sexta-feira, 6 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3991: (Ex)citações (19): Não quis antingir, nem ao de leve,a dignidade dos antigos combatentes (Luis A. Martins, Visão nº 835, 5/3/09)


O Luís Almeida Martins, jornalista da Visão, é um "rapaz da nossa idade" e, pelas palavras que escreveu no última edição do seu semanário (e que eu antecipo aqui, para apreciação dos nossos camaradas e amigos) merece mais do que o benefício da dúvida... Como eu costumo dizer, citando um velho provérbio do nosso povo (que não é estúpido), "os homens conhecem-se pelas palavras, e os bois pelos cornos"... (LG)
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"CORREIO DO LEITOR > Rectificação:

"Numerosos leitores, antigos combatentes da Guerra Colonial, escreveram-nos manifestando grande indignação por algumas frases do artigo 'Portugal e o passado' , sobre o livro do General Spínola (V833), em que tentei transmitir às gerações jovens os horrores de um conflito infelizmente hoje quase esquecido pelo poder político mas verdadeiramente marcante dos meados do nosso século XX - e em que só não participei por mero acaso, já que pertenço à geração que o fez.

"É claro que nunca foi minha intenção atingir [nem] ao de leve a dignidade dos antigos combatentes (afinal praticamente todos os jovens do sexo masculino da década de 60 e princípios da de 70), que, abandonados pelo poder político, guardam recordações gratas desse tempo marcado pelo sacrifício, a generosidade, a camaradagem e, retrospectivamente, a saudade.

"Mas se algum deles se considera ainda beliscado foi porque eu não soube transmitir o pretendido, e por essa inépcia peço, obviamente, desculpa".


Assinado: Luís Almeida Martins

(Visão, nº 835, 5 a 11 de Março de 2009, p. 10).

http://www.visao.pt/

15 comentários:

Anónimo disse...

Camaradas,
O jornalista, por um lado desculpa-se, mas, por outro, não corrige as razões do nosso descontentamento e indignação, dado que a mensagem original continua incólome para os leitores da revista, que não se apercebem da essência que originou a revolta dos veteranos, nomeadamente, os da Tabanca Grande.
Provavelmente, vou referir-lhe isto mesmo, e que não me deixo enganar pela simpatia deste texto, já que a substância não foi esclarecida publicamente.
Seria simples e de poucas linhas referir que a menção a massacres, está longe de significar que foram recorrentes, pelo contrário, terão sido excepcionias; que os militares de ambas as partes, não se comportaram como assassinos odiosos, apenas combateram, quase respeitosamente, como o comprova as relações actuais que se proporcionam. E que esses combatentes defrontaram-se abertamente, em contactos inopinados ou por força de emboscadas, o que mais valoriza as relações sociais da actualidade, e a estranheza de não alimentarem ódios recíprocos.
Afinal, para mim, a coisa não ficou sanada.
Abraços fraternos.
José Dinis

Anónimo disse...

Caros camarigos

Concordo com o Luís Graça, que o jornalista merece o benefício da dúvida, pelo modo como tenta arranjar maneira de pedir desculpa aos ex-combatentes, o que poucos fariam.

Mas a verdade é que a mim desde pequenino, me ensinaram que quando a gente faz algo errado, como por exemplo faltar à verdade, para além de pedir desculpa pelo erro como procedeu, deve também repor a verdade.

O Luís Almeida Martins tenta pedir desculpa, mas ao não repor a verdade, ou seja, ao não dizer claramente que o seu texto não correspondia à realidade da guerra de África, embora seja meritória a sua afirmação de que não quis “ofender” a dignidade dos ex-combatentes, fica aquém do que deveria fazer, e que era dizer, escrever, que o seu texto sintetizava erradamente a guerra de África.

Só homens dotados da necessária humildade, reconhecem os seus erros na totalidade, e ao reconhece-los, repõe a verdade, acompanhada do pedido de desculpa.

É que o orgulho não está em manter a nossa versão sabendo que ela não corresponde à realidade, mas sim reconhecer que a nossa versão está errada, e então repor a verdade do que se queria afirmar.

Aí se afirma a dignidade daquele que disso é capaz e por isso mesmo se orgulha de proceder correctamente.

Ah, e não se diga que eu estou a tentar dar "lições" a alguém, porque não estou, nem tenho competência para isso! O que eu estou é a falar com os meus camarigos e com os meus botões.

Mas para mim o assunto está encerrado, porque eu não me sinto “beliscado” por escritos que não correspondem à verdade daquilo que fiz e vivi em África, também porque se assim fosse então não parava de ser “beliscado” com as enormidades que se têm dito sobre o assunto.

