sábado, 7 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3995: Memórias de Copá (2): Os bravos de Copá e um caso de... 'abuso de confiança' (António Graça de Abreu / António Rodrigues)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Ambulância, de origem russa, capturada ao PAIGC em Copá, Fevereiro de 1974. Foto de Joaquim Vicente Silva, soldado do BCav 8323, residente actualmente no concelho de Mafra.

Foto: Cortesia do nosso camarada António Graça de Abreu (2009)


1. Texto enviado pelo nosso amigo e camarada António Graça de Abreu, com data de 19 de Fevereiro último:

Para entendermos Copá, Fevereiro de 1974

por António Graça de Abreu

1. Em 22 de Fevereiro de 1974, em Cufar, eu escrevia no meu Diário:

Regressei (de Bissau) no Nordatlas, na viagem certinha até cá abaixo. Tudo calmo em Cufar. No nordeste da Guiné, em Copá, junto à fronteira, é que tudo vai mal. Mal para as NT, bem para o IN. Ouvi falar num ataque com cem foguetões, valha-lhes Deus! Começa a ser insustentável aguentar Copá.

Em Portugal as coisas também aquecem, com manifestações contra a carestia de vida organizadas pelos maoístas do MRPP. Houve pancadaria da grossa, três polícias feridos, um deles levou uma pedrada na cabeça. O povo não anda bom.

Em Bissau rebentou uma bomba no quartel-general. E que dizer do novo livro de António de Spínola Portugal e o Futuro? O antigo Caco Baldé, meu ex-comandante-em-chefe, propõe soluções federalistas para a resolução dos conflitos do Ultramar. O livro vai ter sucesso entre os liberais, o grupo do Balsemão e do Expresso, e também entre alguma da Oposição. Abençoadamente, agitará os espíritos de muitos portugueses.

O Marcello Caetano começa a ficar exasperado. No essencial, o mestre de Direito limitou-se a dar continuidade à política de Salazar e não sabe, ou esqueceu-se, como diz o Bob Dylan que “the times, they are a’changin” [os tempos estão a mudar]. O general Spínola aponta caminhos enviesados, é verdade, mas indica possíveis saídas para o pântano fétido em que vivemos.

Que futuro para Portugal?


Foi este o meu balanço do dia.


2. Que acontecera em Copá?

Reconheço que durante trinta e tal anos não soube ao pormenor com que linhas se coseram e descoseram as NT em Copá. Foi preciso o blogue do Luís Graça para regressar a muitas das interrogações que a guerra da Guiné me colocava (coloca ainda!) e para procurar encontrar respostas. Sempre no campo militar, porque quanto à natureza política da guerra, estamos entendidos. Sabia há trinta e cinco anos, como sei hoje que aquela guerra, injusta como quase todas, em termos puramente políticos estava perdida.

Tenho uma casinha humilde em S. Miguel de Alcainça, a meio caminho entre a Malveira e Mafra. Há quase um ano atrás, descobri que o homem do único talho existente na aldeia tinha na montra (o talho de Alcainça tem uma montra!) dois pratos de faiança pintada comemorativos de encontros do seu BCav 8323, que esteve na Guiné em 1973/74 (Paunca, Pirada, Bajucunda, Buruntuma, Copá).
- Então como é, meu caro amigo e camarada, conte-me estórias dessa fase final da guerra na Guiné. Eu também por lá andei e escrevi um livrinho sobre esse período que talvez tenha curiosidade em ler.

Acabei por trocar o meu Diário da Guiné por um quilo de bifes do lombo e um quilo de costoletinhas de borrego, tudo tenrinho e delicioso.

Selámos uma amizade.

E o soldado Joaquim Vicente Silva, meu camarada, dono do talho de Alcainça, fez-me chegar (fotocopiei tudo!) o testemunho escrito em 1984, dez anos após o regresso da Guiné, por um dos homens de Copá, o soldado condutor auto-rodas António Rodrigues. O texto chama-se Memórias de um Soldado e li as fotocópias de um fôlego.

