quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

Guerrilheiro ferido em recuperação numa "enfermaria" no mato. Imagem com a vénia devida ao autor que desconheço.


No local onde um Camarada agoniou até à morte, o trabalho da limpeza antes de continuar. Camuflar com terra e folhas, limpar sangue e restos. Uma imagem que se foi repetindo dia a dia, durante 12 anos.

Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no decurso da Op "Ostra Amarga" (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Capitão Sentieiro, hoje Coronel Ref.), caiem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa...Foto: INA - Institut National de l' Audiovisuel (2006).



Guerra Colonial


Amálgama de sentimentos e emoções
Se a amizade era na lealdade temperada
Também o tenebroso infame das acções
O mais negro ódio as condicionava.

Sobressaltadas as almas em turbulência
Abrasados pelo Sol, de rostos já tisnados
Ensaguentavam-se mãos na perda da inocência
Diluia-se a juventude nos corpos estropiados.

Penosas recordações, tempos duros e sofridos
que a idade generosa, a insana verdura do fervor
Faz lamentar hoje episódios jamais esquecidos.

Fantasma que nem a agonia do medo justificava
cruel descida a um inferno de verdadeiro horror
trágica visão da morte que toda a vida dominava.

Rui Alexandrino Ferreira
__________

Notas de vb:

1.O T. Coronel Ref. Rui A. Ferreira é natural de Angola (Lubango, 1943). Fez o COM em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18,
Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão.
Publicou em 2001 a sua primeira obra literária, "Rumo a Fulacunda".
Enviou-nos este poema, escrito algures na Guiné, talvez em 1966.

2. artigo da série em

3 comentários:

Anónimo disse...

Arrancaste de dentro de ti um belo poema, Camarada Rui. A Guerra, Colonial ou outra, faz de nós muitas coisas. Até poetas...
Um abraço de Camarada, Amigo e admirador.

Anónimo disse...

Ruizinho
Não te conhecia como poeta.
Escreveste um belo soneto.
Fico(ficamos)à espera dos próximos
Grande abraço
P.Santiago

Anónimo disse...

Surpresa! Lindo e profundo!
Explosão interior da dor.

Não te conhecia a veia poética.

Continua Rui nunca é tarde!

Por este soneto Parabéns!

Venham mais.

Um abraço,

Mário Fitas