sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1464: Oficiais, sargentos e praças: tropa é tropa, uísque é uísque (Gabriel Gonçalves / Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região).
O campo de futebol (3), junto à pista de aviação (2), vem assinalado com um círculo a vermelho.

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Sede do BART 2917 > CCAÇ 12, companhia independente, unidade de intervenção > 22 de Outubro de 1970 > "Uma panorâmica do estádio de futebol e a nossa grande equipa... Infelizmente não me recordo dos nomes da malta toda, no entanto o 1º à esquerda em pé é o Murta (operador cripto); o 3º à esquerda em baixo é o Carlão (alferes) e eu sou o guarda-redes" (GG).


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Sede do BCAÇ 2852 > CCAÇ 12 > 6 de Maio de 1970 > "Outra foto da nossa equipa. Desta vez o 5º em pé a contar da esquerda é o Branco, o 6º o Branquinho, em baixo o 1º sou eu, o 4º o Arménio e os outros que me desculpem mas não me recordo dos nomes" (GG)...

Fotos: © Gabriel Gonçalves (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo operador cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1):

Caro Henriques: Hoje ao consultar mais uma vez o nosso blogue, deparei com isto: "Uma relíquia... Ou, como dizia eu, da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas... O uísque foi a nossa marijuana, e a Guiné o nosso Vietname... Pelo menos para os milicianos, que o Zé Soldado bebia sobretudo bazucas e água de Lisboa" (2)...

Pois é, Henriques, este teu amigo Zé Soldado também gostava de beber o seu uísquinho, bem como uma grande maioria dos outros Zés Soldados. Possivelmente o autor, frequentava pouco a cantina dos Zés Soldados. Quero dizer que não gostei nada deste comentário, que me lembrou que alguns milicianos olhavam para nós, Zés Soldados, por cima do ombro. Bem, o que vale é que agora nos tratamos todos por tu....

Um grande abraço para ti, porque tu eras daqueles que volta e meia frequentavas a cantina.

Gabriel

Ex-1º cabo operador cripto

2. Comentário de L.G.:

Gabriel: Nada disso… Não reparaste que o comentário é meu, do editor do blogue (LG)... Longe de mim, a ideia de discriminação. Tu bem sabes que eu seria o último a fazê-lo. A verdade é que o uísque, apesar de (relativamente) barato para oficiais, sargentos e praças, sempre andava à volta dos 40/50 pesos (o novo) e 120/150 (o velho), por garrafa... Isto pesava nos nossos orçamentos (3)...

No dia à dia, o padrão de consumo era muito variável: havia gente - nomeadamente milicianos - que não gastava um tostão em bebidas alcoólicas... Havia muitos Tios Patinhas. E havia os coleccionadores de uísque, gajos que trouxeram contentores (passe o exagero) de bebidas finas, ams que seguramente nunca beberam um trago nem pagaam um copo a um camarada... E havia ainda os filhos da mãe que diziam que tropa é tropa, cognac é cognac... O mesmo é dizer, que nunca se misturavam com o maralhal, o Zé Soldado, os cabos, os furriéis...

A expressão Zé Soldado é uma caricatura. Todos nós eramos Zé Soldados. Sempre fui contestatário da segregação socioespacial na tropa, em geral, e em Bambadinca, em particular. Por exemplo, nunca entrei ( nem fiz questão de entrar) na messe de oficiais. Em contrapartida, ia muitas vezes à vossa cantina. E tu, seguramente, bebeste copos comigo, connosco (o Humbero, o Levezinho...) no bar dos sorjas. Até por que eras artista... e sobretudo porque convivias bastante connosco, furriéis milicianos...

A ideia que eu tenho é que a maior parte da malta – milicianos, inclusive – bebiam sobretudo cerveja... Exagerei, portanto, ao dicotomizar. Como se o uísque fosse um traço de classe e de distinção !... Nada disso, muitos de nós beberam pela primeira o seu uísque com soda ou com água de Perrier... na Guiné. Essa é que é a verdade.

Um abração, grande Arcanjo Gabriel.

PS - A propósito, gostava que desses uma vista de olhos à foto com a vista área de Bambadinca e completasses a legenda: há instalações que nem eu nem o Humberto ainda identificámos bem... Por exemplo, onde ficava a cantina ? E o centro cripto ? Podes dar uma ajuda, até porque passaste 20 meses em Bambadinca, trancado no quartel !

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Notas de L.G.:

(1) Vd post anterior > 18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves

(2) Vd. post de 25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1462: For the exclusive use of the Portuguese Armed Forces (Afonso M.F. Sousa)

(3) O Humberto Reis vem deitar por terra a minha teoria... Afinal, o uísque era mais barato que a cerveja. E eu confio na sua memória de elefante, já aqui o disse em público por diversas vezes: (...) "Sei bem, isso não me esqueceu, que o visque era mais barato que a cervejola : 2,50 simples contra 3,00 ou 3,50, além de que dava direito, o whisky, a gelo. As cervejas nunca estavam suficientemente geladas pois os frigoríficos da messe, a petróleo, não tinham poder de resposta para a quantidade de pedidos" (...).

Vd. post de 1 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXII: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (2)(Luís Graça / Humberto Reis)

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