Como tinha algumas dúvidas sobre pormenores da descrição do António Rodrigues, pedi ao Joaquim Vicente do talho de Alcainça o contacto do Rodrigues. Telefonei para o Porto, falei com o António Rodrigues e fiquei a saber que as Memórias de um Soldado do António Rodrigues haviam sido publicadas em livro “escritas” por um tal Benigno Fernando, sob o título O Princípio do Fim.

Com a justificação de corrigir um ou outro erro de português e melhorar o estilo, o Benigno Fernando, nascido em 1960 e que nunca foi à Guiné, apropriou-se da prosa excelente, sentida, do António Rodrigues e, quase sem mudar uma palavra do texto, transformou-a num livro em que passa por ser o autor, com o semi-bombástico título de O Princípio do Fim.

Para mostrar a sua “honestidade”, o Benigno Fernando, no fim da “sua obra”, pag. 75, numa linha do posfácio despercebida entre muitas outras, escreveu: "Esta história só foi possível ser escrita com a colaboração do António Rodrigues, ex-combatente da guerra colonial na Guiné”.


3. O António Rodrigues entendeu a sacanice que lhe fora feita e não gostou.

Leiam como o António Rodrigues descreve o seu regresso a casa, pós a Guiné, e o encontro com os pais e os irmãos:

“Eu aluguei um táxi (em Braga) para me levar a Gondizalves que fica a 3 km da estação. O meu pai e o amigo seguiam de motorizada, eu meti-me no táxi com a minha bagagem e lá fui em direcção a casa. Quando lá cheguei, não calculam qual foi a alegria da minha Mãe quando me viu entrar de novo a porta da casa. Ela veio ao meu encontro, abraçou-me e beijou-me com todas as suas forças e sentiu-se com certeza muito feliz, tal como o meu Pai e meus irmãos.”
António Rodrigues, Memórias de um Soldado, texto policopiado, pag 61.

Agora leiam a descrição do sucedido, pelo tal Benigno Fernando:

“ O Rodrigues também alugou um táxi para o levar a Gondizalves que ficava a 3km de distância da estação. O pai e o amigo seguiram de motorizada e lá foram em direcção a casa. Quando lá chegaram foi uma alegria para a mãe ao vê-lo entrar pela porta. Foram ao encontro um do outro, abraçando-se e beijando-se com todas as suas forças. Sentiram-se muito felizes bem como o pai e os irmãos.”
Benigno Fernando, O Princípio do Fim, Porto, Campo das Letras, 2001, pag. 72.

Creio que estamos entendidos quanto ao trabalho do “escritor” Benigno Fernando. Copiou todas palavras, mudando apenas o tempo verbal. Rodrigues escrevera na primeira pessoa, Fernando assume-se como narrador externo e reescreve tudo na terceira pessoa.

Sentido, amachucado, ludibriado, o António Rodrigues enviou-me o livro “escrito” pelo Benigno, um aldrabão intelectual, com a seguinte dedicatória:

Ao meu especial amigo António Graça de Abreu:

Este é um testemunho da minha participação na guerra colonial na Guiné, incorporado no Batalhão de Cavalaria 8323, formado em Estremoz, a que tive a honra de pertencer e cuja divisa era “Cavalaria p’rá Frente”.

O propósito desta narrativa é dar a conhecer às gerações vindouras que a possam vir a ler, que esta guerra existiu e teve episódios muito duros e violentos, nalguns dos quais eu participei no terreno, e que a minha geração e as que me antecederam tivemos de enfrentar com muito sofrimento, mas também com coragem, honra e dignidade.

Com um abraço amigo, ao dispor.

