segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

1. Última parte do trabalho do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil At Armas Pesadas da CCAÇ 2548, Jumbembem, 1969/71, baseado numa brochura do seu amigo e camarada Gabriel Moura, publicado no seu SITE http:/www.carlosilva-guine.com/


6.3 - Saída dos Militares do Aquartelamento para capturar os terroristas

por Gabriel Moura

Eram grupos sem qualquer comando organizado e preparado, por vezes, sem armas. Só quando estavam já no mato em perseguição dos atacantes é que se lembravam: Esqueci-me da G3?!... Eram os furriéis, os sargentos, os alferes, os tenentes, os cabos, os soldados, de cuecas, de chinelos, com armas ou com o "mata mosquitos"; todos procuravam, à medida que o tempo ia permitindo, abrir mais a "pestaninha", contra atacar, correndo com os atacantes, indo até às tabancas próximas à caça de muitos que na fuga e dispersão se desorganizaram ou ficaram feridos, com parte dos pés desfeitos, braços meios amputados, rostos semi desfigurados, barriga com as tripas na mão, etc... pelas balas ou granadas.

Eram apanhados às dezenas, escondidos no capim ou na palhota. Foi uma caça que se prolongou até de manhã, onde o nascer do dia permitiu seguir rastos de sangue e localizar os atacantes feridos e outros que foram capturados e levados para a prisão de Tite, que "encheu até ao tecto", só aos poucos foram "despachados" para Bissau e outros destinos, ilha das galinhas [era o que constava lá por Tite] no Arquipélago de Bijagós ou, quem sabe, nem lá chegaram! [é a vida! quando há guerra!!!]

Foi uma desorganização que "organizou" o maior e mais eficaz "contra-ataque" jamais pensado e daí ter-se conseguido dar uma "reviravolta à situação inicial" [que se não fosse eu ter aguentado os atacantes durante aquele tempo todo, não permitindo a concretização dos seus intentos, até à reacção destempada de alguns meus colegas, nada disto era possível. Teríamos sido, na maior parte mortos ou capturados com a maior das facilidades do mundo. Disto não tenham dúvida, e podem "puxar" por qualquer fio da meada que irá dar ao mesmo... sorte ou intervenção divina? medo? coragem? heroísmo? penso eu que!...].

Durante toda a manhã, a confusão foi grande, onde o Major Pina, nas suas funções de Comandante, começava a amealhar os "louros", pois era esta a sua grande preocupação, preparar terreno para justificar e arranjar todo o conjunto de situações que lhe dessem dividendos [a ele e a seus pares: capitão Barreiros, capitão Morgado, alguns tenentes, alferes e sargentos, furriéis e alguns "pinga amores", soldados, que na ajuda a "vestir as calças dos superiores" - que estavam muito transtornados, iriam receber também algumas benesses].

Uma das tarefas, ordenadas pelo Pina e seus pares, foi: encher sacos e mais sacos com terra [pois eles estavam na arrecadação vazios e dobradinhos, só sendo utilizados depois do ataque, como se costuma dizer: "depois da casa roubada, trancas na porta"] para fazer trincheira na frente do aquartelamento, principalmente, em frente da caserna dos oficiais e serviços do comando, camarata, etc... onde eles poderiam levar com um balázio na noite seguinte, pois agora já estavam a perceber que a "sorte lhes tinha desviado as balas", mas quem sabia que na próxima noite seria assim?

Tudo ficou a trabalhar com um frenesim incalculável levados pela mola do medo. Nem sequer foram capazes de avaliar a medida do ataque e do contra-ataque, pois logo viam que era impossível na próxima noite eles [nacionalistas] reunirem elementos que lhe permitisse novo ataque [embora que, se eles soubessem da nossa verdadeira realidade - meia dúzia de "chicos espertos" com armas brancas, num ataque relâmpago, capturavam o Pina e meia dúzia de oficiais, obrigando o aquartelamento e render-se].

Mas, quem "tem cu, tem medo", ainda bem para nós que também tínhamos cu!

Por outro lado, era simples perceber de que, ao ser o primeiro ataque ao exército português, eles, certamente, o PAIGC teve maior cuidado de preparar todos os seus melhores seguidores e em maior quantidade dessas forças, provavelmente agora muito desfalcada.

