quinta-feira, 25 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4580: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (3): A chegada dos primeiros homens brancos a Cambajú em 1965: terror e fascínio




1. O Cherno Baldé nasceu na antiga província portuguesa da Guiné, em Fajonquito, na zona leste, junto à fronteira com o Senegal, há cerca de 50 anos, numa sociedade sem escrita, sendo educado na cultura do seu povo, um povo de pastores, fulas, islamizados, tendo como vizinhos, pouco amistosos, os mandingas...

Aos cinco/seis anos, em 1965, viu pela primeira vez homens brancos, armados e equipados para a guerra, que se instalaram em Cambajú onde o pai era empregado de uma casa comercial... A primeira visão foi de terror... Mas a irrestível curiosidade infantil veio ao de cima: a descobertas das diferenças, dos cheiros dos corpos, dos comportamentos sociais...

Hoje ele pertence ao mesmo mundo desses homens brancos, aprendeu a sua língua, o português, formou-se na antiga União Soviética como engenheiro, faz uma pós-graduação em Lisboa na área da gestão. No seu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, em Bissau onde exerce as funções de director do gabinete de estudos e planeamento, há dossiês com palavrões como Segurança, Ambiente, Gestão de Estaleiros, Auditoria, Análise de Projectos, Gestão de Contratos, Formação de Formadores, Fiscalização de Obras de Conservação de Estradas, etc., que eram completamente inteligíveis para ele em 1965... Com a chegada dos homens brancos, passou o ser Chico, Jubi, Chico...

O texto que a seguir se publica (o nº 3 das suas crónicas, em que ele descreve a maneira como o Chico viu e viveu a chegada dos primeiros homens brancos à sua aldeia, é absolutamete fantástica, é uma peça de antologia etnográfica, de descoberta do outro, o estrangeiro, que provoca terror e fascínio... Nunca tinha lido nada parecido, da autoria de um guineense, sobre nós, homens brancos... Deliciado, já li o texto três ou quatro vezes seguidas...

Obrigado, Chico, obrigado Cherno, obrigado meu amigo e irmãoinho... És um caso sério de talento literário. Os meus, os nossos parabéns. A nossa Tabanca Grande fica mais rica, contigo. Faz uma boa viagem de regresso a a casa. Obrigado, djarama, kanibambo... LG

PS - Não te esqueças, que combinámos tratar-nos por tu... Era assim que os romanos se tratavam entre si. É assim que se tratam os camaradas e, por tabela, os amigos da Guiné. Foi distracção tua, já corrigi. Aqui somos todos primeiros entre iguais [em latim, primi inter pares], além de pertencermos todos à única raça humana que eu conheço (e que os zoólogos conhecem), a espécie Homo Sapiens Sapiens.

2. Eis uma mensagem do nosso amigo Cherno Baldé, que está em Moçambique, em viagem de serviço (»):

Amigo Luís,

Não tenho palavras para manifestar a minha gratidão pelo trabalho voluntarioso e desinteressado que estás a desenvolver para reunir pedaços de memórias espalhados por este mundo fora. Memórias que certamente nos unem a todos, independentemente de tudo o resto.

No dia em que descobri o Blogue da Tabanca Grande fiquei tão emocionado que, quase, não consegui pregar olho, porque a máquina do tempo dentro da minha cabeça activou-se e começou a vasculhar nos escombros do passado de forma desordenada. Foi como se tivesse reencontrado todos os meus amigos.

Muito obrigado pela confiança, a fidelidade no tratamento do material e também pela sinceridade das tuas palavras cheias de sabedoria. Vou encarar a vossa reacção positiva e o comentário simpático do Manuel Maia como sinais de encorajamento para prosseguir nas crónicas, esperando e rogando a Deus e a todos que as lerem, vejam nelas uma simples tentativa de descrição de factos na justa medida em que a minha memória falível e a minha capacidade intelectual bastante limitada forem capazes de os conservar e transmitir.

As opiniões e pontos de vista nele contidos só me engajam a mim e de forma alguma devem ser conotados com o país, o grupo étnico ou a raça a que pertenço.

Neste preciso momento encontro-me em Maputo (antiga Lourenco Marques), Moçambique, em missão de serviço e estou vislumbrado com a beleza da cidade. Aqui fez-se trabalho pensando no futuro e este já está a chegar.