António Rodrigues, ex-combatente
Porto, 3 de Julho de 2008
 

4. O livro da “autoria” do Benigno Fernando

O livro teve recentemente breves abordagens no blogue, feitas pelo José Martins e pelo Hélder de Sousa, e foi já objecto de uma recensão literária da responsabilidade do Mário Beja Santos, poste 1409, a 8 de Janeiro de 2007. Aí lemos, nas palavras do Mário, o outro autor de um Diário da Guiné, (o dele mais completo do que o meu, porque tem dois volumes):

(…) Benigno Fernando dá-nos aqui o melhor relato com os ataques de fim do ano e os primeiros meses do cerco implacável do PAIGC. Copá é sistematicamente flagelada até os soldados enlouquecerem e fugirem para Pirada e Canquelifá. Em Março um avião português é abatido, as estradas minadas, as pontes destruídas.

(…) Quem amanhã fizer a história detalhada do desmoronamento do Leste precisará deste relato do Benigno Fernando.



5. Não quero entrar mais em polémicas com o Mário Beja Santos, nem com ninguém.

Interessa-me o que realmente aconteceu em Copá. Mas o Mário fala de um “cerco implacável” a Copá, (onde é que eu já ouvi falar em mais cercos que nunca existiram?...) dos soldados que “enlouqueceram”, do “desmoronamento do Leste”, etc.

Não nos entendemos. É sempre a tese falsa da superioridade militar do PAIGC na fase final da guerra da Guiné.

Vamos então ao relato verdadeiro, vivido e sentido pelo António Rodrigues.

Copá era um pequeno destacamento, menos de quarenta homens, no extremo nordeste da Guiné, junto à fronteira. Os aquartelamentos mais próximos eram Canquelifá, a 12 quilómetros, e Buruntuma, a 22 quilómetros de distância.

As estradas de terra batida entre Copá e os dois aquartelamentos costumavam ser feitas sem grandes precauções, embora todos soubessem que os guerrilheiros podiam aparecer a qualquer altura, nestes problemáticos destacamentos ou aquartelamentos junto à fronteira. Todos tinham consciência das minas nas picadas e das emboscadas, do muito sangue que já correra, mesmo em zonas relativamente calmas.

O soldado condutor António Rodrigues tinha um Unimog distribuído e conta, em finais de 1973:

“Outro serviço que também fiz muito com a viatura em Copá foi transportar o milho ou mancarra ou amendoim da população de Copá que vivia precisamente dentro do mesmo arame farpado que a tropa.

"Esse milho e mancarra ia eu com os respectivos donos africanos buscá-lo aos seus campos e trazíamos para junto das suas tabancas que eram casas feitas de barro, canas e palha, e posso dizer que aquelas populações eram na sua maioria pessoas de bem. Queriam sempre agradecer-me o serviço que lhes prestava com qualquer coisa, por vezes apesar das suas poucas posses ofereciam-me um frango ou uma galinha.

"Este serviço fazia parte da psícola do Exército Português em África e inserido nessa mesma psícola íamos também de vez em quando a outras populações vizinhas, nomeadamente a Orimonde e Oribode levar principalmente medicamentos. Estas povoações ficavam situadas entre Copá e Canquelifá"
(...).
António Rodrigues, Memórias de um soldado, pag. 19.



6. Em Janeiro de 1974, o PAIGC concentrou esforços sobre Copá.

Situada apenas a quatro quilómetros do Senegal, é de estranhar que em onze anos de guerra o destacamento (em que ano foi criado?), com apenas 30 a 40 homens de guarnição, tenha sido relativamente pouco incomodado. Em Janeiro e Fevereiro as coisas iam mudar e toda aquela terra ia ser sujeita a tremendas flagelações.

Vamos ler o testemunho do soldado António Rodrigues:

"Nessa noite de 7 de Janeiro de 1974 (…) teve início mais uma hora e cinco minutos horrorosos, infernais e terríveis de enfrentar. Aí o inimigo estava 10 metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada, tinha junto ao arame farpado três secções separadas alguns metros, o que lhe permitia fazer fogo de armas ligeiras, ininterruptamente durante 1 hora e 5 minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições, a outra já estava preparada para disparar, e assim sucessivamente.

