quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5002: O segredo de... (7): Amílcar Ventura: Ajudei o PAIGC por razões políticas e humanitárias

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 14 - Eu e o carregador de granadas de RPG 7" [ guerrilheiro do PAIGC; foto tirada já depois de 25 de Abril de 1974]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 4 - "Viatura [, Berliet,] minada na emboscada de 7 de Janeiro de 1974"

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 6 - O Furriel Ventura em ambulância capturada ao PAIGC" [, entre Copá e a fronteira, em Março de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do Cap Pára-quedista do BCP 12, António Ramos, já falecido]

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 7 - Ambulância capturada ao PAIGC"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 1 - Vista aérea de Bajocunda" [que ficava a 11 km de Pirada, sede do batalhão].

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 5 - Evacuação do Capitão Ângelo Cruz" [, que accionou uma mina antipessoal, e ficou sem uma perna no Natal de 1973].
Guiné > Zona leste > Pirada > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 8 - Restos de foguetão [122 mm] do PAIGC" [, presume-se que tenha sido no ataque a Pirada, no dia 25 de Abril de 1974]


Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 9 - "Poço com água para beber e cozinhar"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 10 - Crianças amigas [ , em primeiro plano o Mulai Baldé, que mais tarde viria para Portugal]
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 11 - Alunos da escola de Bajocunda"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 15 - Eu e alguns dos meus condutores"
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 12 - Eu e o polícia de Amedalai"
Guiné > Zona leste >
Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 2 - Amedalai ardida no ataque de [18 de] Dezembro de 1973" [Amedalai ficava a sul de Bajocunda]

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 3 - Crianças procurando comida depois do ataque a Amedalai"

Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > "Foto 13 - Encontro das Altas Chefias de Pirada depois do 25 de Abril [de 1974]"

Fotos (e legendas): © Amilcar Ventura (2009). Direitos reservados


1. Texto, enviado em 20 do corrente, peo Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323/73, Bajocunda, 1973/74, natural de (e residente em) Silves, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio último (*)


Camaradas

Apesar de me terem advertido para a eventual polémica a propósito da revelação da entrega de gasóleo ao PAIGC , surpreendeu-me a quantidade e agressividade dos comentários produzidos (**).

Vou tentar clarificar as coisas.

Desde muito novo que a polícia política entrava casa adentro, revistava e levava o meu Pai sob prisão. O meu Pai era comunista, não tinha grande cultura, mas tinha capacidade para identificar as injustiças e a arrogância de actos praticados por indivíduos protegidos, que roubavam aos pobres sem castigo, enquanto os pobres, se roubassem aos patrões uma fruta ou um bocado de peixe seco, eram despedidos sem dó nem piedade.

Também eu, ainda jovem, sofri essa experiência amarga de ser privado do meu Pai. Essas e outras levaram-me a ter um espírito crtico, a escolher com cuidado os amigos, e a conter o riso perante os que desenvergonhadamente zombeteavam dos humildes. A minha infância e juventude foram dificeis.

Por acaso tornei-me membro de uma conhecida organização que actuava contra o regime. Tal como o meu Pai, não era intelectual, agia em função da confiança que me inspirava, e das ideias de justiça e solidariedade que, acreditava, trariam a felicidade aos portugueses.

Na Guiné, mais propriamente em Bajocunda, expressei os meus critérios de justiça e relações entre os povos, de cada vez que se proporcionava. Por isso fui informado da ligação de um mecânico-auxiliar ao PAIGC. Era um óptimo rapaz, competente e de delicado no trato. Nutri uma especial atenção por ele, que tinha sido recomendado pelos camaradas que rendemos.

Um dia tive que lhe adiantar o salário que a Companhia estava relutante em pagar, apesar do compromisso. Também os pequenos que ali cirandavam e nos faziam recados, a quem dava petróleo para ajudar as moranças, tornaram-se elos de uma relação
de afecto com a população.

Vim a saber da existência da ambulância [do PAIGC], que evacuava para um hospital distante doentes e feridos, militares e civis, e por vezes não servia de nada por falta de combustível. Foi por isso que dei o gasóleo quando me pediram. Caprichosamente fui eu quem conduziu a ambulância depois da captura, com escolta do Marcelino da Mata que me valeu quando fomos emboscados.

Naturalmente tive informações ou fui avisado para ter cuidado que o IN andaria na zona,e uma vez, sobre a hora, relativamente a um ataque em Bajocunda, o que me levou a dar volta aos abrigos para alertar. Não tinha informações relativamente a Copá e Canquelifá, porque era outro grupo [do PAIGC]que ali actuava.

Reparem, não estive a ajudar o IN a fazer fornilhos, nem me consta de algum rebentamento por essa via.
A minha Companhia sofreu baixas numa emboscada, mas não tive qualquer conhecimento prévio. Quando dei gasóleo só pus uma condição, através dos dois jovens militares com quem me encontrei, que deixassem livre a estrada entre Bajocunda e Pirada, meio fundamental para reabastecimentos e outras ligações eventuais.

E sobre Bajocunda, o nosso quartel, desde que lá chegámos até o dia vinte cinco de Abril 74, só tivemos um único ataque [ a 18 de Dezembro de 1973].

Não contribui para o fim da guerra, mas para minorar o esforço das NT e para ajudar os aflitos do outro lado. Não sei se eles perceberam alguma coisa [do meu gesto de] solidariedade, e, apesar disso, se usaram o gasóleo para outro fim, coisa que remotamente pensava controlar pelas informações que tinha, pois acreditava que lutavam com honra e dignidade por um ideal.

Declaro ainda que mantinha excelentes relações com os meus camaradas e que seria incapaz de os atraiçoar. Eu vivo de consciência tranquila.

Espero que os camaradas, mais cultos do que eu, continuem a manifestar tolerância por aqueles que têm alguma coisa para contar das suas experiências, mesmo que, aparentemente, não sejam histórias dos manuais de guerra, nem do culto xenófobo ao PAIGC, como decorre das frequentes manifestações de solidariedade dos nossos tertulianos em ajudas ao povo da Guiné, (que, pela independência, imaginava lograr a liberdade e a felicidade), contribuindo para que a Tabanca Grande seja um lugar de sentimento, paz, verdade, e construção.

UM ABRAÇO AMIGO PARA TODOS OS CAMARADAS

Amílcar Ventura

[Revisão / fixação de texto / selecção e edição de fotos / título do poste / bold a cor: L.G.]

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

9 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4308: Tabanca Grande (137): Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74

(...) Alguns factos e datas sobre o 1ª CCAV / BCAV 8323/73

(i) Mobilizada pelo RC 3, embarcou, no dia 22 de Setembro de 1973, no navio Niassa com destino a Bissau;

(ii) Foi colocada em Bajocunda, na zona leste, junto à fronteira, a 11 km de Pirada (sede do BCAV 8323/73, comandado pelo Ten Cor Cav Jorge Eduardo Rdorigues y Tenório Correia Matias);

(iii) Teve dois comandantes: Cap Cav Ângelo César Pires Moreira da Cruz (ferido em combate), e Cap Mil Cav Fernando Júlio Campos Loureiro;

(iv) Em 13 de Dezembro de 1973, o sapador de minas Fernando Almeida morre num rebentamento;

(v) Cinco dias depois, a 18, a tabanca de Amedalai, nas imediações de Bajocunda, a sul, é atacada e destruída pelo PAIGC;

(vi) No dia de Natal, o Cap Cav Ângelo Cruz ficou sem uma perna abaixo do joelho, no rebentamento de uma mina, numa patrulha, entre Bajocunda e Amedalai: ficaram ainda feridos o guia e três soldados;

(vii) No dia 7 de Janeiro de 1974, numa emboscada a uma coluna de viaturas, que ia levar comida a um pelotão da companhia, que estava em Copá, a 21 km de Bajocunda, a oeste, morreram o Sebastião Dias e o José Correia; e duas Berliets foram destruídas;

(viii) Em Março de 1974, Copá é abandonada; numa operação mais a norte, é apreendida uma ambulância, de origem russa, ao PAIGC; a viatura, conduzida pelo Amílcar Ventura, sob protecção de helicanhão, foi trazida para Bajocunda;

(ix) A 22 Agosto de 1974 Bajocunda é entregue ao PAIGC;

(x) Partida para Bissau e regressa a Portugal no dia 9 de Setembro. (...)


26 de Julho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4740: Estórias do Amílcar Ventura (1): O meu eterno Amigo Mulai Baldé...
...) Como eu era mecânico, essa minha lavadeira estava-me sempre a pedir petróleo para as suas lamparinas, que eram a única forma de iluminação naquelas bandas. A minha missão decorria normalmente, até que um dia acabei por descobrir que o comerciante local, que vendia o petróleo aos civis, chamado Silva, explorava a população na sua venda.