Guiné > Região de Quinara > Sector de Tite > 1961 > 1963 > 1964 > Mascote do BCaç 237 – Contemporâneos do Gabriel durante algum tempo

Foto: © Gabriel Moura

Os tempos que vieram a seguir demonstraram, exactamente, este raciocínio e todo um conjunto de premissas que levou a desencadear a luta terrorista na Guiné até 1974 [que o digam os militares que foram e estiveram em combate em diversos pontos da Guiné, nos anos de 1963/4/5 ... até 1974. Evidentemente, com envolventes específicas, atendendo a cada momento e situação. Relevo aqui, o Batalhão 237-599 - Tite, que nos foram substituir, não só porque "conviveram" com a realidade de Tite, região sul da Guiné, mas também, porque são "testemunhas directas" do palco de guerra e guerrilha em Tite, durante e após a nossa saída da Guiné, [até à nossa desmobilização, passaram 2 anos e 5 meses de serviço cumprido no Ultramar, a juntar ao tempo militar antes de embarcarmos, não esqueçam, no caso dos militares rasos, soldados e cabos, eram das recrutas de 1958, 59 e 60, o que faz, em tempo de serviço obrigatório, de mais de 6 anos, nalguns casos, saúde perdida, famílias desfeitas, sem trabalho, sem dinheiro, sem qualquer apoio social, até hoje!].

Quem Ganhou

Poesia - Gabriel Moura,1961/2/3

Eu, não sabia porquê, tinha um pressentimento. Seria medo, seria a força de uma certeza, onde a hora e o dia de um ataque dos "Terroristas" teria que acontecer.

Tite era a prisão e comando operacional do sul da Guiné - Bissau no período de 1961/63.

Todo aquele ataque, naquela madrugada, em noite escura, onde eu representava o destino de uma força colonial imposta contra uma força e resistência de um grito lançado por entre o capim seco, onde as chamas que o devoravam queimavam aqueles corpos cobertos de suor "catinga" se lançavam numa luta que iria marcar a sua história, onde o povo guineense seria devorado e ainda mais martirizado até a independência final.

Se os tiros me tivessem morto, eu não teria dado o alarme e resistido (pois era o único militar que patrulhava aquele caminho em frente do aquartelamento, estupidamente iluminado por luzes, onde só eu era visto e nada via para o mato ).

Que ganhei, comendo pó, debaixo do fogo vindo do mato ou, passado cerca de meia hora da minha resistência já com os carregadores descarregados, o fogo dos meus camaradas que na confusão e ainda sob os efeitos do sono disparavam para tudo que mexia no chão.

Tite não caiu. Mas quem ganhou ? Os Mortos ?!..


Até a nossa saída Outubro de 1963, onde no nosso aquartelamento passou de cento e poucos homens para três vezes mais, com a vinda do Tenente Coronel Hipólito e seus pares, reforço das Companhias Açorianas que vieram para participar em campanhas militares no sul da Guiné. [ver relação de alguns militares da Guiné Bat Caç 237 e Bat Caç 599, em anexo motivada pelos "encontros" na metrópole].

Ninguém poderá dizer, em verdade, que não fomos "corajosos" ao penetrar pelo mato dentro sem qualquer estratégia, sem munições [ou quase] sem armas [ou quase] desconhecendo por completo em que medida os atacantes tinham preparado o ataque [não porque não existisse armamento adequado, mas porque o terreno das bolanhas não permitia e, por outro lado, com a mente dos "leaders", com relevância para alferes Caetano, o dito comandante do Pelotão de Morteiros 19, achavam sempre que podiam resolver aquilo "à vassourada"].

Mas, o que estava em causa, e na mente de cada um de nós era a "força da razão", empurrando-nos para uma aventura em que eles, sob o efeito causado pelo choque, nem sequer tiveram tempo para reflectir sobre os diferentes cenários de guerra que poderiam envolver-nos, quando começaram a sair grupos de militares penetrando no mato em várias direcções.

É claro que, alguns oficiais e sargentos procuraram "conduzir" os militares, não só porque se armavam em mais espertos e conhecedores das "tácticas" de guerra [pois não eram eles que davam a recruta aos militares, transmitindo aqueles superiores conhecimentos?] Como a rígida estrutura hierárquica impunha, o major manda no capitão, o capitão manda no tenente....o furriel manda no cabo, o cabo manda no soldado, os militares rasos só servem para " carne de canhão", dizíamos nós.

Temos contudo de admitir, que nalguns casos, foram capazes de proporcionar alguma "ordem" na desordem e na euforia que grassava em todos, após o efeito do medo, e que todos estavam convencidos que aquilo era mesmo, como quem "limpava cus a meninos".

