quarta-feira, 4 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

Guiné > PAIGC > 1970 > O repouso dos guerreiros, algures numa zona libertada (que até poderia ser o Morés) . A foto original (entretanto editada por nós) é do repórter fotográfico húngaro Bara István (n. 1942), que acompanhou a guerrilha do PAIGC em 1969 e 1970, em Conacri e nas matas da Guiné (em circunstâncias que, em todo o caso, não conhecemos). Já o tentámos contactar por e-mail, mas até agora em vão, para obtermos autorização para divulgação de mais fotos da sua fotogaleria que funciona como uma espécie de montra do seu actual estabelecimento de fotografia e artigos fotográficos, sito em Budapeste.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)





Guiné > PAIGC > Morés. In: O Nosso Primeiro Livro de Leitura, p. 34-35. Departamento Secretariado, Informação, Cultura e Formação de Quadros do Comité Central do PAIGC > 1966

Fotos: © A. Marques Lopes / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

1. Comentário de L.G.: Não sei quem é o autor dos textos deste manual escolar. Mas vê-se que há aqui o dedo do próprio Amílcar Cabral que amava a sua terra e as suas grandes florestas, como engenherio agrónomo que era, formado em Portugal, no prestigiado ISA - Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa, entre 1945 e 1950.

Nesta lição fala-se do mítico Morés, na região do Oio, um dos santuários do PAIGC, e um das regiões que mais resistiu à estratégia de pacificação das autoridades portuguesas, nomeadamente no tempo da I República, entre 193 e 1915, sob o comando do famigerado Capitão Diabo (2).

Há alguns textos, no nosso blogue, que falam do Morés, das gentes e da organização do PAIGC e da contra-ofensiva das NT na região. Era um nome que impunha respeito às NT. Em todo o caso, deve dizer-se que, no interior da Guiné, não se podia falar, tecnicamente, em santuários impenetráveis às NT. Todavia, só com grandes efectivos e tropa especial (páras, comandos, fuzos) é que se ia, uma vez por ano, no tempo seco, a determinadas regiões que o PAIGC considerava como libertadas... Eram regiões de difícil acesso por terra, devido à existência de floresta-galeria, rodeada de cursos de água, bolanhas e lalas... Todo o resto do ano, essas regiões eram, quando muito, bombardeadas pela artilharia e pela aviação (no caso do Morés, com napalm, inclusive, documentada na fotogaleria do Bara István) (3).

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post anteriores:

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

(2) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira Pinto)

(3) Vd. posts de:

31 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74: CCLIX: Estórias do outro lado: Ana, a enfermeira do Morès (Virgínio Briote)

31 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCLX: Ana/Siga ou as mulheres do PAIGC de que nunca se fala (Virgínio Briote)

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1154: O baptismo de fogo de um paraquedista e a morte de uma enfermeira no corredor do Morés (Victor Tavares, CCP 121)

17 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1533: De regresso a Bissorã: Uma viagem fantástica (Carlos Fortunato)

(...) "Mito e realidade do Morés:

«Penso que a função deste aquartelamento, em Braia, era fundamentalmente defensiva, pois assegurava que a ponte não era destruída, e também dava proteccção à zona entre a ponte e Mansoa, pois o rio Braia dificultava a fuga aos guerrilheiro que actuassem nessa zona. Este sistema defensivo permitia que, entre Braia/Infandre e Bissorã, o PAIGC podia facilmente movimentar-se, pois não existia (naquela altura) mais nenhum quartel entre Braia/Infandre e Bissorã, e colocava Braia/Infandre na linha da frente. Infandre gozava do apoio das armas pesadas de Mansoa, e mais tarde também de Bissorã, e poderia ser socorrida por Mansoa, que ficava a pouca distância.

"Na estrada que seguia para Bissorã, depois de Infandre, tínhamos do lado direito da estrada, a uns 10 Kms, o Morés, onde estava o QG do PAIGC para a zona norte, era um dos seus santuários, e era considerado zona libertada; do lado esquerdo da estrada, tínhamos o Queré, nele existia um bigrupo, reforçado com uma unidade de artilharia (60 a 80 guerrilheiros).

"Na altura o que se pensava do Morés, era que existiam ali estacionados 900 guerrilheiros do PAIGC, nos quais se incluiam cubanos, possuindo armas pesadas (morteiros 82). A CCAÇ 13 foi lá uma vez, com 70 homens, e não ficou com saudades de lá voltar (Operação Jaguar descrita no site da CCAÇ 13 - Os Leões Negros). O que acontecia aos aquartelamentes estacionados naquela zona eram ataques pontuais do PAIGC, e confrontos durante as patrulhas ou operações que fazíamos" (...).

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1566: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (9): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte II

17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)

4 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1644: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (4): Recordando o mítico Morés (Afonso M.F. Sousa / Carlos Fortunato)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1711: Tertúlia: Apresenta-se o Fur Mil Rui Silva, CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)

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