Não vou perder o meu, e o vosso rico tempo, a falar deste comerciante ,, natural de Braga, pois teria muita coisa a dizer, até porque segundo sei ele já faleceu. Dizia eu, que dei então comigo a dar petróleo a toda a tabanca ao ponto de, em alguns finais de meses, me ter visto aflito para fazer os mapas das existências em armazém.

Sempre me senti bem com esta minha faceta que, por um lado foi muito bom para mim, pois caí nas boas graças da população, não me faltando nada sem eu pedir, dando-me ovos, galinhas, carne de gazela, de cabrito, etc. Mas o mais valioso, para mim, foi o carinho com que fui tratado por toda a população, e jamais esquecerei os seus generosos e amáveis convites, para ir comer às suas tabancas.

Conforme vim a constatar, eu que era o único branco que frequentava os seus bailes e podia andar, à noite, livre e sossegadamente pela tabanca sem ter qualquer problema, enquanto alguns dos meus camaradas (por actos que desconheço) chegaram a ser apedrejados.

Nm dos meus dias de rotina descobri, surpreendentemente, que um Grande Amigo meu da tabanca era guerrilheiro do PAIGC. Como uma das minhas assumidas qualidades é: “Amigo não traí Amigo”, guardei penosamente este segredo apenas para mim. (...)

Mal eu sonhava, que se ainda hoje estou cá neste mundo é graças a ele, porque antes de um ataque que viemos a sofrer ao quartel, eu fui informado, por intermédio da minha lavadeira e do Mulai, que ele ia acontecer, com muito perigo para nós, pois seria executado muito perto da cerca de arame.

“Amigo não trai Amigo”, pensei eu, muito menos os meus camaradas-de-armas, pelo que meti-me numa Berliet e dei comigo a andar à volta dos nossos abrigos, a avisar o pessoal de que íamos ser atacados. A certo momento, quando complementava essa volta, um guerrilheiro do PAIGC apontou-me um lança-granadas RPG7 e estava prestes a atingir-me com uma das suas mortíferas granadas. A minha sorte foi esse meu Amigo, que viu quem estava dentro da Berliet, e não permitiu que o seu camarada lançasse a terrível granada, cujo disparo esteve eminente, pois vi bem a orientação do tubo e o seu dedo sobre o gatilho da sua arma. (...)


(**) Vd. postes de:

11 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4936: O segredo de... (6): Amílcar Ventura: a bomba de gasóleo do PAIGC em Bajocunda...

11 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4939: Banalidades do Mondego (Vasco da Gama) (IV): A minha guerra foi outra, camarada Amílcar Ventura

14 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4949: (Ex)citações (43): O exorcismo dos nossos fantasmas... (António Matos)

15 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4953: (Ex)citações (45): Resposta ao Mário Fitas: Luís, deixa sair de vez em quando as G3...(Luís Graça)

Vd. também o poste mais recente > 23 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4996: Controvérsias (28): O caso do Amílcar Ventura... Resistência ou colaboracionismo ? (Vitor Junqueira)

Vd. também postes anteriores desta série O Segredo de...

30 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3543: O segredo de ... (1): Mário Dias: Xitole, 1965, o encontro de dois amigos inimigos que não constou do relatório de operações

30 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3544: O segredo de... (2): Santos Oliveira: Encontros imediatos de III grau com o IN

6 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato

11 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

4 de Junho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

21 comentários:

Luís Graça disse...

Excerto do "Correio da Manhã",
22 Fevereiro 2009:

A Minha Guerra - Amílcar José das Neves Ventura, Guiné 1973/1974
"Liderei um encontro com guerrilheiros"


(...) No dia 22 de Setembro de 1973 embarquei no navio Niassa com destino a Bissau.

(..) Quando chegámos, seguimos numas lanchas de transporte de gado com destino à ilha de Bolama, onde fizemos a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, que durou um mês.

Voltámos a Bissau e no dia 31 de Outubro subimos o rio Geba até Xime, seguindo depois em coluna por Bambadinca, Bafatá e Nova Lamego, até Pirada, no Leste, na fronteira com o Senegal. Aqui, rendemos um batalhão que já estava na Guiné há 28 meses. As companhias do meu batalhão foram distribuídas pelos aldeamentos em volta de Pirada e a minha, a primeira, foi para Bajocunda, a 11 km.