"Mas, para além destas secções de homens armados de metralhadoras, tinham um auto-blindado junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e na retaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado durante a tarde. Esta encontrava-se a 1 km também apoiada por outro auto-blindado.

idem, pag. 28.

Agora o meu comentário.

Com um tal poder fogo, com tal superioridade de meios (foguetões 122, morteiros 120, dois blindados, talvez até a ajuda de tropas regulares do exército do Senegal ou da Guiné-Conacri) poderíamos imaginar que os guerrilheiros do PAIGC arrasaram Copá e massacraram os trinta e tal militares portugueses que resistiram até ao sacrifício das suas vidas.

Nada disto aconteceu.

Continuemos com a sequência da descrição do soldado António Rodrigues:

"Mas agora a coisa mudava de figura, ainda estávamos todos vivos e de saúde, e por isso, como estávamos frente ao inimigo, tínhamos armas para lhes dar resposta adequada, embora tivéssemos poucas munições.

"Uma das primeiras coisas que fizemos, a mando de um furriel, foi lançar uma granada de bazuca de tipo iluminante que, na realidade, por uns momentos iluminava tudo por onde passava, o que nos permitiu ver claramente a posição do inimigo o que nos ajudou a cumprir a nossa missão com a maior objectividade possível.

"Começámos então a disparar na direcção adequada dilagramas, granadas de bazuca, de morteiro 81 e 60, além de todas as metralhadoras e G3. A luta era quase corpo a corpo e muito renhida. A secção que estava do lado norte apoiada pelo blindado estava já a abrir uma entrada para penetrar no nosso aquartelamento. É aqui que o meu camarada Antunes (sold Manuel Vicente Antunes) se enche de coragem, pega em meia dúzia de granadas de morteiro 60, salta para fora da vala, debaixo de fogo, e atira-as todas sobre o blindado que tentava entrar, o que o terá feito recuar, mas a confusão era enorme e não sabíamos bem o que se passava com o restante do nosso pessoal.

"A dado momento aproximou-se do nosso posto o Demba, um soldado africano do nosso exército, que nos disse que o alferes Brás (alf mil Manuel Joaquim Brás, que comandava o destacamento de Copá) já estava preso e nós ficámos ainda mais baralhados e confusos. Dissemos até uns para os outros: 'Se calhar esta noite vamos ser feitos prisioneiros pelo PAIGC'.

"Mas felizmente o alferes Brás não estava preso e ninguém, com a ajuda de Deus, estava ferido, aguentámos aquela hora infernal de tiros e granadas sobre as nossas cabeças e continuámos a defendermo-nos principalmente através de dilagramas e morteiro 81. Este último teve papel importante nessa noite, cujo artilheiro o tirou do tripé para o poder manobrar da melhor maneira e foi esse morteiro 81 que veio a causar os maiores problemas ao inimigo que ao fim de 1 hora e 5 minutos teve de retirar possivelmente com alguns mortos, (no dia seguinte os homens de Copá confirmariam dois mortos IN, fora do arame farpado do destacamento.) Em Copá ficavam enormes incêndios com tudo a arder em grandes chamas e nós, os militares e população tínhamos vivido horas amargas e terríveis.

"(…) O PAIGC não conseguiu os objectivos a que se tinha proposto".

idem, pag. 29.


7. Dois dias depois destes formidáveis combates – era mesmo guerra, meus amigos! -, aterram em Copá oito helicópteros carregados de mantimentos e munições.

Com eles vem um pelotão de tropas pára-quedistas. Os páras permanecem uma semana em Copá. Nestes dias, o destacamento não sofre nenhuma flagelação e do IN, nem cheiro. Talvez se tivessem ido reabastecer ao Senegal e à outra Guiné.

Depois, Copá volta a ser flagelada, com grande intensidade. Quatro militares de Copá, em pânico, fogem do destacamento e caminham até Canquelifá. Ao entenderem que deixaram sozinhos, a resistir heroicamente, os seus trinta e tal camaradas de armas, com a ajuda da tropa de Canquelifá, acabam por regressar a Copá.

