sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

1. Mensagem do Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66) (1), enviada para Mário Fitas, em 11 de Novembro de 2007:

Revisão e fixação do texto: CV


Caríssimo Amigo Vicente [ou Fitas]:

De acordo com a nossa conversa telefónica de ontem, vou tentar escrever o que sei dizer, mesmo com imprecisões cronológicas, datas e ausência de muitos nomes, que durante cerca de 40 anos procurei varrer das minhas lembranças.

No entanto, os factos vividos jamais foram esquecidos, sobretudo os que foram menos maus, pelo que te narrarei e documentarei, sempre que possível, o que tu próprio testemunhaste, embora num período curto (do mesmo modo que todas as Unidades que por mim passaram, ou eu por elas passei).

Gostava ainda de referir que passei, entre a minha chegada e a despedida, cerca de 20 dias com o Pelotão Independente de Morteiros 912 e que não sei distinguir quem foram os militares (afora os 2 Cabos e 7 Soldados que sempre estiveram comigo) que pertenciam à minha Secção de 20 homens.

Após a apresentação no BCAÇ 599 e depois ao Pel Mort 912, foi-me ordenada a Missão de, por três meses, render a Secção da mesma Unidade que estava há 4 meses na Ilha do Como.

Na passagem por Bissau, foi-me ordenado, verbalmente, por Sua Ex.ª o CEM, Ten Cor Rebelo de Andrade, que:

1) - A posição do Cachil (Ilha do Como) era vital para as NT; por isso teria que usar todo o meu potencial material e humano, com os critérios que eu próprio estabeleceria;

2) - Operacionalmente, reportar-me-ia exclusivamente a Sua Ex.ª e que ninguém interferiria comigo;

3) - Que, no exterior, me aguardava um condutor para me fazer transportar ao Palácio do Governo, para receber o aval de Sua Ex.ª o Governador, Gen Arnaldo Schulz. Sua Ex.ª informou-me que, tudo quanto o CEM tinha dito, era para ser cumprido, mas que continuaria a ser ordem verbal.

Efectuei a instalação de três Morteiros, em posição adequada, após ter analisado todas as probabilidades da situação militar e do terreno, aliei os conhecimentos adquiridos e aperfeiçoados em Lamego.

Criei a minha própria Carta de Tiro para o local, inventei um transferidor de tiro (tudo tosco como o só o Português sabe fazer).


Foto 1 > Como> Carta de tiro para a Posição ocupada no do Cachil



Foto 2 > Como> Transferidor de tiro que parece ter sido adaptado oficialmente e agora se denominará M1o


Ensaiei e esperei. Nessa Noite não tivemos visitas. Passados sete meses (sem sequer ter obtido qualquer resposta, ou comunicação do Cmdt do Pel Mort 912, acerca do que quer que fosse, inclusivamente dos Vencimentos e Pré dos Militares que estavam sob o meu Comando, desloquei-me a Catió, sendo recebido pelo 2.º Cmdt do BCAÇ 616 (?), confrontando-o com os três meses de Missão, com os Vencimentos, com a Disciplina (já não cortava o cabelo há 4 meses) e com a ameaça de agredir um qualquer Oficial, porque se isso resultou com o meu antecessor colocado em Bissau, no BSM (Furriel Miliciano Contente – já falecido), certamente também iria resultar comigo.


Foto 3 > Como> Estava na moda ser Beatle, vejam o meu cabelo


Tive a promessa de que iria resolver o nosso problema da Ilha do Como e a meia verdade é que apenas fomos deslocados, dois meses depois, para Cufar. Já não era tão mau, embora durasse mais quatro meses...

No Como, se exceptuássemos as rendições periódicas de Unidades, éramos flagelados todas as noites. Já nem dávamos muita importância. Apenas era muito útil para o açambarcamento de munições de morteiro, já que eram fictícios os números de disparos, porque, raciocinava eu, estávamos completamente à nossa mercê; só podíamos ter LDM durante o dia e se houvesse maré; similarmente se passava com os meios aéreos que só faziam Missões de Apoio de Fogo de dia.