Por isso, alguns corriam pelo capim fora atrás dos pretos como quem anda a apanhar galinhas lá nos logradouros ou quinteiros da casa lá da terra.

Parecerá que foi uma situação caricata [e foi mesmo!.] mas temos que enquadrar todo este cenário de guerra numa situação que era nova quer para nós quer para os nacionalistas, onde a surpresa criou nas pessoas atitudes e comportamentos desviantes do previamente montado ou no nosso caso, podemos dizer que foi uma espécie de "teste anárquico" aos conhecimentos adquiridos e interiorizados na recruta [que para alguns já lá iam mais de dois anos ... militares de 1958/59/60 e graduados que apenas se lembravam da teoria e pouco mais. ]. Para alguns, a arma tremia mais do que o cigarro na boca, outros que só tinham ido em comissão de serviço para subir de posto ou sacar as vantagens de vária ordem.

Se conjugarmos isto com o pânico originado pelo ataque e na "estrita medida do tempo", originou reacções as mais díspares que se possa imaginar.

Viam-se militares que, no dia a dia, nos fomos habituando a catalogar de "enrascados", "medricas", "não faz mal a uma mosca", etc, o que no decorrer destas situações eram os que se portavam com mais "bravura e arrojo", em contra partida, outros que tinham criado a imagem do "mata sete e enterra oito", "a onça", os maus, alguns deles nem do aquartelamento saíram, que apesar de tudo sempre tinha algumas "chapas de zinco" no telhado, enquanto no mato, as árvores podiam ser refúgio não só de macacos, mas também de terroristas e lá fora era um frio de rachar! estão a perceber o trocadilho? e, se não for bem um trocadilho, pode ser visto como o "trocadilho" enfim, muitos arranjaram mil e uma desculpas de se porem ao fresco para Bissau ou até uma ida à metrópole ver a "família"...

O que se passou a seguir ao ataque ao aquartelamento de Tite foi como aquele ditado: " casa roubada, trancas à porta. ".

Foram uns dias carregados de uma forte emotividade, não só pelo nosso camarada morto e dos feridos mas, também, por tudo que envolvia as circunstâncias que estiveram na base deste desfecho e no que, de facto, representava em termos do perigo em que estivemos expostos.

É claro que, como de costume, o comandante e os outros oficiais mais responsáveis, ou não, "deram a volta ao texto", como se costuma dizer e passaram a actuar como se de facto tivessem sido eles os grandes "salvadores da pátria" e; por outro lado, aproveitaram-se para fazer com que os que não tinham culpa no cartório e foram os "únicos" a evitar um " massacre histórico ... " às tropas Portuguesas na Guiné-Bissau, ficassem comprometido e mais agradecidos, cegamente aos nossos superiores, por nos deixarem, pelo menos, trabalhar no arranjo e defesa do aquartelamento como "autênticos escravos", do medo e da ignorância.

Reforçaram-se as vedações, passou-se a patrulhar noite e dia, caminhos, tabancas, capim e tudo o que parecia suspeito [até debaixo da cama da Mariama, alguns procuraram encontrar o inimigo], foram montados pelos sapadores minas anti-pessoais e outras nos diversos pontos em volta do aquartelamento [que o diga o Jorge e todos que faziam parte dos sapadores].

Foram delineadas diversas estratégias de defesa e ataque e formas de actuar totalmente diferentes das que até ali se procediam. Os militares, em geral, como sempre não foram ouvidos nem achados sobre a forma, meios a utilizar no combate aos "terroristas".

A descrição do acto de despedida do corpo do Veríssimo para Bissau e a evacuação dos feridos, revestiu-se de carácter doloroso para todos, tendo sido, certamente, em particular para uns mais do que para outros, o que originou autênticos gestos de solidariedade e de revolta onde os extremos foram, de facto, sintomas de exagero no conceito de culpabilização sobre os "terroristas" que se tornaram para alguns ainda mais odiados do que a imagem incutida até aí.

É evidente que a relação destas emoções e reacções tenebrosas têm que ser entendidas no contexto, não só cultural das pessoas envolvidas mas, também, na formação e esclarecimento social e humano a que éramos excluídos. Por muito que se tente ver todo um conjunto de formas mais ou menos exageradas de procedimentos levados a cabo pelos militares contra os nacionalistas e populações autóctones, só pode ser vista à luz de todo um contexto de difícil discernimento, quer intencional, quer humano, quer circunstancial que nos envolveu.