O martírio de cinco meses começou no dia 13 de Dezembro, quando ficamos sem o sapador de minas Fernando Almeida, num rebentamento. Passados cinco dias, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) atacou Amedalai, uma tabanca a 5 km de nós. (...).

No Dia de Natal de 1973, o capitão Ângelo Cruz quis fazer uma patrulha. Eu, apesar de muito contrariado, arranjei-lhe as viaturas. No dia 18 de Dezembro, quando os guerrilheiros atacaram Amedalai e Bajocunda, deixaram na retirada minas espalhadas pelo campo. Uma rebentou à passagem de um macaco, outra matou uma vaca. Quando a coluna ia a passar perto, o capitão quis ver o local. Infelizmente, teve azar e pisou uma mina. Ficou sem uma perna abaixo do joelho e com a outra muito maltratada. O guia e três soldados também ficaram feridos.

No dia 7 de Janeiro de 1974, numa emboscada a uma coluna de viaturas, que ia levar comida a um pelotão da minha companhia, que estava em Copá, a 21 km de Bajocunda, morreram o Sebastião Dias e o José Correia, e duas Berliés foram destruídas: uma rebentou uma mina e a outra ardeu.

Em Março entrou em acção a aviação. Copá estava há vários dias debaixo do fogo e os nossos militares quase não dormiam. Pedimos apoio aéreo, mas o avião Fiat que veio em nosso auxílio foi abatido com um míssil terra-ar. Os militares já estavam a ficar malucos e as chefias ordenaram-nos que abandonássemos Copá. (...)

Nessa operação, mais a Norte, limpando a zona de guerrilheiros, seguia o célebre grupo do alferes Marcelino da Mata, comandado pelo capitão pára-quedista ‘Astérix’. Numa emboscada ao PAIGC, conseguiram apanhar aos guerrilheiros uma ambulância russa, utilizada no transporte de feridos. Eu fui contactado pelo meu comandante, o coronel Jorge Mathias, para ir buscar a viatura, pois o grupo do Marcelino não a conseguia pôr a trabalhar.

Disse-me que a ambulância estava na coluna que ia para Copá, só que quando me dirigi, com o soldado mecânico Grou para o helicóptero, o piloto, meu conhecido, disse-me que a viatura estava no Senegal. E era preciso trazê-la a todo o custo, mesmo com perda de vidas humanas, pois seria a primeira apanhada no Ultramar. Com a ajuda de um héli-canhão conseguimos trazer a ambulância até à coluna, mas sempre em alerta máximo, pois sabíamos que as tropas do PAIGC nos seguiam com a intenção de resgatar a viatura.

Tivemos de passar uma noite no mato, junto da coluna. De manhã, partimos em direcção a Bajocunda, com o grupo do Marcelino a fazer protecção à viatura. Ele avisou-me de que íamos ter uma emboscada, o que viria a acontecer. Não se registou qualquer baixa e, com esta operação, conseguiu-se resgatar o pelotão que estava em Copá, sem registo de mortos ou feridos.

Entretanto, veio o 25 de Abril de 1974. Tivemos o primeiro encontro com as tropas do PAIGC da zona passados dois dias. Sinto um grande orgulho por ter liderado esse encontro, onde os guerrilheiros nos contaram como faziam os ataques. Hoje ainda guardo um gorro que troquei por uma lente com o comandante do PAIGC, que já conhecia há muito tempo. No dia 22 Agosto de 1974 entregámos Bajocunda. Depois seguimos para Bissau e no dia 9 de Setembro regressei à minha Pátria. (...)

Anónimo disse...

Amilcar Ventura, apesar de a maioria de nós termos na altura pouca cultura, no teu caso até que já eras politizado, o que te poderias considerar um priveligiado em relação à maioria, pois que a maioria eramos uns ignorantes em política.

Como tal, se alegas razões humanitárias e políticas para ajudar o PAIGC, foi pena que esta gente que tu ajudaste, nunca tenha reconhecido esse teu gesto político e humanitário e tenha retribuido na mesma moeda para com o seu povo.

E se ainda ao fim de tantos anos, ainda não viste que era melhor tentares assassinar o Salazar do que tomar a atitude que tomaste, desculpa, mas não te dou razão.

