terça-feira, 17 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4044: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Santos Oliveira)

1. Mensagem de Santos Oliveira, ex-2.º Srgt Mil Armas Pesadas, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, com data de 14 de Março de 2009:

Camaradas Luís, Briote e Vinhal
Há algum tempo (26FEV) foi-vos remetido um Mail resultante da publicação do P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912(*), o qual despoletou reparos, dúvidas e pedidos de informações e ou esclarecimentos por parte de Camaradas interessados e, simultaneamente, intervenientes.

Os reparos de ilegibilidade são legítimos. As digitalizações do Relatório Final do Pel Ind Mort 912 não podem ser melhoradas pelas condições dos originais, como se pode verificar. Por outro lado há erros de palmatória e omissões incompreensíveis no Documento, que careciam ser esclarecidos e anotados.
Foi um trabalho duro, que resultou dos testemunhos de inúmeros sobre vivos que se prestaram a colaborar, informando e procurando esclarecimentos entre outros intervenientes na Op. Tridente, sobretudos os visados de Armas Pesadas/Morteiros, que se sentem injustiçados pelas omissões e tentativa de desvio de factos reais, dos "Escribas" daquela acção tão marcante.

Agradeço, publicamente, ao Manuel Costa, do Pel Mort 916 e ao Alf Mil Sales dos Santos, do Pel Mort 917, a disponibilidade de buscar nas suas lembranças vividas ou do apurar as mesmas junto de outros Camaradas das suas Unidades. Por este facto, o resultado das anotações que faço ao Relatório Final do meu Pelotão, pode, agora, ser considerado fiel e fiável.

De modo a poder “tornar” perfeitamente “legível”, procedi à elaboração de uma transcrição do RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912, utilizando, à letra, todo o tipo de linguagem utilizado e que no final adendarei.

Assim:

COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DA GUINÉ
PELOTÃO DE MORTEIROS N.º 912


Resumo das actividades do Pelotão no período que decorre de Outubro de 1963 a Outubro de 1965.

Nos últimos dias de Agosto de 1963 chegaram a Abrantes os elementos que haviam sido designados para a formação do Pelotão de Morteiros n.º 912.
Receberam os primeiros ensinamentos militares no RI10 e em seguida foram transferidos para os RI7, onde lhe foram ministrados todos os conhecimentos necessários à sua especialidade. Por terem sido mobilizados pelo RI2, dali partiram para a Guiné a 12 de Outubro de 1963. Em 18 do mesmo mês desembarcaram e nesse próprio dia chegaram a Tite.

O Pelotão de Morteiros 912 ficou pertencendo ao BCaç 599 e rendeu o Pelotão de Morteiros 19 que se encontrava na província há 27 meses.
O aquartelamento em que o Pelotão de Morteiros 912 se instalou situa-se num local privilegiado e as instalações precárias e insuficientes para as necessidades a princípio logo foram aumentadas e melhoraram as condições. Todo o pessoal se acomodou perfeitamente aos costumes que vigoravam e facilmente se compenetrou dos deveres e obrigações que o assistiam.

Em 23 de Outubro iniciou-se a primeira saída para o mato, levou a missão de patrulha a zona de IUSSE e ao mesmo tempo exercer um trabalho que desse à população uma inteira confiança na presença das nossas tropas.

Na noite de 28 de Novembro de 1963 deu-se o primeiro encontro com o IN. O Pel Mort levava a missão específica de montar uma emboscada nocturna a cerca de 2km do quartel. Antes de atingir o local e apenas a umas escassas centenas de metros do quartel, estava o inimigo. Depois de alguns minutos de fogo o inimigo retirou apressadamente. Do nosso lado houve a morte de um furriel e o ferimento de um soldado num pé.

Em 7 de Dezembro de 1963 teve lugar a Operação JOTA na área de Jabadá e Jufá; mais uma vez este Pelotão tomou parte da Operação, usando os seus morteiros para apoio das nossas tropas.

No final de 1963, 27 de Dezembro, realizou-se uma outra Operação em que este Pelotão tomou parte, usando novamente as suas potentes armas, protegendo as tropas avançadas. Facilitou a penetração das nossas tropas e demonstrou ao inimigo um maior poder das nossas forças. Entretanto a acção do Pelotão ia-se desdobrando em saídas de reconhecimento, emboscadas nocturnas, limpeza de estradas e acção psico-social junto das populações das tabancas vizinhas. Com este contacto directo foi-se eliminando a desconfiança que os indígenas possuíam com a presença da tropa. Este estado de temor manifestava-se pela fuga precipitada para o mato logo que se apercebiam da aproximação da tropa.

Várias vezes o Pel Mort pode verificar o estado de insegurança em que vivia a população pois a mesma fugia logo que nos avistava. No entanto, foi fácil trazer toda essa gente para o nosso lado.

Em fins de Dezembro o Comandante de Pelotão baixou ao Hospital Militar, donde seguiu para a Metrópole.

Mais alguns elementos nativos (a) vieram pertencer a este Pelotão, oferecendo a sua colaboração principalmente no que respeita a dialectos. Conhecedores destes e sempre de acordo com a tropa, procuravam obter tudo o que pudesse dar indícios que levassem a uma pista certa.

No ano de 1964 desenvolveu-se a seguinte actividade.

Em 27 de Janeiro partiu uma esquadra (b) deste Pelotão para a Ilha do Cômo, levando a missão de apoio às nossas tropas, (c) com os seus morteiros. Na zona estava instalado o quartel-general do inimigo e dele espalhavam os seus elementos de subversão e distribuíam o armamento e munições para todo o sul da província. Apoiou sempre o avanço das nossas tropas e durante seis meses suportou privações de todo o género. Os ataques ao aquartelamento eram frequentes dando origem a que os nossos dois morteiros trabalhassem durante longo tempo. As comodidades não existiam e só nos últimos dias, já em local mais ou menos adequado, (d) puderam improvisar algo que lhes facilitassem melhores comodidades.

Uma segunda esquadra (b) foi ocupar a vaga da primeira em princípios de Outubro (e). Continuou exercendo a mesma actividade que a anterior.

Em 10 de Janeiro de 1963 (f) chegou um Furriel que veio ocupar a vaga do falecido, anteriormente citado.

A 7 de Março de 1963 (f) chegou o actual Comandante de Pelotão, tomando directamente contacto com o pessoal, assegurando todo o bom andamento deste Pelotão.

No dia 31 de Março realizou-se uma longa saída juntamente com um Pelotão da CCav 353. Quando regressava a Tite e depois de um dia inteiro de exaustiva caminhada, o inimigo tentou fazer explodir um fornilho que anteriormente tinha colocado num local de passagem quase obrigatória. Não houve nada de anormal e o inimigo iniciou uma fuga rápida e precipitada, abandonando o local.

Em 18 de Julho regressou a esquadra (b) que estava na Ilha do Como.

Na parte final de Agosto registou-se um aumento sensível na actividade operacional para privar o inimigo de deslocações que estava levando a efeito. Mais uma vez este pelotão prestou a sua ajuda em saídas e emboscadas constantes.

Em 11 de Agosto tentou-se fazer a ligação por estrada entre as Companhias deste sector usando para tal uma coluna auto e uma apeada para a limpeza e patrulhamento da estrada. A estrada foi patrulhada por este Pelotão, permitindo uma segurança quase total à coluna auto. Foram removidas árvores e construídos alguns pontões para que a referida coluna pudesse continuar o percurso previsto. Chegamos ao aquartelamento já de noite sem termos qualquer contacto com o inimigo.

Na primeira semana de Outubro (g) deu-se mais uma substituição neste Pelotão, motivada pela punição de um furriel deste, que acompanhou uma esquadra (b) na Ilha do Como. Mais um novo elemento veio juntar-se ao Pelotão de Morteiros.

Em 11 de Outubro morreu um soldado afogado no rio Geba, altura em que este Pelotão foi ocupar o destacamento do Enxudé.

Em 31 de Outubro fomos novamente incumbidos de levar a efeito a mesma missão que na Operação de 11 de Agosto. Mais uma vez a estrada Tite-Nova Sintra e daqui para Fulacunda, numa extensão de 8km foi patrulhada por este pessoal. Em Aldeia Nova, cerca de 8km do quartel foi detectada uma mina, previamente colocada pelo IN com a finalidade de rebentar à passagem de uma viatura. À frente cerca de 6km o inimigo esperava-nos emboscado atrás dos montes de baga-baga. Com a nossa rápida e violenta reacção, rapidamente empreendeu a fuga. A missão foi levada até final sem mais algum incidente. Chegamos ao quartel por volta das 19,00 horas. Decorrido cerca de uma hora o inimigo atacou o quartel, obrigando o pessoal que se encontrava cansado a empreender mais uma defesa ao mesmo.

Em meados de Dezembro este Pelotão deslocou-se novamente para o Enxudé, onde permaneceu mais um mês. Foi lá passado o Natal e Ano Novo e novas esperanças se criaram para o ano de 1965.

Novo Ano principia em 1965 e as actividades continuam sem parar.

Em 30 de Janeiro iniciou-se a Operação Braçal com forças da CCaç 423 uma Companhia de Milícia e 3 Pelotões de Tite. Enquanto uns trabalhavam na preparação de instalações para fixação de um quartel (h) outros batiam-se na frente tentando aniquilar e pôr em fuga o inimigo. Este resistiu intensamente e durante vários dias não deu descanso à nossa tropa. Todas as noites flagelava o destacamento com fogo de armas ligeiras e pesadas tentando que a tropa abandonasse o local. Em 10 dias foram enviadas para o destacamento, por parte do inimigo, 126 granadas de morteiro 8cm (i) não tendo alguma dele provocado qualquer acidente. Mais uma vez incutiu-se no espírito do inimigo que a tropa faz o que quer e não são eles que facilmente nos impedem de levar a efeito qualquer objectivo. Em 8 de Fevereiro este Pelotão regressou a Tite.

Durante mais algum tempo o Pelotão cooperou em saídas de rotina, acção psico-social e emboscadas.

