quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1281: Dicas para o viajante e o turista (5): em Bissau, procurem os poetas (Paulo Santiago)


Montemor-o-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > Encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > 14 de Outubro de 2006 > Intervenção, emocionada, do Paulo Santiago, ao evocar a sua viagem de regresso à Guiné, em Fevereiro de 2005, a viagem de todas as emoções...


Foto: © Luís Graça (2006) . Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago , com data de 18 de Outubro de 2006, para a qual chamo a particular atenção dos nossos tertulianos por duas razões: (i) há aqui uma dica (implícita) para o viajante e o turista que vai à Guiné-Bissau (1), país lusófono onde, apesar das enormes dificuldades do quotidiano e das sombras que pairam sobre o seu futuro, há gente que teima em escrever contos e poesia em português (!), numa região de África, fortemente francófona, tradicionalmente de forte influência cultural, económica e política da França; o mínimo que podemos fazer pelos nossos amigos da Guiné-Bissau que escrevem em português, é conhecê-los e lê-los; por isso, façam o favor de comprar pelo menos um livrinho de um escritor guineense, na próxima viagem; (ii) por outro lado, mesmo com o atraso de um mês, é de registar e divulgar esta nota de apreço, por parte do durão Santiago, pelo nosso encontro na Ameira (2)... (LG)


2. Obrigado, Luís! Obrigado a todos os Tertulianos! A festa da Ameira foi bonita...pá! (2)... Eu, que dizem duro, emocionei-me muito. Cada vez as minhas recordações da Guiné são mais fortes.

Um forte abraço para todos
Santiago

PS - Transcrevo a seguir um poema do livro Um cabaz de Amores, de Carlos-Edmilson M. Vieira (Noni). O livro foi-me oferecido pela mãe do Dr. Miguel Nunes, proprietária da residencial Coimbra e da casa Nunes e Irmão. É o primeiro livro do autor (1998) (3). Em 2000 publicou Contos de N'Nori, com prefácio de Leopoldo Amado, nosso tertuliano (4).


POETA

Não!
Não me chamem poeta... porque
aquele de barriga grande
cheia de nada

Tem poema no corpo

Não!
Não me chamem poeta... porque
aqueles olhos perdidos de desespero
cara de criança sem infância

Tem poema no rosto


Não!
Não me chamem poeta... porque
aqueles pés descalços
que caminham léguas de esperança
na ânsia de sobreviver

Tem poema na alma

Não!
Não me sinto poeta...porque
aquele que na tabanca
com engenhos de trapos faz brinquedos a
toda sua vida
são poemas
dedicados a quem nunca os lê


Carlos-Edmilson (Noni),
poeta guineense

_________

Notas de L.G.

(1) Vd. último post desta série (Dicas para o viajante e o turista): 8 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1259: Dicas para o viajante e o turista (4): Um cheirinho a alecrim & rosmaninho (Luís Graça / Jorge Neto)


(2) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)

(3) Carlos Edmilson Vieira - Um Cabaz de Amores/Une corbeille d’amours. France, Ivry Sur Seine: Nouvelles Sud. 1998.

Carlos Edmilson Vieira - Contos de N’Nori - Edição do autor, Bissau, 2000.

(4) Vd. texto de Filomena Embaló, de Novembro de 2004 > Breve resenha sobre a literatura da Guiné-Bissau, inserido página de Fernando Casimiro (Didinho) > Guiné-Bissau Contributo

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