Houve um grupo de Alemãoes que tentaram assassinar o Hitler, mas não consta que ajudassem os inimigos por "razões politicas e humanitárias".

A estes dou razão!

Antº Rosinha

Anónimo disse...

Pelo que está escrito no comentário do Luís graça, transcrição do "Correio da Manhã, o sr. Amilcar Ventura, parece não ter tido a coragem de dizer que roubava gasóleo ao Exército Portugês para entregar ao PAIGC.
É mau, um homem de coragem como se intitula, devia dize-lo.

Caros camaradas não se trata aqui de cruxificar ninguêm, nem de puxar pelas G3. O problema é grave, a não ser que o AV não esteja mentalmente são.
Pode e deve tem toda a liberdade de contar (não de fazer) o que quizer.
Ponho simplesmente questões de ordem de comportamento militar, pois as questões políticas, (tendo como que todo o acto humano é político) noutro lado mais próprio descutiria.

Após esta introdução, gostaria de por as seguintes questões ao sr. AV:

- O Capitão Angelo Cruz que dirá ou diria ou faria se soubesse deste caso?

- A família do Sebastião Dias e José Correia que diriam se lessem tudo isto.

- O seu amigo Mulai Baldé porque não o convenceu a ficar com os seus amigos?

- As crianças de Amedalai são o efeito daquilo que o sr. praticou!

- Mesmo inimigo o Marcelino da Mata pelos vistos ainda lhe valeu.

-O PAIGC lutava com honra e dignidade de acordo, mas o sr não teve honra nem dignidade perante os seus camaradas.

_ Lanchas de transporte de gado! Sr. Ventura tento na língua, as lanchas da Armada Portuguesa transportavam Homens mais honestos que o sr..

Tolerância Compreenção o sr AV não é ingénuo e para mim dentro da Tabanca Grande é um provocador.

Quem poderei eu hoje responder a quem me ofende na minha dignidade de homem. Terei de retirar o que escrevi sobre "Bandos dentro do arame farpado"? Ou estarei eu tótó? Mentalmente insano?

Será que perante tudo isto é hora de remover a Guiné de mim, e fazer a retirada? É questão em que
forçosamente terei de meditar.

Este sr. está comprovado não foi camarada, porque os traiu.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Amilcar Ventura, apesar de a maioria de nós termos na altura pouca cultura, no teu caso até que já eras politizado, o que te poderias considerar um priveligiado em relação à maioria, pois que a maioria eramos uns ignorantes em política.

Como tal, se alegas razões humanitárias e políticas para ajudar o PAIGC, foi pena que esta gente que tu ajudaste, nunca tenha reconhecido esse teu gesto político e humanitário e tenha retribuido na mesma moeda para com o seu povo.

E se ainda ao fim de tantos anos, ainda não viste que era melhor tentares assassinar o Salazar do que tomar a atitude que tomaste, desculpa, mas não te dou razão.

Houve um grupo de Alemãoes que tentaram assassinar o Hitler, mas não consta que ajudassem os inimigos por "razões politicas e humanitárias".

A estes dou razão!

Antº Rosinha

Carlos Vinhal disse...

Caro António Rosinha
Politizados no tempo da outra senhora? Quem?
Naquele tempo havia a ANP e os outros, e ambos pensavam da mesma maneira: quem não é por nós, está contra nós. Digamos duas ditaduras, uma instalada e outra à espera de oportunidade para se instalar.
Abraço.
Vinhal

Anónimo disse...

Atenção não temos que pensar mal que
o homem deu gasol com augua para avariar carro do turra, prontos.

António Matos disse...

