quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2232: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (2): O Morés e os amigos da Europa do Norte (Luís Graça / Paulo Santiago)



Guiné-Bissau > PAIGC > Novembro de 1970 > Uma escola numa "região libertada". Imagem do fotógrafo norueguês Knut Andreasson (com a devida autorização do Nordic Africa Institute, Upsala, Suécia). A fotografia não traz legenda. Tudo indica que tenha sido tirada na Guiné-Conacri, numa base de rectaguarda do PAIGC, ou mesmo em Conacri, onde havia desde Março de 1965 uma escola-internato para os filhos dos guerrilheiros.

No interior, nas "regiões libertadas", não havia estruturas, escolas, hospitais ou outros equipamentos sociais, de pedra e cal... Pela simples razão, que eram um alvo fácil para a aviação portuguesa, e porque eram difíceis os caminhos que levavam às bases de rectaguarda, tanto no Senegal como na Guiné-Conacri. Além disso, sabemos que eram duríssimas as condições de vida tanto das populações controladas pelo PAIGC como pelos guerrilheiros... A propaganda para consumo externo, naturalmente, contava outra história... Tanto a propaganda do PAIGC como das autoridades portuguesas da época.


Fonte: Nordic Africa Institute / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI)





Guiné > PAIGC > Novembro de 1970 > Uma escola de mato, algures numa "Região Libertada".

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI)







Reprodução da Lição nº 8 - Morés, pp. 28-29.

Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Um exemplar deste manual escolar do PAIGC, O Nosso Livro - 2ª Classe, foi-me enviado, pelo correio, pelo Paulo Santiago (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72) (1). Estou à espera que ele me conte onde o encontrou: possivelmente no decurso de uma operação, num zona de controlo do PAIGC, no triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, junto ao Rio Corubal.

O livro foi elaboradao e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...

Como já referimos (1), a primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Não é novidade para ninguém que a Suécia e a Holanda foram dois países europeus ocidentais que apoiaram muito o PAIGC, durante a guerra de guerrilha, não só politica e diplomaticamente, como em termos materiais (nomeadamente, no campo da educação e saúde).

A foto reproduzida acima foi tirada pelo fotógrafo norueguês Knut Andreasson que juntamente com uma delegação sueca (tendo à frente a antiga líder do parlamento sueco, Birgitta Dahl) visitou as "regiões libertadas" da Guiné-Bissau, em Novembro de 1970.

Segundo o sítio da Nordic Africa Institute (uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia), esta visita deu-lhe as a oportunidade de falar com Amílcar Cabral, em pleno palco da luta pela independência, e ficar a conhecer melhor o PAIGC, a guerrilha e a sua implantação no terreno. Andreasson e Dahl publicaram mais tarde um livro em sueco sobre essa viagem. Andreasson, por sua vez, realizou uma exposição fotográfica e publicou um álbum fotográfica sobre esta visita. A maior parte das fotos deste período foram doadas ao Nordic Africa Institute pela viúva de Andreasson.

A exposição foi doada à Fundação Amílcar Cabral pelo Nordic Africa Institute, sendo apresentada por Birgitta Dahl, a antiga líder do Parlamento Sueco, por ocasião das celebrações do 80º aniversário de Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.

Retomando as imagens correspondentes à Lição nº 8 de O Nosso Livro - 2ª Classe, percebe-se a importância que o mítico Morés (2) teve na fundação na nacionalidade guineense, na formação ideológica e na motivação dos combatentes do PAIGC. Porquê o Morés e não Samba Silate ou o Poidon, na região do Xime ? Pela simples razão de que o Morés - uma aldeia a nordeste de Mansoa - ficava em pleno coração do Oio, o coração da resistência dos oincas contra o Capitão Diabo, Teixeira Pinto, que os massacrou em 1913.

O Morés, na memória e no imaginário dos povos do Oio, foi pois local de martírio e centro de resistência. Para os portugueses, era também um nome que se soletrava com um misto de admiração e de temor...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

(2) Vd. post de 4 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

(3) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)

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