As flagelações continuam.

Mas os comandos africanos, com o Marcelino da Mata, fazem uma operação em redor de Copá que se prolonga por vários dias. Aliviam a pressão do IN sobre Copá. É então capturada a famosa ambulância do PAIGC, com matrícula da Guiné-Conacri, que, apesar da sua cruz vermelha, de se destinar a evacuar os feridos da guerra, estava carregada de minas anti-carro e anti-pessoal, e ainda de alguns cadernos com a descrição exacta dos lugares no leste da Guiné onde os guerrilheiros haviam colocado minas.

A aviação continua a bombardear em volta de Copá. A 31 de Janeiro de 1974, um míssil Strela abate um Fiat pilotado pelo tenente Gil. O piloto ejecta-se, salva-se e consegue chegar a pé a um dos nossos aquartelamentos na zona.

O destacamento de Copá, menos de 40 homens, junto à fronteira, não justifica tamanhos sacrifícios. Os militares portugueses estão no limite da resistência. Os comandos-chefe de Bissau decidem retrair o dispositivo militar e ordenam o abandono de Copá. Todo o destacamento é armadilhado e, no dia 14 de Fevereiro de 1974, os resistentes de Copá vêem chegar os seus camaradas de Bajucunda que os vêm buscar e levar para um aquartelamento mais seguro.

Sofreram o inenarrável mas foram valentes, não tiveram um morto, graças também à sorte e à protecção de Deus, de Nossa Senhora, da imensidão dos deuses criados por Deus ou pelos homens. Os trinta e cinco homens, leram bem, 35 militares portugueses - um alferes, quatro furriéis, cinco 1ºs cabos e vinte e cinco soldados - foram todos louvados também porque, ao contrário do que acontecera no ano anterior num aquartelamento no sul da Guiné, não voltaram as costas ao inimigo.

Recordo as palavras já acima transcritas do soldado António Rodrigues, o meu amigo que viveu todo este tempo de Copá, na dedicatória no livro que me enviou: “Esta guerra existiu e teve episódios muito duros e violentos,(…) que tivemos de enfrentar com muito sofrimento, mas também com coragem, honra e dignidade”.

8. Mês e meio depois, a 31 de Março de 1974, partia de Bajocunda para Copá, a pé, uma grande coluna de tropas portuguesas.

Era uma operação de quatro dias da responsabilidade do BCav 8323. Seguiram dois pelotões da companhia de Pirada, dois pelotões de Bajocunda e um pelotão de milícias, cerca de 130 homens.

Um dos soldados que participou nessa operação chamava-se, chama-se, Joaquim Vicente Silva. É o meu camarada e amigo dono do talho de S. Miguel de Alcainça, Mafra, aqui a quatrocentos metros da minha casa na aldeia.

O Joaquim Vicente contou-me toda a história. Avançaram com dificuldade e algum receio, havia minas na picada, dormiram no mato, mas chegaram em paz a Copá. Para sua surpresa verificaram que os guerrilheiros não haviam entrado no destacamento. Continuava tudo armadilhado, os homens do PAIGC não haviam tocado em nada.

Patrulharam a região em volta de Copá e não só não encontraram ninguém como não tiveram qualquer contacto com o IN. Três dias depois, já no regresso, perto de Bajocunda foram flagelados com tiros soltos de Kalashnikov, disparados a partir de uma bolanha, sem quaisquer consequências.

Faltavam vinte dias para o 25 de Abril de 1974.

