quarta-feira, 22 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4723: Estórias cabralianas (52): Em 20 de Julho de 1969, também eu poisei na Lua... (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral (*), ex-cmdt do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71, hoje jurista e professor do ensino superior universitário (*)

Caros Amigos,

Fui à Lua, sim senhor!...

Abraços Grandes.

Jorge Cabral

PS - Claro que lá deixei minha bandeira…



2. Estórias cabralianas (52) > Vinte de Julho de 1969, também eu poisei na Lua



Na Guiné, há mês e meio, mas já em Fá, havia nessa tarde muito calor.

O pessoal dormia e toda a gente procurara a aragem possível. Em silêncio, o Quartel repousava…

Eu porém, em tronco nu, saíra, a caminho da fonte mais pequena. Resolvera isolar-me, para escrever, calculem, um poema… Lá chegado, ainda nem escolhera um poiso confortável, quando vejo surgir, não sei de onde, um vulto de mulher, apenas com uns panos, caindo da cintura.

Eu olhei para ela, ela olhou para mim, e corremos os dois, um para o outro. Junto à água na frescura da sombra, sem uma única palavra, um Adão e uma Eva, cumpriram o destino. Nos dias seguintes, procurei-a em vão. Não, não pertencia à Tabanca, nem seria Mandinga. Quarenta anos passados, acredito, ter encontrado um Espírito da Floresta.

Aconteceu a Vinte de Julho de 1969.

Sim, nesse dia, também eu poisei na Lua. (**)

Jorge Cabral

3. Comentário de L.G.:

Ah! Grande alfero... tão pira e já tão cafrealizado!

É uma história das mil e uma noites, ou melhor dos mil e um dias, de Guiné, quenets e húmidos...E aqui não há presa nem caçador, ou melhor, não se sabe quem foi uma e quem foi outro...

Donde, neste caso, da "ida à lua em Fá", com a tecnologia mais simples e mais velha do mundo, não seria apropriado citar o provérbio (africano): "Tant que les lions n'auront pas leurs propres historiens, les histoires de chasse continueront de glorifier le chasseur"... Traduzido à letra, Enquanto os leões não souberem contar as suas histórias, são as estórias de caça que continuarão a glorificar o caçador"...

Foste à lua em Julho, em 20 de Julho de 1969... Mas, como diz o nosso povo, "Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro". Também não sei qual o melhor mês para ir à lua, poisar na lua, estar na lua. Eu, por mim, acho que (quase) todos as horas, dias, semanas, meses, anos, são bons... Mas há quem tenha as suas reservas e superstições:

"Lua de Agosto dá no rosto".
"Lua nova setembrina, sete meses determina".
"Lua de Outubro sete luas cobre, e se chove, nove"...

E há até quem vá mais longe sobre os horários:

"Lua deitada, marinheiro em pé";
"Lua nova calada, porta trancada";
"Quando minguar a lua, não comeces coisa alguma"...

Mas é precisa conhecer a dita... Sabemos que "a Lua é calma e tem vulcões no seu seio"... Que "ilumina mas não aquece"... Ou por outras palavras: "Com os raios da lua, não amadurecem as uvas"... E que mas que também " (...) é mentirosa: quando diz que desce, cresce; quando diz que cresce, desce"...Além disso, "não fica cheia num dia"...

Convenhamos que o teu feito, grande alfero piriquito caferalizado, é digno de ficar registado nos anais do nosso blogue... Dizem os africanos, na sua sabedoria milenar (ou não fora África a mãe de nós todos...) que "a Lua é coisa pouca, mas sem ela o mundo estaria incompleto"... É como as tuas pequenas estórias cabralianas: sem elas o nosso blogue seria mais pobre, quiçá mais triste... Um Alfa Bravo, alfero.
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Estórias cabralianas > 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4651. Estórias cabralianas (51): Alfero esfregador entre as balantas (Jorge Cabral)

(**) Vd. poste de 20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4713: Efemérides (17): 20 de Julho de 1969... O dia em que o primeiro homem pisou a Lua (Rui Felício, CCAÇ 2405, Samba Cumbera)

5 comentários:

Anónimo disse...