E como não sou de guardar rancores, aceito o pedido de desculpas, embora incompleto.

Abraço camarigo a todos do
Joaquim Mexia Alves

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Estou sempre com os homens da Guiné, mas o sr. L.M.Martins é muito esperto e julga que pedindo desculpa está tudo feito, as não refaz o artigo com a verdade.por tal assino por baixo os comentários do José Dinis e do Mexial Alves.
Júlio Pinto ex- combatente de Angola

Anónimo disse...

Este episódio entre a tabanca e o jornalista Luis A. Martins, é demonstrativo em como a história demorará ainda muito tempo para ser escrita.

E será com discussões que um dia tudo estará amplamente explicado.

Estou esperançado que episódios destes sirvam para maior divulgação do Luis Graça & Camaradas, pena que Luis Almeida Martins não tenha referido o Blog.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Corroborando os prezados Jose Dinis e Joaquim Mexia Alves, eu digo;
"Desculpa não cura ferida"
Um abraço

Amilcar Dias
(sócio ADFA nº 2395)

António Matos disse...

Venho tarde à liça deste tema uma vez que tive dificuldade em encontrar e ler o texto publicado na Visão mas nem por isso me escusaria, agora, a manifestar o meu ponto de vista.
Entretanto fui assistindo ao mar de lamentos e de tomadas de posição que cada vez mais se empolgavam em fazerem-se ouvir o que me provocava um interesse acrescido perante os sentimentos que me iam provocando.
Finalmente tive tempo para o procurar. Uma vez apanhado, de imediato passei à leitura ainda que muito dificultada pela má qualidade gráfica do mesmo.
Deu para perceber o que se dizia.
O jornalista errou, de facto, ao classificar aquele conflito como um conjunto de escaramuças avulsas juntamente com uns acidentes de viação o que justificou como as causas principais das baixas entre as nossas tropas.
Tenho alguma dificuldade em aceitar que por detrás duma certa petulância na retórica não estivesse uma vontade incontida de ironizar aqueles anos.
Isso é grave pois há pais, esposas, filhos, etc. que se sentirão enxovalhados ao ver tanto desprezo pelos seus que morreram ou ficaram estropiados em combate.
Ainda que eu tenha para mim que se usaram bombas de napalm na Guiné, acho despudorado fazer-se crer que o teriam sido de modo generalizado tal como generalizados seriam os massacres das populações.
Não deixou qualquer espaço à vã glória dos que tombaram em plena luta nem permitiu que esses, jovens arrastados para uma guerra que em muitos casos nada lhes dizia, mas que assumiram como natural o seu sacrifício que seria doado posteriormente aos seus filhos e netos reivindicando apenas o respeito duma nação que, afinal, os despreza, os achincalha, os esquece e os mal-trata.
Por tudo isto, censuro o jornalista da Visão.
E ao viar a face desta moeda o que vemos ?
Vemos alguém encostado à parede como um animal encurralado ;
Vemos alguém que ao ouvir as queixas de quem se sentiu insultado, esboçou um "desculpem" pouco convincente ;
Vemos alguém que, jornalisticamente, não soube alertar os seus leitores para o eventual erro das suas fontes e admitir que a peça que desenvolveu estaria eivada de incorrecções.
Limitou-se a um "desculpem" envergonhado, é certo, mas na qualidade de ex-combatente que fui, que tive que enfrentar o calor da luta, que montei uns milhares de minas, que vi algumas a rebentar, que voei com uma delas, que o único acidente de viação que presenciei foi dum taxi que me levou do hospital para o centro da cidade cuja pichotice do condutor local perante uma estrada escorregadia não acautelou a existência dum embondeiro enorme onde nos estatelámos com toda a força, nessa qualidade, dizia, apelo a que saibamos agora usar da diplomacia que permitirá agarar esta "trégua" para dirimir as nossas diferenças.
Aos camaradas ex combatentes vos confesso que a vossa atitude só honrou os que combatemos naquelas paragens e apelando a uma máxima de Ghandi, só precisamos de saber perdoar para reafirmarmos a nossa grandeza !
Apelo também ao jornalista para que tenha a lucidez de aceitar as nossas indignações como corolário lógico daqueles que, não querendo honrarias, não permitirão jamais a adulteração abusiva daqueles anos em que nos purgaram a juventude e muitos dos nossos sonhos.

Anónimo disse...

Matos
Reapareceste!Quase no teu melhor!