Em 15 de Abril o Pelotão foi novamente para Jabadá e ali permaneceu cerca de seis meses e meio. Durante este tempo limitou-se apenas a defender o aquartelamento, que diariamente era flagelado pelo inimigo.

Em 23 de Outubro regressou definitivamente a Tite a fim de se preparar para embarcar em fins do mesmo mês.

Durante esta comissão foram dados seis louvores colectivos e três individuais.

Quartel em TITE, 27 de Outubro de 1965

O COMANDANTE DE PELOTÃO

Ass: António Fernandes Oliveira Rodrigues
Alf Mil

ANOTAÇÕES AO RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912:

(a) - É omissa a quantidade de elementos, serventes, integrados no Pelotão, como não são conhecidas as identidades dos mesmos;

(b) - Uma "Esquadra" corresponde a um Morteiro e tem o Comando de um 1º Cabo Apontador; obviamente que se trata de uma "Secção", Comandada por um Sargento (Furriel), reduzida, na sua composição Orgânica, em elementos humanos.

(c) - Esta Secção “Autónoma", do Pel Ind Mort 912 destinou-se a integrar e "formar" uma Espécie de Pelotão tripartido, que nunca o foi como tal, assim como, jamais, as três Secções (Pel Mort 912, uma Secção; Pel Mort 916, uma Secção e Pel 917, uma Secção), estiveram articuladas por um Comando unificado ou predeterminado, sendo que as actuações no terreno, eram dependentes das solicitações, directas, de Apoio de Fogo das forças em presença, e desencadeadas conforme as necessidades no decurso da Operação Tridente.

O Comando, se assim se pudesse designar, foi uma fugaz e única aparição pelo tempo que mediou uma Maré, do Alf. Leal Mendes, Comandante Titular do Pel Mort 916.

Este foi o único dispositivo de Armas Pesadas/Morteiros 81, que poderia constituir um Pelotão e, como tal é tomado, para operar em toda a Operação Tridente.

Não era (e jamais foi) o Pel. de Morteiros do BCaç 600 (Pel Mort 916) que operou na Operação Tridente; apenas uma Secção do mesmo.

A deslocação da Secção do Pel Mort 912, seria a que durasse toda a Operação. Tal não aconteceu. Terminada que foi, inexplicavelmente (nunca ninguém o fez), a mesma, continuou no Cachil (Ilha do Cômo), como que abandonada à sua sorte, enquanto as restantes Secções dos outros Pelotões de Morteiros, foram regressando às suas Unidades fixadas nos seus Quartéis Base.

Este abandono real e consciente (ou inconsciente mas consequente), acabou por dar origem á Insubordinação (calculada e consciente) do Furriel Comandante da Secção do 912 e que resultou na concretização do seu desejo pessoal de, por via disciplinar, beneficiar da respectiva transferência de Unidade, o que veio acontecer, conforme estava previsto no RDM, livrando-se, assim, do lugar e das sinistras condições de sobrevivência.

Deste modo, como consequência da falta de Comando, o restante Pessoal que compunha a Secção regressou a Tite, a 18 de Julho de 1964, doutro modo, a substituição provável (?) bem poderia considerar-se a data de Rotação da CCaç 557, a 27 de Novembro de 1964.

(d) - Tão-somente o desbaste da Mata (sem ferramentas apropriadas) e a construção da paliçada, qual forte do "farwest". De resto, as condições mantinham-se inadequadas e desumanas como antes, como se pode verificar nas fotos.

(e) - O Destacamento desta Secção do P.Mort 912 (de Comando tacitamente autónomo, tal como a anterior) teria a duração de 3 meses mas que ( por “continuado e deliberado esquecimento” do Comandante) se prolongaram até Julho de 1965, sem que ao longo de todo o longo período houvesse um único contacto do Comando ou sido dado provimento a qualquer dos inúmeros e legítimos anseios a solicitar rotação e substituição.

(f) - Evidente ser referido a 1964

(g) - 20 de Setembro, com precisão.

(h) - Omisso o nome, mas que se reporta a Jabadá.

(i) - Considere-se Morteiro 82mm.

Anexam-se a digitalização do Relatório e algumas fotos do Aquartelamento do Cachil, com as respectivas legendas.

Espero poder ter contribuído para esclarecer um pouco mais aquele período e lugar, que ainda está longe de ter, definitivos, todos os dados Históricos. Há, sabe-se, a cada dia que passa, bem mais que contar que o que já foi narrado.

Abraços, do
Santos Oliveira


OBS: - Em próximo poste serão exibidas fotos enviadas pelo nosso camarada Santos Oliveira, juntamente com este Relatório de Actividades
CV
__________

Comentário de CV

(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912 (Santos Oliveira)

1 comentário:

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Oh! menino então não houve um Furriel Milº que comandou uma secção de Armas Pesadas (Morteiros), na ilha do Como e que sofreu um ataque do comandado pelo Nino em que gastou em 2 horas mais granadas de morteiro do que na operação Tridente e que assim conseguiu vencer o IN.
Não falas nisso porquê? Por modestia ou por malandrice.
Um abraço