Agradeço aos meus camaradas soldados António Rodrigues e Joaquim Vicente Silva, do BCav 8323, as informações preciosas e detalhadas que me disponibilizaram para a elaboração deste texto. Qualquer erro factual que possa eventualmente surgir (nunca sabemos tudo!) é apenas da responsabilidade deste vosso camarada,

António Graça de Abreu
S. Miguel de Alcainça, 19 de Fevereiro de 2009
Ano do Búfalo
_____________

Nota de L.G.:

(*) Sobre Copá, vd. postes de:

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3810: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (3): Unidades de comando em Bajocunda

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3797: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (2): Unidades de intervenção no subsector de Bajocunda

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3817: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (4): Unidades de coordenação na Zona Leste

Vd. ainda sobre Copá (destacamento das NT abandonado em 14/2/74):

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3004: PAIGC: Op Amílcar Cabral: A batalha de Guileje, 18-25 de Maio de 1973 (Osvaldo Lopes da Silva / Nelson Herbert)

13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago

26 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3795: Copá, abandonado em 14/2/1974 (José Martins) (1): O princípio do fim, a história do Soldado António Rodrigues

16 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)

(... ) Referência ao vídeo da televisão francesa, a antiga ORTF, disponível em INA - Institut National de l' Audiovisuel

GUINEE : LA GUERILLA AU GRAND JOUR MAGAZINE 52 ORTF - 04/07/1974 - Video 12' 32'' / DVD 3 €

16 comentários:

Anónimo disse...

António,
Obrigado pela amostragem da experiência descrita pelo António Rodrigues, que parece um apontamento de insufismável interesse e humanismo.
Também estive em Copá por 15 dias, e para lá fiz colunas desde Bajocunda, e uma vez, a partir de Canquelifá, para além de diferentes patrulhamentos e uma ou outra emboscada na região. Também por isso gostaria de comprar um exemplar do livro. Tratando-se, porém, de um roubo intelectual aquele que anda no mercado, poderia ter interesse divulgares no blogue o contacto do verdadeiro autor para lho comprar directamente.
Um abraço
José Dinis

Hélder Valério disse...

António G.A. obrigado pelos elementos esclarecedores.

Dinis, pelo que me foi dado aperceber, não há livro editado "do verdadeiro autor", o que foi editado por um usurpador foi o que o verdadeiro autor registou das suas memórias e que alguém aproveitou. O que me parece haver são os apontamentos, não um livro.
Se se quiser ler essas passagens (dando ao usurpador os ganhos indevidos) tem que se comprar o livro "dele" e esforçando-nos por ler com outro "tempo verbal".

Um abraço
Hélder Sousa

Anónimo disse...

Amigo e camarigo António

Mas isto não tem nada a ver com a "guerra" descrita pelo jornalista da Visão!

Será que se terá passado mesmo?

É que os jornalistas têm sempre razão?!

Desculpa a ironia, mas não resisti.

É um relato, forte, sentido e real!

Obrigado por no-lo teres dado a conhecer.

Então e se nos quotizassemos todos para editar o livro do verdadeiro autor?

Entre tanta gente com livros editados, não será com certeza dificil, encontrar editor e um valor para a edição.

Desde já coloco o meu nome ma lista.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Concordo com a sugestão do Camarigo Mexia.

A alusão ao que se passou no Sul, é que está a mais...

e depois os outros é que são tendenciosos!

Um abraço
Bernardo Godinho

Anónimo disse...

Camaradas!
Aqui o Joaquim anda com a seiva bem elaborada. Também me coloco na lista que ele propõe. É questão de submeter à consideração de algumas editoras, ou lançar o desafio para o editarem. Antes, porém, conviria saber da questão dos direitos, que, parece-me, o tal "autor" pode vir a ter que ser benigno na compensação devida ao António Rodrigues. Em alternativa, o António Rodrigues, pode policopiar e vender essas cópias, supondo que nenhuma editora arriaca uma nova edição. Não será o mesmo, mas pode ser um recurso. O que eu não gostaria era pagar a quem usurpou. E a 'propósito, o António Rodrigues assinou algum compromisso? se não, já se dirigiu à editora expondo a situação?
Abraços fraternos.
J.D.

Anónimo disse...