A ti e a todos os teus colaboradores um grande KANIMAMBO.

Um forte abraço,

Cherno AB - Chico

3. Memórias do Chico, menino e moço (3) > Os homens brancos

por Cherno Baldé (*)

No ano de 1965, altura em que a guerra para a independência se alastrava rapidamente e aterroriza as aldeias daquela área e obrigava a uma concentração maior da população em certos locais com algumas garantias de defesa e protecção militar, Contuboel, Saré-Bacar, Cambajú e Fajonquito constituíam as praças-fortes da área.

Em Cambajú foi estacionado um destacamento de milícias que assegurava a defesa da localidade e que mais tarde foi reforçado com um destacamento de tropas portuguesas. Pela primeira vez na minha vida ainda jovem, via pessoas de uma raça diferente. Foi um choque tremendo.

Quando chegaram, estávamos a jogar no largo da zona comercial que também fazia de paragem para as carroças que traziam mercadorias. Foi o barulho dos motores que nos alertou, como habitualmente, corremos atrás dos veículos, e foi nessa altura é que reparamos no insólito. As pessoas que estavam sentadas em cima dos veículos, todos vestidos com o mesmo tipo de tecido, um chapéu que se estendia de trás para a frente da mesma cor na cabeça e uma arma entre as pernas, completamente imóveis, não eram pessoas normais, como estávamos habituados a ver. Eram brancos, meu Deus do céu, tão branquinhos que se podia ver o sangue vermelho rubro a correr nas veias.

Não foi preciso dizer a ninguém, não houve nenhuma concertação entre nós. A nossa primeira reacção foi fugir, fugir dali com todo os pés. Eu fui directamente ao quarto da minha mãe que nesse momento se encontrava na cozinha, meti-me debaixo da cama, no mesmo sítio em que costumava esconder-me sempre que quisesse estar a salvo dos perseguidores, quando fazia das minhas. Não me lembro quanto tempo estive ali escondido, o certo é que o céu não tinha desabado sobre mim, sinal claro de que afinal não era o fim do mundo. Aliás, era o prenúncio de um novo mundo para mim ao qual, mais tarde, por força da minha educação e formação, viria a pertencer para sempre.

Passado o susto, agora era a curiosidade que tinha ganhado terreno. Não se falava de outra coisa na aldeia e seus arredores, houve mesmo pessoas que regressaram dos seus lugares de trabalho para assistir à vinda das pessoas de cor branca. Em todos, a curiosidade de ver aqueles seres estranhos suplantava o questionamento sobre as razões da sua presença. Queríamos ver e entender cada gesto, cada olhar, cada palavra desses seres de olhos azuis ou mesmo verdes que, entre nós, eram conhecidos só de alguns animais dotados de poderes especiais como os gatos que tinham sete vidas ou os eternos camaleões que tinham a capacidade de adquirir as cores de sua preferência.

Não admira que as pessoas tivessem medo deles, afinal de contas, o que eram eles, diabos ou feiticeiros? De certeza que não eram pessoas normais. Isto, nós iríamos compreender mais tarde. No dia seguinte, o meu amigo e colega, Samba, veio a minha casa para as brincadeiras habituais, falámos do acontecimento de ontem e fiquei a saber que tudo não passara mesmo de um susto injustificado pois, aqueles sujeitos eram soldados portugueses vindos directamente de Portugal, o que queria dizer nossos amigos e aliados.

Segundo Samba, “Eles vinham proteger-nos dos roubos e outras maldades que os terroristas, encabeçados pelos mandingas, nossos vizinhos e preguiçosos natos que, invejando a nossa posição e riquezas, queriam tirar-nos tudo”. “Alguns dos nossos colegas já tinham feito amigos entre os brancos recém-chegados e em troca lhes tinham oferecido latas de conserva de peixe muito saborosas com o azeite a escorrer pelos dedos quando as comiam”, disse-me ele.

Decidimos fazer o mesmo e fomos, sem medo, até o sítio onde estavam alojados. Quando chegamos junto deles, notámos que o acampamento estava cercado de arame farpado por todos os lados excepto num sitio por onde todos entravam e saíam. Estas circunstâncias não agradaram a minha natureza de felino livre e mandrião, arrepiava-me só a ideia de estar fechado num sítio donde não se podia sair livremente, a maior parte deles estava de tronco nu, só tinham no corpo uns calções curtos que quase deixavam ver as nádegas.