Quando, após a independência dos antigos territórios portugueses ultramarinos, se dinamizou o novo paradigma do até então nosso inimigo, e se apelava a um tratamento que roçava o escandaloso onde se fazia a apologia dum relacionamento como que entre irmãos, confesso que foi como quem me espetava uma faca nas goelas !
Porque me considero uma pessoa de bem, e achei que estava a ser desrespeitado no que de mais intrinsecamente as minhas entranhas morais reflectiam, conscientemente aceitei que seria eu a ter que atravessar o meu deserto e tentar viver o suficiente para interiorizar essa nova realidade.
Naquela altura eu tinha chegado da Guiné há pouco mais de 1 ano e não era nem lógico nem humano que me pedissem para abraçar os inimigos da véspera e passar um pano por tudo quanto lá vivi.
Passaram-se 35 anos e hoje convivo com esse despertar do Homem novo que há em mim ainda que não consiga esquecer !
Mário Fitas, desculpa lá mas se tiveres que "remover a Guiné de ti e fazeres a retirada" ( palavras tuas ), então fá-lo mas com a intenção de voltares moralmente rejuvenescido e com a nobreza de sentimentos que a guerra e os anos seguintes te estão a tirar.
Não me respondas a quente.
Pára !
Não interpeles o Ventura !
Interpela-te a ti mesmo !
Achas que eu não percebo do que falas ?
Achas que já esqueci os meus mortos ?
Peço a Deus que nunca me ponha frente a quem mos matou e deixa-me pensar que, por baixo dessas tuas incendiadas palavras, se esconde um Homem bom capaz de entender as motivações dos outros no auge duma juventude sofrida, com a imagem dum pai sequestrado várias vezes por motivos políticos, ao seu convívio.

Correndo o risco dum discurso que melhor assentaria nas hierarquias católicas, não hesito em lhe dar forma de texto e aguardar as consequências.
António Matos

Amilcar Ventura disse...

Ó Camarada Mário Fitas quando eu digo lanças de transporte de gado digo bem, quando fomos para Bolama e depois de Bissau até ao Xime, as lanças não eram da Armada, mas eram batelões de transporte de gado porque ainda havia merda no chão, tu não és mais verdadeiro que eu.

Anónimo disse...

Caro António Matos!

Posso falar ou não?

Se o sr. AV fala das suas "bravatas" deixa-me dizer também qualquer coisa! Certo!

Simplesmente e conciso!

Atravessei o meu deserto, que está exposto ao mundo em duas "hipóteses de livros" que escrevi.

Despi-me completamente e aí estou exposto para julgamento sem complexos.
Libertei uma mulher que tinha mêdo dos dois lados.
Sei que comprendes porque te considero uma pessoa de bem e tão pouco "Burro" como eu.

O Homem Novo! Onde está?
Razão tem o Alberto Branquinho quando fala sem olhar para o umbigo.
Caro camarada António Matos, peço desculpa, mas não tens o poder nem o conhecimento da minha pessoa. Nem eu to admito de questionar a minha moralidade ou rejuvenescimento!
Os que me conhecem pessoalmente, que comigo convivem e com quem contacto, esses sim te poderão falar e dizer algo de mim.
Julgar-me!
Posso ser por todos julgado. Mas como Aprendiz de Cristão, já aprendi que para além do julgamento dos homens há outro que me interessa mais, o julgamento de Deus.

Não respondo a quente!
Esta questão já é antiga.
Porque não poderei interpelar o sr. Ventura?
Por acaso meu caro António Matos tu já interpelastes as vítimas do AV?
Deverias fazê-lo!
Falemos claro!
Eu já me interpelei há muitos anos, e continuo todos os dias a fazê-lo. Por isso embora não sendo dono da verdade, tenho o direito de questionar. Ou é contra a Constituição?
Percebo perfeitamente do que tu falas. Só não percebo a insinuação e essa deverias explicar, a vir eu ser "moralmente rejuvesnecido".
Recolho a G3, mas também te digo:
Estás completamente "ultrapassado", se me julgas um "Velho" a necessitar de reciclagem.
Para teu conhecimento, foi meu pai comunista com quem tudo aprendi, pois ele matou a fome a muitos que fugiam de serem fuzilados na praça de touros de Badajoz. São coisas que não conheces e estás muito longe de as conhecer.
Para teu conhecimento e sem complexos digo-o aqui! Também andei por esses caminhos. Reciclei-me porque vi no Vaticano II e na
Teologia da Libertação uma forma de viver na paz que vivo.
Desculpa António não consigo ficar calado perante Ladrões e Traidores.
E isto é que é a verdade! Porque outros caminhos teriam outro valor.
Que Fazer? Como dizia o Vladimir (Lenine)?
Finalizando:
É impossível transformar o concreto em abstrato!

Mário Fitas

António Matos disse...

Caro Mário Fitas, obrigado pela tua réplica mas considero que, a partir deste momento, a discussão que possamos ter não é do interesse da Tabanca, é nosso.
Se assim o entenderes, e para uma resposta muito rápida, dá-me o teu email e terei muito gosto em participar numa conversa informal na tentativa de esclarecer um ou outro ponto a que deste uma interpretação menos correcta.
Até já e um abraço,
António Matos

Anónimo disse...

