quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3531: Controvérsias (14): PAIGC/FLING, Tite/São Domingos...(Carlos Silva)

Quando começou a Luta de Libertação?



Início da Guerra Colonial – Guerra do Ultramar [Guiné]
Início da Luta Armada – Início da Luta pela Libertação da Pátria [Guiné]
Início da Luta Armada pela Independência dos Territórios Ultramarinos da Guiné e Cabo Verde


As expressões referidas em epígrafe em minha modesta opinião e salvo o devido respeito, que é muito, por opiniões contrárias, consubstanciam ou podem traduzir vários sentidos ou interpretações, que neste momento, me dispenso de desenvolver.

Não sou Historiador e nem tenho formação académica na área de História e desconheço quais os factos relevantes que os Historiadores lançam ou irão lançar mão, neste caso concreto para qualificar o início da luta armada do povo da Guiné e Cabo Verde que conduziu à Independência destes dois territórios.

Da vasta bibliografia que possuo e li sobre a Guiné, Guerra da Guiné, Guerra Colonial, cerca de 200 livros, jornais, revistas e filmes que tenho visto na TV e em DVDs, sempre ouvi, li e vi referências que o início da luta armada pelo PAIGC que conduziu à independência daqueles dois territórios, iniciou-se com o ataque ao Aquartelamento de TITE, em 23 de Janeiro de 1963, levado a efeito pelos guerrilheiros nacionalistas, data invocada em todos os meios de comunicação referidos, sendo que, alguns fazem breves referências a tais acontecimentos, não desenvolvendo algo sobre os factos que ali se passaram, a não ser a data em que efectivamente teve lugar o início da luta armada levada a efeito pelo PAIGC.

Ataque ao Aquartelamento de Tite – 23-01-1963

Algumas Referências Bibliográficas

Sobre o começo das hostilidades ou início da luta armada pelo PAIGC em 23-01-1963 com o ataque ao Aquartelamento de Tite, situado no Centro-Sul da Guiné, por estranho que pareça, não encontramos qualquer narração escrita de forma desenvolvida sobre os factos que se passaram, quer do lado português, quer do lado do movimento nacionalista.

Da bibliografia aqui indicada, apenas se encontram breves referências alusivas a tão importante facto histórico no seguinte sentido:

1 - "... Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte de Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."

In, Carta de 7-07-1981 do Ten Cor Manuel José Morgado, enviada ao Director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades".

Resumo da Actividade do BCaç nº 237/BCaç nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965 [Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM]

2 - A propósito da detenção de alguns dirigentes do PAIGC em Conakry, por alegado contrabando de armas, diz Luís Cabral:

“... O Aristides respondeu em poucas palavras, justificando o nosso acto pelo interesse da luta comum e pedindo-lhe [ao Ministro da Defesa da República da Guiné-Conakry, Keita Fode] que transmitisse o nosso reconhecimento ao presidente pela sua fraterna compreensão. Quanto ao regresso do Amílcar, falando com toda a franqueza, não acreditávamos que ela pudesse ter lugar antes da nossa libertação, mesmo com a mensagem.

"Era lógico que ele fosse aconselhado a reflectir muito sobre a questão pois, se havia razões para estarmos ainda detidos, essas razões seriam certamente mais válidas em relação a ele, como primeiro dirigente do Partido.

"Entretanto, nas diferentes zonas do interior do país, ao tomarem conhecimento da nossa detenção, os combatentes decidiram juntar o pouco material de que dispunham e agir prontamente contra as posições colonialistas, onde isso fosse possível.
A 23 de Janeiro era realizado o primeiro ataque das forças nacionalistas do PAIGC, contra o quartel de Tite, sede administrativa da circunscrição de Fulacunda...”


In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição 1984, pág. 144

3 – “…Malogradas as tentativas pacificas, só restaria a luta armada e, após uma declaração de Amilcar Cabral à Imprensa, em Dacar, de 26 de Agosto de 1962, verificou-se o ataque de guerrilheiros ao quartel de Tite, a 23 de Janeiro de 1963…
No caso do Senegal, conquanto inicialmente o seu apoio se evidenciasse mais favorável à FLING, Léopold Sédar Senghor viria a transferi-lo para o PAIGC…”

In, Sambu, Queba, TenCoronel – Dos Fuzilamentos ao caso das Bombas da Embaixada da Guiné, Edições Referendo, 1989, pág 18

4 - "... 23 Janeiro de 1963 - O PAIGC assalta o quartel de Tite e inicia a guerra na Guiné.

