sábado, 17 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2274: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (6): Luís Cabral, os assimilados e os indígenas (António Rosinha)

1. Texto do membro da nossa tertúlia Antonio Rosinha , enviado em 14 de Novembro de 2007 (1):

Assunto:
Luís Cabral na RTP, e os assimilados e indígenas

Luís, penso que nunca escrevi tanto em tão pouco tempo, como por tua causa. Primeiro, porque não tenho jeito, segundo porque não gosto.

Penso que nunca tive madrinha de guerra porque era preciso escrever. Peço-te que faças o melhor, quando vires alguma calinada embrulha e manda para o cesto.

Queria falar de uma pessoa, guineense, que vi governar e cumprimentei mais que uma vez, pois ele fazia questão de cumprimentar toda a gente, Luís Cabral. E de um assunto que ele abordou n[o 5º episódio da sére documental, de Joaquim Furtado] A Guerra, que é o assunto dos assimilados e indígenas (2).

Eu, que era um apolítico completíssimo, achava naturalíssimo na altura que uma pessoa que nunca tivesse calçado uns sapatos, que nunca tivesse vestido umas calças, nem pegado num lápis ou papel, deveria ter um estatuto diferente daquela que vestia e calçava como eu, embora os dois fossem negros. Depois das explicações na RTP, não percebi se era errado ou certo fazer a destrinça.

Luís Cabral falou em quarta classe e mais alguma coisa que não entendi bem, mas não sei se chegou a condenar ou a aprovar essa discriminação colonial.

Mas uma coisa eu posso afirmar: Ele, Luís Cabral, enquanto governante, não distinguia muito bem uns e outros, desde que fossem povo, e principalmente rapazes.

E o que vou dizer, sei que temos tertulianos que podem corrigir ou desmentir aquilo que me foi dado observar e que relato. Passou-se pouco antes de Luís Cabral ser deposto em 14 de Novembro de 1980:

Com a Independência, bastante fresca, todos os jovens afluíam a Bissau.. Trabalho a zero, desorganização a mil, qual a solução?

Muito facilmente o governo resolveu o problema: Grandes camiões Volvo à entrada das principais vias de acesso à praça... Logo pela manhã, umas dezenas de polícias de cacetete e armas de fogo, junto a cada camião, e lá iam os camiões carregados para uma esquadra perto do Alto Crim, de onde, com cunhas e alguns pesos, eu consegui tirar 3 ajudantes meus que não possuíam um documento em como trabalhavam para a Tecnil.

Isto é, aquele pessoal era recambiado para as tabancas de origem pois, quer fosse rural ou não, soubesse ler ou analfabeto, se não tivesse trabalho ia para a tabanca. Sem mais comentários.

Passados alguns tempos, Luis Cabral foi substituído. Para melhor? para pior? Melhor, sem comentários, tal a situação a que chegou a Guiné.

Luis, parece que a RTP, com o programa sobre A Guerra, não conseguirá sair do óbvio de há 30 anos para cá. Talvez dê para umas achegas nesta tertúlia.

Um abraço,
António Rosinha

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Nota dos editores:

(1) Vd. posts de:

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2201: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (2): Eu estava lá em 1961 e lá fiquei até 1975 (António Rosinha)

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1358: Nostalgias (1): No cais do Xime, dois velhos Unimog pedindo boleia a algum barco (António Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL)

29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

(2) Vd. posta anterior desta série > 1 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2234: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (5): Os bons, os maus e os vilões (Torcato Mendonça)

Sem comentários: