segunda-feira, 20 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4708: Blogoterapia (118): CCAÇ 2317 - Sofrer e morrer em Gandembel (Manuel Tavares Oliveira)

1. Manuel Tavares de Oliveira (*), ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, deixou este comentário no Poste "Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (**):

Sim, Alferes Reis, foi um sofrimento desde o momento em que saímos de Guileje para Gandembel, antes de lá chegarmos, mais ou menos a um quilómetro, tivemos a morte num fornilho do nosso Alferes Leitão e, a partir daí , iniciámos o que viria a ser um constante confronto, com curtos intervalos.

Um que me lembro e não posso tirar do meu pensamento, foi aquele que o inimigo conseguiu encostar à rede uma bateria de canhões e disparou sem interrupção. Eu, que estava entregue ao morteiro 120, não pude de forma alguma fazer mais que o primeiro disparo e, este, fi-lo porque o morteiro estava sempre com uma munição.

Também me lembro que foi nesse dia que o Fur Ferreira foi ferido pelo soldado básico, que não conseguiu segurar a G3, caindo para trás com o dedo no gatilho.

Alferes Reis, não é fácil esquecer a forma como o Fur Alves ficou sem as pernas, nessa missão de abastecimento de água em que eu também estava presente.

Aqui mais uma vez não consigo esquecer-me dos nossos sofrimentos numa guerra estúpida.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4647: Estórias avulsas (41): Fotos de Gandembel e Ponte Balana (Manuel Oliveira)
e
11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4669: Tabanca Grande (161): Manuel Tavares Oliveira, um sobrevivente de Gandembel / Balana, ex-1º Cabo da CCAÇ 2317 (1968/1969)

(**) Vd. poste 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Vd. último poste da série de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)

1 comentário:

Juvenal Amado disse...

O Manuel resume em poucas palavras como o conflito foi encarado por muitos combatentes.

"aqui mais não consigo esquecer-me dos nossos sofrimentos, numa guerra estúpida"

Aproveito para juntar o comentário feito pelo João Bonifácio feito noutro poste:
"Cada um escolhe os melhores dias da sua vida, segundo os seus ideais e sonhos"

Embora me tenha ficado agarrado à pele aquela terra, para mim também não foram nem de perto nem de longe, os meus dias preferidos.

Um abraço
Juvenal Amado