quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1400: Questões politicamente (in)correctas (14): Os Zés da Desordem deste País (Albano Costa / Torcato Mendonça)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Guidaje > Novembro de 2000 > O regresso (do Albano Costa) e a descoberta (pelo Hugo Costa, seu filho). O Albano foi 1º cabo da CCAÇ 4150 (1973/74).

Foto: © Albano Costa (2005). Direitos reservados.



1. Mensagem do Albano Costa:

Caro Jorge Cabral:

Obrigado, por teres trazido esta notícia para o nosso blogue, e ao Luís por a ter inserido (1). É bom que se chame atenção dessa guerra que, depois do 25 de Abril e ainda hoje passados 32 anos, a querem apagar da mente dos mais jovens, esquecendo-se que é preciso olhar para muitos Zés da desordem, os quais realmente é preciso morrerem para que a sua guerra acabe.

Esta tua chamada de atenção fez-me lembrar o que se passou em Guidage, em Maio de 73: quantos colegas ainda hoje têm dificuldade em esquecer o que se passou naquela altura!... Aiinda há bem pouco tempo estive a falar com um ex-combatente que esteve naquela guerra, e ainda hoje tem muita dificuldade em falar, só a muito custo foi contando alguma coisa do que lá se passou...

Obrigado mais uma vez, Jorge.

Um abraço Albano Costa

2. Mensagem do Torcato Mendonça:



Fundão: Torcato Mendonça (ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Fto: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.

Caro Luís: Depois das ditas Festas, voltas a aparecer. Bom Ano de 2007.

Senti a tua falta, do blogue, da leitura…mantive o hábito da abertura… da busca…finalmente aparece um post, dois, enfim o regresso.

Mas hoje, meu caro Luís, neste fim de tarde com o Sol já por detrás dos montes escondido, a geada a descer para os vales, o frio lentamente chega pé ante pé. É cedo ainda mas regresso a casa. Venho procurar um assunto na Net. Abro o Blogue, leio o escrito e poema do Jorge Cabral. Paro.

Os escritos dele são diferentes, direi desconcertantes. Releio devagar, a emoção ainda presente, o pensamento a ir-se, o Desassossego (não do Pessoa, o meu) a instalar-se, lentamente, tristemente a entender o Zé da Desordem… Tantos Zés que se afastam desta merda de ordem imposta... Porque regressaram, não regressando. Vivem na diferença e na indiferença que lhes foi é imposta, até um dia, meu caro Luís, até um fim adiado, igual ao do Zé ou mesmo em casa ou hotel de cinco estrelas, que interessa.

O Zé, os tantos Zés, terminam sós… Talvez se sintam noutro lugar, ou sintam o desejo ou o medo do regresso, não tendo nunca de lá partido totalmente…

Os Américas fazem a (s) bandeiras do nossos País. A nossa bandeira tem que ser diferente, urgente, tem que ser a bandeira para o(s) Zé (s) que ainda tantos existem, em desordem, em desassossego, nesta incompreensão de ordem que não é a deles (2)…

Nota: não tenho escrito. O tempo não é propício. Penso. Tomo alguma nota, em apontamento e guardo em reserva nas meninges. Mesmo para escrever isto, parei e não vou ler… Tenho cá um CD de fotos (50/60), não totalmente acabado, para enviar. Depois irá outro de outros tantos slides.


Um abraço,
Torcato Mendonça
Apartado 43
6230-909 Fundão

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1398: Poema de Natal: Só agora, camarada, te mataram (Jorge Cabral)

(2) Vd. último post desta série Questões politicamente (in)correctas:

12 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1363: Questões politicamente (in)correctas (13): Combatentes e desertores não cabem no mesmo saco (Amaral Bernardo)

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