"Cabral tentou ainda fazer-se ouvir, com apelos ao diálogo, mas é pelo efeito das armas que a minúscula Guiné se torna a segunda frente de contra-ataque português...."


In Antunes, José Freire, A Guerra de África 1961-1974, volume 1, Temas & Debates, Outubro de 1996, pág. 34.

5 - António E. Duarte Silva, citando Amílcar Cabral "O Desenvolvimento..." Cit. Obras...Vol. II, pág.37, sobre este facto salienta:

"...b) O início da luta armada

"A luta armada de libertação nacional começou efectivamente em 23 de Janeiro de 1963 com o ataque, por uma centena de guerrilheiros ao quartel de Tite, na margem sul do Rio Geba, onde estava instalado o comando de um batalhão português:

"(...) vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas distantes surgiam então os combatentes do nosso partido. Não vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo. (...)

"Em Julho de 1963 a guerra atingiu as florestas de Oio, a norte do Geba, de modo que, ao chegar-se ao final de Agosto de 1963, a situação na enorme região que abrange Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabã e Olassato, não era muito diferente da existente em grande parte do sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e actividade comercial profundamente afectada"...


In Silva, António E. Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Março de 1997, pág. 47

6 - "... Na Guiné, as acções de guerrilha foram iniciadas pelo PAIGC em Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal [1], embora outras pequenas acções tivessem ocorrido antes. As operações estenderam-se rapidamente a quase todo o território, em contínuo crescendo de intensidade, que exigiu o empenhamento de efectivos portugueses cada vez mais numerosos..."

In Afonso, Aniceto, Gomes, Carlos Matos, Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique - Ed. Diário de Notícias, em fascículos.

[1] - Lapso dos Autores, porquanto, Tite situa-se a poucos quilómetros da margem esquerda do rio Geba. Enquanto o rio Corubal é um afluente da margem esquerda do rio Geba e desagua próximo das povoações de Ganjaurá, Ganturé e Ponta do Inglês, situadas a Norte de Fulacunda.


7 - "... O Partido procurou, deste modo, responder às reivindicações destes estratos, que pretendiam ascender a um patamar superior na hierarquia social. A mobilização dos camponeses iniciou-se após os acontecimentos do Pidjiguiti, altura em que foi decidida a preparação para a luta armada.

"O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, em Tite..."


In Pinto, Jorge, Paulo, Manuel, Duarte, Paula - Guiné Nô Pintcha! - Para uma análise Socio-económica da Guiné-Bissau, Edições Universitárias Lusófonas, Outubro de 1999, pág. 33

8 - "... Em 23 de Janeiro de 1963, o PAIGC desencadeia a luta armada na Guiné-Bissau. Três dias depois, o governo de Salazar fixa os vencimentos dos elementos das Forças Armadas em serviço nas Províncias Ultramarinas.....

"23 de Janeiro de 1963 - Início da luta armada, com ataque ao Quartel de Tite, no Sul da Guiné-Bissau. Chegam a Conakry os primeiros recrutas a fim de receberem treino militar..."


In Cabral, Amílcar - Sou um simples africano, Fundação Mário Soares, 2000, págs. 32 e 83.

9 - “ ... A Guiné apresentava características diferentes. De acordo com o censo de 1960, a sua população era de aproximadamente 500.000 habitantes, cerca de dez vezes menos do que a de Angola, estando concentrada no delta costeiro ocidental e dividida em vinte e oito grupos etnolinguísticos distintos. O PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], fundado em Lisboa em 1956, arrancou para a luta armada em 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao Quartel de Tite.

"O seu líder era Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo licenciado em Lisboa e aí convertido à doutrina marxista-leninista.

"As condições topográficas da província e o apoio de Conakry aos terroristas do PAIGC fizeram da guerrilha da Guiné a mais dura de todas as que se travaram nas frentes do Ultramar. Afectado por convulsões internas [como as que originaram o assassínio de Cabral em 1973], sem nunca ter conseguido resolver o problema da rivalidade existente entre guinéus e cabo-verdianos, o PAIGC, em 1974 e ao invés do que proclama a versão oficial estava disposto a entender-se com os portugueses e a abandonar o mato...”


In, Santos, Bruno Oliveira – Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, 2ª edi. 2000, pág. 93

10 - "... O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesa, em Tite..."