Fizemos abrigos subterrâneos e aí colocávamos as nossas reservas. Nas rotações das Unidades as coisas ficavam um pouco feias. Continuava a reclamar o Pré e Vencimento, até que, finalmente, talvez pressionado por outro alguém, o nosso Alferes Rodrigues, dito Comandante do Pelotão, nos deu o ar da sua graça e enviou-nos os nossos bem merecidos Vencimentos, mas … em cheque.

Ficamos perplexos e até o 1.º Sargento da Companhia (?) ficou abismado e andou pelo aquartelamento com o braço erguido a mostrar o cheque. Só não conseguia ter um encontro, de amigos, com o Comandante Nino para lhe pedir o favor de descontar, o dito, lá por Conacri, onde ia regularmente. É de loucos.

Outrossim, ouvíamos alternada e quase continuamente a Rádio Moscovo e a Rádio Portugal Livre, esta a emitir a partir de Argel e apresentada por um distinto militar português, que havia desertado [, o Manuel Alegre].

Oficialmente, era proibido escutar estas emissoras, mas o facto é que ali se ouviam algumas verdades; era uma questão de saber separar o trigo do joio.

A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.

Acordei. A Rádio Portugal Livre havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!

Os objectivos estavam todos (todos, mesmo) planeados, para obstar a continuação do fogo de Morteiro. E assim foi. Mas o caso era muito mais sério, porque deslocaram para a orla da mata muitas metralhadoras pesadas (incluindo quádruplas, destinadas a tiro antiaéreo) que nos fizeram lembrar que o pior estava para vir. A densidade de fogo era tamanha que a iluminação e as antenas do Posto de Transmissões foram destruídas. Chegaram a ter metralhadoras pesadas no perímetro interior do arame farpado (havia duas barreiras aos 30 e 60 metros).

Bem, chuva miudinha, molha tola, e as calças do camuflado completamente secas. Demos o nosso melhor, fazendo tiro, a olho, para os locais em que as pesadas cantavam e chegamos até ao incrível (perigoso e inseguro, embora tivesse a consciência disso) de fazer fogo para as pesadas, dentro do perímetro de segurança. Tínhamos os Morteiros sobreaquecidos, alaranjados…

O inesperado aconteceu. Uma granada não percutiu. Tirei o blusão do camuflado e fui afastado pelo cabo e dois soldados que me pediram para continuar com os outros dois Morteiros. A munição foi retirada com sucesso; no entanto, por precaução, colocamos a arma fora de serviço. Quando arrefecesse, logo se veria.

Foram 216 granadas, durante as duas e horas e vinte que durou o ataque. Depois, de repente, o silêncio expectante e caricato da noite africana.

Apenas nos restavam munições para, naquele rimo de fogo, mais cerca de 15 minutos. Se não fora a batota calculada... Aguardámos algum tempo e tentámos, mais vigilantes pela falha na iluminação exterior, retomar o nosso ritmo normal no meio dum escuro e sepulcral silêncio.

Voltamos ao Noticiário da Rádio Portugal Livre, que estava prestes a começar. Uma gargalhada geral ecoou por aquelas bandas. Não é que o ilustre locutor nosso conhecido, acabara de declamar: ”A Ilha do Como acaba de ser libertada. As tropas colonialistas foram completamente derrotadas. Não há sobreviventes.
- Então, eu estou morto!


Foto 4 > Como> Os que "morreram" na noite de 16 de Novembro de 1964. Em cima: Soldados, João Marçal, João Paulo, Manuel Pinto, 1.º Cabo António Gomes e eu. Em baixo: 1.º Cabo Abílio Marques; Soldados, Amélio Fernandes, Carlos Mosca, Eduardo Martinho e Artur Rodrigues.


Foto 5 > Como, Novembro de 1964> Pormenor do cartão onde, a giz, se indica foram só 216 granadas. Lê-se mal, mas com esforço percebe-se; na Op Tridente, em mais de 70 dias, apenas gastaram cerca de 500 granadas.


De Catió, soubemos depois, expectantes, viram os clarões, ouviram os rebentamentos e não fizeram nada; absolutamente nada, embora tivessem um Pelotão de Artilharia com duas Peças de 8.8cm e com alcance mais que suficiente para, pelo menos, desmoralizar o inimigo. Não havia comunicações, mas nada ???!!!...

