quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2444: Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, CCS/BART 2917, hoje enfermeiro reformado e um grande mariense (Luís Candeias)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Padre Puim, capelão militar, de origem açoriana, com o furriel Guimarães da CART 2716. Infelizmente é a a única fotografia que temos dele, no nosso blogue. Devido às suas homilias, este capelão teve problemas com a PIDE/DGS, acabando por ser expulso do Exército, em 1971, tal como outros (o caso talvez mais mediático foi o do Padre Mário da Lixa, membro da nossa tertúlia). 

 O Arsénio Puim, natural da Ilha de Santa Maria acabou por deixar o sacerdócio, foi enfermeiro e casou-se com uma enfermeira. Hoje está reformado, segundo informação do nosso amigo Luís Candeias (1), vivendo na Ilha de S. Miguel. 

 Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados. 

  1. Mensagem do Luís Candeias, com data de 14 do corrente: 

 Bom Dia, Luís. Hoje foi uma manhã muito especial para mim. Consegui falar com o amigo Arsénio e com a Leonor. Ele vai já tentar entrar no blogue e participar também na nossa conversa. Para o ajudar, dei-lhe vários links para ele ter menos dificuldade em chegar lá. Fiz inclusivamente o copy-paste para ele do teu endereço de e-mail. Estou muito feliz hoje por ter talvez já dado o primeiro passo para vos ajudar a reencontrar o nosso Arsénio. 

 Um grande abraço Luis Candeias 

  2. Comentário de L.G.: 

 Obrigado, Luís, é uma excelente notícia. Espero que lhe tenhas feito chegar o comentário que escrevi na nossa última mensagem. Fico, entretanto, a aguardar notícias, em primeira mão, do nosso amigo comum. Ele muito provavelmente já não se lembra de mim, mas deve recordar-se bem do Abílio Machado que, de resto, escreveu sobre ele um texto memorável (2). 

 Não é preciso repetir-lhe que a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas, como nas tabancas do regulado de Badora que o Arsénio conheceu, a começar por Bambadinca, onde vivemos entre meados de 1970 e o fatídico dia 1 de Janeiro de 1971. 

 Como eu te disse, há tempos tinha deixado este comentário no blogue, em mensagem dirigida ao David Guimarães que estava no Xitole (2): 

  Convivi pouco com o capelão Puim. Já não ia missa nessa idade, e muito menos na Guiné, em Bambadinca. Além disso, a malta da CCAÇ 12 tinha uma intensa actividade operacional, ao serviço do comando do do batalhão, sobrando pouco tempo para conviver com a malta da CCS. Levei-o, a ele, Puim, uma vez, numa das nossas colunas logísticas ao Xitole, a ele e à mulher do Carlão... (Ainda me recordo de a ver, de camuflado, e de sapatos de salto alto, vermelhos, à guarda do angélico Puim... Não sei se te recordas: o Carlão era um dos alferes da CCÇ 12, estando na altura destacado no reordenamento de Nhabijões... Alguém se recusou, por razões de segurança, a levar a mulher do Carlão. Deve ter sido o comandante da coluna, um dos nossos alferes ou talvez o Beja Santos, do Pel Cal Nat 52, já não me recordo ao certo... Julgo que a coluna ia mesmo até ao Saltinho. Já não tenho a certeza se ela acabou por ir ou por ficar. O Puim foi dessa vez, e terá sido essa uma das quatro vezes que ele te visitou, no Xitole)... 

 Bom, hoje estou arrependido de nunca ter ouvido uma homilía do Puim, mesmo por simples curiosidade intelectual, por solidariedade humana ou por camaradagem... Na altura, eu achava que todos os capelães militares eram escolhidos a dedo e estavam bem integrados no sistema. Não me dei conta que os efeitos devastadores da guerra também afectavam os homens encarregues de zelar pelo conforto espiritual dos nossos combatentes. Além disso, o Concílio Vaticano II mexeu profundamente com a Igreja (ultraconservadora) que nós conhecímos, desde o nosso tempo de meninos e moços... 

Claro, eu tinha ouvido falar do Padre Mário de Oliveira, o Padre Mário da Lixa, também expulso do exército dois anos antes (Esteve em Mansoa, ali perto de nós, mas só vim a conhecê-lo, pessoalmente em 1976, no dia do meu casamento, civil, em Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Caneves)... 

 Por outro lado, as autoridades militares de Bambadinca e a polícia política fizeram a coisa discretamente, pela calada... Poucos de nós, deram conta do que se passou, no início do ano de 1971 em que ele foi preso e levado de helicóptero para Bissau ... 

Em retrospectiva, tenho que considerar o Puim como um homem bom, vertical, coerente e corajoso, talvez o melhor de todos nós, não obstante o seu ar frágil, de menino de coro... Já não me recordo, mas tivemos seguramente conversas, no subversivo bar de sargentos, a respeito do que se passou, na altura, já que o Machado era seu e nosso amigo... 

 O texto do Abílio Machado (2), já aqui publicado, fez-me aumentar a minha admiração por ele: "A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar"... Poucos de nós tiveram tomates para tomar as posições que ele tomou: refiro-me àqueles de nós, como eu, que eram contra a guerra mas que a fizeram... 

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 Notas de L.G.: (1) Vd. postes anteriores: 



  (...) Ele foi meu professor de História no Liceu e sempre um bom amigo. Foi enfermeiro aqui no Hospital, em Santa Maria, casou com a Leonor, também enfermeira, e acabou mudando a sua residência para Vila Franca do Campo, na vizinha Ilha de S. Miguel, terra de origem da Leonor. Tem 2 filhos já crescidotes, o Pedro e o Miguel, estudantes universitários. É hoje um Enfermeiro reformado e um Mariense muito empenhado na Cultura e História marienses, e sua divulgação, com intervenção permanente no jornal 'O Baluarte de Santa Maria' (...). 

(2) Sobre o Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão, da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), vd. postes de: 


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