domingo, 7 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

1. Mensagem com data de 31 de Julho de 2007, do nosso camarada Jorge Teixeira, ex-Fur Mil que esteve na Guiné entre 1968/70.

Assunto: Minhas lembranças

Amigo Luís
Como disse há dias, vejo, leio e passo, com uma lágrima ao canto do olho.

Nunca tive a coragem de deixar algo escrito, embora tenha muitas lembranças, que venho refazendo desde há dois anos para cá.

Se me permites, vou deixar hoje uma, pois marcou uma viragem na minha vida emocional.

Se achares que merece figurar nos arquivos, está à vontade.

Um abraço do
Jorge Teixeira


2. Catió, 1969, 1 de Agosto
Por Jorge Teixeira

Estamos a comemorar os nossos 15 meses.

Conseguimos uns pesos da CCS, através da influência do Comando, para comprar uns franguitos, e como foi difícil consegui-los.

Convite feito, por gentileza, aos nossos Primeiro e Segundo Comandantes, bem como ao Primeiro da CCS, lá fomos trinchar os bichos, divinamente arranjados pelo Carrapato, na messe dos oficiais.

Convívio terminado, fomos ao posto de Catió Fula, levar umas cervejas e umas sandes ao nosso pessoal que estava de serviço.

Depois os mais resistentes ainda me acompanharam numas cervejas na messe dos sargentos

Fomos deitar nas calmas, mas ainda estava a ler o meu livro da ordem, quando cerca das 2 da manhã, estourou um fogachal tremendo dentro do Quartel e de Catió.

O maior barulho que jamais ouvi.

Eles estavam dentro de Catió.

Como habitualmente nos casos de fogachal, o meu pessoal que estava na unidade, tinha de arrancar para reforçar os postos exteriores.
Toca de arrancar debaixo daquela sinfonia de luz e cor. Pelo caminho muitas escaramuças.

Regresso ao quartel já o dia a clarear, cerca das 5 da manhã. É que o Comando se esqueceu de nós ... e tudo dormia na santa paz dentro da unidade.

Fizemos o reconhecimento

Conclusão: 1 morto e um prisioneiro do lado IN e captura de razoável quantidade de armamento e munições.

Da nossa parte só escoriações.

As granadas de bazooca capturadas, com a autorização do meu pessoal, trocámo-las pelo dinheiro a que tinhamos direito. É que não tinhamos uma única granada explosiva. E as incendiárias, fora de prazo há anos, tinham apenas o efeito psicológico do barulho. As que explodiam.

O pior veio a seguir.

Fui ao banho e estava na messe a tomar o pequeno almoço, quando alguém me avisou que o Comando (?) deu ordem para expor o MORTO, juntamente com o armamento em frente à porta da unidade!!!

Eu não quis acreditar, mas era verdade. Corri ao meu quarto, peguei na máquina fotográfica e fui fotografar aquele quadro.

Às 9 horas tinha fotos reveladas e 4 delas prontas para mandar para a Metrópole para os meus amigos mais íntimos verem uma ideia miserável.

Por qualquer razão, nenhum desses amigos chegou a ver as fotos... pois nunca as receberam.

Já tinha visto vários mortos, dos dois lados, que me chocaram imenso.
Mas no momento em que enquadrei este morto na máquina, senti uma espécie de baque. A partir desse dia a minha vida passou a ser um inferno.

O medo apossou-se de mim de tal maneira, principalmente à noite, que redobrei de cuidados e de segurança. Passei a ser muito duro com o meu pessoal sobre esse aspecto.

Mas esses cuidados e os desenfianços no mato não chegaram, pois cerca de um mês depois tivemos a primeira baixa no pelotão.

E até hoje me sinto culpado dela, pois o rapaz foi-me substituir numa missão. Embora estivesse doente, a cabeça não me deixava esforçar mais. E era uma missão tão simples, tão rotineira.


Catió > 1 de Agosto de 1969

3. Comentário de CV

Caro Jorge Teixeira
Depois de ter recebido o teu mail onde apresentavas o teu descontentamento por te achares desconsiderado por nós, verifiquei que tinhas este mail, de 31 de Julho de 2007, perdido na imensidão de mails existentes na caixa de correio do Blogue.

Neste mail tinhas também enviado as tuas fotos da praxe para a fotogaleria, logo nunca foste apresentado formalmente à tertúlia. Tenho que confessar que a tua entrada não correu muito bem, porque coincidiu com o mês de Agosto, mês de todas as confusões.

Pedir desculpa, nem peço, porque deves estar mesmo zangado.

Quando nos contactares com outra estória tua, espero que seja breve, se me perdoares esta falta, diz-nos a que Unidade pertenceste e por onde andaste, na Guiné.

No nosso blogue, como verdadeiros camaradas que somos, não fazemos distinções entre os antigos postos militares, a posição na Sociedade e a formação académica. Na nossa Tabanca Grande tratamo-nos por tu precisamente para salientar essa característica.

As estórias que cada um conta, não são filtradas pelo facto de não exibirem qualidade literária. Escrevemos como sabemos, respeitamos as diferentes correntes de opinião, discutindo-as com cortesia.

Caro Jorge, não fiques com má impressão nossa, continua a ler-nos, porque diariamente tens um poste novo colocado com algum sacrifício da parte de quem, retirando algum tempo à família e ao descanso, tudo faz para não desagradar a tertúlia. Não somos perfeitos, nem infalíveis.

Não te esqueças que esperamos mais estórias tuas.

Um abraço
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. poste de 11 de Abril de 2007 >
Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira, onde se pode ler:

3. Mensagem de
Jorge Teixeira, com data de 10 de Abril de 2007:

Caro Graça:
Só agora me disponibilizei a dar seguimento ao mail do João. Sim, em tempos te escrevi, para saber se poderia colaborar e mesmo fazer parte do grupo.
Acredito que tenha passado despercebido, e não tem mal nenhum isso ter acontecido, pois o mais importante é ver e ler o que se passa no espaço.
De qualquer forma, como atrás disse, gostaria de fazer parte do grupo.

Estive na Guiné entre Maio/68 e Abril/70. Por acaso fez anos ontem que passei à disponibilidade.

Fico esperando as tuas notícias e até lá recebe um abraço do
Jorge Teixeira

Comentário de L.G.
Jorge:
És bem vindo… O João Tunes (2) veio lembrar-me a minha descortesia ao não responder-te em tempo útil... Houve um lapso qualquer... Peço-te que me perdoes... Não tenho a tua mensagem original, a pedir a entrada na nossa tertúlia... Cumpres o resto das formalidades (duas fotos, uma estória...).
Apresento-te depois ao grupo.
Não queres aparecer, entretanto, em Pombal, no dia 28 de Abril?
Um abraço.
Luís Graça

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