Conjecturas foram mais que muitas, mas que caíam sempre no mesmo: Não se safou ninguém!”. Eu tinha um soldado que estava em Catió, porque havia ido ao médico.

O balanço do dia seguinte, era dantesco. Massa humana com fragmentos de armas, pedaços de armas, ausência do arame farpado nas duas fiadas, a orla da mata tinha recuado uns 30 a 40 metros, porque as palmeiras ou não tinham ramagem ou estavam partidas, apenas um corpo em muito mau estado, uma PPSH e o mais espantoso, entre três poilões dispostos em triângulo e que formavam uma espécie de salão inexpugnável e a que denominávamos Enfermaria, recolhemos 2 unimogues de ligaduras sanguinolentas e alguns apetrechos médicos.

Mais nada, porque quem conhecia a mata teve todo o tempo para efectuar a sua limpeza de corpos, feridos e armamento.

Em Tite, (estive a acumular operações no BCAÇ 1860, sob as ordens do Ten Cor Costa Almeida e Major Jasmim de Freitas) procurei e descobri que o Comandante Nino levara mais de três mil homens para aquela missão. Pouca sorte a dele...

Quando foram restabelecidas as comunicações, a Guiné, no seu todo, regozijou. Dezenas de mensagens de felicitações… A esta distância, no tempo, a minha gratidão a todos os que compartilharam da nossa alegria. Já havíamos sobrevivido...

Os louros foram todos para a Companhia residente. Afinal, duma Secção de Morteiros, de dois (2) morteiros e vinte (20) homens, apenas havia dez (10) homens e três (3) Morteiros.

Que falem os responsáveis da Companhia que lá estava na época. Sinceramente gostava de conhecer o teor ou o ponto de vista tida do lado da Companhia destacada. Já foram questionados, os meus subordinados, mas nenhum se lembra da identidade da Unidade (tantas foram, as que por nós passaram…)

Os meus três Morteiros estavam com a cor característica de terem sido destemperados (anéis azulados de tons vários) cerca da zona de percussão. Valeu-nos o Mec Auto da Companhia para nos desenrascar lixa de água (a única que dispunha) e tinta dos Unimog.

Nada grave se não se soubesse. Mas com aquela cadência de tiro, cerca de cinco vezes superior ao normal, era, além de anti-regulamentar para a especificação da Arma (disciplinar, também), era esperado acontecesse, mesmo visto por um leigo.

No entanto, com ferramenta improvisada, lá estivemos todo o dia, a rectificar (com lixa de água) o tubo da arma, porque havia apertado e riscado, com o forte aquecimento que teve, e a granada não descia ao percutor.

Para testar, retiramos a espoleta e o cartucho propulsor a uma granada; quando esta começou a passar livremente, demos por terminado o trabalho. Estava como nova, operacional, e foi reintroduzida no Serviço. Nada se soube a nível oficial.

Em Cufar, repeti o estudo pormenorizado do terreno, instalei os Morteiros no local que entendi ser o adequado, ensaiei e, à semelhança da Ilha do Como, elaborei uma Carta de Tiro para os objectivos assinalados.


Foto 6> Cufar> Carta de tiro de morteiro para a Posição de Cufar


A situação era incómoda para a CCAV 703 (?). Tivemos um primeiro ataque e, como o terreno era bem mais aberto que no Como, tudo resultou pela positiva. A guerra desvaneceu-se.

Tentaram jogar com a CCAÇ 763 (era sempre assim, quando rodavam as Companhias).

Para mim, já era tudo automático (não simplista), porque os trabalhos de casa eram feitos previamente. Sei que causava muita confusão, mesmo a Companheiros da Especialidade, verem-me fazer fogo sem colocar o aparelho de pontaria (só era utilizado quando se alterava a posição do Prato). Sempre foi uma questão Geométrica, de pontos de referência, estacas, etc.

Tive muitas cumplicidades com o Cap Costa Campos, com quem tive o gosto e a honra de partilhar pontos de vista acerca do modo de fazer a Guerra (firmeza, flexibilidade e humanidade). Foi um grande oficial (um dos poucos oficiais que, frontalmente, valorizava e apreciava o meu trabalho e era humilde para ser capaz, com a sua formação castrense, de mo dizer de viva voz).