Que falta de vergonha, pensei comigo, pessoas adultas com as nádegas de fora. Todos tinham na cabeça aqueles chapéus estranhos que traziam no primeiro dia e que tinham uma ponta redonda pela frente a cobrir o fronte e descaíam para trás em forma de dois rabos curtos. Estavam todos ocupados, isoladamente ou em pequenos grupos, alguns limpando suas armas, outros lavando roupa interior ou colocando tendas de campanha.

Houve duas coisas que saltaram logo a minha vista: Eram todos bastante jovens, fisicamente robustos e bem nutridos, todos apresentando uma pelugem de cor preta e/ou acastanhada no peito.

Era um espectáculo ainda mais incaracterístico do que a primeira vez que os vira, e de mais a mais, havia um cheiro esquisito e forte que, certamente, estaria relacionado com aquela gente estranha. Mais tarde vim a saber que se tratava do cheiro de alho que eles utilizavam abundantemente na sua alimentação. Não pude avançar mais.

Sem prevenir o meu amigo que avançava para dentro da cerca, parecendo alheio a tudo, pensando certamente, no pão e nas conservas que nos esperavam, dei meia volta e pus-me ao largo. Contudo, ninguém pode fugir do seu destino e estava destinado que a nossa geração entraria lá dentro e faria amigos entre esses brancos de origem e modos estranhos e, sobretudo, ficaria para sempre ligada a esta gente de hábitos libertinos, ao gosto inesquecível da sua sopa, da sua batata, do bacalhau e grão-de-bico e a sua civilização através da aculturação que viria a sofrer por meio da escola.

Passado o tempo da surpresa e da incompreensão, acomodámo-nos perfeitamente dentro do acampamento. Fazíamos pequenos trabalhos de limpeza e em contrapartida tínhamos direito à sobremesa do amigo. Cada um tinha o seu amigo de quem esperava que lhe trouxesse as sobras do prato igual a um cachorrinho de casa. Eu não tinha conseguido arranjar um amigo de imediato, na verdade, o medo inicial não tinha permitido muita ousadia da minha parte. Felizmente, tinha umas irmãs muito giras que não precisaram se deslocar ao acampamento. Devo dizer que esses jovens soldados portugueses eram muito atrevidos e mal-educados não se coibindo de entrar nos recintos das nossas moranças (casas) para irem atrás de uma rapariga da forma mais descarada que havia, agarrando nos seios e nos traseiros, mesmo à frente dos pais.

Os velhos da aldeia, em vez de os corrigirem daquela falta de educação, riam-se e deixavam-nos levar avante a sua insolência. “Na sua terra, certamente, não sabem o que é a vergonha”, diziam eles, senão como é que se podia entender que um adulto andasse, quase, todo nu em pleno dia, e corresse atrás de rapariguinhas que, ainda por cima, não lhes eram prometidas.

E foi assim que a coberto das minhas irmãs mais velhas que tinham amigos que vinham a nossa casa, tive acesso facilitado ao acampamento e também a possibilidade de me aproximar dos brancos e pouco a pouco habituar-me ao seu cheiro peculiar de alho moído e aceitar a sua presença no meu espírito ainda assustado.

Esse cheiro, foi para mim, o primeiro sinal da diferença entre o campo onde habitavam, em estado puro, a nossa gente, todos falando a mesma língua e os mesmos costumes com o mesmo odor de terra com mistura de calor e bosta de vaca e o ambiente urbano onde viviam pessoas vindas de outras partes e se misturavam cheiros de origens diferentes, como o do alho que veio com os soldados portugueses e o cheiro que resultava da mistura da urina e excrementos de porco que só vim a sentir quando mudamos para a localidade de Fajonquito e que estava relacionado com a presença de porcos domésticos, animal que até aquela data não conhecia.

Fotos: Arquivo

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

24 de Junho de 2009 > Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para o mundo

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

15 comentários:

Santos Oliveira disse...

Cherno Baldé

Cada palavra na tua descrição de agora é Antropologia como nunca havia lido noutro lugar.

