terça-feira, 31 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1228: Questões politicamente (in)correctas (4): Terror e contra-terror na guerra colonial ou do Ultramar (Beja Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1969 > O tigre de Missirá, o Alf Mil Beja Santos, como era conhecido pelos seus camaradas de Bambadinca, sede do BCAÇ 2852 (1968/70).... "Com afecto por uns, com humor por outros"! - acrescento eu (LG).

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


Texto do Mário Beja Santos, de 24 de Outubro de 2006:


Caro camarada Carlos Vinhal, a nossa opinião sobre os termos utilizados é indispensável mas convirá, penso eu, contextualizar o pretérito das nossas memórias e o amplo arco ideológico que nos irmana. Vou recorrer neste diálogo aos termos que invoca.

Tuga não é pacífico nem incontroverso. Era usado pela propaganda do PAIGC, logo inquestionável por fazer parte de um uso com uma vocação certa. Nunca vi ninguém irado ou amesquinhado com o termo, teve o seu tempo, atingiu os seus objectivos.

Admito que Nharro seja pejorativo hoje, seria uma remake de mau gosto já que no passado tinha carga colonial, classista. Mas não excluo que a sinceridade de quem queira usar querido Nharro seja afectividade pura, uma forma de puxar pela memória sem complacência pelos maus juízos do passado.

Quanto a terrorista, não podemos apagar a história. Na Operação Macaréu à Vista escrevo sem hesitações as práticas de contra-terror. Porque era indispensável recorrermos ao contra-terror: na mina colocada em acessos à volta dos nossos quartéis; nas emboscadas em que esperávamos vítimas imprevísiveis e inquantificáveis; no estrondo da nossa resposta durante as flagelações. Uma coisa era o salazarismo falar em terrorismo, outra o pavor que cirandava das práticas do IN. Um fornilho, uma mina anticarro, um assalto a uma tabanca em autodefesa, provocavam o terror.

Era aliás, isso, que o IN pretendia. Eu pretendia exactamente o oposto: intimidar o IN, surpreendendo com o terrífico da minha presença. Não me pacifico à procura do politicamente correcto, confudindo os eventos do passado com a leitura do presente. Houve mesmo terror e contra-terror. O IN provocava, ou queria provocar terror quando disparava os RPG2 sobre barcos de gente indefesa, procurando a intimidação total e evitar o comércio no Geba, por exemplo. Qual é o mal? Não falávamos nós nos Turras, mesmo que a expressão não tenha hoje a conotação que tinha?

Temos, por último, a Guerra Colonial. Aviso-o que estou completamente de acordo consigo. Mas não posso sugerir que todos nos pautamos pela mesma bitola. A família do blogue, por definição, não pode ter preconceitos ideológicos. Se eu pedir a abolição no uso de Guerra do Ultramar estou a erguer uma descriminação séria contra aqueles com quem pactuei estar no blogue e que continuam convictos que defenderam o Ultramar.

Recordo que o conceito de Ultramar faz parte da história de Portugal, envolveu heróis como Mouzinho de Albuquerque ou Aires de Ornelas, os republicanos julgavam seu dever entrar na 1ª Guerra Mundial também para defender o Ultramar. A reconciliação dos portugueses, e especificamente destes camaradas da Guiné no blogue, far-se-à pelo uso da temperança e do pleno respeito com que queremos dialogar sem aviltarmos a consciência dos outros. Assim, o blogue crescerá na plena diversidade assumida.

Receba a cordialidade e a estima
do Mário Beja Santos

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