sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4874: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (20): Adeus Binar, até sempre

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 21 de Agosto de 2009, com mais um episódio dea série Viagem à volta das minhas memórias:

Amigo Vinhal, um grande abraço.

Continuando na “Viagem à volta das minhas memórias”, Adeus Binar… até sempre fecha mais uma etapa da minha passagem pela Guiné e vai abrir uma nova, de certo modo diferente, noutros contextos e noutras condições.

Um abraço para todos os que têm a pachorra de me irem lendo.
Luís Faria


Adeus Binar... até sempre!

As primeiras molhas começavam a desabar, de volta em vez verdadeiros dilúvios que davam para tomar banho ensaboado e desensaboar, como se estivéssemos num chuveiro de forte jacto de água da civilização!!

Os ponchos saíram dos sacos e viram a luz do dia. O ribombar dos trovões a par com os riscos aleatórios dos relampejos, traduzia-se num espectáculo quase único e de rara beleza, especialmente na noite, criando a par um outro, este mais fantasmagórico, o da dança do arvoredo como se de figuras de Dante se tratasse !

Estávamos em Maio de 1971 e as minhas primeiras férias na Metrópole já à vista.

Aí pelos vintes, a “FORÇA” a dois GCOMB (1.º e 2.º), começa a arrumar as trouxas e a despedir-se das instalações do antigo sanatório da Doença do Sono - onde ficou aquartelada cerca de dois meses - e daquela boa gente de Binar que connosco foi convivendo sem quaisquer problemas, durante esse tempo.

Para trás iam ficar os jogos futebolísticos, os reordenamentos e seus (do 1.º GCOMB) engulhos, os jogos da treta improvisados, as tardes de sorna, o primata equilibrista, os belos manjares na Tabanca, o bordel ao ar livre, o tenor canino, os voluntários da noite e as jogatinas de Póker… enfim !!

Vão ficar para trás os dias de relativa calma operacional não interventiva que a 1.ª REP do CTIG nos tinham ofertado, talvez como paga das muitas Operações desenvolvidas pela Companhia - creio terem sido dezanove no curto espaço de tempo – que originaram mais de uma dúzia de confrontos directos com as forças inimigas, - alguns dos quais por mim já referenciados em “Viagem à volta das minhas memórias” – que por sua vez nos causaram nas matas um morto e vários feridos, infelizmente.

Éramos uma Companhia de Intervenção e como tal, ao que parecia íamos lá para Teixeira Pinto, fazer protecção aos trabalhos na estrada Teixeira Pinto – Cacheu, onde já se encontrava o nosso 4.º GCOMB desde Janeiro. O 3.º GCOMB continuaria em Bissum.

Se assim fosse, o que me custava a acreditar, tudo bem, não devia haver problemas ou perigos de maior, comparando com o que já tínhamos passado em Ponta Matar e Choquemone, onde pelo menos para já, não voltaríamos a meter as botas, felizmente.

Assim, na hora aprazada, a coluna arranca a 25 de Maio de 1971, pelo meio dos olhares e acenares de adeus e algazarra do Pessoal, entrando preparados e bem atentos na estrada/picada em direcção a Bula , não fosse as gentes amigas do Choquemone nos querer proporcionar uma festa surpresa de despedida menos simpática !?


A viagem continua em direcção ao novo destino

O início das minhas férias está a uma quinzena. A contagem é regressiva e imagens do futuro próximo no Puto pintalgam-me os pensamentos.

Para trás fica Bula e o desvio para João Landim e enquanto as viaturas aceleram pela estrada alcatroada em andamento normal e com distâncias, os olhos atentos a qualquer eventualidade, vão-se também passeando por paisagens que começam a ser desconhecidas.

Có, à nossa esquerda fica para trás, assim como umas bocas e nova algazarra ao avistamento de bajudas ou militarada. A viagem prossegue com boa disposição, e ao que julgo recordar, apesar de já estarmos na época das chuvas nem um pingo caiu sobre nós!