O que se passou para a frente, enquanto estive em Cufar, considerava eu, serem pequenas escaramuças; 4 ou 5 granadas bastavam para fazer a paz (excepções para as intervenções que a CCAÇ 763 onde tive que fazer Apoio de Fogo).

Voltei a Tite, não por vontade própria, mas porque o tempo de regresso dos meus homens chegou ao fim.

Comparativamente com o Cachil (Como), a nossa estadia em Cufar, igualmente sem qualquer conforto, eram como que de férias, descanso, tranquilidade, paz interior.


Foto 7 > Cufar, Abril de 1965> Abrigo-Suite que através de trincheiras nos tinha em ligação com os abrigos de morteiros

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2007). Direitos reservados.

Tive saudades daquela gente, naquele lugar, que respeito e admiro muito e que igualmente muito me acarinharam (eles nem sabiam quanto…)

Do meu Cmdt de Pelotão, nem sequer a dignidade duma referência, no seu Relatório Final, pelo desterro de 10 homens de quem se deveria sentir responsável. Para ele, não existimos nunca.

Estas são amostras dos episódios por que passámos.

Santos Oliveira
____________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

8 comentários:

Anónimo disse...

Este relato do Santos Oliveira da defesa da ilha de Como é impressionante e mostra bem como a história da “nossa Guerra” ainda está por fazer.
Henrique Matos

Anónimo disse...

Há dias tentamos um comentário que parece não ter seguido todos os tramites.Estivemos com o Oliveira no Curso do CSM de 63, em Mafra.Ele foi sempre um tipo só, mas nós sempre o admiramos porque ele estava sempre á frente uma ou duas aulas dos temas que se iam ensinar.O curioso, é que ele já sabia tudo e espantava tanto o Ten Duarte como o Major Freitas que era o Director.Nos finais de cada módulo, o Oliveira era convidado a regressar ao COM e isto estendeu-se, quanto sabemos, até ao final da tropa.Convivemos, alguns de nós, no Gaca3.Por isso sabemos do seu poder de decisão que nos parecia já estudado. Já era um militar que suscitava muitos tipos de inveja dos Oficiais (não do Comando) e sobretudo dos sargentos que não podiam com os cabos milicianos. No Gaca3 e na Guine convidavam-no de tempos a tempos para a Academia Militar e dávam-lhe todas as facilidades para isso. Ele sabe muito mais que o que tem dito.Se lhe puzerem perguntas ele responde.Porque não lhe perguntam como nasceu o Morteirete de 60? se calhar foi da mesma forma que ele fez aquele transferidor de tiro que agora se chama de M10 e não M1o.Um grupo de companheiros que também foram camaradas.Oliveira, se o nosso Curso era igual ao do COM e se o Exército tanto te queria nas suas fileiras, porque não te promoveu a oficial miliciano.Bem te conhecemos para dizer que ias multiplicar os teus problemas com os nossos superiores que sabiam menos que tu.Tens a nossa admiração e até sabemos que isso te basta.

Anónimo disse...

Dei de caras com a foto do Oliveira, com aquele rosto sereno e quase inocente e isso aguçou-me a curiosidade, pois ele em Mafra, sempre foi um indivíduo tímido embora determinado.Tímido nas nossas relações nos tempos livres, que eram bem poucos, mas determinado na acção, aonde levava a sério toda a instrução.Chegava mesmo a ser duro.Mas sempre pôs os companheiros à frente de si próprio sem esperar qualquer agradecimento.Tomava por seus os nossos problemas.Era muito generoso.
Estava já bem no meio da minha comissão e ouvia relatos acerca dum Furriel dos morteiros do Cômo, que fazia milagres.Concordo com os comentários escritos atrás.Estava muito longe de saber que era o nosso Oliveira do CSM de 63 em Mafra.O que ele fez pelo seu pessoal, por si e pela Companhia que lá estava...Só um cego não vê.
Alguém ou alguma coisa fez com que ele escrevesse ou falasse, contando o que em Bissau ouviamos como se fosse mitologia, porque se nos afigurava ser de outra guerra que não a que tivemos.
Ele não é do tipo de gente de se vangloriar.O Exército quiz apanhar moscas com vinagre e só perdeu.Só ele!...

