quarta-feira, 16 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3062: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (3): O Dia da Mulher (Luís Graça / Paulo Santiago)


Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.




Guiné > PAIGC > Manual escolar, O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia). Exemplar cedido pelo Paulo Santiago, Águeda (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72) > A lição nº 27 > O Dia da Mulher (*).


1. Comentário de L.G.: 

Qual era a real situação da mulher nas regiões controladas pelo PAIGC ? E nas bases de rectaguarda, no exterior ? Havia ou não uma grande diferença entre o discurso (ideológico, como o deste manual escolar) e a dura condição das mulheres (balantas, beafadas, mandingas, nalus...) que viviam sob a bandeira do PAIGC, no Morés, no Cantanhez, no Fiofioli ? E o que é mudou, em resultado da luta de libertação ? Seguramente que os guineenses amam as suas mães, como nós amamos as nossas... Mas houve reais progressos, nestes anos todos, na condição feminina na Guiné-Bissau ? Infelizmente a realidade (económica, social, cultural, política...) não muda automaticamente por decreto, por voluntarismo, por determinismo...

Se alguém tiver documentação (inédita) sobre este tópico, teremos muito gosto em publicá-la... Comentários dos nossos amigos e camaradas da Guiné também serão bem vindos. A opinião das mulheres guineenses de hoje seria particularmente bem acolhida e saudada... LG



Guiné-Bissau > Bissau > AD- Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 1 de Junho de 2008

"Fatumata Camará explica aos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje como é que nos acampamentos de guerrilheiros do PAIGC em Cantanhez, as mulheres procediam para descascar o arroz sem que se ouvisse barulho e, desta forma, não fossem detectadas.

"O pilão era quase totalmente enterrado, pelo que as vibrações e ruído eram absorvidos pelo solo que impedia a sua propagação. Para a preparação das refeições também aperfeiçoaram um sistema que impedia que o fumo subisse para além da copa das árvores e assim a sua presença não era percebida.

"Se ontem a inteligência e capacidade das mulheres ajudou a encontrar soluções inovadoras e imaginativas para os problemas com que se foram deparando, também hoje elas procuram novos caminhos para resolver as dificuldades dos seus trabalhos agrícolas".

Foto e legenda: Cortesia de: ©
AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados.





Guiné-Bissau > Bissau > AD- Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 11 de Maio de 2008



"O mau ano agrícola de 2007 começa a fazer os seus efeitos na segurança alimentar das famílias guineenses mais pobres, as quais registam o início da ruptura dos seus stocks, quando num ano normal isso só acontece em Julho ou Agosto.

"A agravar esta situação junta-se o aumento exponencial e repentino dos produtos alimentares, fruto de factores externos, dos quais se salienta a sua utilização para biocombustível, um verdadeiro crime contra a humanidade.

"Consciente do problema, Adama Djata, horticultora de Bolol, no norte da Guiné-Bissau, improvisa um campo de cultivo de tomate, em condições pré-deserticas, onde falta a água e os solos arenosos são muito pobres".


Foto e legenda: Cortesia de: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados.


2. A opinião da Luisa, no seu sítio Luisa's Site (que reproduzo aqui com a devida vénia e apreço):

GUINE dia internacional da Mulher, Mar 9, 2008


Levo da Guiné estas imagens das mulheres guineenses: de manhã as mulheres vão buscar água (a maior parte das casas não têm água canalizada e é necessário ir buscá-la a fontes e poços), que transportam à cabeça. Por vezes repetem este trabalho ao final do dia, e a qualquer hora do dia, sempre que seja necessário. As mulheres trabalham na agricultura, apanham o arroz, pilam o arroz. Cozinham. Vendem pão, fruta e legumes, na rua, por vezes em menores quantidades que transportam à cabeça (mas ainda são vários quilos). Ainda transportam à cabeça a lenha para o lume, e a palha para os telhados das casas. As mulheres limpam, gerem a casa, cuidam dos filhos e dos homens.

Mas não é só nos trabalhos mais ligados à vida doméstica que a mulher guineense se encontra. Existem por exemplo muitas mulheres polícia. Existem mulheres em quase todas as profissões: na vida política, têm existido ministras, directoras-gerais, na vida académica, há professoras, investigadoras, há magistradas do Ministério Público e juízes, a Presidente do Supremo Tribunal de Justiça é uma mulher, há médicas, enfermeiras, empresárias, comerciantes.

Apesar da sobrecarga de trabalhos que estão reservados às mulheres, muitos deles difíceis e pesados, no que diz respeito à instrução e vida profissional, áreas onde muito se reflecte sobre a igualdade de géneros, a mulher guineense não é, de um modo geral, discriminada. Passo grande e muito importante sobretudo no continente africano.

Neste dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, é feriado na Guiné-Bissau. É um dia importante, e um pouco por todo o lado se comemora este dia. Também na Faculdade de Direito de Bissau as mulheres se juntaram para assinalar este dia. Foi assim que hoje conheci uma grande mulher guineense, convidada como oradora principal. A Dr.ª Odete Costa Semedo. É escritora, já foi Ministra da Educação, Ministra da Saúde, é Presidente da Comissão Nacional para a UNESCO. Hoje foi uma oradora sobre as mulheres, sobre a vida das mulheres, sobre as diferenças de género. “Não há igualdade mas não há sequer duas pessoas iguais”, disse. Foi bom ouvir a sua experiência como mulher na vida familiar, na vida política, na vida académica.

Acho que a situação das mulheres na Guiné-Bissau é mais de louvar, do que de lamentar. Olhar para as mulheres deste país, é perceber o quanto as mulheres são fortes.

Infelizmente nem tudo é bom, nem tudo é positivo. Também aqui existem histórias de discriminação como em muitos outros lugares, também existem casos de maus tratos contra as mulheres. Mas não é a regra, nem a maior parte das situações são toleradas. São situações passíveis de reacção. A lei consagra a igualdade e de um modo geral ela existe, especialmente se procurada. Nos casos de violência conjugal, por exemplo, cada vez mais as mulheres apresentam queixa e os maridos agressores são julgados.

Mas há algumas resistências à igualdade, algumas tradições, por exemplo de certas etnias que não reconhecem certos direitos às mulheres. Neste caso as tradições tendem a minorar ou a adaptar-se com o desenvolvimento da sociedade. Muita da população de Bissau já abandonou algumas das tradições das suas etnias, por diversas razões (por exemplo a tradição da família escolher o marido da filha, que muitas vezes era um negócio entre famílias) (...).




Guiné-Bissau > Bissau >Simpósio Internacional de Guileje > 4 de Março de 2008 > Jantar-convívio na casa do Pepito. Uma das participantes do Simpósio, Mariama Indjai, natural da região de Tombali, empresária, dona de uma fábrica artesanal de descasque de arroz, antiga combatente do PAIGC...


Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

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Nota de L.G.

(*) Vd. postes anteriores desta série:

27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

31 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2232: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (2): O Morés e os amigos da Europa do Norte (Luís Graça / Paulo Santiago)

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