sábado, 11 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4172: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (14): Desprestígio e ofensa a quem foi obrigado a combater (Manuel Reis)

1. Mensagem de Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, 1972/74), com data de 29 de Março de 2009:

As declarações do General Almeida Bruno:

Amigo Luís:

Sobre declarações do senhor Almeida Bruno (General) cumpre-me dizer o seguinte:

Subscrevo, na íntegra, as intervenções do Mário Pinto e do Jorge Canhão (*).
Ninguém, até ao momento, desprestigiou e ofendeu de modo tão contundente e desrespeitoso aqueles que, de uma maneira desinteressada, foram obrigados a combater para manter o regime Colonial.

Sendo o Senhor General o braço direito do Comandante-Chefe devia, no mínimo, assumir a sua quota-parte na formação e orientação dos ditos bandos.
Num ponto estou de acordo com o senhor General: Temos de ser francos e a verdade ter de ser dita: Enquanto o Senhor, em Bissau, se confortava no ar condicionado, os bandos sofriam na alma e no corpo a tortura da guerra. Enquanto o senhor permanecia em Bissau, os bandos, gente anónima, foram aguentando no mato, durante 11 anos e o senhor General via a sua promoção militar e social foi-se tornar-se realidade.
Dada a gravidade das afirmações, que são inqualificáveis, e abrangentes da maioria dos ex-combatentes, lamento que as vozes mais críticas e/ou activas deste blogue permaneçam mudas.

Tinha visto no canal 1 da RTP uma pequena reportagem sobre a miséria que se abateu sobre muitos dos ex-combatentes: Sem abrigo, com a família desfeita e muitos deles a viveram de esmolas alheias. A minha preocupação estava direccionada para estes camaradas, quando de repente sou surpreendido por este bombástico depoimento.
Sobre este assunto nada mais direi, por agora.


A retirada de Madina do Boé

Foi um acidente triste e lamentável, que já conhecia há imensos anos, mas sobre o qual não possuo dados que me permitam fazer uma avaliação. Esta reportagem permitiu-me entender determinadas reacções do Ten Cor Aparício em 1972 (então capitão), nos Açores.

Foi meu Comandante de Companhia nos Açores, no destacamento da Castanheira, durante o período de um mês. Estava-se a formar, nos Açores, um Batalhão com destino a Moçambique, que acabei por não integrar, porque a lei da cunha entrou em acção e tive de regressar à Metrópole, enquanto outro me ia substituir.

A relação entre o Capitão Aparício e os Aspirantes era óptima. Era uma pessoa revoltada pela sua situação, tinha efectuado duas comissões em Moçambique e uma na Guiné e continuava sem ser promovido. Era miliciano e a isso atribuía a discriminação de que era alvo.

Falou-nos da comissão da Guiné, da qual nos contou alguns episódios, mas só agora o relaciono com Madina de Boé e melhor entendo a suas reacções intempestivas. Não é fácil passar por isto incólume.

Um abraço amigo.
Manuel Reis
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4165: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (13): As afirmações de Almeida Bruno em A Guerra (idálio Reis)

1 comentário:

Unknown disse...

Camarada Reis,
Sem querer defender ninguem, acho que aqui no blogue, para além dos diversos postes, houve imensos comentários sobre as palavra do General. Assim como outros as tentaram minimisar. Devidamente combatidas. Mas mesmo assim, todas serão poucas para dizer e sentir o que nos vai na alma.
Um abraço de amizade