Camaradas!
Aqui o Joaquim anda com a seiva bem elaborada. Também me coloco na lista que ele propõe. É questão de submeter à consideração de algumas editoras, ou lançar o desafio para o editarem. Antes, porém, conviria saber da questão dos direitos, que, parece-me, o tal "autor" pode vir a ter que ser benigno na compensação devida ao António Rodrigues. Em alternativa, o António Rodrigues, pode policopiar e vender essas cópias, supondo que nenhuma editora arriaca uma nova edição. Não será o mesmo, mas pode ser um recurso. O que eu não gostaria era pagar a quem usurpou. E a 'propósito, o António Rodrigues assinou algum compromisso? se não, já se dirigiu à editora expondo a situação?
Abraços fraternos.
J.D.

Anónimo disse...

Caros camaradas, desta Bela Tabanca,

Hoje peço desculpa, mas...
Dos plágios, não vale a pena falar sempre houve e haverá quem se queira servir do trabalho do próximo. O António Rodrigues tem de dar uma volta muito grande, para sair da esparrela em que caiu, pois o seu escrito tem como autor legal uma outra pessoa.

Quanto às descrições sobre Copá: Não sei, não vi, nem fiz nenhuma guerra assim.
Desculpem-me mas ataques concretos, ao aquartelamento de Cufar onde sempre estive nunca houve. Flagelações sim.
Em 1965/66, saíamos para Cachaque, Afiá, CABOLOL, CABOCHANQUE, CADIQUE, etc... etc....
Algo está errado ou eu não estou bom da cabeça!?
É necessário muito cuidado, quando não os jornalistas vão investigar, e temos borrasca.
Para clarificar a minha posição, eu explico:
Parece não haver dúvida dos momentos vividos pelo pessoal de Copá! Certo! Mas... atenção à descrição como as coisas aconteceram, porque isso é que me faz confusão, eu de operações especiais. Vejamos:
Armas ligeiras, metrelhadoras, auto-blindado, RPGs, morteiros sem tripé, dilagramas, luta a dez metros, corpo a corpo, granadas de morteiro 60 contra blindado. Alferes prisioneiro que reaparece.
Mais uma vez cuidado com o que se descreve desta guerra. A C.CAÇ. 763 também fui emboscada, também assaltou acampamentos do PAIGC e o armamento não tinha assim grande diferença.

É a minha análise! Vale o que vale!
Mas fiquei confuso.

Para toda a tabanca o abraço do tamanho do Cumbijã.

Mário Fitas

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas:

O António Rodrigues deve ser um homem, de boa fé, que caiu no 'conto do vigário'...

Não sei se o Benigno ganhou muito dinheiro com uma obra que não era dele... De certo que não ganhou, já que o título não é um 'best-seller', que eu saiba...

De qualquer modo, foi um gesto feio, mesmo que a intenção original, a de ajudar um amigo ou conhecido, fosse aparentemente boa... Também não sei como uma editora, como o Campo das Letras, do Porto, com responsabilidade e projecção no mercado, caiu nesta embrulhada...

Enfim, não quero fazer juízos de valor sem ouvir a versão do Benigno... Mas tudo indica que a história está mal contada, e que o António Rodrigues deveria ter direito a uma reparação (mesmo que moral)...

Devemos e podemos ajudá-lo, ao António, no sentido de recuperar a sua identidade como único e verdadeiro autor do livro de memórias de Copá..

Não me parece que seja fácil arranjar, neste momento, uma editora, disposta a lançar um livro... que já está publicado. 'De jure', os direitos de autor são do Benigno, não do António. Seria preciso provar o contrário, em tribunal...

Além disso,o mercado livreiro está saturado, publica-se cerca de mei centena de livros por dia - alguns, são lixo de luxo... Sem a força do marketing editorial, não se vendem... Enfim, há sempre a possibilidade de se fazer uma edição de autor e vender o livro porta a porta...

Sugiro que se consulte a Sociedade Portuguesa de Autores... O António Graça de Abreu deve ser sócio...

De qualquer modo, acho - a avaliar pela amostra - que o original (o do António) tem mais força e autenticidade do que a cópia (do Benigno).