Dizer que o militar A ou B tomou atitudes desumanas perante os Guineenses pode ser visto de forma a encontrar as explicações sobre esses comportamentos; quer no que já referi, quer no medo provocado pelos acontecimentos que de dia para dia iam aumentando o nível de guerrilha no mato.

A permanência em terras da Guiné era outro factor que nos arrastava para um stress, medo pelo não regresso à nossa pátria, à nossa família, etc ... Tudo isto conjugado com as reacções provocadas pelo dever e obrigação imposta pelos que detinham o poder e a conveniência da perpetuação das coisas e da "honra", fazia com que nos tornássemos ainda mais destituídos da "razão" [Movimento Nacional Feminino e outras acções que nos arrastavam como folhas secas caídas em capim].

Foram muitas as situações que se vão seguir até ao nosso embarque e saída no Paquete Índia, do Porto de Bissau com destino ao continente. A situação de guerra generalizada pelos nacionalistas Guineenses, tornou-se extremamente violenta, com emboscadas e ataques por todos os lados de norte a sul da Guiné ...

A vantagem que o Comando de Tite tinha sobre todas as outras tropas no terreno era o conhecimento que possuímos de muitas povoações, não só daquelas que fazia parte da quadrícula militar [a primeira conforme o Cor. Tavares de Pina refere, de todo o sul da Guiné] mas, também, outras povoações na Região Sul. Pois o Pina, como Comandante operacional da região Sul da Guiné e a sua "vocação psicossocial ", fez com que nós tivéssemos uma visão única no panorama da Guiné.
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A publicação do Gabriel Moura, pode ser consultada no Arquivo Histórico em Sta. Apolónia – Lisboa
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Ataque ao Aquartelamento de Tite – 23-01-1963

Referências Bibliográficas


Sobre o começo das hostilidades ou início da luta armada pelo PAIGC em 23-01-1963 com o ataque ao Aquartelamento de Tite, situado no Centro-Sul da Guiné, por estranho que pareça, não encontramos qualquer narração escrita de forma desenvolvida sobre os factos que se passaram, quer do lado português, quer do lado do movimento nacionalista.

Da bibliografia aqui indicada, apenas se encontram breves referências alusivas a tão importante facto histórico no seguinte sentido:

1 - ".... Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte do Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."

In, Carta de 7-07-1981 do Ten. Cor. Manuel José Morgado, enviada ao Director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades ".

Resumo da Actividade do BCaç. nº 237/BCaç. nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965 [Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM]


2 - A propósito da detenção de alguns dirigentes do PAIGC em Conakry, por alegado contrabando de armas, diz Luís Cabral:

“... O Aristides respondeu em poucas palavras, justificando o nosso acto pelo interesse da luta comum e pedindo-lhe [ao Ministro da Defesa da República da Guiné-Conakry, Keita Fode] que transmitisse o nosso reconhecimento ao presidente pela sua fraterna compreensão. Quanto ao regresso do Amílcar, falando com toda a franqueza, não acreditávamos que ela pudesse ter lugar antes da nossa libertação, mesmo com a mensagem.

Era lógico que ele fosse aconselhado a reflectir muito sobre a questão pois, se havia razões para estarmos ainda detidos, essas razões seriam certamente mais válidas em relação a ele, como primeiro dirigente do Partido.

Entretanto, nas diferentes zonas do interior do país, ao tomarem conhecimento da nossa detenção, os combatentes decidiram juntar o pouco material de que dispunham e agir prontamente contra as posições colonialistas, onde isso fosse possível.

A 23 de Janeiro era realizado o primeiro ataque das forças nacionalistas do PAIGC, contra o quartel de Tite, sede administrativa da circunscrição de Fulacunda...”

In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição 1984, pág. 144

3 - ".... 23 Janeiro de 1963 - O PAIGC assalta o quartel de Tite e inicia a guerra na Guiné.

Cabral tentou ainda fazer-se ouvir, com apelos ao diálogo, mas é pelo efeito das armas que a minúscula Guiné se torna a segunda frente de contra-ataque português...."

In Antunes, José Freire, A Guerra de África 1961-1974, volume 1, Temas & Debates, Outubro de 1996, pág. 34.

