quarta-feira, 18 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) que transportava um grupo de combate reforçado, comandado pelo Alf Mil Armandino, e que sofreu uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74)...

Foram utilizados LGFog e Canhão sem recuo. Houve 9 militares mortos, da CCAÇ 3490, nais 1 desaparecido (o António Batista, capturado pelo PAIGC)... Houve ainda mais 3 mortos: 1 sargento de milícia e 2 civis ao serviço das NT.

No relatório da CCAÇ 3490, faz-se ainda referência a 6 feridos, 4 militares e 2 civis. No início deste dossiê, falámos aqui num "número indeterminado de baixas, entre os civis, afectos à construção da picada Quirafo-Foz do Cantoro", o que não parece estar documentado. Sabemos hoje quem comandou o bigrupo que montou esta emboscada, o comandante Paulo Malu.

A brutal violência da emboscada ainda era visível em Fevereiro de 2005, mais de três décadas depois, nas imagens dramáticas obtidas pelo Paulo Santiago e seu filho João, na viagem de todas as emoções que eles fizeram, na altura, à Guiné-Bissau.

Fotos: © Paulo e João Santiago (2006). Direitos reservados.




Cópia do relatório da CCaç 3490, Saltinho, 21 de Abril de 1972 [, já aqui publicado por nós, no P2422, de 8d e Janeiro de 2008]. Transcrição de Virgínio Briote, nosso co-editor; bold, do editor L.G.:

Exemplar nº...
CCaç 3490
Saltinho
210800ABR72

Anexo B (Relação do pessoal morto e ferido em combate) ao relatório de emboscada nº 03/72.

1.Causas que deram origem às baixas sofridas pelas NT

-Contacto com o IN na emboscada sofrida pelas NT no dia 17 de Abril de 1972, na
região do Quirafo (Contabane 9. B7-60).

i) Relação numérica e nominal dos militares, milícias e elementos da População
colaborantes com as NT, mortos em combate:


- Sr. Alf. Mil. Nº 00788271 – Armandino da Silva Ribeiro
- Furriel Mil. Nº 01142371 – Francisco Oliveira dos Santos
- 1º Cabo Radioteleg. Nº 08845271 – António Ferreira
- 1º Cabo A.P.Met. nº 14964771 – Sérgio da costa Pinto Rebelo
- Soldado nº 09334069 – António Marques Pereira
- Soldado nº 10665171 – Bernardino Ramos de Oliveira
- Soldado nº 10896771 – Zózimo de Azevedo
- Soldado nº 10998071 – António da Silva Baptista
- Soldado nº 11117671 – António de Moura Moreira
- Sargento Mil. Nº 044665 – Demba Jau
- Civil – Serifo Baldé
- Civil - Tijane Baldé

ii) Relação numérica e nominal dos militares desaparecidos em combate

- Soldado nº 11331671 – António Oliveira Azevedo

iii) Relação numérica e nominal dos militares, feridos em combate

- 1º Cabo Atirador nº 11549071 – Augusto Carlos Leite
- Soldado Atirador nº 10819171 – José Manuel de Barros Fernandes
- Soldado Atirador nº 10977271 – Manuel Hernâni Martins Alves Gandra
- Soldado Atirador nº 11060971 – Manuel da Costa Almeida
- Civil – Saico Seidi
- Civil – Cabirú Baldé

Assina pelo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ) o Alf Mil Alexandrino Luís F.... [restante ilegível].

AUTENTICAÇÃO

P'lo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ), Alf Mil Alexandrino Luís F. [restante ilegível].


1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada e amigo Paulo Santiago

Assunto - A Guerra e o luto continua presente

Luís, Briote,Vinhal

Recebi em 3 de Março passado um mail, que reencaminho, enviado por uma jovem, Cátia Félix, a pedido de Cidália Nunes, viúva do 1º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, morto em combate em 17/04/1972 na emboscada do Quirafo (*).

Como imaginam, ao receber aquele mail, dois sentimentos brotaram de mim: satisfação e tristeza. Satisfação pelo que escrevi sobre a Tragédia do Quirafo, satisfação, também, por existir este blogue que o Luís em boa hora lançou, permitindo aos ex-combatentes da Guiné contarem a verdade que, a maior parte das vezes, não vem nos documentos oficiais. Tristeza, porque adivinhei que por trás daquele mail estava um luto com quase trinta e sete anos. Tanto tempo...

Há poucos minutos, tive um longo telefonema da Cidália, onde pressenti uma imensa saudade e uma imensa resignação, ainda que ponteada por algumas dúvidas, sendo a principal "O meu marido morreu naquela emboscada ?"