Espero que seja para continuar e nos tragas estórias e dizeres como só tu sabes transmitir

Um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Sobre o tema Luis Almeida Martins - a sua versão anquilosada, até ofensiva, com que regista por escrito, numa Revista credível como a Visão, uma não realidade que reflecte a EXCEPÇÂO em vez da REGRA, induzindo em erro grosseiro de análise quem leu / lê o artigo e não viveu a Guerra da Guiné, em muita da plenitude das suas componentes, Militar, Civil, Humana, Psicológica, Afectiva, Cultural, criando laços que ainda hoje ligam a grande maioria dos Combatentes e esse Povo, pela Saudade, pela Amizade, pelo Filantropismo, pelo Desejo Sincero de que consigam agora aproveitar a oportunidade de encontrar Líderes virados para o Povo, de modo a porem o País na rota do Progresso e Bem -estar comum - acho realmente que não lhe ficava nada mal explicitar, na sua rectificação, o motivo da reacção negativa dos Veteranos da Guiné. De qualquer dos modos , reconheceu a justeza das reclamações, pelo que nos pediu desculpa. O erro é humano , há que o assumir e aprender com ele.

Para mim, o assunto encerra-se e vira-se mais uma página da nossa Tabanca Grande. Tomara que o Povo da Guiné também consiga virar a sua Página ! Rezo para que isso aconteça.

Luís Faria

Anónimo disse...

Caros Camaradas,
Conheço muito bem a classe dos jornalistas. Passei muitos anos, em contacto diário com jornalistas.
Por isso, ao ler "...por essa inépcia peço, obviamente, desculpa", escrito pelo Luís Almeida Martins, podemos considerar o assunto encerrado.
Não é fácil, é mesmo muito difícil, levar um jornalista a pedir desculpa.
Esta é mesmo uma grande vitória da camaradagem dos ex-combatentes, reunidos nesta Tabanca.

Um Abraço

Manuel Amaro

António Matos disse...

Caro Manuel Amaro, porque será assim tão difícil ?
Seres superiores ?
Ou suficiente menores que não conseguem admitir o erro e, consequentemente, afirmá-lo ?
Eu também já tinha dado por encerrado este caso mas acho que já basta de nacional porreirismo !
António

Anónimo disse...

Camaradas,
O singelo pedido de desculpa, não iliba o jornalista da ofensa, como não esclarece afirmações descabidas. A relutante falta de razões objectivas, consagra-o na manipulação da opinião pública.
Por isso, como o António, não considero o caso sanado.
Abraços
J. D.

Anónimo disse...

Camaradas,
O singelo pedido de desculpa, não iliba o jornalista da ofensa, como não esclarece afirmações descabidas. A relutante falta de razões objectivas, consagra-o na manipulação da opinião pública.
Por isso, como o António, não considero o caso sanado.
Abraços
J. D.

Anónimo disse...

Caros camaradas:
Aceito as desculpas, que nós forçámos a serem efectuadas pelo jornalista Luís Almeida Martins.
Mas, era importante que o Sr. Jornalista, que afinal não é um Licenciado da Nova Comunicação Social, tivesse a coragem jornalísta de OUVIR "alguns" Ex-Combatentes, com gravador para registo e contar aos seus LEITORES a verdade da GUERRA.
Acidentes de viação também houve.

Mas, os mortos em combate, os desaparecidos, os capturados, os mortos em acidente por manuseamento de armas de guerra, ... etc.

CMSantos
Cart 2339 Mansanbo - Guiné 68/69
8 Mortos/ 35 feridos e evacuados para a METRÓPOLE e BISSAU.

FORAM MUITOS ACIDENTES !!!

Unknown disse...

Não sei como se pode tentar tranmitir às novas gerações uma ideia de que andamos a massacrar populações.
Fica com o jornalista o sentimento, segundo me apercebo, que afinal está correcto tudo o que escreveu.
"Bem haja" pela bendita transmissão de ideias...
Jorge Teixeira

Anónimo disse...

Por falar em massacres, não devemos deixar de lembrar que a chamada Guerra do Ultramar, não teria começado da forma como o foi,se não fosse o dia 15 de Março de 1961.É uma data cuja eferméride se comemora já no próximo Domingo.Este ano comemoro a chorar, os 48 anos que que se passaram.Duma certa forma, como diria o Scolari e os assassinos fomos nós?...
Arre......UPA!

Este foi o meu último comentário sobre o tema MASSACRES.

Um abraço para a Tabanca.

JORGE FONTINHA