segunda-feira, 22 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4559: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (5): Esse nobre sentimento..., na voz do fadista J. Mexia Alves... (Luís Graça)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O J. Mexia Alves (de pé), o Álvaro Basto (viola) e o David Guimarães (viola) - estes dois, artistas privativos da Tabanca de Matosinhos, a quem agradecemos a borla -ensaiam o momento musical da tarde...

Desta vez falharam outros artistas que podiam ter abrilhantado ainda mais o memorável encontro que foi o deste ano (dizem os participantes...). Refiro-me a Abílio Machado, J. L. Vacas de Carvalho, Jorge Félix, entre outros, artistas de reconhecidos méritos que este ano não puderam comparecer.

A acústica da sala é péssima, o ruído ambiente impróprio para se ouvir o fado mas mesmo assim o fadista (*) vai tudo o que pode para agradar às damas presentes...



Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Joaquim Mexia Alves, cantando o Fado da Guiné (letra do próprio; música do Fado Primavera, de Pedro Rodrigues) . Acompanhamento à viola: Álvaro Basto e David Guimarães, artistas da Tabanca de Matosinhos. A na mesa ao lado, à direita, uma espectadora muito atenta, a bajuda mais nova do nosso convívio, a neta e secretária, de 16 anos, do Valentim Oliveira (Viseu) (**)...

Foto e vídeo (3' 42''): © Luís Graça (2009). Direitos reservados


Fado da Guiné

Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)


Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Bojador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves

(**)Vd. postes anteriores desta série :

21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4558: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (4): Até nem faltou o Lion Brand, o repelente antimosquito... (Luís Graça)

21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4557: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (3): Um dia caloroso, em que fizemos novos amigos (Joaquim e Margarida Peixoto)

21 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4556: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (2): Os meus agradecimentos (José Pedro Neves, CCAÇ 4745, Águias de Binta )

21 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4555: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (1): Muito calor físico e humano... (Luís Graça)

5 comentários:

António Matos disse...

Chegou a altura não dos arrependimentos, tão pouco de frustações mas a altura de dirigir umas palavras a todos aqueles que, pela organização ou pela mera presença, levaram ao sucesso o Encontro Nacional do Nosso Blog, edição 2009.
Só fazem falta os que estão presente, diz-se, e nesse sentido constato que a minha vida, não me permitindo estar fisicamente na Ortigosa, não me possibilitou o contacto directo, cara-a-cara, com os 129 camaradas que não conheço.
Não, não é engano ! Dos 130 presentes, eu conheço o Raul Albino ...
A vida é mesmo assim e um compromisso que me deveria ocupar até à 1 da tarde, de atraso em atraso, libertou-me cerca das 18 horas inviabilizando de todo a minha deslocação ao evento.
Fiquei-me pelo telefonema que consegui com o Mexia Alves, transmitindo-lhe um abraço extensivo a todos os outros.

António Matos

Luís Graça disse...

(...) "Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida." (...)

É verdade, não esquecemos ninguém, os presenete e os ausentes, os vivos e os mortos, os portugueses e os guineenses...

O Joaquim foi um herói: conseguiu, por fim, fazer-se ouvir, nas condições mais surreais em que eu já vi e ouvi cantar o fado...

Julgo que a partir deste verso, o nível do ruído baixou e houve um pouco mais de compostura e recolhimento... E no final estávamos rendidos à letra e à voz desse grande fadista que é o nosso Joaquim:

(...) Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.

Obrigado, Joaquim, foi um momento muito bonito no nosso encontro... Obrigado pela tua entreega, pelo teu esforço, pela tua camaradagem, pela tua cumplicidade... Nenhum profissional faria melhor, bem pelo contrário: faria a sua birra de "prima donna".

E obviamente, obrigado aos nossos músicos, o Álvaro e o David. O meu sonho é ainda poder um dia ouvi-los, aos três, mais uma guitarra (e quiçá uma kora), no Mato Cão, nas margens do Geba!!!

Anónimo disse...

Parabéns aos organizadores.
Parabéns aos músicos e aos cantores.
Obrigado Luís Graça.
Estes convívios, toda esta organização, está muito para além, de todos os ditos, escritos e filmes, sobre a dita guerra 1963/74.
Eu consegui ouvir fado, mesmo com uma sala ruidosa, eu consegui conversar com pessoas que sabia que existiam, mas com quem nunca tinha falado.
Eu realizei duas voltas à sala com o único objectivo de verificar o nível, a intensidade do convívio, bem como o ar de felicidade dos participantes.
Cheguei a emocionar-me.
E depois, além da Guiné, há tantos pontos de contacto... então esse jovem é teu filho?... estiveste nesse casamento?... A Lena foi minha aluna... este Portugal é uma aldeia...
E nós, todos nós, transportamos essa riqueza, que existe sem se ver e que se solta quando menos se espera... nestes convívios.

Um Abraço
Manuel Amaro

Santos Oliveira disse...

Esfumaram-se e desmistificaram-se muitos dos meus mitos.Aqui, foi tudo real.
Encontrei a cumplicidade que vivi nos buracos onde dormi pela Guiné; também dei umas quantas voltas á Sala para testemunhar, a mim mesmo, que era real o que se me apresentava.
Calculo não ter dado uma palavra a cada um (lamento-o) mas as que troquei, foram-me extremamente valiosas e recompensadoras. Encontrei alguém, que como eu, também não tem identidade (militar)e que igualmente tenta sobreviver a essa revolta. Encontrei, encontrei, encontrei...
Emocionei-me, mas vivi este Dia, não como mais um, mas como O DIA.
Parabéns ao Luis, parabéns a toda a Equipa Organizadora... destacando os que assumiram o papel de "Judas" que arrecadavam a "massa".
Bem Hajam!
Santos Oliveira

Luís Graça disse...

Manuel Amaro, Santos Oliveira...É um orgulho ter gente, amiga e camarada, como vocês... Não sei o que se passa, mas há alguma alquimia nisto tudo... O tal nobre sentimento de que fala o Joaquim, que nos aproxima, a todos nós... sem termos que apresentar o "cartão" da igreja, do clube de futebol, do partido, da associação, do sindicato, nem muito menos a certidão de nascimento, o bilhete de identidade, o nº fiscal, o cartão de eleitor, o certificado de robustez física e sanidade mental, o boletim de vacinas, a caderneta militar, o passaporte...

De facto, o mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande. Dizemos isto sem sobranceria, com humor, com humildade, com contentamento...