In Atlas da Lusofonia, 1º Vol. – Guiné-Bissau, Ed. Instituto Português da Conjuntura Estratégica e do Instituto Geográfico do Exército, Maio 2001, pág. 25

11 – "... Instalados nos territórios estrangeiros limítrofes, os atacantes preparados e armados por potências interessadas em expulsar os portugueses de África, à sombra da bandeira da independência, sob o lema da 'África para os africanos', passaram a realizar acções violentas com a continuidade, na Guiné, desde 23Set63, [ataque ao aquartelamento de Tite] {aqui, a data está errada e para a qual já alertei a Comissão…} e na sequência de alguns ataques esporádicos, o primeiro dos quais levado a efeito na noite de 20 para 21 de Julho de 1961, em S. Domingos por iniciativa do Movimento para a Libertação da Guiné [MLG], antecessor do PAIGC na luta pela independência do Território… “

………
"....Bat Caç nº 237 - Síntese da Actividade Operacional

Após o início das primeiras acções contra as NT, com o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 Janeiro de 1963, comandou e coordenou a actividade operacional das suas forças numa série de acções ofensivas nas áreas do Quitifane, Cantanhez, Quinara e Jabadá - Gã Chiquinho."


In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 6 e 40

Posto isto, relativamente aos Postes nº 3294, 3298 e 3308 relativos ao ataque a Tite em 23-01-1963; Postes 3459 e 3492, CCaç 84 em Defesa de Guidage, Bigene, 1961; Poste 3503, Comentário de Santos Oliveira, e Post 3514, posição do nosso Camarada Mário Dias, publicados no Blogue, em que ressaltam os entendimentos destes Camaradas sobre o [início da guerra na Guiné??..] parece-me de salientar principalmente o seguinte:

Carlos Silva

1 – Parece que é aceite pela opinião pública em geral [portugueses, guineenses e cabo-verdianos] que o início das hostilidades pelo PAIGC que conduziram à independência dos dois territórios, tiveram lugar com o ataque ao Aquartelamento de Tite em 23 de Janeiro de 1963, para findarem apenas após atingido o seu objectivo principal, a independência alcançada após o 25 de Abril de 1974.

S. Domingos

2 – O nosso camarada Mário Dias no Poste 3514 diz que "...é falso. O PAIGC pretende os louros de ter iniciado o que se passou a designar por luta de libertação. Mas não foi assim. Em Julho de 1961, a FLING (Frente de Libertação e Independência da Guiné, liderada por François Mendy e sediada no Senegal) atacou com armas de fogo o quartel de S.Domingos onde se encontrava instalada parte (julgo que apenas um pelotão) da Companhia de Caçadores 5, destacada na Guiné…

(...) "Foi um ataque deliberado a um quartel e a uma unidade militar feito por um movimento que também lutava pela independência mas cuja existência o PAIGC procura ignorar e até negar….

(...) "Falei com alguns dos militares pertencentes a essa unidade destacada em S.Domingos e um furriel…

(...) "Quanto à posterior ocorrência de incidentes em Guidaje, conforme já relatei, não me recordo deles e, por isso, nada posso acrescentar…]"


Carlos Silva

O Mário tem a sua razão, depende da perspectiva de interpretação que cada um de nós dê à referida expressão.

Pois se a mesma significar um sentido global, então a Luta de Libertação não começou em 1961, mas, com certeza, começou após a ocupação do território ou a partir de outras campanhas, como por exemplo foi o caso no tempo de Teixeira Pinto, creio que em 1912 ou 1913 contra os revoltosos do Oio.

Carlos Silva


3 - Contudo, é de salientar o que é referido pela Comissão de História das Campanhas de África 1961-1974 “…e na sequência de alguns ataques esporádicos, o primeiro dos quais levado a efeito na noite de 20 para 21 de Julho de 1961, em S. Domingos por iniciativa do Movimento para a Libertação da Guiné [MLG], antecessor do PAIGC na luta pela independência do Território… “

vd ponto 11 das Referências Bibliográficas.

Daqui resultam informações contraditórias.

A Comissão, refere que o ataque que se verificou em S. Domingos é da iniciativa do MLG, antecessor do PAIGC…, embora eu, de momento, não me recorde de ter lido algo sobre este MLG e que o mesmo tivesse reivindicado tal ataque - o que tenho lido é sobre o MING -Movimento para a Independência da Guiné, fundado por Amilcar Cabral e Rafael Barbosa, e não li em parte alguma a reivindicação por este Movimento relativamente ao citado ataque.

O Mário refere-se à FLING - Frente de Libertação e Independência da Guiné, liderada por François Mendy e sediada no Senegal, como sendo quem efectuou o ataque.

Efectivamente eu não sei quem efectuou o ataque e desconheço, de momento, para além destas duas, outra qualquer referência a tal facto, ficando agora na dúvida. - Quanto às datas do ataque parecem ser coincidentes no que se refere ao mês e ano.

