terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2421: Em busca de... (15): Pessoal da companhia madeirense que esteve em Jemberem (1973/74) (Luís Candeias, amigo do Arsénio Puim)

Guiné > Região de Tombali > Jemberem > 2005 > "Foto de um marco existente em Jemberem, sede da nossa ONG, em Cantanhez, que foi reparado e que, em homenagem à ONG portuguesa Instituto Marquês Valle Flôr-IMVF (que intervém na zona e com quem vamos trabalhar no projecto Guiledje), se chama Praça IMVF".

Foto e legenda do nosso amigo Pepito, fundador e director exectivo da AD- Acção para o Desenvolvimento, enviada em Outubro de 2005.

Este pequeno monumento evoca a passagem, por aquelas paragens, de uma companhia (que se presume seja a CCAÇ 4942/72)... Na base do monumento lê-se:

"Os Nómadas, pioneiros de Jemberem, Pelundo > 27 Out 72, Cadique > 21 Jan 73, Jemberem > 20 Abr 73".

Do lado esquerdo, em parte tapada pelo corpo da jovem que aparece na imagem, há um brazão de uma unidade (companhia ? batalhão ?) e um número: 6521...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) (Com a devida vénia...)


1. Mensagem de Luís Candeias, da Ilha de Santa Maria, região Autónoma dos Açores:


Sou um visitante assíduo deste Blogue. O meu nome é Luis António Ricardo Candeias. Sou natural e residente na Ilha de Santa Maria, nos Açores, onde exerço a actividade de Controlador de Tráfego Aéreo.

Sou conterrâneo e amigo do Arsénio Chaves Puim, (aqui mencionado nalguns textos por ter sido capelão militar na Guiné) e afastado pelas suas ideias e coerência (1).

Visito este blogue em busca de notícias de companheiros e amigos desses terríveis tempos da Guerra do Ultramar.

Tenho hesitado em contactar-vos porque, não tendo sido mobilizado para a guerra, não me sinto no direito de me intrometer nas histórias e sofrimento que apenas conheci no conforto do B.I.19 (Funchal), destacamento militar do Porto Santo e B.I.18 (Ponta Delgada).

Fui incorporado no 1º Turno de 1973 no CISMI em Tavira, onde fiz recruta e especialidade. Fui depois colocado no B.I.19 (Funchal) como Cabo Miliciano Atirador de Infantaria e onde fui depois promovido a Furriel Miliciano.

Aí, enquanto aguardava a mobilização, que achava inevitável, integrei várias Companhias de Instrução com os meus Companheiros que foram partindo.

Um batalhão para Cabinda, onde ficaram mais de 20 companheiros, entre eles 2 amigos, Alferes Ferreira e Neves, e uma Companhia para Guiné que ainda vi ser desmobilizada no Funchal antes da minha transferência para Ponta Delgada. Tanto quanto sei, eles estiveram colocados em Jemberém, local que não vejo mencionado no que aqui tenho lido.

Essa Companhia saiu do Funchal no fim do Verão de 1973, e apanhou o fim da guerra depois de Abril de 1974, tendo regressado ao Funchal onde foi desmobilizada. Não me recordo do nº da Companhia e, como não vejo aqui referências a Jemberém (2), pergunto:

Será que esse aquartelamento tinha também outro nome?

As únicas coisas de que nunca me esquecerei são as amizades que fiz com eles, a alegria de os ter visto voltar quase todos, e 2 nomes que retenho por razões completamente diferentes: Tenente Coronel João Mário de Sampaio e Castro, Comandante na altura no BI 19, terrível Comandante; e Major Ramiro Morna do Nascimento, de quem guardo as melhores recordações pelos seu humanismo e sentido de justiça.

Se por acaso souberem algo destes meus amigos que passaram por Jemberém e me puderem informar, ficava muito agradecido.

Se não souberem, paciência, e, mais uma vez desculpem por favor a minha intromissão nos vossos sentidos e muito merecidos desabafos.

Grato pela atenção

Luís Candeias

Vila do Porto, 7 de Janeiro de 2008

2. Comentário de L.G.:

Luís Candeia: Ficamos todos sensibilizados pela tua mensagem. Tu não chegaste a ir à Guiné, mas hoje bem podias ser nosso camarada. Por isso não tens que pedir desculpa. Foi a roleta da sorte. Mesmo assim, passaste por Tavira, como muitos de nós. Tiveste apenas um pouco mais de sorte...

Não tenho muita informação para te parte sobre a tal companhia (madeirense, em princípio) que procuras e que terá ido parar a Jemberem, na mítica mata do Cantanhez... Encontrei, no entanto, no nosso arquivo uma foto com um monumento construído pela CCAÇ 4942/72, que os teus madeirenses terão substituído.