A classificação que faço é que o teu texto é soberbo, real, histórico, vivido na primeira pessoa.

Fico sem palavras, mas atrevo-me a pedir-te que continues esta maravilhosa obra de literatura e de história.

Renovo o que já te foi dito: fica no nosso meio, que é o teu meio natural e onde te sentirás sempre em casa.

Bem hajas.

Abraços, do
Santos Oliveira

Anónimo disse...

Fabuloso!

A eloquência deste post do Cherno Baldé, (que é a eloquência de quem viveu a guerra), deixa "água na boca", à espera de muitos mais posts.

Antº Rosinha (Obras Públicas 1991/2/3)

Miguel disse...

Tenho lido embevecido as histórias que o Cherno Baldé nos conta e penso no livro fabuloso que poderia resultar da compilação destas suas memórias.
Fico à esperea de mais!
Miguel Pessoa

Luís Graça disse...

Quer queiramos ou não, a visão que temos/tínhamos da Guiné e das suas gentes, dos seus rios, bolanhas, lalas e florestas, da sua fauna e da sua flora, da sua geografia e da sua história, e, claro, da própria guerra, era necessariamente etnocêntrica, eurocêntrica, lusocêntrica...

O Cherno/Chico pertence/pertenceu a outra cultura, também a sua visão 'etnocêntrica', mas a sua visão dos acontecimentos e dos protagonistas da guerra nos anos 60 é fundamental para completarmos o nosso "puzzle"... Mais: ele consegue ver a "guerra" pelos olhos de uma criança fula, aterrorizada pela chegada daqueles "diabos brancos" cuja amizade saberá conquistar, a pouco e pouco...

Só nos faz bem perceber - agora, ao fim destes anos todos - como é que os nossos amigo fulas, aliados, leais, cúmplices, nos viam, a nós tugas (reparem que ele nunca usa o termo pejorativo, tuga, usado pela Maria Turra): lá andávamos nós, em Camjadu, a tresandar a alho, a cheirar a porco, a mostrar a peitaça peluda, a apalpar as bajudas...

Que maravilha!

E reparem como este homem escreve português!... Como se fora a sua língua materna!

MANUEL MAIA disse...

CARO CHERNO,

UMA VEZ MAIS BRINDASTE A TABANCA COM UM BELO NACO DE PROSA.
QUERIA DIZER-TE QUE OS COMENTÁRIOS QUE PRODUZI NÃO VISAM SER SIMPÁTICOS,OU NÃO,SÃO ISSO SIM E ANTES DE MAIS,O REFLEXO DE SENTIR ESTAR PERANTE UM HOMEM GRANDE,QUE VOCÊS GUINÉUS,TÃO BEM DEFINEM,COMO O GUARDADOR DE SABEDORIA QUE A VIDA LONGA FAZ RETER.

O HOMEM GRANDE É AFINAL UM RECOLECTOR DE SABERES.

PARA ALÉM DESSA VISÃO AFRICANA DE HOMEM GRANDE,ENQUADRAS-TE NUMA POSIÇÃO MAIS ABRANGENTE,MUITO
MAIS UNIVERSALISTA AO INTERIORIZARES A FACETA DE ENORME HUMANISTA.

ESTÁS AÍ,SEM RESSENTIMENTOS,"SEM PEDRAS NO SAPATO",A PERMITIR-NOS DE NOVO OUVIR AS VOZES DOS GUINÉUS
COM QUEM CONVIVEMOS E PARTILHAMOS DOIS ANOS DAS NOSSAS ENTÃO CURTAS
VIDAS,DUMA JUVENTUDE ATRIBULADA QUE "ATREVIDAMENTE" AGARRAVA OS SEIOS E OS TRASEIROS DAS RAPARIGAS,
DAS BAJUDAS,MAU GRADO O CHEIRO A ALHO QUE CURIOSAMENTE JÁ SÉCULOS ATRÁS OS ASIÁTICOS, MORMENTE JAPONESES,TAMBÉM HAVIAM NOTADO.

AS FOTOGRAFIAS QUE ACOMPANHAM O TEU ESCRITO ENQUADRAM-SE PERFEITAMENTE NO SEU TEOR( PARABÉNS A QUEM EDITOU...)

