sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1401: Com a CART 3492, em Bolama, no Reino dos Bijagós (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > Hotel Turismo


Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > 1972 > Pessoal da CART posando juntamente com um grupo de bajudas e crianças. Da direita para a esquerda, entre as "beldades locais": Alf Gonçalves Dias, (4º Pelotão), Furriel Duarte (4º Pelotão), Alf Mexia Alves (1º Pelotão), Alf Barroso (3º Pelotão), Furriel Pires (1º Pelotão), "homem da minha confiança" (JMA)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > 1972 > O Alf Mil Mexia Alves junto à porta do Hotel Turismo.

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados
Continuação da publicação das memórias do Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (1).

Mensagem de 15 de Novembro de 2006:

Caro Luís:

Envio mais um escrito e respectivas fotografias, que poderão seguir em mensagens diversas.


A estadia na Ilha de Bolama, ou no Reino dos Bijagós

E assim foi (como relatava na última história sobre o Cruzeiro no Niassa) (1): desembarcámos para uma LDG e fomos transportados ao cais de Bolama, onde fomos recebidos por uma multidão de militares, que alegremente cantavam o Periquito vai no mato, para além de outros mimos de fino recorte linguístico, que aqui me escuso de colocar, mas sei que a vossa imaginação preenche sem dificuldades.

Ao que me lembro, (ai esta minha memória), subimos uma avenida no seguimento do cais e fomos instalar-nos no Hotel Turismo de Bolama, o que, se pelo nome poderia parecer que estávamos de férias, era totalmente desmentido pelas instalações, que pareciam estar ao abandono há já largo tempo.

De qualquer modo, como a estadia era paga pelo Estado, não convinha muito reclamar!!! Que saudades haveria de ter dessas luxuosas instalações.

A vida corria pacata e tirando uns ruídos ao longe, que os residentes identificavam como embrulhanços (palavra que passaria a fazer parte do nosso léxico), a locais de nomes estranhos para nós como Tite e outros quejandos, e que vinham acompanhados de histórias para meter medo, de bombas a cair, balas tracejantes, etc, e que logicamente, eu, (santa ingenuidade), pelo menos não acreditava, (porque raio haveria de existir alguém com interesse em dar cabo da minha vidinha), parecia-nos ou parecia-me que a coisa se faria sem grandes dificuldades.

Alegremente, ingenuamente, depois dos variadíssimos exercícios militares para nos prepararem para o enquadramento no teatro de guerra (sempre detestei esta expressão), passeávamos pela localidade, apreciando as belezas naturais, quer as da natureza propriamente dita, quer as com duas pernas, novidade total para quase todos nós.

Num desses passeios descobrimos uma árvore muito curiosa! Era uma árvore grande, alta e muito larga e dos seus ramos, lá no alto, quase sem folhas, pendiam umas centenas ou talvez mais, de frutos estranhos com muito mau aspecto.

Trocámos diversas opiniões sobre o assunto e, não chegando a nenhuma conclusão, perguntámos ao pessoal antigo, com certeza já conhecedores da flora local, qual era o nome da referida árvore e seus frutos.

A gargalhada foi geral, pois a árvore era um Embondeiro e os seus frutos eram...morcegos!!!

Visitámos praias e outras belezas da Ilha de Bolama que, a meu ver, poderia ser um óptimo destino turístico.

Numa das tabancas onde estivémos, quando passámos uns 5 dias acampados, seria Calege ou em Punjunguto, reparamos que os Bijagós estavam a fazer uma espécie de bebida, que viemos a saber era vinho de cajú.

Na Ilha havia muitas matas de cajú, outra revelação, pelo menos para mim, pois não fazia a mais pequena idéia que aquilo que eu comia na Metrópole, beberricando os meus uísques, era afinal a parte de baixo de uma espécie de maçã, que tinha um sumo adstringente, que retirava a sede durante horas, e que muito haveria de servir mais tarde.

Com o meu hábito de tudo experimentar, pedi para beber um pouco daquele líquido de muito mau aspecto e que se revelou intragável, tendo-me para além do mais, provocado uma valente diarreia!!!

Fizemos ainda uma excursão nocturna, alguns de nós, para ouvir umas tais cobras, (surucucus?), que nos diziam, assobiavam, cantavam, na areia das praias, nas noites de luar. Não ouvi nada e apesar de me terem jurado a pés juntos que era verdade, ainda hoje tenho a sensação de ter sido gozado!!!

Fomos estreitando relações entre nós, encontrando métodos de trabalho, adaptando-nos uns aos outros e ao clima e preparando-nos para assumirmos aquilo para que tínhamos sido mandados para a Guiné: substituir a companhia que estava no Xitole (2) e que tem neste blogue alguns muito dignos e valentes representantes, que ainda não me agradeceram o facto de os ter mandado para casa!!!

Esta última parte é brincadeira, obviamente!!!

Seguir-se-á quando houver tempo e disposição, a estadia no Xitole, na Ponte dos Fulas, no Rio Udunduma, em Mato de Cão, Bissau (5 dias) e finalmente Mansoa.

Abraço forte, que estou quase a entrar na guerra!!!


Abraço amigo do
Joaquim Mexia Alves

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

(...) "O calor, quando entrámos no Golfo da Guiné, era insuportável, e somado ao barulho constante das máquinas do navio e ao cheiro a vomitado que tomava conta dos corredores, tornou o Natal a bordo algo de inesquecível, dando razão àqueles que, preocupados com o nosso bem estar, nos fizeram embarcar naquela data para a Guiné.

"Chegados ao largo de Bissau, descemos directamente para as LDG, que nos transportaram para a ilha de Bolama, (pelo menos o meu Batalhão), onde fomos recebidos com cânticos do folclore autóctone, nomeadamente, a por demais conhecida canção Periquito vai no Mato. Ficámos em Bolama cerca de um mês, mas isso é estória para depois.(...) ".

(2) CART 2716 (Xitole, 1970/72) a que pertenceu, por exemplo, o ex-furriel miliciano David Guimarães, um dos nossos mais antigos tertulianos.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Guimarães e a Helena. O Xitole era, tal como Bambadinca, sede de concelho ou circunscrição administrativa. A povoação que lá vivia era, no entanto, menos numerosa do que a de Bambadinca, sede do BART 2917 (1970/72). No início de 1972, chegou a CART 3492, a que pertencia o Joquim Mexia Alves.
Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.

1 comentário:

Anónimo disse...

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