Esta unidade ocupou Jemberem, até então sob controlo do PAIGC, em 20 de Abril de 1973, e terá construído o respectivo aquartelamento, o que bate certo com a legenda da foto, acima reproduzida... Se o meu raciocínio estiver certo, a unidade (madeirense) que procuras é a CCAÇ 4946/73 (se o número estiver correcto, o que tenho dúvidas)...

Recentemente o nosso camarada A. Marques Lopes referiu, na lista das unidades que passaram por Barro (3), a existência da CCAÇ 4942/72, cuja actividade operacional vem resumida nestes termos:

(...) Em princípios de Abril de 73, seguiu para Cadique, na zona de acção do COP 4, a fim de tomar parte na operação Caminho Aberto, com vista à instalação de uma subunidade em Jemberém. Em 20 de Abril de 73, após o desembarque e ocupação daquela área, assumiu a responsabilidade do subsector de Jemberém, então criado, iniciando a construção do respectivo aquartelamento e ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCAÇ 4514/72, e ainda, após reformulação dos limites dos sectores, do COP 5.

Depois de ser substituída no subsector de Jemberém pela CCAÇ 4946/73, instalou-se em Barro, a partir de 23 de Fevereiro de 1974, a fim de efectuar a sobreposição e render a CCAÇ 3519. Em 12 de Março de 1974, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Barro, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BART 6522/72 e ainda do BART 6521/74. Destacou ainda um pelotão para Bigene, em reforço da guarnição local (...).


Vou pedir ao pessoal da nossa Tabanca Grande para te ajudar com informação mais detalhada. Peço-te que mandes um grande abraço ao nosso camarada e amigo Puim: estive com ele em Bambadinca no 2º trimestre de 1970... Diz-lhe que o esperamos - eu, o Abílio Machado, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Jorge Cabral e tantos outros - na nossa Tabanca Grande, de braços abertos... Eu quero o testemunho dele, para memória futura, desse longo, penoso e sinistro dia, 1 de Janeiro de 1971, em que a PIDE/DGS de Bissau o foi buscar e o arrancou do nosso convívio (1)...

__________

Notas dos editores:

(1) Sobre o Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), vd. posts de:

5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1925: O meu reencontro com o Arsénio Puim, ex-capelão do BART 2917 (David Guimarães)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

(2) Jemberem, na mata do Cantanhez: Vd. Carta de Cacine. Não confundir com Jembembem, que pertence a Farim, no norte (fronteira com o Senegal).

(3) Vd. post de 7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2416: Unidades que passaram por Barro, na região do Cacheu (A. Marques Lopes)

2 comentários:

Anónimo disse...

... «2) Jemberem, na mata do Cantanhez: Vd. Carta de Cacine. Não confundir com Jembembem, que pertence a Farim, no norte (fronteira com o Senegal).»

- Jembembem (circunscrição de Farim), é Jumbembem.

Anónimo disse...

Caro Luís Candeias.
Assunto: Pessoal da companhia madeirense CCAÇ 4942/72 que esteve em Jemberem.

Mesmo que tardiamente, quero contribuir para um melhor conhecimento do que foi o papel da CCAÇ 4942/72.
Quero referir que a foto publicada com um membro feminino de uma ONG em Jemberem não corresponde ao deixado no local pela CCAÇ 4942/72. O símbolo adoptado pela companhia foi um galo multicolor associado à designação "Galos do Cantanhez".
A CCAÇ 4942/72 foi formada no Funchal, no BII19.
Rumou à Guiné no UIGE que saiu de Lisboa a 27 de Dezembro de 1972, ocorrendo o seu desembarque em Bissau em 3 de Janeiro de 1973.
A companhia, como era usual na altura, rumou ao Cumuré onde fez o IAO.
Concluido este, foi para Mansoa, por um curto período de tempo, tendo colaborado na protecção da construção da estrada entre Jugudul e Bambadinca.
Após este curto período, tomou o rumo de Cadique, no Cantanhez e esteve na abertura da estrada entre Cadique e Jemberem localidade onde se fixou cerca de 1 ano (1 ano bem animado).
Posteriormente, em Fevereiro de 1974 a companhia foi deslocada para o Norte, para Barro mantendo um pelotão em Bigene junto do COP3.
A companhia regressou a Portugal em 9 de Setembro de 1974, depois de muitas peripécias, sem nenhuma baixa.
Cumprimentos a Luís Graça e camaradas da Guiné e parabéns pela manutenção deste espaço de convívio.
Vítor Negrais