Bigene e Guidaje

4 – […Quanto à posterior ocorrência de incidentes em Guidaje, conforme já relatei, não me recordo deles e, por isso, nada posso acrescentar…], isto dito pelo Mário.

Carlos Silva

Eu também nunca ouvi falar sobre estes incidentes naquela localidade, assim como em Bigene, segundo vem referido no Poste 3459 do Alberto Nascimento [que não presenciou os factos] que diz:

“…Agora era só meter no saco o estritamente necessário para uso pessoal e desandar para Farim porque tinha havido um ataque em Bigene….

"…e toca a correr para Bigene, onde passámos a noite à espera “que o assassino voltasse ao local do crime”, mas como não voltou, de manhã cedo voltámos a Farim…

"…Estávamos a começar a entrar na rotina militar, quando se deu um ataque a Guidaje e lá fomos nós ver os prejuízos…

"É óbvio que nos limitámos a verificar as marcas deixadas pelos tiros que dispararam, a olhar para o armazém de mancarra parcialmente queimado e a conversar com alguns habitantes, após o que o comando da coluna decidiu, ao fim da tarde, regressar a Farim" (...).


Carlos Silva

Enfim, não há notícias de mortos, feridos, se eram muitos ou poucos os guerrilheiros, quais os estragos causados, porque não avançou para lá o mencionado Esq ou Pel de Cavalaria estacionado em Farim, não há registos militares elaborados por essa Unidade, etc, etc…

Poste 3492

“… a ida para Farim e o recebimento da G3 são um dado que está absolutamente correcto, seja qual fôr a data convencionada para o início da história da guerra na Guiné"…

Carlos Silva

Provavelmente serão estes ataques a que a dita Comissão se refere quando menciona “…e na sequência de alguns ataques esporádicos"!...

5 - Do atrás exposto verificámos:

A ausência de outras referências e outros testemunhos, pelo menos, ao nível do Blogue, embora daquilo que li e vi, como já disse, não registei qualquer alusão a estes factos.

Um lapso de tempo de ano e meio que vai de Julho de 1961 a Janeiro de 1963, sem se ouvir contar que houvesse continuidade de escaramuças.

6 – Prosseguindo, continuação do Poste 3459

“ 3. Comentário de L.G.:

"…Em terceiro lugar, os acontecimentos que tu nos relatas, obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue.

"Pelo que tu nos contas, já usavas G3 em meados de 1961, em substituição da velhinha Mauser. E devias também usar capacete de aço! Imagino o suplício, com aquela torreira toda... Esta é, de facto, uma história da velhice mais velha! Portanto, em meados de 1961, os camaradas - possivelmente gente da FLING, e não do PAIGC - já andavam aos tiros aos nossos comerciantes e aos seus armazéns de mancarra, lá na região do Cacheu , na fronteira com o Senegal, em Bigene e em Guidaje….”


Carlos Silva

7 – Donde, embora respeite a opinião do nosso Camarada Luís Graça, não comungo da mesma, com o fundamento no relato de apenas dois camaradas, quando afirma “... obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue... ”

8 – Porquanto, nesse sentido, tal como atrás referi, se considerarmos esses ataques esporádicos de Julho de 1961, como refere a Comissão e sem qualquer continuação, então poderemos considerar que o início da luta da libertação ou a guerra da Guiné, como lhe queiram chamar, remonta à época da sua ocupação... ou às campanhas de Teixeira Pinto, etc., etc.

9 - Tenho para mim, como facto assente, público e notório que o início da luta armada levada a efeito pelo PAIGC e que conduziu à independência dos dois territórios aqui mencionados, iniciou-se com o ataque ao Aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro de 1963, efectuado por guerrilheiros nacionalistas pertencentes àquele Partido, sem qualquer interrupção até atingirem o seu objectivo, a independência, que veio a concretizar-se após o 25 de Abril de 1974.

10 – Seria bom que outros Camaradas, presentes na Guiné em 1961 e posteriormente, conhecedores de elementos comprovativos destes factos relevantes para a História Contemporânea dos nossos Países, dessem a conhecer por qualquer meio sobre o que sabem ou presenciaram.

Aqui deixo o repto

Carlos Silva

Ex-Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879
Massamá, 26 de Novembro de 2008

________

Notas de vb:

1. O nosso muito obrigado por este contributo do Carlos Silva, nosso ilustre camarada e jurista e que mantém um blogue com muita informação pouco conhecida.