Anónimo disse...

Ao Camarada Henrique Matos, uma particular saudação.Aos Camaradas anónimos, presumidamente do Curso do CSM de 63, em Mafra, que demonstram um melhor conhecimento de mim do que eu próprio, o meu reconhecimento; mas seria bem mais salutar, para todos, que nos pudéssemos mostrar com as nossas identidades e trocar mensagens das recordações daqueles tempos no "Inferno da EPI" onde, estou seguro, me formei Homem e Militar.AD UNUM...

Anónimo disse...

Instruendo 63F50282 - Joaquim Fernando dos Santos Oliveira.

A imagem que tenho de si, é a que consta do livrete de Instruendos. Visitou-me, após as Comissões de Serviço, que ambos tivemos, em meados de 67, no terreiro norte, quando dirigia Instrução do COM.
Você foi dos militares mais singulares da minha carreira, pela sua postura, sensatez, diligencia, exemplo, traços de humildade, gentileza, invulgar atenção e delicadeza.
Na instrução, tentava passar desapercebido, mas, as alternativas, as soluções que aparentemente improvisava, eu as designava por planos “B”, por estarem correctamente avaliados e ponderados. Em nome da justiça, também aprendi consigo.
Teve toda a razão, o seu companheiro e protegido, Saraiva, quando me aconselhou a leitura do seu relato.
Foi verdadeiramente o homem e militar que suscitou imensas conjecturas, controvérsias e juízos de valor, sobretudo após o exercício, onde se destacou, e que era parte do Curso de Estado-maior, que nesse ano se realizou na EPI; chegou ao ME e foram-lhe feitos convites…
Tantos anos depois, presto a minha homenagem pública ao homem e ao soldado.
Como seu Instrutor, na época, era impensável tê-lo feito.
Pelo seu relato, entendo a abrangência, a sujeição, a subordinação e insubordinação, que só uma avaliação consciente dos riscos, no terreno, poderia despoletar, mas que foi de valia factual e decisiva para o desempenho vitorioso, que, doutro modo, seria, seguramente funesto.
Afirmo-o com segurança. Foi muito corajoso em ambos os sentidos.
Somente um grande estratega militar podia concretizar tal feito e você, fê-lo. Parabéns.
Duarte

Anónimo disse...

Confirmo o ataque ao quartel do Cachil em 16/11/1964 tenho nos meus apontamentos esse dia registado com o início às 19 horas e 30 minutos, não me recordo é da destruição das antenas do posto rádio, pois só eu mais o 1ºcabo Dias o 1046 é que fazíamos serviço permanente ao posto rádio,mas passados 44 anos a memória prega-nos estas partidas.O que tenho presente era a retórica que recebia do comando de Catió sem qualquer codificação (poupem munições)como se fosse possível eu passar tal informação na situação critica vivida naquelas horas.
Um pouco fora do contexto o teu comandante de pelotão não se chamava o alferes Leal.
Um abraço Colaço

Anónimo disse...

Meu Caro Camarada,

Sou teu contemporâneo da guerra na Guiné.

Conheço a saga heróica do Pel Mort 912 que creio ter estado estacionado em Tite e daí se ter deslocado
para vários teatros de operações.
Ilha do Como, Cufar Nalu, Cantanhês, Jabadá e creio que também Guileje (não tenho a certeza).

Em relação à reacção ao ataque à Secção do Pel Mort.912 por ti brilhantemente comandada na Ilha do Como,
quero dizer-te que devo ter sido o primeiro militar, fora da zona de operações, a conhecê-la.
Em Bolama, no Agr. 17, fui eu que decifrou o RELIM enviado pelo Bat. Caç 619 para o CMDT do Comando do Agr 17, fazendo o relato do ataque e a reacção da tua Secção.

Com 48 anos de atraso quero felicitar-te pela tua postura e capacidade de conduzir homens.
Não é comandante quem quer.
É COMANDANTE quem é capaz de transmitir confiança aos seus subordinados e estes o seguem sem hesitarem nem que seja para a morte.