4 - António E. Duarte Silva, citando Amílcar Cabral " O Desenvolvimento..." Cit. Obras...Vol. II, pág.37, sobre este facto salienta:

"...b) O início da luta armada

A luta armada de libertação nacional começou efectivamente em 23 de Janeiro de 1963 com o ataque, por uma centena de guerrilheiros ao quartel de Tite, na margem sul do Rio Geba, onde estava instalado o comando de um batalhão português:

"vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas distantes surgiam então os combatentes do nosso partido. Não vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo. (...)
Em Julho de 1963 a guerra atingiu as florestas de Oio, a norte do Geba, de modo que, ao chegar-se ao final de Agosto de 1963, a situação na enorme região que abrange Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabá e Olassato, não era muito diferente da existente em grande parte do sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e actividade comercial profundamente afectada..."

In Silva, António E. Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Março de 1997, pág. 47

5 - "... Na Guiné, as acções de guerrilha foram iniciadas pelo PAIGC em Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal [1], embora outras pequenas acções tivessem ocorrido antes. As operações estenderam-se rapidamente a quase todo o território, em contínuo crescendo de intensidade, que exigiu o empenhamento de efectivos portugueses cada vez mais numerosos..."

In Afonso, Aniceto, Gomes, Carlos Matos, Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique - Ed. Diário de Notícias, em fascículos.

[1] - Lapso dos Autores, porquanto, Tite situa-se a poucos quilómetros da margem esquerda do rio Geba. Enquanto o rio Corubal é um afluente da margem esquerda do rio Geba e desagua próximo das povoações de Ganjaurá, Ganturé e Ponta do Inglês, situadas a Norte de Fulacunda.

6 - ".... O Partido procurou, deste modo, responder às reivindicações destes estratos, que pretendiam ascender a um patamar superior na hierarquia social. A mobilização dos camponeses iniciou-se após os acontecimentos do Pidjiguiti, altura em que foi decidida a preparação para a luta armada.

O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, em Tite...."

In Pinto, Jorge, Paulo, Manuel, Duarte, Paula - Guiné Nô Pintcha! - Para uma análise Socio-económica da Guiné-Bissau, Edições Universitárias Lusófonas, Outubro de 1999, pág. 33

7 - ".... Em 23 de Janeiro de 1963, o PAIGC desencadeia a luta armada na Guiné-Bissau. Três dias depois, o governo de Salazar fixa os vencimentos dos elementos das Forças Armadas em serviço nas Províncias Ultramarinas.....

23 de Janeiro de 1963 - Início da luta armada, com ataque ao Quartel de Tite, no Sul da Guiné-Bissau. Chegam a Conakry os primeiros recrutas a fim de receberem treino militar..."

In Cabral, Amílcar - Sou um simples africano, Fundação Mário Soares, 2000, págs. 32 e 83.

8 - “ ... A Guiné apresentava características diferentes. De acordo com o censo de 1960, a sua população era de aproximadamente 500.000 habitantes, cerca de dez vezes menos do que a de Angola, estando concentrada no delta costeiro ocidental e dividida em vinte e oito grupos etnolinguísticos distintos. O PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], fundado em Lisboa em 1956, arrancou para a luta armada em 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao Quartel de Tite.

O seu líder era Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo licenciado em Lisboa e aí convertido à doutrina marxista-leninista.


As condições topográficas da província e o apoio de Conakry aos terroristas do PAIGC fizeram da guerrilha da Guiné a mais dura de todas as que se travaram nas frentes do Ultramar. Afectado por convulsões internas [como as que originaram o assassínio de Cabral em 1973], sem nunca ter conseguido resolver o problema da rivalidade existente entre guinéus e cabo-verdianos, o PAIGC, em 1974 e ao invés do que proclama a versão oficial estava disposto a entender-se com os portugueses e a abandonar o mato....”

In, Santos, Bruno Oliveira – Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, 2ª edi. 2000, pág. 93

9 - ".... O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesa, em Tite..."

In Atlas da Lusofonia, 1º Vol. – Guiné-Bissau, Ed. Instituto Português da Conjuntura Estratégica e do Instituto Geográfico do Exército, Maio 2001, pág. 25

10 - "....Bat. Caç. nº 237 - Síntese da Actividade Operacional

Após o início das primeiras acções contra as NT, com o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 Janeiro de 1963, comandou e coordenou a actividade operacional das suas forças numa série de acções ofensivas nas áreas do Quitifane, Cantanhez, Quinara e Jabadá - Gã Chiquinho."

In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 40
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Nota de CV

Vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

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