AGORA DIZ-ME: O CORPO TORNEADO DAQUELA DEUSA,QUAL NINFA DO TEJO,NÃO MERECIA SER CANTADO?

JÁ IMAGINASTE O QUE SERIA O CANTO DA ILHA DOS AMORES SE A CAMÕES NÃO FOSSEM PROPORCIONADAS VISÕES "SUMA" ESTAS?

UMA SECA CONCERTEZA!

QUEM NO SEU PERFEITO JUÍZO,FICARIA INDIFERENTE A UMA OBRA DE ARTE DAQUELAS?

NINGUÉM,ESTOU CERTO!

UM GRANDE ABRAÇO E CÁ CONTINUAREI À ESPERA DE MAIS.

MANUEL MAIA

Antonio Graça de Abreu disse...

Desculpem lá meter o bedelho.
Primeiro, saudar o Cherno Baldé pelo seu delicioso retrato de nós todos.
Segundo, as ninfas da ilha dos Amores, do canto 9º. dos Lusíadas eram mulheres chinesas, garanto e assino por baixo.
As "alvas carnes, súbito mostradas", "os fermosos limões ali, cheirando/estão virgínias tetas imitando", os "famintos beijos na floresta.(...) os afagos tão suaves, (...)O que mais passam na manhã e na festa (...) melhor é experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o que não pode experimentá-lo."
Tudo isto tem a ver com mulheres chinesas, com toda a certeza minha, haverá por certo outras certezas.
Camões andou por Macau, que então nascia (1558/1559), trouxe uma chinesa consigo, a "alma minha gentil que te partiste/ tão cedo desta vida descontente", uma Dinamene que morreu afogada na foz do rio Mekong. Sabia muito bem do que falava.
Na Guiné, com bajudas de ébano, ou na ilha dos Amores com chinesas de jade, como bem explica Camões "todos foram de fraca carne humana."
E de onde nos vem este gosto de acasalar, além de possuir as nossas, "partir catota" com as mulheres do mundo?
Portugal nasce de uma necessidade poligâmica nos costumes, do desejo desbragado de nos mesclar-mos com muitos e desvairados povos. Somos filhos, netos, tetranetos de lusitanos, romanos, visigodos, suevos, celtas, judeus, árabes, eu sei lá ,um ror de povos. Também temos genes africanos no sangue. Ao contrário de ingleses, alemães, franceses, etc.,misturámo-nos com toda a facilidade com as mulheres do mundo
Nenhum problema com bajudas de cor de chocolate brilhante, nenhum problema com beldades chinesas de corpo de jade e sexo de seda.
Um abraço,
António Graça de Abreu

António Matos disse...

Cherno, meu caro, já reparaste com certeza que "agarraste" a Tabanca e que as tuas estórias são sorvidas com a sofreguidão dos sequiosos.
Sequiosos de contos como se à lareira do Natal estivéssemos a escutar-te ou, quiçá, recuássemos 40 anos e recordássemos o bafo irrespirável do capim em dias de operações durante as quais, quantas vezes, passávamos por crianças no meio da mata e lhes lançávamos um olhar desconfiado pela inospitável e ingénua presença ...
Não serei a excepção embora me recate para apreciar de cabeça fria as futuras peças com que, acredito, nos brindarás e possa ter ainda, na minha escala de valores, pontuação para te dar.
Neste teu último texto, permite que partilhe da inquietação do Manuel Maia relativamente à verdadeira ninfa das bolanhas que ilustra o post.
Ao invés das camonianas, as suas curvas escorreitas apresentam um feroz antagonismo com os rechunchudos lombos com que aquelas nos são retratadas ao longo da epopeica narrativa ....
Mas enfim, deixarei ao Manuel a incumbência de se lhes referir poeticamente nas suas admiráveis sextilhas enquanto eu lhes cantarei, em ritmo de choro, a saudade de tão deliciosos desinfectantes oftálmicos.
Abraços,
António Matos

manuel maia disse...

FOSSEM BAJUDAS DE ÉBANO OU CHINESAS DE JADE,ERAM DE FACTO "VISÕES CELESTIAIS",VERDADEIRAS MUSAS INSPIRADORAS...