A esta pergunta pude afiançar-lhe que foi naquela emboscada e naquele local que o marido morreu. Existem outras dúvidas que eu, em consciência, não soube nesta altura dissipar, caso saber se o António Ferreira estava reconhecível, é uma pergunta que irei pôr aos meus amigos Cosme e Mário Rui, respectivamente 1º Cabo e Fur Mil do PEL CAÇ NAT 53, e que foram ao Quirafo recolher os corpos.

Quero, quando me encontrar pessoalmente com a Cidália, quem sabe em 17/04/09, ter respostas para lhe dar com VERDADE. Se algum dos camaradas que me lê souber algo sobre isto, agradeço que me informe.

O António Ferreira, segundo percebi, frequentava a Faculdade de Engenharia no Porto e tinha uma filha (que tem hoje 38 anos), com um ano e poucos meses quando embarcou para a Guiné, numa viagem sem regresso.

Quando a Cidália soube da aparição do Batista (**) em Setembro de 1974, que oficialmente tinha morrido no mesmo dia do marido, correu para a Maia, procurando saber se aquele "morto-vivo" lhe poderia dizer mais alguma coisa sobre o Ferreira. Infelizmente o Batista apenas se lembra, como também sabemos, das explosões e de o terem agarrado à mão, mais nada, quem morreu, só o soube já em Portugal após a sua libertação.

Devo dizer, inconscientemente, talvez tenha lançado algumas dúvidas no espírito da Cidália, ela não me disse, mas até encontrar o Batista estava convencido que o militar apanhado à mão no Quirafo - penso que está nos meus postes - era de transmissões e também havia a troca de nomes.

Lamentavelmente nunca apareceu ninguém daquela CCAÇ a dizer nada. A Cidália contou-me que em 74 recebeu um telefonema de um Furriel, já não se lembra do nome, daquela Companhia dizendo-lhe que gostaria de falar com ela sobre a morte do marido mas teria de ser uma conversa a sós (?) marcando um dia. Jovem de 22 anos, viúva recente, resolveu ir acompanhada por familiares, mas o dito graduado não apareceu.

Termino dizendo que a Cidália e o António Ferreira têm um neto de 16 anos que faz muitas perguntas sobre o avô.

Não é fácil dominar as emoções quando se recebem telefonemas destes.

Abraço a todos

P. Santiago

2. Mensagem anterior (3 de Março) do Paulo Santiago (após conversa telefónica comigo, L.G.):

Luís

Em seguimento da nossa conversa, reencaminho o mail recebido. Agora pensei melhor e penso que o António Ferreira é um dos mortos do Quirafo. Não sei se vou encontrar no blogue uma lista publicada pelo José Martins, vou tentar, e tu vê também se a encontras.

Vou responder à Cátia, disponibilizando-me para me encontrar com a esposa do António Ferreira. Vai ser um encontro, possivelmente doloroso, mas, como diz a Cátia, as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.
Diz-me qualquer coisa.

Abraço
Paulo

3. Mail enviado ao Paulo Santiago, em 3 de Março último, por Cátia Félix

Assunto - As histórias da Guiné...

Caro Paulo Santiago

Sou leitora assídua do blog dos ex-combatentes da Guiné pois apesar da minha tenra idade (25 anos) sempre me suscitou muito interesse as histórias verídicas por todos vocês vividas.

De tudo o que li, a Tragédia do Quirafo foi sem dúvida a que mais me impressionou, talvez por conviver com uma familia de um militar da CCAÇ 3490. Possivelmente já ouviu falar desse militar, António Ferreira (Porto), que era das Transmissões (radiotelegrafista) dessa companhia.
Estou a enviar-lhe este email a pedido e em nome da esposa do Ferreira, Cidália Cunha, que gostaria imenso de entrar em contacto consigo para trocarem impressões, pois apesar de já terem passado muitos anos as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.

Porquê enviar um email ao Paulo? Porque de tudo o que lemos, sentimos que se tem dedicado imenso a todas as causas mal explicadas que se passaram naquelas terras áridas.

Desde já agradecemos imenso todo o seu empenho e sabedoria na forma como consegue transmitir na perfeição todos os assuntos relacionados consigo e com os seus camaradas.

Ficamos a aguardar uma resposta.

Com os melhores cumprimentos

Cátia Félix
(P'la Cidália Cunha)


4. Comentário de L.G.:

Obrigado, Paulo. Tu és um homem de grande sensibilidade e com forte sentido de solidariedade e compaixão. Melhor do que ninguém, tu irás representar-nos, a todos nós, que fomos camaradas do António Ferreira, num próximo encontro, a aprazar com a Cidália Cunha, viúva do António, e a sua amiga Cátia Félix, possivelmente até no próprio dia em que passam os 37 anos da tragédia do Quirafo, no próximo 17 de Abril de 2009.