Chegada ao Pelundo, a coluna pára, não recordo porque e o pessoal desentorpece as pernas, talvez a mãos com umas bazucas e uns dedos de conversa com o Pessoal lá aquartelado, recomeçando pouco depois a viagem.

Na minha cabeça para além de pensar como seria Teixeira Pinto e o que nos esperava por lá, perfilavam-se dois pensamentos: as férias, daí a quinze dias e o Cap. Mamede a dar-me o patacão que me devia das jogatanas de Póker, e que me pagaria a passagem de avião… ida e volta !!!

Porreiro… a vida era bela!!?!!

Teixeira Pinto está à vista… porra esta merda parece uma cidade… tem avenida e tudo.!!!? Isto é o quartel…? Espectáculo… fo…!!


Luís Faria 1971


Entrados no novo quartel, o pessoal salta das viaturas.
Teixeira Pinto ia passar a ser parte do nosso futuro, não sabia por quanto tempo.

Luís Faria
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4844: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (19): Dias em Binar - 4

6 comentários:

Jorge Fontinha disse...

Finalmente chegaste a Teixeira Pinto.
O espectáculo, viria a seguir!
Cá te espero!

Aquele abração.

JORGE FONTINHA

Hélder Valério disse...

Bem.... O Jorge Fontinha parece prenunciar qualquer coisa menos agradável... mas tem fé Luís, há um velho ditado popular que diz que "hora a hora Deus melhora".
Continua com as tuas histórias pois através delas vamos apreciando um percurso de vida.
O que acho curioso é essa data, 25 de Maio de 1971, exactamente quando comecei a trabalhar na "escuta", depois de ter vindo de Piche a 23 (se bem que não me consiga recordar dessa viagem).
Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Olá amigo Luís Faria,
Como o Jorge Fontinha disse "o espectáculo viria a seguir". Para ti!
Não te esqueças que a CCaç 3327 lá estava toda no "palco" a aplaudir, de pé, a tua chegada.
Os actores Fontinha e Chaves já andavam por lá. Tenho a certeza que o palco seria outro sem eles.
Na encenação diária havia, sempre, alguns segundos para dois dedos de conversa quando, manhã cedo, eles passavam no nosso acampamento.
Bons tempos pelas amizades que então se criaram.
Um abraço,
José Câmara

MANUEL MAIA disse...

CARO LUÍS FARIA,

REPAREI QUE ESCREVESTE BISSUM COMO LOCAL DE PERMANÊNCIA DO VOSSO 3º GRUPO...

TINHAS ALGUM COLEGA FURRIEL MUITO BAIXINHO,CHAMADO CHAVES?

PASSEI ALI UNS SEIS A SETE MESES ANTES DE RUMAR AO CANTANHEZ.

CREIO QUE ERA ESSE O NOME DO FURRIEL QUE FUI RENDER

UM ABRAÇO
MANUEL MAIA

Anónimo disse...

Manuel Maia

Os Furs.que estiveram em Bissum,foram o Almeida e o Ferreira.O Alf .era o Gomes-Indiano, creio que de Goa.
Estiveram lá com o 3º Grupo desde principios de Março até inicio de Novembro de 71

Luis Faria

MANUEL MAIA disse...

CARO LUIS,

PELO QUE ME DIZES,NÃO FOI A TUA COMPANHIA QUE FUI RENDER JÁ QUE O VOSSO GRUPO SAIU EM 71 E EU SÓ LÁ~CHEGUEI EM 72.
DE QUALQUER FORMA ,CONSTATA-SE UMA ALTERAÇÃO AO NÍVEL DA IMPORTÂNCIA DO LOCAL OU DO INCREMENTO DA INSTABILIDADE NA ZONA.
DE UM SIMPLES GRUPO DE COMBATE EM 71,PASSOU-SE PARA UMA COMPANHIA EM 72...

UM ABRAÇO
MANUEL MAIA