GORDURA FOI SINAL DE FORMUSURA,
MAGREZA HOJE É TIDA POR BELEZA.
TERNURA DA MULHER JÁ BEM MADURA
"BRAVEZA" DE BAJUDA,É CONCERTEZA...


RECORDO COM SAUDADE UM PROFESSOR DE PORTUGUÊS E FRANCÊS,O GRANDE EM ALTURA E SABER,CAMBOA,QUE PODE TER SIDO PROFESSOR DO GRAÇA DE ABREU NO LICEU RODRIGUES DE FREITAS NO PORTO (julgo que estudaste lá)

DIZIA AO REFERIR-SE ÀS NEREIDAS:

DANTES,ERAM NINFAS,AGORA... SÃO P....

mulheres são sempre mulheres e serão sempre,sempre,fontes de inspiração...

António Matos disse...

Manuel Maia, tu que és um verdadeiro poeta e excelente prosador, diz-me lá se é por mero pudor gráfico ou fonético que utilizas o p.... em vez de putas.
Eu sei que TODO O MUNDO vem ler este blog e nele há crianças e senhoras de delicados ouvidos mas será que quando lêem p.... não dizem putas ?
Seja-me permitido o desabafo pois eu sou um desbroncado e quando as digo, digo com as letras todas.
Um grande abraço,
António Matos

José Martins disse...

Sublime!!!

Simplesmente, Sublime!!!!!!

José Martins

António Graça de Abreu disse...

Tive a sorte de ter nos meus 3º.,4º. e 5º ano no Liceu D. Manuel II (hoje Rodrigues de Freitas) como professor de Português o Óscar Lopes, um excepcional professor, um grande senhor.
No meu 6º. e 7º. ano, já em Lisboa, no Colégio de Moderno, o meu professor de Português chamava-se Urbano Tavares Rodrigues, outra pessoa e professor excepcional.
Óscar Lopes, com Eugénio de Andrade, em 1991 e Urbano Tavares Rodrigues, em 1997, fizeram a apresentação dos meus livros Poemas de Li Bai e China de Jade, no Porto e em Lisboa, repectivamente.

Um abraço,
António Graça de Abreu

manuel maia disse...

"Malditas reticências atrevidas"
que dão conotações não proferidas
deixando escriba à rasca,
ante os relatos...
Se as ditas eram púdicas bem puras
mulheres,bajudas belas, ou maduras
que interessa a profissão,
diz lá,ó Matos?


Tal como esta anedota conhecida
dum D.Juan de lábia atrevida
ao ver envolta em peles,mulherão...
Tão bela tem a pele e o agasalho...
Mas isto é p´ra quem pode,
seu paspalho...
Que estranhos são seus efes,
pancadão...

António Matos disse...

Caro Manuel Maia, lamento a tanto não me ajudar o engenho nem a arte pois gostaria de versejar com a deixa dos efes pelos pês ...
Com reticências ou sem elas ...
Aqui o que interessa é que mulherão é sempre mulherão e abençoados olhos que consigam vê-la, admirá-la, senti-la !
A Guiné era pródiga em Mulheres duma harmonia física impressionante ainda que a vida lhes roubasse muita da sua jovialidade enquanto novas.
Lamentavelmente não me ocorrem nomes das intelectuais guineenses onde, com certeza pontuarão outros Mulherões, estou certo.
Foram ontem as eleições naquele país e a esta hora ainda não há resultados solidificados. Esperemos para ver se despontam mulheres que tragam mais bom senso para a política e aquele país comece, finalmente, a ser falado pelos melhores motivos.
Vivam as Mulheres !
Vivam !
António Matos

Anónimo disse...

Aos Comentadores e ao Cherno que os motivou com este seu belo escrito, principescamente ilustrado,os meus parabens.

Assim como muitos outros,é uma amostragem da superior qualidade intelectual , linguística , de conhecimento e de Cultura,que grassa nesta Tabanca e que,julgo, dá tambem o contributo para a sua Grandeza e Estudo.

Luis Faria

Joaquim Mexia Alves disse...

Ao ler este texto penitencio-me de só agora o fazer!

Na tua escrita Cherno, mais do que a leitura e o prazer de o ler, vêm os cheiros, os sentidos, os toques.

Este é um texto que honra esta Tabanca!

Parabéns com um abraço camarigo de admiração