quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau





1. Transcrição da notícia de João Henriques no Diário de Coimbra de 10 de Fevereiro de 2008, com a devida vénia

Coimbra encaixotou "maior contentor" de apoio humanitário à Guiné-Bissau

O maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau vai chegar este mês a África.

Ontem, cerca de 20 voluntários arrumaram os mais de dois mil caixotes recolhidos. Os donativos vão ser entregues, pela Associação Humanitária Memória e Gentes, às instituições e escolas mais carenciadas.

Lá em cima, bem no alto, o sol brilhava intensamente. O dia era de Primavera antecipada. O calor fazia-se sentir e o suor escorria-lhes pela cara abaixo. Bastavam alguns (poucos) minutos a conviver com os raios do astro-rei para se sentir o termómetro a subir. Não havia dúvidas de que o dia estava convidativo para um passeio, de preferência à beira mar ou à beira rio, consoante as preferências.

Mas houve quem tivesse estabelecido outro programa para o dia de ontem.
O encontro estava marcado para o Estádio Municipal Sérgio Conceição, em Taveiro. Não! O objectivo não era assistir a um qualquer jogo de futebol.
A missão era outra. Muito mais trabalhosa, mas, em simultâneo, mais recompensadora para a alma. O sol, o tal que brilhava ontem a grande altura, também vai aparecer na Guiné-Bissau.

Vai demorar mais alguns dias. Apenas o tempo de fazer chegar a África o contentor carregado de coisas boas. O brilho vai, de certeza, estender-se às crianças, arrastando, sem dificuldade, muitos adultos. A felicidade vai invadir-lhe os rostos. Pode ser por pouco tempo, mas nunca mais se vão esquecer. As lágrimas, de felicidade, também vão cair. Para quem quase nada tem, qualquer ajuda significa o renascer. Um amanhã melhor.

Por baixo da bancada do Estádio Municipal Sérgio Conceição, as caixas amontoavam-se numa espécie de armazém improvisado. Estavam todas numeradas e devidamente identificadas por categorias. Material escolar, roupas, bens de saúde. Havia de tudo um pouco. Feitas as contas eram mais de duas mil embalagens. A chegar, estava um camião do Porto. Lá dentro, mais uma série de material já encaixotado.

Os carregadores voluntários foram chegando. Eram cerca de duas dezenas. Todos com a vontade de contribuir para, o mais depressa possível, esgotarem o espaço disponível no contentor. Inicialmente, era para ter 20 toneladas. Revelou-se pouco espaçoso face aos donativos amealhados. Teve de se arranjar um com o dobro do tamanho.
Dentro de 12 dias vai chegar à Guiné-Bissau.

O contentor segue por via marítima. Na Guiné-Bissau, vai ser descarregado na cooperação portuguesa. Por terra, três carrinhas e cinco jipes também vão partir.

Na expedição humanitária, organizada pela Associação Humanitária Memória e Gentes, vão 26 pessoas.
São 12 de Coimbra e 14 do Porto. Ainda há duas vagas.
Durante oito, nove dias passam por Portugal, Espanha, Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné-Bissau.
A entrada no continente africano vai ser por Tânger.

Expedicionários partem dia 21

Os expedicionários, cada um paga a viagem do seu bolso, arrancam no próximo dia 21. A saída está agendada para as 9h00, do Largo da Portagem, em Coimbra. Conimbricenses e portuenses saem juntos rumo a Tenerife. Pela frente, vão ter «duros e cansativos» cinco mil quilómetros. Alguns de estradas boas, outros (muitos) de caminhos ruins a que se pode chamar tudo menos estrada.

A campanha de recolha de bens começou em Janeiro e terminou anteontem. Agora, vão ser entregues às instituições e escolas mais carenciadas da Guiné-Bissau. Uma entrega que se pretende «controlada». A outra parte será distribuída, directamente, pelos expedicionários em escolas do interior, regiões privilegiadas, tendo em conta o risco de na capital, Bissau, entrarem no "mercado negro".
«O maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau» já está em marcha.

Muitos e essenciais bens

A operação logística de ontem permitiu ficar a saber que, no contentor, seguem, entre outras coisas, cadeiras de rodas, canadianas, material escolar, livros, roupa para todas as idades e bens de saúde. Tudo recolhido em apenas três semanas. A Associação Humanitária Memória e Gentes garante tratar-se do «maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau».

Fernando Ferreira, membro da associação, explicou que «a distância da viagem e as elevadas temperaturas» são dificuldades a enfrentar pelos expedicionários. Antes, ainda em Portugal, já superaram outras adversidades. Todos os dias à noite se reuniam no Estádio Municipal Sérgio Conceição para organizar as caixas. O extraordinário volume de donativos recolhidos ultrapassou as melhores expectativas da organização.
«Foi largamente ultrapassado, tendo mesmo forçado a alterar, para o dobro, o tamanho do contentor», observou José Moreira, presidente da associação e antigo combatente na Guiné em 1966 e 1967.

Apoiados a todos os níveis

Para tornar possível uma missão deste género é necessário recorrer a várias sinergias.
O contentor foi cedido pela Portline, empresa que centra a sua actividade no transporte marítimo e que vai colocar o material a custo zero na Guiné-Bissau.
A Câmara Municipal de Coimbra, o Governo Civil de Coimbra e a Junta de Freguesia de Taveiro também apoiaram a Associação Humanitária Memória e Gentes.
Além da recolha de material, contribuíram, ainda, com a oferta de bens diversos.
Os agradecimentos estendem-se à Alfândega da Figueira da Foz, assim como à Associação de Deficientes das Forças Armadas de Coimbra. Várias empresas, entre as quais a Âmbar, Águas do Luso, Babou e o livreiro José de Almeida Gomes e Filhos, Lda, engrossam a lista de «grandes apoios».
A Liga dos Combatentes tem um protocolo de missão conjunta com a associação, que tem como objectivo ajudar não só a Guiné-Bissau, mas todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).

O Ministério dos Negócios Estrangeiros presta apoio ao nível do contacto com as embaixadas, uma vez que a expedição vai passar por países em risco.
A Associação Humanitária Memória e Gentes, que não esquece os particulares que ofereceram diversos bens essenciais, colabora com a Associação Saúde em Português, transportando material a pedido desta organização não governamental.

João Henriques
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Notas dos editores:

(1) Vd. posts da série, de:

21 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau

24 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2476: Ser solidário (2): Notícias do Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)

28 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2488: Ser solidário (3): Notícias do Pe. Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)

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