Um abraço para os dois Antónios.

Luís Graça

Anónimo disse...

Ainda fervo em pouca água quando vejo estas vigarices de alguns pseudo-intelectuais (escribas) como esse tal Benigno, que pode bem ter-se apropriado da guerra do António Rodrigues e seus camaradas.
Desde já me pronttifico a abrir as portas do Serviço de Contencioso da Sociedade Portuguesa de Autores, onde trabalha há muitos anos a minha sobrinha, Vanda Guerra, advogada e salvo erro pessoa indicada para nos aconselhar neste molho de bróculos.
Para abordar este assunto com ela ou alguem que nos indique , é claro que precisaria da colaboração de alguem que estivesse devidamente documentado.
Se assim fôr entendido podem contactar-me através do blogue ou dos meus contactos pessoais que estão actualizados na lista.
Um abraço amigo do
Hugo Guerra

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

Amigo Mário Fitas tudo o que o António Rodrigues fala sobre Copá é verdade e eu provo-te com fotos dos blidados que tenho,da ambulância que capturamos ao PAIGC no Senegal mesmo por cima de Copá e quando lá fui para fazermos a destruição do gerador electrico vi bem a destrição e os buracos das 120 perfurantes nós em Bajocunda bem ouvia-mos os ataques e sofria-mos por não os puder valer a unica ajuda era batermos a zona com os três obuses 14 que tinha-mos,Amigo Mário acredita que é tudo verdade.

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

Amigo e Camarada de Guiné não leves a mal mas vou fazer uma pequena rectificação no teu P3995 quando falas na ambulância,tu não tens culpa, mas nós que vivemos esses acontecimentos, temos que também botar palavra, quem foi ao Senegal buscar a ambulância que o marcelino apanhou fui eu mais o meu Soldado Mecânico Grou, nunca houve minas dentro da ambulância e os cadernos eram de estudo eram cadernos escolares, aqui fica a rectificação, se tiveres o contacto
do António Rodrigues deixa no meu P4308 deste blogue. UM ABRAÇO

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

Amigo António Graça obrigado pelo texto de apresentação do meu Ex-Condutor António Rodrigues, mais uma vez vem demonstrar a veracidade do que se passou em Copá e vamos todos ajudar o António a fazer uma nova publicação do verdadeiro livro "O PRINCIPIO DO FIM " .

UM ABRAÇO

Anónimo disse...

Uma possibilidade é recorrer a uma edição de autor, através de :

CreateSpace:
https://www.createspace.com

e

Lulu:
http://www.lulu.com

Atenção: é importante ouvir a opinião de especialistas em direitos de autor, para saber se há danos para Benigno Aquino.

Pelos sites, que acima indico, é possível imprimir exemplares que podem ser adquiridos por quem estiver interessado.
vbriote

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

Zé Dinis fui o Furriel mecânico há altura chefe do António Rodrigues e vi o teu comentário o endereço do António para pedires a crónica das suas memórias é António Rodrigues,rua
Carlos Malheiro,2-3ºEsq. 42oo-152 Porto, ele tem uma encadernação engraçada e envia pelo correio e depois nos enviamos o dinheiro por vale de correio.

UM ABRAÇO

Unknown disse...

Copá foi atacado, se a memória não me falha 5 dias consecutivos, tendo terminado esses ataques no dia 31-01-74, com o abate de 1 Fiat.
A captura da ambulâmcia pelo Marcelino da Mata, não me recordo, se foi antes ou depois do abate do Fiat, mas foi no máximo até 14-01-74, Eu estive em Bajocunda de cerca de 10-01-74, a 14-02-74, e vi toda a movimentação dos hélis nessa operação, por estar num abrigo junto á pista de aviação.
Eu pertenci à 3ª C. do Bat. 4516, que tambem fez parte da coluna a Copá, de 13 a 15-01-74, do que resultou 2 mortos e mais de 20 feridos, indo depois desse periodo para Canquelifá até principios de Abril.

Anónimo disse...

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