terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3373: História de Vida (17): O Costa e a Madrinha de Guerra (José Martins)

1. Em mensagem do dia 13 de Outubro de 2008, o nosso camarada José Martins dizia-nos:

Assunto: Será possível o contacto?

Boa tarde

Estando deliciado com as minhas leituras de fim de semana, que são a continuação das leituras de fim de dia, o programa que passava na TV chamou-me a atenção: Falava dos anos 60 e tinha, entre outras coisas, imagens da guerra. A páginas tantas, entram dois convidados (*): Ele, um camarada nosso que esteve em Tite. Ela, a madrinha de guerra, que só este ano se tinham conhecidoum ao outro. O José da Costa e a Maria da Graça. Ele, tanto quanto me lembro, era Operador de Mensagens, ela funcionária autárquica.

O José da Costa mostrou, então, um pequeno baú onde tinha guardado, nestes 40 anos, a correspondência quer tinha recebido (familia, namorada, amigos, madrinha de guerra).
Disse ter estado em Tite entre 1967 e 1969.

Se as minhas investigações não me atraiçoam, deve ter estado no BART 1914 ou no Pelotão de Morteiros 1208 (neste caso teria sido destacado para serviço no Batalhão, o que também aconteceu ao nosso António Santos).

O interesse deste assunto, além de ser um camarada dos mais antigos, tem um espólio com a correspondência trocada com a sua madrinha, que nos poderá elucidar de que assuntos tratavam e, sobretudo, o blogue pode ser (é de certeza) um óptimo veículo para rendermos homenagem às moças da nossa juventude que, tirando tempo ao seu lazer e entrando num campo que lhes era desconhecido, mantiveram a autoestima de muitos camaradas nossos.

Será que o José da Costa nos lê? Será que quer partilhar connosco as suas memórias?

Um Abraço
José Martins
Ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude,
1968/70


2. No dia seguinte, recebemos do José Martins a seguinte mensagem:

Assunto: José Pinho da Costa

Boa tarde camaradas

Acerca do que escrevi sobre o programa da RTP 1, A Minha Geração, consegui, graças à gentileza da Junta de Freguesia de Ovar, a quem publicamente agradeço, localizar o camarada José Pinto da Costa, Operador de Mensagens do BART 1914 (Tite, Abril de 1967 a Fevereiro 1969).

Falei com ele e fui autorizado a informar-vos do seu contacto, tendo-me esclarecido que também a 1914 tem um blogue, editado pelos camaradas Leandro Guedes, Pica Sinos e José Justo:
http://bart1914.blogspot.com/ (**)

In illo tempore

Já agora, um texto retirado desse blogue, e que tem a data de 6 de Outubro (com a devida vénia, ao blogue e ao Zé Justo).

Um abraço
José Martins
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Nasceu mais um vedeta televisiva !! O sr. José Costa deu um show, que embora curtinho foi de alta qualidade!!

Estiveste mesmo à altura, companheiro. E com a coragem de dizer umas verdades bem reais: ...que vão para lá seis meses...não disparam um tiro...e ganham balúrdios !!

É assim mesmo. Até tem direito a reportagens na televisão, como se fossem para o "horror das trincheiras"!!.

Logicamente os tempos são outros, felizmente para todos, mas é abismal o contraste, e dói saber como são tratados muitos camaradas de armas que levam vidas abaixo de cão devido ao ferrete que os marcou para o resto das suas tristes e sofridas vidas.

E de certeza que estes militares em missão não se alimentam como nós em Tite, durante dois anos !! Enternecedor, ver-vos aos dois! e o relato do vosso reencontro pós 40 anos... Imagino a sensação.

A velha malinha com as cartas, não lembra a ninguém, passados tantos anos ?!
Pela tua prestação, manda o Governo da República que sejas promovido a General por mérito.


Amigo, os meus parabéns, e como disse a Catarina: "vão falando os dois"...

Um grande abraço
Zé Justo

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3. Comentário de CV (***):

O nosso camarada José Costa resolveu ao fim destes anos todos procurar a sua madrinha de guerra e tentar reconstituir o passado. A D. Maria da Graça por sua vez confessou já não se lembrar muito bem daqueles tempos, nem sequer possui as cartas que o José Costa lhe enviou. Ele sim, mantém as dela num pequeno baú, que levou consigo, junto com outras cartas e aerogramas enviadas quiçá por familiares e amigos.

Aqui fica um pouco reforçada a ideia do quanto eram importantes as madrinhas de guerra para os militares, ao ponto de muitos de nós ainda conservarmos a nossa correspondência intacta. Claro que as ditas madrinhas de guerra, ao restabelecerem família, talvez por uma questão de pudor, se desfaziam daquela correspondência que seria hoje um suporte de enorme importância para a feitura de memória futura.

Deixamos aqui um convite público ao camarada José Costa para, sem prejuízo do blogue do seu Batalhão, nos contar algumas das suas histórias. Não faz mal que estejam por ventura já publicadas, não queremos ser exclusivos.
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Notas de CV:

(*) Podem ver um vídeo, disponível no You Tube, na Conta do camarada Pica Sinos, com o início da entrevista em http://www.youtube.com/watch?v=u4BrCqMjx1k&eurl=http://bart1914.blogspot.com/


(**) Sobre o BART 1914 e seu Blogue, vd. respectiva apresentação:

Batalhão de Artilharia 1914 - em Tite, na Guiné/Bissau

A CCS do Batalhão de Artilharia 1914 esteve aquartelada em Tite, em pleno mato no Sul da Guiné, de Abril de 1967 até Março de 1969. Permaneceram também em Tite durante esse tempo a Comp. de Artilharia 1743, o Pelotão de Morteiros 1208, o Pelotão Daimler 1131 e uma Secção de Obuses. Faziam parte desta Unidade o destacamento do Enxudé, no rio Geba, S. João, Nova Sintra e Jabadá. Lembraremos neste blog "aqueles que da lei da morte se libertaram", dando generosamente a própria vida.

(***) Vd. último poste da série História de Vida > 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (16): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

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