Como vês pela lista (nominal) acima publicada, o único militar de transmisões que foi dado como morto, na sequência da emboscada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972, foi o António Ferreira, 1º Cabo Radiotelegrafista nº 08845271...

O que é poderás dizer mais aos familiares e amigos do nosso infortunado António Ferreira, que não tenhamos já dito aqui no blogue ? Se calhar, mais do que dizer, importa saber ouvir, mostrar disponibilidade para ouvir...

Muito provavelmente, eles/elas nunca fizeram, como devia ser, o luto pela perda do António (marido, pai, filho, amigo...), porque nunca viram o corpo (chegou-lhes um caixão selado, chumbado...).

Como houve pelo menos um caso de troca de identidades (o António Batista, desaparecido, foi dado como morto, em vez do António Oliveira Azevedo) e, além do mais, os cadáveres estavam irreconhecíveis, desmembrados e carbonizados (de acordo com o testemunho do Alf Mil Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo e do Fur Mil Enfermeiro Álvaro Basto, que tu mesmo recolheste: vd. poste P1985, de 22 de Julho de 2007 ), ficou, fica, ficará sempre a atroz dúvida: Será que o meu marido morreu mesmo nessa emboscada ?

Paulo, podemos estar perante um caso de luto patológico, ou seja, de um processo mental associado à perda de uma pessoa amada e decorrente da interrupção do processo normal do luto, eternizando ou tornando crónica a sensação de perda e todas as suas manifestações... É horrível, provoca um grande sofrimento psíquico e crises emocionais, sempre que se fala em (ou se evoca) a pessoa... desaparecida ('e que pode não estar morta').

Acho que a melhor maneira de ajudar a Cidália é voltar a contar a história (e repeti-la, se necessário), com todos os pormenores, mesmo os mais horrendos... E mostrar-lhe a foto da viatura, a GMC, onde o António e os seus companheiros morreram, carbonizados... Mostrar as fotos do Saltinho e dos lugares, à beira do Rio Corubal, onde ele também viveu bons momentos e onde sentiu saudades da mulher e da filha...

Como homem das transmissões, levando as costas o seu rádio, o António seguramente que ia na GMC, perto do Alf Mil Armandino, comandante da coluna... Diz-lhe que foi uma carnificina horrível, mas que tudo se passou num ápice.

Entretanto, será desejável que apareçam mais depoimentos, nomeadamente de malta que conheceu e conviveu de mais perto com o António Ferreira, no Saltinho, como é o caso da malta do teu Pel Caç Nat 53 e da CCAÇ 3490 ou do BCAÇ 3872 (Galomaro).

Do Batalhão, temos apenas, aqui, como membros da Tabanca Grande, o Carlos Filipe Coelho, o Luís Dias, o Juvenal Amado, o Joaquim Guimarães e o António Batista, se não me engano. O Luís Borrega também teve contactos com a malta deste batalhão.

Da CCAÇ 3490 são só mesmo o António Batista e o Joaquim Guimarães. Até agora julgo que não apareceu mais ninguém, embore eu não confie muito na minha memória. Há um outro camarada, identificado pelo Carlos Vinhal, e que pertenceu à CCAÇ 3490: Justino Sousa - contacto: 255 776 190. Tens, por fim, o Joaquim Guimarães, que vive nos Estados Unidos e que era professor no Saltinho (***). Ele deve estar lembrado do António. Mas acredito que seja doloroso para ele e para o resto da malta da CCAÇ 3490 lidar, ainda hoje, com este pesadelo.

Paulo, confio na tua sabedoria e experiência para lidar com este difícil caso. Mas conta com todo o nosso apoio. Sabemos que farás o teu melhor. Transmite aos familiares e amigos do António a nossa solidariedade e compaixão.