Caro António Matos,

O meu endereço está sempre na tertulia, Mas aí vai:

António eu acho que se interpretei algo errado, deve ser dado conhecimento na Tabanca para todos ficarem com conhecimento.
Mas isso é contigo.


Mário Fitas

Anónimo disse...

António, tens de ver na tertúlia o meu mail, pois aqui não passa. Tentei enviar e não consegui.
Desculpa o mau geito.

Mário Fitas

Antonio Graça de Abreu disse...

Afinal o gasóleo era para a ambulância do PAIGC... Mas os senhores do Senegal e da Guiné-Conacry não tinham gasóleo para abastecer a ambulância que para lá levava os feridos IN?
Então como é, as NT foram ou não foram derrotadas militarmente pelo PAIGC, em 73-74?...
Pois, mas junto à fronteira, ainda precisavam do nosso gasóleo...
A estória continua a parecer-me mal contada.
Acredito na boa vontade política do Amílcar Ventura, mas por vias tortas não se escreve direito.
Em tempo de guerra, com os nossas camaradas de armas a lutar e a morrer, não se dá força ao simpático inimigo.
Ou será que o Amilcar tinha mais simpatia pelo PAIGC do que pelos seus camaradas?
Um abraço,
António Graça de Abreu

António Matos disse...

Caro Mário,
Cá estou, como prometido, no que eu considero serem esclarecimentos que te devo.
Permite-me que, no que ao caso em apreciação diz respeito, te diga :
Não conheço o Amílcar Ventura ;
Tão pouco te conheço a ti ;
Nunca tomei o Amílcar como um provocador no contexto do blog ;
Como pessoa de bem que me considero, e embora contra o psiquiatricamente estabelecido, as pessoas são boas e bem intencionadas só me desiludindo após as asneiras. Não sou ingénuo, porém !

Quando falei que decidi atravessar o meu deserto fi-lo no sentido de cortar o cordão umbilical com a temática "Guiné" e a minha vivência com aquela realidade.
Foi um processo individual, não o partilhei com ninguém ! Foi a minha catarse !
Tu, dizes, escreveste 2 livros, muito bem, mas ( sem os ler, nota ) considero mais um exercício de exorcismo do que a transposição deste deserto literário.

O Homem novo que referi SOU EU ! Não procures mais !
Hoje sou capaz de entender a necessidade de não me travar de razões com um eventual guerrilheiro que tenha confrontado lá naquelas matas. Sou capaz de compreender as suas motivações da altura não esquecendo, contudo, que cada um de nós esteve de um dos lados da barricada com credos diferentes, com culturas diferentes, com interesses diferentes, etc., etc., etc..

Talvez que o maior esclarecimento que te deva seja ao que tu afirmas não admitir que eu questione a tua moralidade ou rejuvenescimento.
Meu caro, percebo que tenhas feito uma leitura apressada que te levou a desconsiderares-me pois não tens o direito de concluir abusivamente que eu estaria a julgar-te.
Nada de mais incorrecto nesse teu juízo.
Limitei-me a dizer que, se fizeres a retirada da Guiné do teu consciente ( a ideia foi tua ), o faças numa tentativa de purga intelectual / moral / ética, enfim, e que mais tarde voltes rejuvenescido ( preferes outra palavra ? "liberto", serve ? ).
Não me parece ofensivo, aliás acabei de te dizer que fiz o mesmo no meu deserto sem areia...

As tuas ligações ao comunismo são idênticas às que muitos de nós também tiveram e nem por isso nos dão maior pertença da verdade !
A minha questão nada tem a ver com práticas religiosas, políticas ou outras ! Tem a ver com a minha consciência e com a maneira como vejo o mundo.

Não concordas com essa filosofia de vida ? Estás no teu direito mas não faças juízos de valor de mim tal como eu não faço de ti !

Eu tinha sugerido no blog que esta troca de correspondência fosse salvaguardada da curiosidade voyeurista da tabanca mas chamas-me a atenção de publicar para que conste.
Se assim o entendes, não faço questão, mas não alimentarei uma novela neste espaço.

Volto a agradecer-te as tuas opiniões e a deixar-te um abraço.
António Matos

Anónimo disse...

