sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3569: Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, leões, elefantes...(António Matos)

O bicho mais feroz que vi na Guiné foi, sem sombra de dúvida, um ovovivíparo, munido de probóscide ou tromba (mas não era elefante, que por sinal não é ovovivíparo) que lhe serve para a alimentação, esta à base de sangue dos vertebrados, pertencente à família dos culicidae, da ordem dos diptera e sub-ordem dos nematocera, cuja fêmea, também chamada de trompeteiro, pertence à classe dos insectos - o mosquito!

Dotado de um espírito conflituoso, ataca branco ou preto, homem ou mulher, adulto ou criança, de maneira indiscriminada.
Quando apanhava sangue fresco de periquito, enchia o papo dum néctar dos deuses, deixando a vítima a coçar-se desesperadamente, mas à medida que a comissão se prolongava no tempo, não raras eram as vezes em que caíam de bêbados depois de emborcarem o que nos corria nas veias, onde os glóbulos vermelhos tinham sido apaladados por doses extra de taninos ....

Um dos entreténs era deixá-los pousar nos braços, cravarem fundo o ferrão, deixá-los encher a pança e depois, ZÁS! Uma valente palmada que os esborrachava. Eram verdadeiras vítimas de autêntica roleta russa! E a quantidade de sangue desperdiçado era fantástica!
Coitados, que pena tenho deles....
Quando, por vezes, me empoleirava na arquitectura sofisticada que sustentava uma arejada latrina a céu aberto, tinha ocasião de, enquanto mirava lá para baixo e tentava fazer pontaria acertando naquele ou naqueloutro ponto de referência, detectar pequenas cobritas que me pareciam inofensivas ao pé do mosquito.

No destacamento de Augusto Barros
, tive uma gazela que mais tarde, e na ausência de uma comissão de protecção dos animais, foi transformada em deliciosos bifes e substituída por um ganso fêmea.
Esta tinha como função pôr 2 ou 3 ovos por dia e à noite funcionava como detector de amigos do alheio.
Foi uma altura de suculentos pequenos almoços com monstruosos ovos estrelados, com elevados índices de colesterol, mas isso agora não interessa nada.

Ao chegar à Guiné ainda pensei em safaris, com leões, chimpanzés, elefantes, rinocerontes, mas nada!
Tínhamos mosquitos e já nos podíamos dar por satisfeitos!
Uma vez ou outra, eram reforçados por uns primos afastados de seu nome abelhas mas que se dedicavam mais a operações especiais.
Os mosquitos eram mais tropa fandanga...





Levei dentada de criar bicho, fui evacuado várias vezes tal a dimensão dos hematomas mas não cheguei a ter paludismo!

Aliás, felizmente, não estive nunca doente à excepção do agravar duma duodenite que já levava de cá mas que um tratamento no hospital militar em Bissau, em regime de taskforce à base de whisky, resolveu em três tempos.



António Matos
__________

Notas de vb:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790.

2. Artigo do Autor em

2 de Dezembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3555: Navio "Carvalho Araújo". (António Matos)

5 comentários:

Anónimo disse...

E a formiguinha que perdia a asa?.. até escurecia :-))

abraço

urbano silva

Anónimo disse...

Lá estou eu a escrever...
1 - O bicho mais feroz que encontrei em África foi um bípede: O Homem!
2 - O insecto, raio sabes de insectos...foi a baguera ou abelha. Um enxamezeco destroçava uma Companhia. Aos alérgicos era dada uma injecção de um liquido do L M nem digo qual, mas podia ser perigoso.
3 - Bela Gansa. Não sabes a marca e se podemos adquirir bisnetas aqui?
4 - Apanhei vários ataques de paludismo.Se era mordido por um tal familiar dos culicidae, vulgo mosquito, certo e sabido: o insecto caía envenenado, tal a qualidade do meu sangue. Só as fêmeas que,como sabes é quem suga o sangue e etc.Os machos nem se aproximavam...
5 - Bicho de Tromba, além de um ou outro bípede, era, sem dúvida o javali.Pois além de perigoso era saboroso. As crias eram lindas...apareciam nas emboscadas por nós montadas. Vidas! AB do TM

António Matos disse...

TM, ( Torcato Mendonça ? ) eureka! Estava mesmo à espera, sinceramente, que alguém me dissesse que o bicho mais feroz na nossa guerra era o homem !
100% de acordo, mas assim sempre se deu asas à estória da gazela, da gansa, dos bifes e dos ovos colesteroizados !!!
Mas que o mosquito, ou mesmo a mosquita, na sua acção sorvedora era endiabrada, lá isso era !
Um abraço,
António Matos

Anónimo disse...

Gosto da pilhéria literária, e com bom gosto. Façam o favor de continuar...
Abraços.
JD

Anónimo disse...

"Pensamento profundo"

A Inspiração é uma das bases da Galhardia

A sucção é uma das bases de vida


Parabens e continuem

LFaria