SINCERAMENTE QUE LUTAVAM POR UMA CAUSA JUSTA,E MUITAS DAS VEZES NAO TINHAM COMANDO Á ALTURA,E DEPOIS DA SUA MISSAO CUMPRIDA NADA PEDIRAM EM TROCA,NEM RESPONSABILIZARAM NINGUÉM. Com genial clareza...dizes TUDO! Um abraco do José Belo.

Anónimo disse...

Camaradas,vamos demonstrar a estes
aos energúmeros com quantos paus se faz uma canoa,Nós estamos velhos
mas temos HONRA,um pouco de Nós por lá ficou,Qualquer Pátria Honra os os Caíram em sua Defesa,melhor do que eles nòs,amamos aquele Povo
Guineu,vivemos agruras da Guerra,
mas amamos aquele Povo sofrido.
Contem conosco,pra trazer de volta
os nossos Camaradas.
José Nunes
Eng.447
Brá,68/70