quinta-feira, 14 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4342: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (18): Devemos manter o dedo no gatilho (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 7 de Maio de 2009:

Apesar do continuado e calculado silêncio com que temos vindo a ser brindados por sua excelência excelentíssima, continuo a entender que enquanto o pedido formal de desculpas não surgir, deveríamos manter o dedo no gatilho, na posição de fogo, até ao dia em que a criatura tenha um rebate de consciência e entenda que deve descer do alto do pedestal onde ajudamos a colocá-lo, (deve-nos portanto a ascensão ao cocuruto no concernente à hierarquia militar...) largar o etéreo onde paira qual querubim ou serafim e descer a este inferno que todos tivemos e ainda temos, este lugar de luta quotidiana sem a rede ou guarda-chuva protector do estado, e mostrar, uma vez que seja, que é moldado da mesma massa de que são feitos os muitos milhares de anónimos militares, esses sim heróis porque milicianos, heróis porque sofreram na carne todas as vicissitudes, heróis porque deram tudo de si mesmos sem nada pedirem em troca, (contrariamente às excelências excelentíssimas, únicos beneficiados a todos os níveis com a guerra), heróis porque nunca regatearam esforços, heróis porque souberam ser solidários no sofrimento a que as excelências excelentíssimas estavam dispensadas, porque no inferno de Bissau os tiros só ecoavam quando algum wayneano western passava na sala do UDIB... e finalmente heróis porque lutaram até à exaustão, longe dos gabinetes com ar condicionado onde se arquitectava a traição, patrocinada por algumas excelências excelentíssimas, que da tropa só pretendiam ordenados chorudos e penduricalhos p´ra farda sem um minimo de risco...

É em nome desses heróis anónimos que tombaram para sempre no teatro de operações que devemos exigir a reparação deste ultraje, deste insulto, desta ignomínia, deste vomitar nojento de verborreia viscosa e pestilenta como a que sua excelência excelentíssima debitou no programa de Joaquim Furtado.

Escrevamos ao jornalista, enviemos-lhe, em nome dos camaradas mortos, a expressão do nosso mais vivo repúdio manifestado aqui mesmo desde a data que mediou entre a
passagem do filme e o dia de hoje, de amanhã...

Não desistamos, levemos até ao fim esta obrigação para que possam descansar em paz sem se revirarem, enojados, nos tumulos cavados pela grei e pela sem vergonhice dos responsáveis militares da altura.

É tempo de lavarmos a honra daqueles que foram nossos amigos, nossos irmãos naquelas horas de sofrimento.
Saibamos merecer esse encargo!

Depois dum enxovalho e vil ofensa,
um simples ralho, um grito, a voz mais tensa,
dispara a raiva, atiça a indignação.
Protestos contra AB direccionados,
são gestos, já se vê, desesperados,
mas prenhes de justeza e de razão...

Muletas da ascensão nesta carreira,
os bandos são jogados p´ra lixeira,
perdido o seu interess temporário...
De cima da estrelada posição,
sobranceria sobra ao figurão,
na pose de emproado legionário...


Manuel Maia


2. Comentário de CV

O nosso camarada Manuel Maia não desarma.
Com um pouco de atraso, aqui deixamos as suas últimas impressões e convite à indignação colectiva, em nome dos que já não têm voz, porque o acaso da guerra os silenciou.

Um abraço Manuel
__________

(*) Vd. último poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4268: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (17): Até que a voz me doa (Manuel Maia)

5 comentários:

António Matos disse...

Caro Manuel Maia, também acho que não devemos desarmar!
Seria motivo de chacota que em nada nos engrandecia deixarmos também este caso morrer por mero abandono às leis do tempo.
Perante tão frontais e sentidos comentários colocados neste blog àquilo que foi unanimemente considerado uma afronta, um insulto e mesmo uma velhacaria à memória de todos quantos combateram na Guiné, faço côro contigo na preservação do nome bom nome.
Um abraço
António Matos

Anónimo disse...

Manuel Maia
Parabens pelo escrito.

Não desarmaste,ainda bem!
Tenho cá para mim que os poucos que possam ter desarmado,com os teus "dizeres" voltam a carregar a escopeta e a juntar-se ao grosso das tropas,aguardando com a paciência dos "Bandos do Arame" a ocasião oportuna.

"Pela aragem se vê quem vai na carruagem",diz o velho ditado e a ser verdadeiro,não me parece que na carruagem medalhada vá grande gente

Um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Manuel,

Parabéns porque para além de tudo devemos manter a arma em punho e a caneta em função para escreveres como tu sabes, Poeta Português.

Calam-se, mas passam por aqui para verem o nosso alerta.

Ao Joaquim Furtado, gostava só de lhe fazer uma sugestão, uma simples pergunta ao sr. General:

_Sr. Gen. Almeida Bruno! Conheceu por acaso na Guiné o Comandante da C.CAÇ. 763 e do COP3, sr. Coronel
Carlos Alberto da Costa Campos?
Fale-me dele.

Gostaria de ouvir a resposta!

Mário Fitas
Fur. Mil. de Oper. Especiais da C.CAÇ. 763

Anónimo disse...

Camaradas
Os sentimentos que ontem AB desencadeou, hoje são os mesmos. Na sequência do programa, tem dado conta do vazio. Vazio que lhe ocupa a mente, e dá-lhe um belo ar de frivolidade, com a classe dos RayBan. Esta personagem de Garcia Marquez, camuflado a atacar um mapa de posições, tem que ter à mão o algodão e a àgua oxigenada, para a eventualidade de espetar um alfinete. À porta, o ordenança que lhe acorre com o gelo de cada vez que se enerva à procura de outro alfinete em falta. Na parede, em frente, exige a presença assídua de um espelho, através do qual, tanto de perfil, como confrontando-se de olhos nos olhos, decide a sua decisiva importância a caminho do palanque da glória. Sobre a morte dos majores fez a extraordinária revelação: "o nosso general não disse nada."
Eu acho que o génio do Gabriel... talvez não chegue ainda. Ó Manel, vai praticando, que estamos contigo.
Abraços fraternos
José Dinis

Santos Oliveira disse...

Maia
Ando atrasado na leitura do Blogue, porque me tenho escudado no Arame Farpado de Prevenção de mais ataques cardíacos.
Já havia ditado os meus pensamentos de revolta num outro Post, acerca do assunto. Mas, verifica-se (infelizmente) que quando se não tem vergonha na cara, quando se continua a ver de cima (da burra), quando se verifica que nada mudou no Exército do antes e do depois, apenas nos resta aguardar que, por surpresa solene, no dia que antes foi o DIA DA RAÇA, o general se redima num DISCURSO SURPRESA, num qualquer lugar (de preferência sem Veteranos) e nos mostre a sua raça atravessada.
...Ainda nos vamos surpreender!

Abraços
Santos Oliveira