____________

Notas de L.G.:

(*) Sobre a tragédia do Quirafo, vd. postes de:

21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)

12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)

28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)

26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)

25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)

23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)


(**) É já vasto, no nosso blogue, o dossiê do António Batista, a quem chamamos o 'morto-vivo' do Quirafo:

26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)

1 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2497: O dossiê António da Silva Batista: um caso de indignidade humana (Torcato Mendonça)

31 de Janeiro de 2008 Guiné 63/74 - P2494: Sr. Ministro da Defesa, parece que não há Simplex que valha ao António da Silva Batista! (Paulo Santiago)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2422: Quem terá sido o Camarada que ficou na campa do António Baptista? (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)

25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)

21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2371: O Sold António Baptista não constava das listas de PG (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)

28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2140: Tabanca Grande (35): Notícias do Tony Tavares (CCAÇ 2701) e do António Batista (CCAÇ 3490) (Ayala Botto)

9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2040: No almoço da tertúlia de Matosinhos com o António Batista, o nosso morto-vivo do Quirafo (Paulo Santiago)

30 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BCAÇ 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)

26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1999: Vamos arranjar uma caderneta militar nova para o António Batista (Rui Ferreira / Paulo Santiago)

24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1991: O Simplex, o Kafka e o Batista ou a Estória do Vivo que a Burocracia Quer como Morto (João Tunes)

24 de Jullho de 2007 > Guiné 63/74 - P1990: Carta aberta ao Cor Ayala Botto: O caso Batista: O que fazer para salvar a sua honra militar ? (Paulo Santiago)

23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1986: António da Silva Batista, o morto-vivo do Quirafo: um processo kafkiano que envergonha o Exército Português (Luís Graça)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)

21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)


(***) Vd. postes de:

1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2019: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)

28 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3097: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (1): Saltinho

(...) "Quero também agradecer ao Paulo Santiago pela maneira como descreveu a passagem do Quirafo, com honestidade, sem dramatizar ou exagerar. Prestou a devida homenagem aos meus companheiros, alguns dos quais não tive grande contacto, mas como dizia respeitou a memória de "eles" e quem sabe dos seus familiares e em particular a minha.

"Eu pessoalmente ainda não tive a coragem de me mostrar. Neste momento ando numa luta com os meus companheiros de Companhia mas ninguém se quer envolver ou comentar. Mais de que nunca penso na minha, na nossa culpabilidade do Quirafo.

"Num dos blogs refere-se em comemtário a questão da recuperação dos corpos. Eu penso que esse pormenor deve ser excluído, não importa como foi, o importante é que tudo foi feito com amor, com respeito e muita dor mas foram dignificados em todo o processo" (...).


1 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3104: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (2): Saltinho

4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3109: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (3): O Rio Corubal no Saltinho

5 comentários:

Anónimo disse...

Caros camarigos

Na altura escrevi alguma coisa sobre esta emboscada do Quirafo, pois o Armandino, que era do meu curso dos Ranger's, tinha estado a almoçar comigo uns dias antes em casa do Jamil, no Xitole.

Lembro-me que no dia da emboscada sairam dois? grupos de combate do Xitole para o Saltinho, julgo que um deles comandado pelo António Barroso, nosso camarada Alferes Miliciano e membro da Tabanca.

Não sei se lel pode acrescentar alguma coisa, mas é fácil contactá-lo pois ele costuma frequentar ao que sei a Tabanca de Matosinhos.

É tempo realmente de se dar toda a verdade às pessoas que ainda sofrem pelo desaparecimento dos seus queridos familiares, e mais uma vez tenho, temos que lamentar que o nosso país não tenha uma atitude de dignidade para com as familias que perderam os seus filhos na guerra de África.

Abraço camarigo para todos, mas especialmente para aqueles que sofrem ainda e tanto, esta guerra
Joaquim Mexia Alves

Hélder Valério disse...

Caros amigos, camaradas e outros.
Concordo com o Mexia Alves de que é mais que tempo de se fazer o luto e exigir uma atitude de dignidade e de respeito para com os ex-combatentes e seus familiares por parte de quem já o deveria ter feito.
São realmente estas situações e estes casos (pessoas que lêem o Blogue e dele se socorrem para aclarar as suas dúvidas e/ou dissipar os fantasmas) que me fazem ficar mais confortável com a certeza da sua (para mim) inquestionável utilidade.
Assim os homens queiram! Caso não, podem tentar reduzi-lo a apenas um "foranada", mas acho que isso não acontecerá.

Luís Graça disse...

Camaradas:

A questão do luto patológico, que eu aqui levanto, deveria merecer maior atenção e pesquisa, por nossa parte.

