quinta-feira, 21 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4394: Bibliografia de uma guerra (46): "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura" - Comentário de Fátima Teixeira

1. Mensagem de Fátima Teixeira com data de 19 de Maio de 2009, rencaminhada para o Blogue pelo nosso camarada Graça de Abreu:

Assunto: Diário da Guiné

Caro Alferes Miliciano Abreu,

Comprei o seu livro recentemente depois de ter estado duas semanas na Guiné-Bissau a realizar um acção de formação e ficar profundamente tocada e atraída por aquele país e por aquela gente incrível. Estive lá exactamente na altura dos atentados que vitimaram o chefe das forças armadas e o presidente Nino Vieira.

E quando regressei a Portugal senti uma necessidade muito grande de saber mais sobre a Guiné-Bissau, o que tinha acontecido para estar naquele estado de pobreza extrema, as dificuldades em governar e o qual tinha sido o papel dos portugueses naquela terra, o que se tinha passado entre os portugueses e os guineenses e foi então que o seu livro me veio parar às mãos, no meio de outros também sobre a Guiné que entretanto não comprei e portanto ainda não li. E tenho de dizer-lhe que devorei o seu "Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura". Só descansei quando cheguei à última página e fiquei muito contente por alguém ter escrito sob a forma de um adiário o dia-a-dia das tropas portuguesas na Guiné e o contacto com a população local, ainda por cima de uma forma tão poética, sofrida e sentida.

Por isso, quero agradecer-lhe profundamente a coragem de ter publicado o seu diário e por tudo o que partilhou connosco leitores. Obrigada por me devolver memórias que eu nunca tive (tinha 9 anos no 25 de Abril de 74) e por me mostrar dois países que eu, apesar de tudo (sou portuguessíssima, do Porto também como o senhor :-)) ainda não conhecia: Portugal e a Guiné, e o seu fatal destino comum de muitas décadas que se arrasta até aos nossos dias mas agora com outros contornos.

É importante que a minha geração e as gerações posteriores saibam tudo o que se passou na guerra colonial e tomem consciência da importância do 25 de Abril que veio libertar vários povos e dar nova vida a um país amordaçado de muitos anos. E o seu livro pode contribuir muito para isso!

MUITO OBRIGADA!
Fátima Cabeleira Teixeira
Monte do Cerro
7630 COLOS (Odemira)


2. Comentário de CV:

O nosso camarada António Graça de Abreu, reenviou-nos esta mensagem sem qualquer comentário a acompanhar, talvez por pudor, digo eu.

Esta leitora, influenciada pela sua vivência temporária na Guiné-Bissau, procurou e encontrou algumas respostas às suas dúvidas no Diário da Guiné do António Graça de Abreu.

Mais uma vez fica provado que qualquer narrativa na primeira pessoa tem um efeito nos leitores diferente daquelas croniquetas mais ou menos inventadas, alicerçadas no dizem que se disse algures não sei onde, escritas por um qualquer inexperiente aprendiz de jornalista ou afim.

Dirijo-me agora directamente à nossa amiga Fátima Teixeira, convidando-a a fazer parte do grupo dos amigos da Guiné-Bissau da nossa Tertúlia, que têm um cantinho muito especial e aconchegado da Nossa Tabanca Grande.

Convido-a também a consultar o nosso Blogue, onde poderá ficar a saber imenso sobre nós, ex-combatentes, e da nossa vivência naquela guerra. Hoje contámos as nossas histórias, sem qualquer tipo de intenção que não seja ver aquele povo feliz.
Como pôde constatar pessoalmente, os portugueses são recebidos de braços abertos na actual Guiné-Bissau, pelos guineenses anónimos, que se sentem nossos irmãos, incluindo os antigos combatentes do PAIGC que não se coibem em vir abraçar-nos, independentemente dos convénios entre os governantes (e sejam eles quais forem) dos dois países. Os sentimentos não se escrevem em tratados, sentem-se no coração e vêem-se nos olhos das pessoas.

Esperamos de si a manifestação da sua vontade em fazer parte desta família. Poderá se assim entender, dar-nos alguns testemunhos da sua actividade na Guiné-Bissau e por que não, enviar-nos algumas fotos, devidamente legendadas.

Em nome dos editores do Blogue e da tertúlia em geral, deixo-lhe os nossos cumprimentos, esperando tê-la em breve entre nós.

Carlos Vinhal
Co-editor
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4380: Bibliografia de uma guerra (45): Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Carreira Rei (CART 1661, 1967/68)

2 comentários:

Santos Oliveira disse...

A Alma Portuguesa na sua maior essência e autenticidade!...
As sensibilidades de quem se expressa deste modo, tanto em relação ao Graça Abreu como ao buscar saberes e conhecimentos acerca do Povo da Guiné e ainda sobre o que nós demos, melhor ou pior, numa Guerra que a todos nos marcou.
Ás Fátimas Teixeira (que, felizmente existem muitas, mas andam mais ou menos silenciosas no nosso meio)e ao Graça Abreu, a minha Homenagem.
Santos Oliveira

Juvenal Amado disse...

Vou saudar três acontecimentos .

O primeiro diz respeito à Fátima Teixeira.
Que bem que nos faz já passados aqueles anos, sabermos que não estivemos enganados este tempo todo. O sentimento que nos une ao povo da Guiné, é contagiante e não há vacina para isso.

Em segundo lugar quando o diário de um ex combatente, (no caso Graça Abreu) tem o poder de prender às suas boas e más horas, quem já nasceu já em liberdade e em paz, que ainda por cima compreende o valor, dessas conquistas.

Em terceiro, o reaparecimento do Santos e Oliveira, que para além de o saudar desejo que as suas melhoras sejam efectivas.
Um abraço
Juvenal Amado