quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1802: Zé Neto (1929-2007): In Memoriam: Morreu um Homem Grande, adeus, amigo, adeus, meu capitão ! (Pepito)

Lisboa > Julho de 2005 > "Casa do nosso amigo comum, António Júlio Estácio... Foto tirada no dia em que conheci o Zé Neto. Ele a mostrar-me o seu álbum, que é de nós todos".

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados

1. Mensagem do Pepito:

Luís:

Depois de regressar de Lisboa, abria todos os dias o meu computador e respirava de aliívio quando não via um email teu...como o de hoje (1).

Dizia para mim: O Zé Neto venceu mais um dia.

Diz-se que devemos estar preparados. Mas quem se prepara para a morte de um amigo?
Peço-te o favor de enviar aos nossos amigos do Blogue o que escrevi e envio em anexo.

abraços

2. Mensagem do Pepeito aos Amigos Tertulianos:

Prendi-me de amizade pelo Capitão Zé Neto já lá vão 2 anos, quando um amigo comum, o António Júlio Estácio, que o conheceu em Macau, fez questão de mo apresentar.

Começava a Iniciativa de Guiledje a dar os seus primeiros passos e as dúvidas históricas [eram] muitas.

Pelo álbum de fotografias que logo me disponibilizou, comecei a conhecer melhor o homem que, por detrás de uma figura austera e séria, tinha um coração enorme e que amava as coisas simples da vida como aquelas que viveu em Guiledje.

Tive o privilégio de o ouvir falar dos amigos que cá deixou, do Viegas, criança abandonada que ele salvou durante um bombardeamento cobrindo-o com o seu próprio corpo, um dos seus grandes amores da vida. Da Fatumata, sua lavadeira que me perguntava sempre quando é que o Capitão Neto ia voltar e eu a dar-lhe o recado: “Oh Capitão, olhe que à sua custa como uma galinha cada vez que lá passo. Imagino como os seus amigos o irão receber...”. E o sorriso de saudade a abrir-se no seu rosto sério.

Falou-me frequentemente com orgulho da esposa, da força que ela lhe tinha sempre transmitido quando ele estava em Guiledje e do quanto isso tinha sido determinante para ele.

Chamou-me a atenção para a eventual dificuldade em obter água de um furo que pretendíamos fazer em Guiledje. Partilhámos vários meses e em conjunto esta incerteza. Por isso, foi ele o primeiro a saber que já “corria água em Guiledje”. Respondeu-me de imediato a dizer “olhe que essa frase soa-me como poesia...”

Recordo a última vez que estivemos juntos, há duas semanas, no Hospital Militar, acarinhado pela esposa e família, o Nuno Rubim e eu, no momento da despedida, quando prendendo com força e determinação a sua mão à minha, me disse e repetiu duas vezes: “hei-de voltar a Guiledje”.

Lembro a emoção que se apoderou de mim, por lhe ter sempre prometido esta viagem de regresso e pelos poucos meses que faltavam para se concretizar.

Tanta coisa para contar e uma angústia enorme que me sufoca. Como nós guineenses dizemos, perdemos hoje um Homem Grande.

Aceita, Zé Neto, esta lágrima que me corre pela face.

Adeus, Amigo. Adeus, Meu Capitão.

Pepito

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1801: Capitão José Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68), a última batalha

(2) Acabei de mandar à tertúlia a seguinte mensagem:

Amigos & camaradas: O funeral do nosso camarada é amanhã às 16h, no cemitério dos Olivais. O corpo estará em câmara ardente na Igreja de São João de Deus, Praça de Londres, Lisboa, a partir das 16h30. Aqui vai uma pequena biográfica que encontrei sobre ele no portal Projecto Memória Macaense, onde enconteri pelo menos um escrito seu (sobre o Restaurante Cecília.


José A.S. Neto, ou, simplesmente Zé Neto, como diz ser mais conhecido entre os amigos macaenses, nasceu em Leiria em 1929.

Desembarcou em Macau como praça de Artilharia, em Setembro de 1951. No Colégio Dom Bosco, completou dois cursos de habilitação literária e cursou o inglês por um ano no Saint John´s School.

Durante a permanência em Macau, foi promovido a Furriel e a 2° Sargento. Tem uma filha nascida em Macau, no Hospital São Rafael, em Agosto de 1960, do casamento com uma metropolitana, ocorrido também na cidade do Santo Nome de Deus.

Após 10 anos, em Dezembro de 1961, deixou Macau. Com muita saudade, diz “trouxe Macau no coração, pelo muito que lhe fiquei a dever”.

Antes da reforma como Capitão, ainda fez três comissões em África, em Cabinda, Guiné e Angola, conseguindo ainda completar o Curso de Oficiais do Exército em 1973.

O Zé Neto também escreve para o Boletim da Casa de Macau – Portugal

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