Bem vistas as coisas, os cerca de 9 mil mortos da guerra de África (incluindo os falsos 'desaparecidos' - corpos que nunca foram encontrados e que portanto ficaram 'insepultos'...) estão em igualdade de circunstâncias:

(i) uns ficaram enterrados em terras de África, mais ou menos próximo dos locais onde morreram, ou em cemitérios militares (caso de Bissau); recorde-se que, na altura, e nomeadamente até 1968, o Estado não suportava as despesas de transporte dos restos mortais dos militaes mortos em África, que eram elevadíssimas: qualquer coisa como 11 contos, o que era muito dinheiro na época, um ano de pré de um soldado metropolitano);

(ii) outros foram enviados em caixões de chumbo para a Metrópole... Havia todo um processo burocrático a cumprir, havia o transporte dentro do território e depois a longa viagem de barco (da Guiné, de Angola, de Moçambique para a capital do império); e por fim a derradeira viagem, de Lisboa para o destino final; havia ainda o velório (semi-público) e por fim a cerimónia fúnebre pública, despudoradamente pública, no cemitério local, com honras militares ou fanfarras de bombeiros!... Enfim, um horror, um pesadelo, para a família e os amigos!...

Com tudo isto, entre a notícia da morte, e o funeral - a 5 mil quilómetros de distância, no caso da Guiné - podiam mediar vários meses.

Dou o exmeplo de um primo meu, em 3º grau: José António Canoa Nogueira, Soldado nº 2955/63, Ganjola, SPM 2058. Morreu em combate em finais de Janeiro de 1965, o corpo foi transportado, em urna de chumbo, para a Metrópole, para a sua terra natal, Lourinhã, a expensas dos seus camaradas... O funeral realizou-se em meados de Maio de 1965, ou seja três meses e meio depois...

Em qualquer dos casos, a família tinha sempre a mesma atroz dúvida que, 37 anos depois, continua a assaltar a Cidália:
- Será que este cadáver que aqui vem, é mesmo o do meu filho ou do meu marido ou do meu irmão ?

Na época havia muitas dúvidas ou perpelxidades sobre o verdadeiro conteúdo dos caixões "que pesavam como chumbo"... Havia os mais macabros relatos: por exemplo, que os cangalheiros militares os enchiam de pedras, na ausência de cadáver...

Eu chamo-lhe a síndroma de Alcácer Quibir... Ao longo de séculos, as família portugueses tiveram dificuldades em fazer o luto pela perda dos seus entes queridos (mortos ou desaparecidos em naufrágios, em prisões, em guerras, em epidemias, etc., nos mais desvairados sítios do mundo, entre as mais desvairadas gentes)... E naquele tempo nem os muito ricos ou nobres tinham direito a repatriamento... Quem morria no mar, era sepultado no mar...

Em muitos casos, foi (e continua a ser... ) um luto patológico.

Anónimo disse...

Camaradas
Hoje tive um dia de folga e fui
almoçar a Matosinhos.O Álvaro,foi
em 17/04/72 com o Dr.Azevedo ao
Saltinho,tirou-me as dúvidas e,será
sem elas,que irei falar com a
Cidália.
Abraço
Paulo

Anónimo disse...

Boa noite amigos

Desde já apresento-me...sou a Cátia, amiga da Cidália Cunha (viuva), que entrei em contacto com o Paulo Santiago (um SENHOR). Agradeço imenso a dedicação de todos, acreditem que tudo o que fizerem fará a diferença.
Tenho uma relação com a Cidália como mãe/filha e numa das nossas muitas confissões ela contou-me toda a sua história. O casamento de sonho com o grande amor da sua vida e o desabar de tudo nas terras da Guiné.
Esta grande Mulher que desde sempre fez frente aos "grandes" do exercito à procura de respostas que nunca conseguiu ter.
As perguntas: "Será que o Ferreira morreu mesmo no Quirafo? Será que naquela sepultura, que é adorada todos os Domingos, está mesmo o corpo do Ferreira?" mantêm-se depois de todos estes anos por falta de explicações. Além disso o Ferreira disse sempre que fugia antes de morrer...Se calhar todos disseram o mesmo...
O que é certo é que a Cidália e toda a familia vivem na esperança que mais um "morto" apareça vivo. A filha que nunca conheceu o pai, o neto que adora o avó que nunca conheceu, a esposa que o continua a amar como no 1ºdia, desde sempre até ao fim...
Por isto tudo e muito mais, mais uma vez agradeço em meu nome e em nome da Cidália e familia:
-tudo o que têm feito e sei que continuarão a faze-lo;
-toda a dedicação em encontrar respostas;
-por este blog que nos deu uma enorme esperança, aquando das minhas pesquisas até altas horas...

Estarei sempre disponivel para acompanhar a Cidália, já que ela não conduz, para sabermos algo mais.

OBRIGADO!

NOTA: Só para corrigir um lapso, o Ferreira estudava na Escola de Engenharia de Arca d'Água e, pelo que li algures aqui no blogue havia um Sr. chamado Sousa de Castro que frequentava esse mesmo curso, que poderá ajudar-nos.

***