2. Em referência ao artigo publicado em

25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3514: Controvérsias (12): A G3, a FLING, o PAIGC, o Pdjiguiti, São Domingos, Tite e outras lendas (Mário Dias)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Mensagem que o Santos Oliveira enviou ao Carlos Silva, autor deste poste:

Carlos Silva:

Como mandam as boas regras, acuso a recepção [do teu texto] e faço o meu Comentário.

Primeiro quero agradecer-te e saudar-te por vires a terreiro e dares-me conhecimento da tua opinião sendo, eu, parte interessada. Algo que também anda muito esquecido pelas gentes deste tempo.

Segundo, porque melhor que eu, te documentaste para elaborar esta notável análise dum problema que parece não gerar consensos em Militares da mesma época e que por via de falhas de informação apenas confirmam o antigo slogan do Programa de Alfabetização de Adultos:"AQUELE QUE NÃO SABE LER, SÓ SABE O QUE VÊ NO LUGAR EM QUE ESTIVER". Não havia comunicações rádio, nem jornais...

Lamento por mim, por nós... Por mim, a verdade é que tentei, tive o privilégio de estar no lugar certo e a preparação militar, mas os Documentos eram, praticamente, inexistentes nas OP, como disse.
Tu buscaste e encontraste Docs que embora criados em datas posteriores, sempre estão mais próximos do tempo que a nossa "triste" actualidade.

Por polémicas, não. Pois parece que nos pretendemos colocar em patamares de Historiadores quando o que, imperativamente, será urgente é congregar a informação oral que resta de uma geração que está em rápida extinção. Depois desta tragédia certa, é que não há nada a fazer.

Comprometemo-nos e procuremos congregar os mais antigos a se abrirem, contando as suas vivências e experiências. Este será o maior e melhor trabalho que pudemos legar aos vindouros.
As Guerras de Libertação (qualquer libertação) sempre existiram e vão perdurar, infelizmente.

Mais uma vez, Carlos, curvo-me diante do teu trabalho notável e esclarecedor e ainda mais notável por ser duma época silenciosa, obscura e e cinzenta na qual, felizmente para ti (e outros Companheiros posteriores a 66), não tomaste parte.

Um abraço, do
Santos Oliveira

(Fixação do texto: editor, LG)

Anónimo disse...

Obrigado pela excelente apresentação e explicação devidamente documentada.

Sem ser necessário um tratado Histórico/Filosófico, fiquei mais esclarecido sobre o que pretendia acerca da FLING.

Afinal sempre serviu este espaço para aclarar as minhas dúvidas.

Com um abraço,
BSardinha

Luís Graça disse...

Carlos: Obrigado pelo teu excelente TPC... És um belíssimo e generoso elemento da nossa Tabanca Grande. Obrigado, em nome de todos nós.

Alguém pode pensar que esta é uma questão bizantina, que estamos para aqui a discutir o "sexo dos anjos"... Não, não é. Estamos a exercer o nosso direito à verdade. É um bom princípio, o do contraditório - como tu muito bem sabes, como jurista que és...

Para mim, é-me indiferente que a guerra tenha começado em 23 de Janeiro de 1963, em Tite... Ou que tenha sido a FLING, e não o PAIGHC, a dar o primeiro tiro... Não gosto é que me imponham "verdades de Estado" e desconfio da história escrita pelos vencedores. Devemos ser críticos de nós mesmos, e de tempos a tempos fazer o salutar exercício de "põr em causa" aquilo em que acreditamos, as nossas certezas, as nossas crenças, os nossos valores... Para que a inteligência seja sempre superior à força das armas e das ideologias...

Gosto mais do termo Controvérsia(s) do que Polémica(S)... Repara que podemos defender, aqui, no nosso blogue, serenamente, o ponto de vista A, B ou C, e aduzir argumentos a favor ou contra... Mas em matéria de história da guerra do ultramar / guerra colonial / luta de livertação ainda estamos condicionados por grandes lacunas da investigação historiográfica, por falta de acesso a outras fontes, quer de um lado quer do outro...

O drama é que algumas dessas fontes estão em vias de desaparecer, a começar pelos actores que fizeram e sofreram a guerra... Alguém sabe, por exemplo, por onde pára o arquivo do PAIGC (se é que há, ou houve, um arquivo do PAIGC) ?

Dizem-me que grande parte da documentação da Guiné-Bissau, relevante para o conhecimenmto da sua histópria recente, foi destruído em 1998... O Leopoldo, o nosso historiador, pode falar-nos sobre isto...

Um abraço para ti. Luís