Só é possivel ler uma estória destas vinda do do Jorge Cabral.

Um abraço amigo do,
CMSantos
Cart 2339 - Fá e Mansambo
1968/ 1969

Unknown disse...

Mas há dois ditados ainda, que ninguem conhece:
Lua cheia, bate estradas para casa.
Lua Nova. Fur.Teixeira fodido.
Como a Lua influenciava a escrita e o caminho que se pisava de noite às apalpadelas.

MANUEL MAIA disse...

CARO JORGE,



NÃO RESTAM DÚVIDAS NENHUMAS...
NASCESTE VIRADO PARA O LADO BOM DA LUA...

A JULGAR PELOS DOIS HEMISFÉRIOS MAIS BRILHANTES- À TONA DA ÁGUA-
COM A PARTE MAIS BRILHANTE EM QUARTO CRESCENTE...

PERANTE TAIS QUARTOS CRESCENTES,
QUALQUER ASTRO SEM VIDA RENASCERIA,
E MUITOS BIG BANG OCORRERIAM EM QUALQUER SISTEMA SOLAR...

VIVA A VIDA!

OBRIGADO JORGE POR MAIS ESTA "EVOCAÇÃO BÉLICA" QUE NOS FEZ SUPORTAR CALOR,HUMIDADE,FALTA DE INSTALAÇÕES,FOME,SEDE,
PICADELAS DE MOSQUITO,TIROS,MEDOS,
"CHATICES" COM SUPERIORES HIERÁRQUICOS,PROBLEMAS DE TODO O TIPO...
ESTAS PAISAGENS FORAM,A MEU VER,O SUPORTE DE TANTA ADVERSIDADE. ASSIM,DEIXO PARA OS ESPECIALISTAS CLÍNICOS A EXPLICAÇÃO TÉCNICA PARA O FACTO DE APENAS UMA REDUZIDA PERCENTAGEM DE TANTOS QUE LÁ PASSARAM, TER FICADO "APANHADO PELO CLIMA"...

Anónimo disse...

Oh Jorge

V.L.F.(vá lá f...)!!!
E eu a pensar que tinham sido os américas ,os primeiros a pôr lá os pés!?

Afinal...,já por lá andavas tu,um Portuga do caraças com um geito quilhado para estórias,no mar da tranquilidade, à procura do local certo para espetares o pau da bandeira!

Se foi no "mar da tranquilidade" ou no "espírito da floresta..."tu é que sabes... tu é que por lá andaste !

Um abraço e parabens
Luis Faria

António Matos disse...

Grande Jorge, parabéns pela capacidade que tens de nos transportares para o mundo do faz-de-conta à pala de tão apetecíveis mulheres de nádega luzidia a reflectir os flashes quiçá disparados pelos astraunautas que lá de cima também se embeveciam, de periscópio em punho, a admirar estas poses de postal ilustrado ...
Armstrong, esse espetou mesmo o pau da bandeira naquela crosta embora também tivéssemos ficado incrédulos com o facto dessa bandeira ter ficado a esvoaçar num local onde, dizem, não há ar para gáudio dos que duvidam que "aquilo" era o nosso satélite ...
Meu caro, dou-te a deixa para nos encantares com mais uma história cabraliana imaginando, por exemplo, que o Neil era uma gaja e que o chão da lua era demasiado duro e o pau não espetava nem por nada ....
Depois, os outros ocupantes da nave, cansados de esperar pelo Neil, arrancaram e deixaram-no lá ...
Como nos filmes, apareceu uma ninfa lunar que "deu música celestial" ao viajante e este, adormeceu no seu colo e quando acordou começaram a brincar a ver quem saltava mais alto até que se fizeram passar por Adão e Eva e ... lá vai alho ...
Um abração,
António Matos