Será que António Graça de Abreu não tem hipóteses de falar com os seus camaradas Joaquim Vicente Silva (dono do talho) e António Rodrigues para tentar tirar tudo isto a limpo? O camarada António Rodrigues diz no seu livro, por exemplo, que a ambulância estava carregada de minas.
É só uma sugestão.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caro António,

Obrigado pela tua explicação.

Se fui eu que interpretei mal o teu comentário só há uma solução, que aqui assumo:

Se errei, peço que me desculpes. É meu dever, mais não poderei fazer.

Quanto ao endereço, não consegui chegar ao teu nem enviar o meu através do comentário.
Mas o meu consta da tertúlia, se quizeres comunicar, sempre ao dispor.

Um abraço,

Mário Fitas

amilcar Ventura Furriel Mil da 1ª Comp. BAT. CAV. 8323 disse...

Amigo e Camarada de Guiné Carlos Cordeiro, sobre a ambulância queria te dizer duas palavras, nenhum dos dois meus Camaradas que fá-las assistiram há captura da ambulância, falam por ouvir dizer, mas podes saber como foi o Marcelino da Mata encontra-se em Portugal perto de Lisboa é só saberes onde ele está e pergunta-lhe, isto porque o Capitão Pára-quedista do BCP 12 António Ramos(ASTÉRIX) infelizmente já faleceu, ou então tenta saber a morada do meu Mecânico de nome GROU que ele também te pode contar como fomos ao Senegal ajudar a trazer a ambulância para Bajocunda e o que se encontrava dentro dela quando lá chegamos, só estavam livros escolares, como já afirmei.

MANUEL MAIA disse...

CAMARADAS,
OU FECHAMOS AQUI A PORTA DA CONTROVÉRSIA,OU NÃO DEMORA MUITO VOLTAMOS A FALAR NOS DESERTORES COMO ALEGRE QUE TÊM UM ESTATUTO BEM DIFERENTE DO DO AMILCAR,OU NOS REFRACTÁRIOS COMO PACHECO PEREIRA( MINISTERIÁVEL...)OU AINDA NUNS QUANTOS A ESTE NÍVEL DE CANDIDATURAS...
UM ABRAÇO

MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Só um esclarecimento: não sou ex-combatente da Guiné, pois a minha comissão no Ultramar foi noutro TO. Entrei no blogue por circunstâncias especiais, que não vêm ao caso. Os meus raros comentários procuram ser sempre pela positiva. Reconheço, porém, que não devia ter entrado nesta "onda", ainda que só com uma sugestão.
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caros Camaradas! Nao serao mais importantes"AS SEMENTES" que se podem comprar com a verba que o Zé Teixeira juntou-P5001-do que o mau cheiro emanando de raízes podres? Um abraco amigo do José Belo.

antonio disse...

Caros Amigos!
Só depois de ter lido aqui no blog e posteriormente o Amílcar Ventura me ter confirmado por telefone esta história do gasóleo e do amigo guerrilheiro que vivia em Bajocunda, tive conhecimento da mesma, pois ao longo de todos estes anos nunca ninguém me tinha falado de tal facto e também fiquei deveras surpreendido. Pelo que julgo saber era de facto um segredo que só ele sabia. Sei quem era o mecânico que ele diz que tinha ligações ao PAIGC, mas essa faceta também a desconhecia. Os camaradas que faleceram na emboscada de 7 Janeiro de 74 a caminho de Copá foram o 1º cabo António Aguiar Ribeiro e o soldado Rui Silveira Patrício. Os dois nomes citados pelo Ventura pertenciam à 2ª Companhia do BCav. 8323 aquartelada em Boruntuma, esses dois camaradas também faleceram mas já depois do 25 de Abril e desconheço em que circunstâncias, naturalmente a fonte de informação a que o Amílcar recorreu está errada. Ó Amílcar nós saímos de Copá a 12 de Fevereiro de 74 e o Avião foi abatido no dia 31 de Janeiro de 1974.Quanto ao conteúdo da ambulância, aquilo que eu escrevi sobre isso era a versão que toda a gente contava na altura, porque de facto eu só a conheço pelas fotografias, uma vez que eu nessa altura me encontrava em Copá
e é das poucas coisas sobre a qual escrevi que de facto não presenciei. Quero aqui também confirmar que, de facto fomos transportados entre Bolama e o Chime em Batelões de Carga e não em Lanchas da Marinha, acredite quem quiser mas essa é a mais pura das verdades.
Um Forte Abraço do António Rodrigues.