No que respeita aos pregos que o meu amigo Manel Alegre espetava em falso, não sei se te lembras daquela Notícia:
- “As forças do P.A.I.G.C atacaram o Caminho de Ferro que liga Bissau a Bafatá, destruíram 20 km. de via e duas composições.”

Uma vez, tive a oportunidade de lhe falar sobre o assunto e dizer-lhe que na Guiné não havia Caminho de Ferro.
Ele riu-se e disse-me:
- Meu caro camarada, na guerra que travava-mos pela liberdade, valia tudo!

Nisso a Rádio Portugal Livre e os órgãos de informação portugueses ( E. N. e R.T.P.) equivaliam-se.


Cumprimentos.

Francisco Cardoso.

Anónimo disse...

Meu caro Camarada

Para mim é uma honra tudo o que escrevi sobre a tua pessoa e sobre o PEL MORT 912 .

Ainda, por referência ao que se passou à posteriori da tua acção, meu Caro Camarada, foi um tema muito controverso.

Assim:
Porque será que os obuses estacionados em Catió estiveram “calados”?
Faltavam coordenadas de tiro?
Não se acreditou na reacção da tua secção ?
Não tinham o direito de não acreditar.
Não achas estranho que, à época as N.T., apesar do arreganho dos guerrilheiros do P.A.I.G.C., ainda mantinham a iniciativa operacional, o CMDT do 619 se tenha quedado numa inacção no mínimo incompreensiva?
Porra, ele era, creio eu, Tenente Coronel…

Nunca perguntaste a ti próprio porque que é que depois do PEL MORT 912 ter regressado a Portugal o Comandante Chefe do C.T.I.G. te pôs, contra a tua vontade, na “engorda” em em Bissau?

Sabes qual era e é a maior instituição em Portugal?
A inveja.
Por isso eu dizia: Liderar, Comandar, Inspirar Confiança não é para quem quer; e eles sabiam isso.
Sabes perfeitamente que Guerra do Ultramar, nas três frentes: Angola,Guiné e Moçambique, era contemporânea da Guerra do Vietname.
Quantos oficiais de patente superior à de Capitão viste comandar tropas em Operações nas três frentes? Nenhum, claro! Desculpa, minto. Um em Angola, o Comandante do Batalhão de Caçadores 96, Tenente Coronel Massanita; enquanto no Vietname as frentes de combate eram comandadas por Oficiais Superiores e muitas vezes por Oficiais Generais.

A guerra que travamos era uma guerra de capitães, Oficiais Subalternos, Sargentos e Praças, quase todos, uns 99%, Milicianos.

A guerra dos Oficiais Superiores era outra. Era a guerra do Zé das Medalhas.

Claro que um Furrielzito, (desculpa o termo) chega à Guiné a meio da Comissão de uma (PU) Sub Unidade, integra-se com competência e arrasta atrás de si o querer e a confiança dos seus homens, não iria cair nas boas graças da Brigada do Reumático.

Houveram, de facto, várias mensagens trocadas e que eram relacionadas com o sucedido, entre o Cmdt do 619 o Cmdt do Agr 17 e o CEMFA.

Acredita que, nas várias situações, estivemos sempre convosco, sofremos a incerteza e choramos de alegria com o desfecho da situação.

Não penses que sou antimilitarista militante, tive a honra de privar na Guiné e, mais tarde, em Moçambique, com Oficiais e Sub-Oficiais brilhantes e não foram poucos.

Não estou aqui a escrever fazendo um frete.

Também conheci (conheço) um Primeiro Cabo Operador Cripto, que durante quatro dias e quatro noites não dormiu, encharcou-se de cafeína até ao ponto de nunca mais na vida poder tomar a bebida que mais gostava, o café.
Conseguiu (consegui) decifrar uma Mensagem do IN, o que levou a desencadear diversas Operações bem sucedidas.
Quando terminou a Comissão, na hora dos Louvores, ninguém se lembrou dele porque era “revilharista”.
Bom, isso já são outras histórias.

Meu Caro Camarada, deixo-te um grande abraço e como sou um jovem de setenta anos vou fazer ò-ò.


Sempre ao dispor e um abraço

Francisco de Almeida Cardoso
1º Cabo Op. Cripto, Nº 3374/63